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COMING UP | You - 4ª Temporada Parte 2

Voltamos a You, e nada foi o que parecia. A ideia de que tudo se estava a compor e que os rumos da série iam tornar a história em algo que justificasse uma nova temporada não correspondeu às expectativas nesta nova parte que foi, até agora, o maior divisor de águas de You

Não podemos dizer que a série não é surpreendente, e nem podemos classificá-la como clichê, mas podemos garantir que os showrunners já perderam a mão do texto e estão à deriva sem saber como levar o barco a bom porto. 

Analogias à parte, You chegou ao ponto em que já se tornou uma manta de retalhos enquanto mostra que os autores são bastante criativos na hora de criar plot twists, mas péssimos quando o assunto é justificar as suas escolhas. 

Entre personagens perdidos e arcos resolvidos às pressas, falamos-te da segunda parte da quarta season de You na edição desta semana do Coming Up, fica connosco.

Cumpre as expectativas e teorias que tínhamos formado?

A primeira parte da quarta temporada parecia um soft reboot da história de You, mas, tal como o protagonista da série já nos provou, as aparências enganam e a narrativa continua tão perdida como no final da terceira temporada. 


O episódio sete adiciona o arco do pai de Kate à história e coloca Joe numa posição de submissão perante dois homens muito poderosos envoltos num xadrez político que tinha sumo suficiente para carregar todos os episódios desta segunda temporada. Ou seja, tudo parecia estar a caminhar para que o ritmo frenético de eventos se mantivesse e que a série tivesse a sagacidade de conseguir tornar o seu protagonista numa peça fundamental sem que ele fosse a pessoa que estava debaixo dos holofotes (o que se traduziria numa justificação plausível na hora de ele passar impune), porém, tudo isto se desfez logo em seguida. 


O início do descalabro acontece com Dawn, a mulher que até então tínhamos classificado como jornalista e sob a qual tínhamos expectativas depois de a vermos tirar tantas fotos a Joe. Dawn era, na verdade, uma stalker de Phoebe, completamente alucinada que serviu apenas para que os argumentistas tivessem uma forma fácil de enterrar o mistério dos assassinatos. Mas tudo isto soou apenas como uma desculpa forçada e desnecessária. 


É velha sensação de “a montanha pariu um rato”, porque neste meio tempo entre estreias qualquer teoria de fã foi muito melhor do que a escolha final da série. A construção da cena também não ajudou a que a ideia que tínhamos de uma desculpa esfarrapada fosse esquecida. A cena da faca e tudo o que se desenrola a partir daí até à entrada de Joe como herói é o suprassumo do clichê barato. 


Mas as nossas expectativas conseguem sair ainda mais frustradas daí em diante, com a revelação de quem é, de facto, Rhys. O plot twist que traz uma referência leve a The Sixth Sense, mas que torna algumas das cenas em algo muito pouco palpável. E uma vez que a série já nos tenta fazer comprar a ideia de que Joe consegue matar pilhas de pessoas e escapar impune, pedir-nos para aceitar ainda mais este “detalhe” talvez já seja exigir demais.


 

É plot twist ou tentativa de justificar o injustificável?

You é uma série bastante criativa, mesmo que achemos os plot twists demasiado arrojados, não podemos negar que continuam a surpreender-nos. Porém, dentro da chuva de plot twists a que os criadores nos habituaram, desta vez há algo de diferente: A série perdeu-se. 


Até ao episódio sete estamos a assistir a uma história, encadeada, cuidada, com rumo. A partir do oito fazemos inversão de marcha, deixando inclusive alguns pontos pendentes (sem qualquer citação) por um ou dois capítulos. Joe tem aquela conversa com o pai de Kate, depois mata Rhys e dá-se aquele momento da revelação, desde esse momento até ao episódio em que ele mata Tom eles não se cruzam, não há qualquer referência, qualquer conexão. Nem mesmo uma tentativa forçada do texto em colocá-los cara a cara, com um aperto formal de mão por Joe ter feito exatamente aquilo que ele pediu. 


Além disso, depois de Joe ter “exterminado” o problema de Tom e sabendo ele que o pai de Kate é dono de uma empresa de segurança que consegue fazer os problemas se evaporarem, não podia ter, simplesmente, recorrido a ele para salvar Marianne em vez de ter todo o momento de loucura psicótica? 


Parece que o plot twist (que é completamente injustificado e infundado) saiu tão da zona de conforto dos argumentistas que eles se esqueceram dos alicerces que tinham construído até então. Soou a série escrita por Ryan Murphy, em que introduzem mistério atrás de mistério até estarem tão atolados que tem de encontrar uma saída de emergência para resolverem pelo menos uma das partes do puzzle que criaram. 


Teorizando um pouco, este plot twist poderá indicar que Joe tem algum tipo de doença neurológica que vai acabar por fazer sentido lá à frente, mas apesar disso, parece que os autores souberam em cima do joelho que a próxima temporada seria a última e tiveram de introduzir às pressas uma referência que vão precisar para justificar as ações e destinos seguintes. 

 

Ignorando a falta de coerência, pelo menos o final é satisfatório?

Bom, vamos ignorar o facto de o enredo exigir uma total suspensão da descrença no momento em que Joe se salva daquela queda da ponte, porque já é, de facto, pedir de mais. Falemos sobre os restantes personagens antes de Joe. À exceção de Phoebe, todo o elenco novo que parecia cheio de vida e com voz tornou-se figurante. 


O apego que construíram com Phoebe, Adam, Kate, e os restantes foi tempo desnecessário de ecrã perante o que foi o seu impacto na história. Phoebe teve um momento em que assumiu algum destaque com o seu PTSD, mas para quem vem de um episódio em que ela é a estrela como o do rapto e passa para o evento do seu casamento percebe que a série se está completamente a borrifar para ela. 


É um mero adereço da história cuja importância é quase nula. Faltou dedicação à personagem, faltou tempo de ecrã até mesmo para mostrar a sua dor e entendermos o peso que aquele evento traumático teve. Talvez se não tivéssemos um plot twist a atrapalhar o que estava a correr tão bem? Fica a dúvida no ar. 


Mas vale a pena ressaltar que referimos que Phoebe ainda foi a que mais impacto teve, porque se nos voltarmos para Adam a história consegue ser ainda pior. A morte dele foi só uma desculpa para o retirarem da série. 


Quanto a Adam e Phoebe eles são personagens secundários, é injusto o que lhes fizeram, mas até ignoramos. Agora, Kate? Kate foi, até então, descrita como figura principal da temporada. Neste final o que lhe aconteceu? Ficou a marinar sobre uma decisão que tinha de tomar, à espera de que tudo se resolvesse. O encerramento da temporada dá-lhe um pouco mais de gás para o futuro, mas até agora continua a ser a mais desenxabida coprotagonista da série.


 

Há futuro para You?

Caso a próxima temporada se confirme como a final, You consegue convencer-nos a voltar. Na esperança de que tudo acabe por se provar como o fruto de um distúrbio da personalidade Joe. Forçosamente vamos encontrar uma história diferente a partir de agora. 


Ele deixou de lado a sua humanidade que nos fazia criar empatia por ele e torcer até para que se safasse. A morte de Edward e a forma como gratuitamente ele atira Nádia para a prisão são uma completa mudança de paradigma na personalidade do protagonista. Ele também terá mais poder, o que o poderá aproximar ainda mais um pouco do clássico American Psycho


You já provou ser forte na reciclagem de plot twists clássicos, e talvez essa mudança de postura traga finalmente algo novo. A série está a precisar de respirar, esta parte dois foi uma luta para evitar um afogamento no mistério. 


Perante tudo isto, o futuro de You parece agora um pouco mais promissor. Contudo, os autores de You conseguem sempre deixar-nos com essa esperança e no final das contas só nos desiludimos mais, por isso estamos no ponto em que já não sabemos bem o que pensar sobre a próxima temporada. 


No campo das expectativas, teremos uma Marianne que provavelmente vai procurar vingança em vez de ficar quieta na sua vida normal. Marianne poderá ser o grande Némesis de Joe, agora que tem do seu lado o trunfo de uma falsa morte. Mas será que alguém lhe dará crédito? Será que ela é suficientemente audaz para criar pontos de conexão. 


A ideia com que ficamos é de que Marianne tem muito a perder. Esperemos que futuro coloque Joe entre verdadeiros tubarões agora que está no xadrez dos mais poderosos, ou seja, que a série faça inversão de marcha e volte ao caminho que estava a seguir no arranque da quarta temporada. Esperemos para ver se ainda há sumo ou se esta é uma fonte que já secou. Para já segunda opção parece mais realista.