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COMING UP | The Night Agent

Estruturalmente The Night Agent não chega a ser um completo drama, mas também não podemos dizer que seja um thriller, porém é no híbrido dos dois géneros que nos consegue conquistar, fazendo desta história uma das melhores tramas de espionagem e política lançadas nos últimos tempos. 

Aproveitando o embalo do sucesso das histórias que misturam teorias da conspiração e o controverso mundo da política, The Night Agent consegue prender-nos do primeiro ao último segundo com uma narrativa bem alicerçada onde os cliffhangers tornam os dez capítulos facilmente maratonáveis. 

Com uma produção competente e um elenco carismático, The Night Agent pode facilmente tornar-se num dos títulos-chave do catálogo da Netflix, que volta a entregar qualidade depois de uma sequência de histórias originais que baixavam a qualidade do catálogo por falta de inspiração.

Mais adulta, ponderada e (dentro do possível) realista que The Recruit e um pouco menos cerebral que Slow HorsesThe Night Agent faz regressar o estilo narrativo da primeira temporada de Designated Survivor acrescentando-lhe mais ação e um desenvolvimento coeso que sustenta os mistérios por dez capítulos de quase uma hora cada. 


O primeiro capítulo já nos desperta alguma curiosidade, mas o grande trunfo da introdução da série é o ritmo, que faz o tempo de episódio voar. Por mais densa que a trama seja, a forma como tudo flui rapidamente sem grandes fillers deixa-nos presos e quando damos conta chegamos ao final do capítulo com um cliffhager que não nos deixa escapatória possível. 


O enredo é bom. Isso é um facto. Mesmo que em alguns pontos da história as soluções e escolhas sejam previsíveis, o facto de termos momentos como a revelação das verdadeiras intenções de Farr baralha-nos um pouco as contas. Quando achamos que sabemos qual é o passo seguinte na trajetória de Peter e Rose a série consegue deixar-nos na dúvida sobre se o caminho escolhido será o mais convencional ou se vão “chutar o balde” e entregar-nos uma mudança completa no tom. 


Mas já nos estamos a adiantar. Voltemos atrás. No primeiro episódio, quando Peter atende o telefonema e percebemos que vamos entrar numa trama de espionagem a nossa memória leva-nos logo para uma comparação com The Recruit. As duas tramas, apesar da proximidade, não podiam ser mais diferentes. Aqui além de termos uma construção de universo mais credível, temos um casal protagonista que nasce de uma forma mais natural e com muito mais química. 


Há algumas conveniências no que toca às habilidades de Rose para a tecnologia que facilitam o desenvolvimento, mas ignorando esse caminho fácil, a relação de Rose e Peter consegue prender-nos.



Avançando na história, já depois do salvamento, entramos no típico jogo de xadrez, onde tentamos encaixar personagens e as suas intenções. Mas tudo isso acontece com a Casa Branca como pano de fundo, e se há algo que sabemos sobre a Casa Branca é que quem lá trabalha não tem nada de ingénuo. 


Todos os elementos do “governo” entram na história como elementos dúbios, deixando as máscaras postas para nos fazer entrar no mesmo quebra-cabeças dos protagonistas. Aliás, este é um dos grandes pontos positivos da série, porque com isso consegue fazer-nos criar empatia com Rose e Peter. Nós espectadores, tal como eles, procuramos os traidores, e desenvolvemos conexões com os personagens na expectativa de que aqueles que nos convenceram sejam fiéis até ao fim. Spoiler Alert: Não é, de todo, isso que acontece. 


A narrativa avança e quando achamos que estamos a ir no bom caminho, em que os pontos se começam a ligar e já sabemos quem defende o quê, chega o plot twist de Farr que torna tudo muito mais vibrante. Peter que era até agora um elemento de segundo escalão passa a ser uma das pessoas mais procuradas do mundo, numa representação fiel sobre como a vontade de um grupo de membros da política consegue toldar a realidade e fabricar factos que levem o mundo a acreditar que aquilo que nos contam é a verdade. 


Os media são, mais uma vez, um ponto intermédio no xadrez político, mas ao mesmo tempo que o enredo acerta na aposta e nos deixa completamente vidrados no jogo de perseguição do gato e do rato, este é um dos pontos dos pontos de maior inconsistência de The Night Agent


Estamos a falar da Casa Branca e dos Estados Unidos onde os media descobrem onde qualquer celebridade está em cada segundo do seu dia, logo toda a perseguição a Peter torna-se difícil de digerir, afinal de contas, como é que perdem de vista um simples comum mortal? É certo que Peter tem treinamento para desfazer o seu rasto, mas, ainda assim, custa-nos a comprar essa parte da história.

 

Ignorando a inconsistência com a realidade, a trama segue com o desenvolvimento de um arco secundário rico e que consegue garantir, mais uma vez, a nossa empatia com os personagens da série. Maddie, a filha do Vice-Presidente, que é na verdade o mandachuva por detrás do que está a acontecer no mundo, entra na história para aliviar a ação e dar-nos um drama envolvente. Maddie é um meio para um fim. 


Utilizada como arma de arremesso, Maddie é, talvez, uma das maiores surpresas da história por passar de personagem despercebida a protagonista num estalar de dedos. A conexão com Arrington numa ligação quase maternal traz química às duas personagens e atrai-nos para a história. Quando damos conta já estamos a seguir a série muito mais por Maddie, Arrington, Monks e Peter, e Rose, que era a vítima inicial já se tornou um mero adereço. 


Um dos grandes trunfos de The Night Agent é a facilidade com que nunca deixam o argumento perder o fôlego. Por mais que uma pequena parte da história se resolva, nunca ficamos sem mistério, nunca ficamos com a sensação de que as coisas “estão bem”, estamos sempre com a sensação de sobressalto, e sem darmos conta cada vez mais envolvidos com a trama. 


Como é expectável, no final tudo se resolve e apesar da morte colateral de Monks, o núcleo central da história sai ileso e reforçado dos eventos da primeira temporada, e talvez este seja o grande ponto negativo a apontar a The Night Agent. Depois de uma temporada frenética faltou no final um pouco mais de risco e arrojo, algo que manchasse um pouco a ideia de que existe um “final feliz”. 


A ideia que fica é que a meio da temporada os autores perceberam que o material que tinham em mãos era excelente e começaram a resguardar-se para não perderem personagens potencialmente interessantes e carismáticos para uma segunda temporada. Contudo, esse detalhe de manchar um pouco mais o final poderia ter elevado ainda mais a fasquia da série.


 

Num todo The Night Agent é uma das melhores tramas originais que a Netflix lançou nos últimos tempos e chega ao catálogo com a potencialidade de se tornar no Jack Ryan da plataforma. Numa ousadia controlada, a série tem um desenvolvimento que nos agarra e nos faz querer ver mais. 


A renovação quase imediata não foi uma surpresa, dado que o investimento bem-sucedido em cenários de luxo teria de ser rentabilizado. 


Desconhecido da maioria do público, Gabriel Basso entra um protagonista com clivagens, ele é intrinsecamente bom, mas por mais que ganhemos afeto por ele e o classifiquemos como herói, percebemos que há ali escolhas que o podem tornar num personagem ainda mais interessante. Talvez se a segunda season o levar a situações limite possamos vê-lo a fazer escolhas um pouco menos politicamente corretas. E é essa linha dúbia que nos aumenta ainda mais a curiosidade para o que vem daí. 


No encerramento da temporada a ideia com que ficamos é que vamos entrar numa outra realidade, longe dos eventos desta, e esse soft reboot pode entregar uma história verdadeiramente empolgante sem ter de se agarrar às amarras dos acontecimentos desta. Ou seja, mais uma jogada de mestre dos criadores que conseguem manter o mesmo universo, mas, caso seja essa a sua vontade, apresentar algo quase original mantendo apenas o protagonista. 


As expectativas estão lá em cima, e nós temos bilhete comprado para a segunda temporada, que virá, obviamente, com maior investimento, dado que a série garantiu lugar cativo nos TOP10 de grande parte do mundo por várias semanas, e investimento e ação no mesmo projeto são a chave mestra do sucesso. É aguardar pelo lançamento, e não parece que a Netflix vá esperar muito tempo para lançar novidades. 


Para já está aberta a época das teorias. Para onde foi Peter? Como fica o relacionamento com Rose? Como fica a Casa Branca depois de grande parte das principais figuras se terem revelado traidores? Dúvidas que a segunda temporada terá de responder garantindo que a qualidade não desce.