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COMING UP | The Diplomat

Agora que entrámos no mundo da política não saímos mais. Este pode ser o pensamento da Netflix, que depois de um show de ação e mistério com The Night Agent nos oferece um drama ponderado com The Diplomat. Enquanto na semana passada encarámos a comparação do universo estabelecido em The Night Agent com Jack Ryan e Slow Horses, em The Diplomat temos uma espécie de híbrido entre Designated Survivor e Scandal. 

O drama toma conta da história que fica submersa em manobras políticas e uma linguagem muito cuidada. Numa ode modesta ao feminismo, The Diplomat é o tipo de narrativa que exige atenção e que é criada para quem gosta de mergulhar em temas um pouco mais complexos. 

Explicamos-te todas estas comparações e singularidades na edição desta semana do Coming Up, fica connosco.

As primeiras impressões de The Diplomat podem não ser a melhor estratégia para nos convencer a entrar no universo da série. Primeiro temos uma estrutura densa, que torna o arranque um pouco mais complexo, dado que entramos a pés juntos no enredo sem termos um contexto. O tema já é, por si só, algo que não encaixa no gosto de toda a gente e os minutos iniciais do primeiro episódio talvez façam muita gente sair da carruagem a meio da viagem. 


Para os que ficam o principal ponto de luz que nos faz acreditar que a trama se pode tornar em algo interessante e cativante é o carisma de Keri Russell e a sua contracena cheia de química com Rufus Sewell. Ambos desconstruídos e escritos de forma que não pareçam bonecos de cera, torna a nossa empatia com a dupla protagonista quase imediata. E esse sim é o convite que nos deixa agarrados a esta história. O realismo como os dois personagens são desenvolvidos, com questões banais e mundanas que nos são próximas mesmo que a sua narrativa seja dentro de profissões ou de um meio completamente inatingível é o enquadramento perfeito. 


No fundo, e avançando já uma das conclusões sobre a primeira temporada de The Diplomat, os criadores da série sabem como criar e desenvolver personas que nos deixem entusiasmados, mas talvez lhes falte a mesma fluidez no desenvolvimento de uma série.



The Diplomat trabalha a política com uma visão muito estruturada, pensada, pela mão de alguém que sabe realmente os meandros do que está a tentar refletir no ecrã. Mas a densidade normal do cenário político acaba por se traduzir numa temporada onde tudo é muito linear, sem grandes momentos de ficarmos colados ao ecrã ou cliffhangers


Isto acontece, sobretudo, pela opção da série em se colocar à margem do lugar-comum e leva o tema para fora do expectável deixando os Presidentes em segundo plano para se focar em figuras secundárias que trabalham muito mais nos bastidores. 


Para alguém que tenha um conhecimento prévio sobre o que acontece nestes círculos, The Diplomat é um prato cheio, mas para os comuns mortais, há vários momentos em que as reviravoltas da história são demasiado técnicas para as conseguirmos acompanhar. 


Nós sabemos, ou melhor, nós sentimos o impacto dos plot twists do mundo político, mas em vários momentos faltou instrução por parte da série, um guia que nos apontasse quais eram os prós e contras das tomadas de atitude. Ainda assim, o argumento ousou e colocou dentro do universo da história a guerra real entre a Rússia e a Ucrânia, que mesmo não sendo o foco principal casou perfeitamente com o universo da série e ainda ajudou a que os momentos em que nos perdemos nas estratégias políticas abrandassem. 


Em resumo, The Diplomat é a melhor série para quem gosta do mundo político, mas exige um pouco mais de conhecimento do que as comerciais Designated Survivor, Scandal, The Night Agent, e outras que tais. É uma série mais “cabeça”, como Slow Horses, aliás as duas poderiam ser ainda mais parecidas se os subgéneros não tivessem divergido entre a ação de Slow Horses e o drama de The Diplomat.

 

E como o prometido é devido, falamos em comparações, e há que dar explicações. Ora, Designated Survivor, mesmo distante, precisamente por ser mais comercial, é o drama político recente onde mais se fala dos bastidores da política, e nesse ponto, The Diplomat conversa bastante com o drama protagonizado por Kiefer Sutherland, apenas carrega um pouco mais no lado quase pedagógico de nos oferecer um pouco mais de conteúdo e conhecimento sobre a importância de cada papel. 


Porém, à primeira vista, o paralelo mais próximo que criamos é com Scandal. A narrativa das duas séries não poderia ser mais diferente, mas ambas cumprem um propósito comum: Mostrar que as mulheres também se sabem movimentar nos altos círculos. 


Estamos em pleno século XXI e é até um pouco constrangedor pensar que ainda precisamos que produções audiovisuais enalteçam o género feminino, mas no mundo real é importantíssimo que o façam para quebrarem de uma vez as barreiras e cimentarem a igualdade de género e sobretudo mudarem um pouco os nossos pré-conceitos sobre quem imaginamos em lugares de poder. 


E claro, aquele final foi um toquezinho singelo de Shondaland com pirotécnica à mistura para nos dar a falsa sensação da morte de um personagem que nos é querido. Quem é fã de Shonda Rhimes já tem doutoramento em eventos deste género no season finale e o resultado é sempre o mesmo.


 

Numa análise geral, The Diplomat não salta destacadamente para o nosso Top de séries da Netflix, mas continua a ser uma boa história para nos entretermos e com a qual podemos aprender conceitos interessantes se nos propusermos a isso. 


Ainda que tenha alguns defeitos no ponto de vista de um comum mortal, a sua visão sobre os bastidores do mundo político é altamente fascinante, adornada com interpretações consistentes de atores de primeira linha que têm em mãos personagens extremamente bem conseguidos. 


Não é uma série fácil de maratonar pela questão de não existirem grandes momentos de impacto, e na realidade até parece um pouco deslocada dentro do catálogo da Netflix, tendo em consideração que o seu argumento mais carregado casa muito mais com o estilo de um original da HBO. Mesmo com todas essas considerações, a série foi um sucesso imediato e a qualidade e cuidado na produção merecem esse retorno. 


É uma série que expõe o seu alto orçamento, mas fá-lo com requinte, cada cenário de luxo não é utilizado apenas como um elemento de ostentação, ele adapta-se ao conceito e contexto da história. A mesma coisa com o guarda-roupa e todos problemas que esse tema levanta na série, é como se todos os elementos que constroem um projeto estivessem a caminhar no mesmo sentido e quando isso acontece dificilmente o resultado poderia ser algo mau. 


Temos encontro marcado na segunda temporada e aguardamos por mais tempo de ecrã entre os Wylers mas também por mais desenvolvimentos da relação entre Heyford e Eidra, que são outra prova da maestria dos criadores na criação de figuras interessantes.