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COMING UP | Outer Banks

Se estão à procura de uma série que vos vai prender a atenção e fazer-vos desanuviar nos tempos livres, lamentamos informar, mas Outer Banks não é a escolha ideal. Rica em conceito, mas pobre de conteúdo, a terceira temporada de um dos maiores sucessos juvenis da Netflix é um evento sofrível que só é salva pela química dos protagonistas, que fazem autênticas piruetas para salvar um argumento desconexo e pouco interessante. 

É, de longe, a pior sequência de episódios da série e chega quase a merecer a nossa desistência. Explicamos-te porquê em mais uma edição do Coming Up. Fica connosco, há muito para discutir sobre a nova aventura de John B e companhia. 

O ritmo continua a ser o trunfo do sucesso da série?

A segunda temporada de Outer Banks teve um salto qualitativo. Com mais investimento e muito mais dedicação, a história ganhou outro fôlego e os autores deram-lhe um ritmo que tornou a maratona fácil e viciante. Era exatamente isso que esperávamos ver na terceira temporada, mas o que recebemos foi um longo prelúdio e uma história que parece escrita às pressas que tenta salvar o enredo e unir pontas soltas mas que, ainda assim, não consegue salvar a honra da temporada. 


Os primeiros quatro capítulos são sofríveis de assistir. Entre sono e a vontade de desistir, o carisma dos atores vai falando mais alto e a afeição que criámos por eles faz-nos querer ver o que o destino lhes reserva. É um esforço inglório, e desnecessário para a construção da história dado que nesta introdução os personagens parecem ter ficado presos na roda de hámster e andam em círculos fugindo de um inimigo atrás do outro. 


Ora salvamos este, ora salvamos aquele, ora tentamos salvar a Cruz, ora voltamos para casa para salvar outro de uma nova alhada. E não passamos disto, sem que todos estes eventos tragam algo de relevante para o amadurecimento das personagens. 


O mais próximo que temos disso acontece quando Pope quase perde a razão e tenta fazer justiça pelas próprias mãos contra Rafe, ainda temos um vislumbre da evolução dele e do quanto Cleo agrega à história, mas é resolvido de uma forma tão rápida que chega a parecer forçado e gratuito. 


O clímax virou anticlímax, com os autores a não saberem conduzir os seus personagens e deixarem de lado o espaço para crescerem para poderem introduzir ainda mais camadas num mistério que já é complexo por si só. 


Ainda neste ponto sobre o tratamento dos personagens, vale a pena referir o quão chato foi este arranque do arco de John B e Sarah. Eles que sempre foram obstinados e quebraram um pouco o lugar-comum dos heróis românticos tornaram-se maçadores e as cenas dos dois repetem tantas vezes os mesmos temas e problemas que se tornam complicadas de assistir.


 

Temos novo vilão. É mais ameaçador? Faz sentido na história?

Sendo o tema principal da série um tesouro, é óbvio que não vão faltar figuras interessadas em conquistar riqueza. E nesta terceira temporada acrescentamos mais um nome à lista, com Singh, um vilão que prometia ser ainda mais poderoso do que todas as outras personagens que o grupo de Pogues enfrentou anteriormente. Lamentavelmente não foi o que aconteceu. 


O argumento até lhe tenta dar essa grandiosidade, mas a forma rápida com que o grupo dá a volta a todas as situações acaba por fazê-lo perder impacto. Tanta força bruta e dinheiro são insuficientes perante um grupo de adolescentes organizado. Neste ponto não sabemos o que é mais irrealista se a falta de eficácia de alguém com o poder de Singh ou a forma rápida e carregada de sorte com que o grupo se desenvencilha dos problemas. Isto sem podermos deixar de referir a atuação de Andy McQueen que lhe dá um ar de vilão de filme traz, daquelas comédias infantis onde só falta os vilões olharem para a câmara e gritarem: “Eu sou muito mau”. 


Se o argumento já não estava a conseguir sustentar-se, o caminho só piora quando decidir ressuscitar personagens do mundo dos mortos. Big John leva o prémio de pior ressurreição do mundo das séries. Além da atuação de Charles Halford conseguir ser ainda pior que a de McQueen, a sua participação acaba por ter um total de zero relevância na história e só complica mais o que já estava confuso. Explorar a relação dele com John B retira espaço a assuntos mais interessantes dentro da história e se analisarmos um pouco mais afundo a aparição dele serve apenas para que John B deixe de o encarar como ídolo, e colocá-lo par a par com o sofrimento de Sarah. 


Parece que queriam forçar uma igualdade entre o casal, totalmente desnecessária tendo em conta tudo o que passaram até então. Mas consegue descer ainda mais quando John B vira costas a todos os amigos em prol do pai. 


Sim, estamos a par da admiração dele pelo seu progenitor e do que aquela figura representa para ele, mas a dada altura da história parece que ele se esquece de tudo o que está para trás. O personagem vive uma fase de encantamento, mas é desnecessário e difere do background que lhe deram. Faz parecer que personagens como Pope e Kie não têm a mínima importância na vida dele, dado que ele mal lhes dirige a palavra na temporada inteira. 

 

Os arcos individuais conseguem salvar a temporada?

O carisma dos atores carregou a temporada às costas, numa season cheia de escolhas erradas e arcos mal-amanhados que se resolviam com demasiada facilidade. O principal ponto de interesse acabou por cair em cima dos ombros de Kie e JJ. 


É um facto que aquilo que eles nos trouxeram é a história clichês de um romance, mas ainda assim, o clichê foi bem feito e rendeu-nos alguns momentos em que a série nos prende e nos deixou a desejar pelo próximo episódio para saber o que iria acontecer. Claro está que é um clichê, e só por isso é que funcionou tão bem, mas, de facto, as cenas dos dois são dos pouquíssimos pontos positivos da temporada. 


Quando Kie é levada para o colégio interno o enredo dos dois tornou-se interessante, apesar da solução barata, abriu espaço para que a nossa afeição pelos personagens crescesse. A química dos dois é muito boa e o facto de estarem constantemente a jogar o jogo do gato e do rato acaba por facilitar a nossa aproximação com que eles sentem. Mas, de uma forma geral, foram os únicos que conseguiram algum desenvolvimento. 


A série ainda tentou dar uma nova guinada na vida de Sarah com aquela recaída ao mundo dos Kooks e uma aproximação a Topper, mas aquilo que poderia ter sido o destaque que faltava à personagens traduziu-se numa das piores escolhas de arco da temporada. 


É certo que falamos de adolescentes e de hormonas a pulsar, mas a facilidade com que ela se entrega novamente a Topper é muito básica e desmerece o que a narrativa fez com ela até então. Esse momento abre espaço para um Topper vilão que solta fogo à casa de John B, mas no momento em que isso acontece nós ainda estamos a tentar perceber o que terá passado pela cabeça dos autores para colocarem um destaque tão grande num personagem tão banal e estereotipado. Claramente não funcionou. 


Topper está longe de ser um personagem interessante e foi mais uma figura desnecessária que ocupou tempo de ecrã que poderia ter sido utilizado para dar um pouco mais de espaço a Pope ou a Rafe, por exemplo. Sobretudo a estes dois, dado que no final da temporada temos um salto no tempo e parece que a quezília entre eles que parecia ser algo muito sério foi esquecida. 


Aliás, aquele final foi uma sequência de amnésia coletiva. Ainda estamos a tentar entender como é que a série vai conseguir responder ao conflito entre Kie e os seus pais, tendo em conta que no regresso da série já se terá passado muito tempo dos eventos que geraram problemas entre eles. 


 

Vale a pena regressarmos para a quarta temporada?

A memória que esta terceira season nos deixa não é, de todo, animadora. E o cliffhager deixa muito a desejar além de levar a série por um caminho que desvirtua por completo o conceito da história. 


O grande apego que a trama tinha até então vinha das conexões dos protagonistas com o tesouro, ao qual se juntaram as várias camadas do mistério que fizeram com que narrativa se tornasse ainda mais interessante. Nesta temporada, por exemplo, explicaram que tudo o que vimos até então se conectava com uma das mais famosas lendas urbanas, o El Dourado, o que garantia ainda mais o nosso interesse, mas o resultado foi tão mal conseguido que só nos deixa apreensivos quanto ao futuro da série. 


Se os autores não conseguiram criar uma narrativa coesa com a história que eles decidiram contar desde o primeiro rascunho, então como vão conseguir conduzir estes personagens em algo que é totalmente novo e desconectado das suas vidas? É que até então foi pessoal, mas o caminho agora parece assemelhar-se mais a uma série de aventuras do Bando dos 4, ou seja, uma mudança completa no paradigma de uma série que já está a cachear. 


Na verdade, Outer Banks é mais um exemplo claro sobre como o sucesso e o lucro mandam mais do que a criatividade em Hollywood. É mais uma história que entra na lista de projetos que não souberam parar na sua glória. 


A série poderia facilmente ter-se resolvido na segunda temporada, sem invenções maiores ou conexões tão rebuscadas como o El Dourado. E terminaria no auge. Mas a opção foi esticar para além do necessário, o que se traduziu numa terceira leva de episódios que tem capítulos a mais (ficaríamos satisfeitos com os seis últimos, que é quando tudo realmente se começa a desenrolar) e que se esquece de fechar os seus arcos. 


Em conclusão, é tudo tão pobre que o convite para a quarta temporada deve levar mais rejeições do que o normal, tornando a série num dos casos em que a Netflix se vai arrepender de anunciar com tanta antecedência os seus planos futuros.