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COMING UP | You - 4.ª Temporada (Parte 1)

You é sobrevivente de um naufrágio. Depois de uma terceira temporada que foi uma catástrofe natural de eventos, You parece ter encontrado um bote salva-vidas que a levou por um novo rumo, onde encontra um mar de possibilidades que podem voltar a tornar a série em algo que nos prenda, de facto, a atenção. 

O carisma de Penn Badgley continua a ser o farol que nos faz encontrar o caminho de volta para esta história, mas depois já nem isso estava a ser suficiente para garantir o nosso interesse e parece que os criadores entenderam isso a tempo. 

Porém, será que este soft reboot será suficiente para que You se mantenha nas listas de favoritos do público? Falamos sobre isto na edição desta semana do Coming Up, fica connosco!

Sherlock Holmes invadiu You e não foi da forma que esperávamos.

Nesta temporada a série reforça as suas referências citando a mestre Agatha Christie e mencionando uma série de livros que mergulham a sério no universo policial. Contudo, You ainda está mais próximo do drama, o género policial até pode ser o objetivo final dos autores, mas passa bem longe de chegar lá. 


Temos um jogo de detetives? Temos. Mas não um jogo convencional, é uma pequena guerra de egos velada que tem uma inspiração clara numa outra obra clássica que não é da autoria de Agatha Christie. Arthur Conan Doyle é a verdadeira fonte de inspiração, e a própria série diz-nos isso com uma recriação low budget da perseguição no bosque que recordamos dos filmes de Guy Ritchie. 


Então, mas, Sherlock Holmes também é policial. Se You está mais para drama onde é que o clássico inspira este enredo? A resposta a isto é simples e está na forma e não no conteúdo. 


Um dos grandes duelos de titãs da literatura tem como protagonistas Sherlock Holmes e Moriarty, que se envolvem num despique de inteligência numa visão única que prevê os movimentos do adversário e o leva a pontos que desconhece, mesmo que estejamos a falar de figuras com mentes brilhantes que têm um raciocínio lógico acima da média. Com o twist de aqui não existirem lados corretos, You traz para a sua história mais um psicopata que promete ser um adversário à altura de Joe. 


É certo que já tivemos uma “luta” de serial killers nesta obra, mas há ponto totalmente diferente entre Rhys e Love: Rhys tem perspicácia e lucidez suficiente para cometer o mínimo de erros possíveis. Ele não se deixa levar pela emoção, tudo é planeado e com propósito. 


Ou seja, Love, tal como Joe, são assassinos com as emoções como motivação, enquanto Rhys tem um tipo diferente, ele usa a morte como meio calculista para atingir o seu objetivo, o que o torna mais previsível, mas, em simultâneo, muito mais perigoso e Joe sabe disso desde o primeiro momento. A grande pergunta que fica de tudo isto é: Joe e Rhys são opostos ou “farinha do mesmo saco”? 



É ficção sim, mas a pergunta que fica é: A polícia é assim tão incompetente?

You, à semelhança de outras tantas histórias de mistério, já nos provou que o universo onde a ação decorre é uma bolha. 


Para usarmos um paralelo dentro do catálogo da Netflix, a relação de You como a polícia é mais ou menos a mesma de Lupin. Ambos são personagens extremamente inteligentes e que usam o seu raciocínio para driblar a polícia, mas You talvez seja ainda um pouco mais ousada porque estamos a falar de mortes (que são crimes bem mais graves do que os cometidos por Lupin) num meio onde todos os intervenientes são ricos e poderosos. 


Dificilmente compramos a ideia de que polícia não consiga criar conexões rápidas ao ponto de encontrar um sociopata como Joe. Aliás, essa facilidade torna-se ainda mais evidente quando Rhys o desmascara. Ora, se Rhys, que apesar da sua inteligência, é o membro com menor poder dentro daquele grupo como é que nenhum dos outros conseguiu desenterrar a verdade sobre Joe? Até podemos desculpar isso com a imaturidade dos personagens, mas estamos a falar de um grupo de elite com segurança privada. 


Custa a acreditar que não exista uma pesquisa de background antes de serem levados a passar férias numa casa de família, por exemplo. Sobretudo quando nesse ponto da história já é do conhecimento público que há um assassino à solta. 


Porém, o nosso interesse pela história nesta temporada é suficiente para relevarmos a falta de veracidade e as soluções Deus Ex Machina que o texto nos oferece. Tudo porque temos, finalmente, um grupo com carisma suficiente para estar ao lado de Joe. 


Nesta temporada regressamos a um grupo, recuperando um pouco da fórmula que fez o sucesso da primeira temporada, mas um pouco mais diversificado. É como se Joe tivesse entrado no mundo de Dinasty num círculo de pessoas supérfluas, mas poderosas, com dilemas banais, mas suficientemente bem estruturadas para garantirem o nosso apego. 


Sentimos pena deles? Não, afinal falamos da escória do mundo dos ricos, mas conseguimos, pelo menos ter emoções sobre as suas escolhas ao ponto de nos interessarmos pelos passos que darão a seguir. 


Com este grupo a série volta a fazer algo que a tornou cativante logo à partida, analisando personalidades diferentes sob o ponto de vista de Joe reduzindo-os à sua carcaça, e para quem gosta de psicologia este grupo é um prato cheio.

 

Beck, Love, Marianne, Kate é a próxima na lista?

De entre todos os seus amores e desamores, Marianne foi a única por quem vimos Joe encantar-se de uma forma menos doentia (se é que isso é possível), mas ao contrário do expectável a suposta paixão avassaladora caiu por terra, com Marianne a deixar rapidamente de ser o foco das atenções do nosso protagonista. 


A quarta temporada dá-nos um novo par: Joe e Kate, mas ao contrário de todos os romances anteriores, este casal não nos convence. De todo. 


A tentativa de criarem uma relação de gato e rato entre Kate e Joe até funcionou no início, até pelas parecenças com a narrativa de Olhar Indiscreto, mas o caminho escolhido não foi o mais feliz. Por mais que soubéssemos à partida que a série nos iria dar, uma nova parceira a Joe, aquilo que realmente esperávamos de Kate era encontrar alguém que finalmente unisse os pontos e percebesse a verdade. 


Mas depois de tudo estar à sua frente e de ela própria ter salientado as suas desconfianças acabou por se deixar levar na maré. Ou seja, quando finalmente parece que vamos ter uma personagem com um pouco mais de inteligência e que consiga olhar além do óbvio o argumento reduz-lhe o Q.I e volta a catalogá-la como mais uma das vítimas do magnetismo de Joe. Aqui o grande defeito nem é a criação de romance, mas sim, o quão óbvio ele se tornou. 


A necessidade da série em estar constantemente a emparelhar o protagonista parece ter limitado a criatividade neste ponto. No entanto, ainda não está tudo perdido, e aplicando um pouco de futurologia aqui aquele corte de relação no episódio final parece tudo menos inocente. 


Depois de tudo o que passaram, Kate não parece ser o tipo de mulher que vai deixar passar tudo em claro. Seguindo aquilo que a história nos apresentou dela até então, aquela quebra de conexão pode ter sido o primeiro tiro no pé que Joe deu em muito tempo. 


Se a série for justa com aquilo que desenhou da personagem, Kate tem tudo para ser a ruína de Joe, e talvez não estejamos a falar apenas de uma denúncia à polícia, porque a esta altura do campeonato isso seria demasiado redutor dentro desta trama. Aliás, o facto de ser redutor pode até ser o motivo pelo qual ainda não colocaram atrás das grandes, porque esse seria um plot twist previsível para aumentar o hype de uma possível quinta temporada (acreditando que seja a última).


 

You reinventou-se e voltou a ser bom?

Talvez seja cedo demais para afirmarmos com certeza que You voltou a encontrar o seu rumo, mas esta mudança de perspetiva que retirou Joe do controlo dentro de um grupo que apesar de ingénuo pode acabar por levá-lo à ruína sem querer acaba por aumentar o nosso interesse. Ou seja, parece que a série se está a dirigir o bote salva-vidas para um oásis num mar bastante turbulento onde qualquer onda pode voltar a inundar a história e afundá-lo de vez. 


Os pontos de interesse nesta nova season são, de longe, mais empolgantes que os da anterior e regresso às origens com análise de personalidades acaba por nos cativar um pouco mais. Há algumas repetições, como a relação dele com Nádia que nos traz à memória a conexão com Ellie, mas, em geral, a série consegue oferecer-nos algo novo, original e criativo. 


Não nos deixa com a sensação de que estamos, outra vez, a ver a mesma história. Há um novo rumo definido, há um caminho que parece ser mais estruturado e existem mais nuances e um pouco menos previsibilidade. 


Apesar da morte continuar a ser o principal ingrediente da série, já não é tudo sobre isso, há mais camadas e com tendência a aumentarem ainda mais. You parece estar a entrar por um caminho um pouco mais ousado, com a política como pano de fundo e onde há política existe comunicação e jornalistas sedentos de contar uma boa história. É um terreno pantanoso e Joe não tem como escapar dos holofotes. 


Os autores parecem estar a criar o trilho para o encerramento prontos a colocar o seu protagonista contra a parede, e isso está claro pelos planos da imprensa que aparecem ao longo da temporada. Mas há mais detalhes que podem fazer a diferença por aqui e entrando no jogo das previsões há uma grande probabilidade de Love ainda dar as suas caras, convenhamos que a justificação para que o capanga dos Quinn ter deixado Joe vivo e em liberdade é demasiado conveniente e abre brechas para que Love consiga, do seu jeito, fazer uma vingança planeada. 


Se pudermos apostar o enredo final não se resume ao duelo entre Rhys e Joe, mas sim a um trio onde a perspicácia dos dois terá de lidar com a imprevisibilidade do comportamento de Love. E onde fica Marianne nesta história? Há muitas questões que continuam a prender-nos a atenção, por isso temos encontro marcado na Parte 2 e prometemos contar-te tudo aqui, no Coming Up.