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Viajar Porque Sim | Os Mágicos Palácios de Sintra

Visitar a vila de Sintra é embarcar numa viagem no espaço e no tempo. Apesar de ficar a apenas trinta quilómetros da nossa capital, temos a sensação de entrar num mundo diferente. Aninhada na serra granítica que hoje tem o mesmo nome mas já foi conhecida como Monte da Lua, e a dois passos do Oceano Atlântico, Sintra tem um microclima especial que lhe proporciona um ambiente único, uma aura misteriosa e mágica muito própria. O seu carácter privilegiado é reconhecido há muitos séculos e há vestígios de povoamento desde o Neolítico, com posterior ocupação também por romanos e muçulmanos. Nela viveram reis e rainhas, nobres e plebeus, escritores e artistas dos quatro cantos do mundo, e continua a ser hoje em dia uma das localidades mais amadas pelos portugueses e visitadas pelos estrangeiros.

Rodeada de vegetação exuberante, Sintra é a vila mais romântica de Portugal, rica em paisagem, cultura e património edificado, e é impossível não ficar rendido aos seus muitos encantos, entre os quais se encontram palácios, castelos e casas senhoriais. É por alguns destes fantásticos edifícios que vamos hoje passear.

Castelo dos Mouros

Empoleirado nas alturas da serra e sobranceiro à vila, há mais de onze séculos que o Castelo dos Mouros é testemunha silenciosa da nossa história. Anterior à fundação de Portugal – sabe-se que remonta, pelo menos, à época em que a Península Ibérica estava ocupada pelos muçulmanos – este castelo demonstra bem a importância geográfica da região de Sintra. Passear nas suas muralhas, duplas em grande parte da sua extensão e rodeando uma área com mais de 12 mil metros quadrados maioritariamente arborizada, oferece-nos vistas magníficas das colinas verdejantes que o rodeiam, do vasto oceano que se estende pelo horizonte, e dos palácios e casas de Sintra. Dentro do enorme recinto encontramos uma capela românica, silos de armazenamento e uma cisterna, a torre de menagem e outras torres dispersas pelas muralhas, e ainda uma necrópole medieval, que está a ser alvo de escavações arqueológicas.

 

Palácio Nacional de Sintra

Mais conhecido como Palácio da Vila, há testemunho de que já no século X existiria uma residência oficial de governantes mouros no local onde se ergue agora este palácio. Continuamente utilizado (sobretudo no Verão) pelas famílias reais portuguesas até à extinção da monarquia, o aspecto que tem hoje deve-se essencialmente a obras de ampliação realizadas entre os séculos XIII e XVI. Mesmo apesar de gravemente afectado pelo terramoto de 1755, a reconstrução de que foi alvo não lhe alterou as suas características essenciais. Inconfundível pelas suas colossais chaminés, cujo perfil está reproduzido no actual logótipo de Sintra, é uma mistura de estilos arquitectónicos variados – mudéjar, gótico e manuelino – fruto das sucessivas remodelações de que foi alvo ao longo dos tempos. A sua divisão mais icónica é a Sala dos Brasões, criada por ordem de D. Manuel I. As suas paredes estão revestidas com azulejos azuis e brancos representando cenas bucólicas e de caça, e na cúpula foram pintadas as armas do rei e dos seus filhos e os brasões das 72 famílias da nobreza portuguesa mais importantes dessa época.

 

Palácio da Pena

É um ícone dos palácios românticos, tanto por fora como no seu interior – foi, de facto, o primeiro palácio romântico da Europa e marcou uma tendência que seria seguida em vários outros países durante todo o século XIX. Ainda assim, permanece único e inconfundível, com a sua mistura feliz de elementos mouriscos, góticos, egípcios e renascentistas, e as suas cores vivas destacando-se na linha do horizonte da Serra de Sintra. No local existiu, entre os séculos XVI e XIX, um mosteiro pertencente à Ordem de São Jerónimo, abandonado aquando da extinção das ordens religiosas no nosso país. Das ruínas deste antigo mosteiro, que também tinha sido bastante danificado pelo terramoto de 1755, decidiu D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota (marido de D. Maria II) criar o magnífico palácio que hoje se destaca num dos cumes da Serra de Sintra, visível a muitos quilómetros de distância – de dia pelas cores garridas de que está pintado, à noite pela sua iluminação. O interior tem uma sucessão de salas e aposentos privados, todos profusamente decorados, numa orgia de objectos, cores e pormenores que sobrecarrega os sentidos. Em torno do palácio estende-se o maravilhoso Parque da Pena, com jardins, caminhos ondulosos e pontos de referência concebidos em harmonia com a estética do edifício. Aqui encontramos pequenos lagos, construções variadas e pormenores deliciosos, rodeados por árvores e arbustos oriundos de todos os continentes, num conjunto riquíssimo em variedade e exotismo que fazem deste parque um dos maiores e mais importantes arboretos da Europa.




 Palácio de Monserrate

Integrado num parque encantador onde existem mais de três mil espécies de plantas exóticas vindas de todo o mundo, Monserrate é muito provavelmente o palácio português que melhor assume e ostenta a sua inspiração oriental. Invulgar no seu exterior, onde já se notam as influências indianas e mouriscas nas suas cores, nos lanternins e cúpulas bulbosas, e nos elementos decorativos de inspiração vegetal, o interior consegue ser ainda mais surpreendente, com uma profusão de colunas, cúpulas e frisos repletos de arabescos finamente trabalhados, azulejos com padrões geométricos, pisos com embutidos e abóbadas que fazem lembrar caleidoscópios. Depois de ter passado, desde o século XVII, por vários donos e estádios de ocupação, o milionário britânico Francis Cook comprou a propriedade em 1856 para servir de residência de Verão à sua família e encomendou a remodelação do palácio aos arquitectos James Thomas Knowles (pai e filho), cujo trabalho extraordinário foi cuidadosamente recuperado nas prolongadas obras que decorreram até há poucos anos. A renovação dos jardins foi entregue por Sir Francis Cook ao paisagista William Stockdale, ao botânico William Nevill, e ao mestre jardineiro James Burt, que criaram uma obra-prima do paisagismo romântico, organizando as espécies botânicas por área geográfica de proveniência, dotando o parque de um amplo relvado que parece saído de um filme, de pequenos lagos, cascatas e recantos, e de outros pontos de interesse que vamos encontrando em passeio pelos seus caminhos sinuosos.




 

Palácio e Quinta da Regaleira

Além da sua beleza inegável, esta quinta e o seu palácio são famosos por integrarem um conjunto de espaços assumidamente místicos e esotéricos, com grutas, lagos, poços e construções várias que nos surpreendem a cada passo. Com origens que remontam ao século XVII, a propriedade foi comprada em 1892 por António Augusto Carvalho Monteiro, um homem culto e milionário com fortuna feita no Brasil. Para a remodelação da quinta e do palácio, levada a cabo entre 1904 e 1910, foi contratado Luigi Manini, um muito talentoso arquitecto e cenógrafo italiano que vivia em Lisboa e conseguiu transformar a Regaleira num local cativante e cheio de fantasia a que é impossível ficar indiferente. A estética do aparatoso palácio e da capela que se encontra perto são nitidamente de inspiração renascentista e neo-manuelina, e conseguem a proeza de se destacarem dentro da massa verde do parque que os rodeia, estando ao mesmo tempo em perfeita simbiose com ele. Quanto aos jardins, foram concebidos como cenário de uma viagem iniciática, numa sucessão de locais com referências mitológicas, religiosas e clássicas, que primeiro decorre à superfície e depois nos leva às profundezas e à escuridão do mundo subterrâneo. Um percurso incrível e cheio de beleza, pormenores curiosos e encantadores, e muita magia.




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Sintra e os seus arredores são uma região singular no nosso país, onde os nossos sentidos e emoções são constantemente postos à prova – um daqueles sortilégios em que a natureza é pródiga, e que o engenho humano apenas consegue tentar acompanhar.

Boas viagens!

Ana CB / Dezembro de 2020
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