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COMING UP | Wednesday

Wednesday, a série que tenta trazer um dos clássicos do cinema para a atualidade chegou à Netflix num tom teenager que não nos deixa totalmente convencidos, mas que conquista pela personalidade cativante da sua protagonista. Jenna Ortega é a alma da festa que não tem um banquete tão recheado quanto esperávamos é que acaba por utilizar de forma rasa a conexão de Tim Burton com o estilo da longa-metragem original de 1991. 

Apesar da riqueza do universo da Família Addams, a história de Wednesday deixou-se arrastar pelo clichê dos dramas juvenis e acaba por encontrar o seu caminho num argumento sobrenatural que sobrevive na banalidade. 

Sem ter algo de verdadeiramente novo, a série suporta-se na sua grande estrela que é o trunfo que fez esta produção tornar-se num sucesso viral. Falamos-te de tudo isto em mais uma edição do Coming Up, fica connosco, há detalhes que precisam de ser discutidos neste regresso de Wednesday ao conhecimento público. 

Ao contrário da maioria dos retornos, reboots, revivals ou comebacks a que Hollywood nos tem habituado recentemente, Wednesday parte com vantagem por se tratar de uma história que não tem uma grande legião de fãs. Além de ser um disfarce corriqueiro de Halloween, não há muito mais de memorável neste clássico, pelo menos aos olhos do público-alvo da série. 

Esta ausência de linhas de comparação acaba por jogar a favor do argumento, porque há um desconhecimento geral sobre a dimensão, os detalhes e pormenores que a história dos Addams carrega.

Excluindo isso, em Wednesday temos mais uma introdução ao mundo juvenil debaixo do guarda-chuva do sobrenatural e do “demoníaco” que é muito pouco diferente daquilo que a própria Netflix nos apresentou em The Chilling Adventures of Sabrina


A principal diferença entre as duas produções é que The Chilling Adventures of Sabrina apesar de tudo ainda consegue apresentar um drama mais maduro, com questões mais importantes de trazer para a discussão, e com mais sumo e moral quando comparada com Wednesday onde parece que se deu uma grande importância aos cenários, à arte e figurinos, mas deixaram a história para segundo plano. 


Despida de todos os elementos acessórios, a história de Wednesday além de não trazer nada de novo e de se tornar previsível acaba por ser pouco atrativa e maçadora em alguns momentos. 


Os personagens até vão tendo um pequeno crescimento ao longo dos episódios, mas sem fugirem muito da sua zona de conforto, como se tudo estivesse contido e a história fosse tão insegura que preferisse não lhes dar maturidade para não precisar de entregar mais explicações aos fãs. 


Se entretém? Claro que sim, sobretudo porque Wednesday tem uma expressividade que nos cativa porque estamos sempre à espera do próximo passo da sua personalidade distorcida, mas retirando isso da equação, nem o mistério é assim tão atraente. 


É até um dos raros casos recentes em que todos os plot twists são desvendados ao final dos primeiros três capítulos, a partir daí há capítulos que chegam a dar-nos sono por pouco ou nada acrescentarem ao enredo central. 



Mas vamos à história propriamente dita: Um monstro ataca uma cidade, os jovens de uma escola duvidosa com habilidades mais ou menos desconhecidas por todos são acusados, e a partir desse momento desenrola-se uma sequência de ações onde são eles, os jovens a tomar parte ativa na solução do mistério. Riverdale, One of Us Is Lying e outras tantas mandam cumprimentos à sua mais recente irmã na arte de colocar jovens a servirem de detetives. 


Na escola, Nevermore, só entram alunos rejeitados pela sociedade, todos eles com talentos sobre-humanos, mas cujas características servem apenas para alavancar o ritmo da série sem oferecerem nada de tão relevante. 


Temos o arco de Enid, cuja personalidade também é um chamariz para combater a previsibilidade, que é interessante sobretudo pela sua “luta” com os seus pais. Temos o arco de Bianca cujas habilidades são um dos grandes acertos da história, mas que se perdem por servirem apenas de apoio quando a personagem é relegada constantemente para segundo plano. Temos, ainda, Xavier que claramente sofre com alguma espécie de problema de saúde mental, mas que não tem um arco com tempo suficiente para ter essa característica desenvolvida. 


Ou seja, estamos perante um claro caso de uma história com muita parra e pouca uva. E é triste porque Wednesday tem todos os ingredientes para jorrar um bom vinho se se esforçasse um pouco mais para sair do lugar-comum. Deixa-nos a desejar mais, mas fica por aí.

 

Os nossos desejos frustrados aumentam ainda mais quando vemos o talento do elenco. Wednesday tem um dos melhores casting de séries adolescentes dos últimos tempos, mas esse valor acaba por ser enterrado nos arcos clichês dos personagens. 


O carisma de Jenna Ortega salva e carrega às costas o nosso interesse por Wednesday, como personagem e como série, mas não é caso único. Emma Mayers e a sua Enid também conseguem surpreender, sobretudo pelo excelente tempo de comédia da atriz que na contracena com Jenna Ortega consegue render momentos que nos fazem rir e nos voltam a fazer querer estar atentos ao desenrolar dos personagens. 


A dicotomia das duas, construída a partir de uma das melhores partes desta produção, o cenário, acaba por salvar vários episódios fillers da história, e quando as duas não funcionam como equipa o ritmo dos episódios ressente-se, o que prova, mais uma vez, o quanto Wednesday está refém do talento e carisma dos seus atores, para sobreviver. 


É mais um daqueles projetos que acaba por nos prender pela empatia que temos com os personagens, e para proximidade que eles constroem connosco. 


Mesmo se tratando de uma série com um mote sobrenatural, a grande moral de Wednesday é transversal à nossa realidade e fala sobre expectativas e quanto a sociedade nos tenta moldar para que sejamos todos parte do que é considerado “normal”. 


É um ângulo interessante à partida, mas a exploração fraca acaba por fazer esmorecer o impacto, e no final das contas os clichês acabam por não fazer justiça à mensagem que a série quer passar.

 


E nem os personagens adultos sobrevivem a essa ferramenta simplificadora dos autores. Aos personagens mais velhos aos quais é exigida alguma maturidade, aquilo que é entregue é uma boa dose de inexperiência, com um desenvolvimento individual algo infantil e pouco construtivo. 


Eles são banais, rasos, e mais uma vez fazem o talento dos seus interpretes refém em prol do básico. As intenções e objetivos de cada um são claros como a água, dado que eles foram desenhados na base do molde do estereotipo e mesmo aqueles que como Weems ou Thornhill carregam algum tipo de twist de personalidade são criados de uma forma tão pobre que acabam por desvendar os seus segredos logo à partida. 


A partir do primeiro momento em que a Diretora e a Professora entraram em cena percebemos logo que eles estavam a tentar trabalhar com o clichê invertido, contudo, à medida que os episódios foram avançando e que as suas ações forçosamente caminhavam para marcar ainda mais esse clichê do bem e do mal, a nossa perceção tornou tudo ainda mais claro, e o plot twist perdeu totalmente o impacto. 


Ou seja, mais uma vez, a ideia era muito boa, mas o trabalho que foi feito em cima dela não trouxe o potencial esperado. 


No final das contas, o único plot twist que realmente funcionou foi a revelação de Galpin. O momento em que ele deixa de lado o seu ar cândido e revela as suas verdadeiras intenções depois de Wednesday ter sido “presa” foi, de longe, o melhor momento da série e o mais surpreendente, porque ali foi o único momento em que os autores realmente saíram do lugar-comum. Mas foi caso único, porque logo de seguida voltaram a apostar no clichê puro e duro.

 

Wednesday prometia muito e entregou um trabalho que apesar de entreter e de ter uma estética incrível é um produto facilmente esquecível. A personalidade icónica de Wednesday e o trabalho de Jenna Ortega ainda continuarão a dar algum protagonismo à série, mas a história, que, ao fim ao cabo, é o principal barómetro que nos faz querer ver mais da série, não nos desperta grande interesse. 


Há muito mais neste universo do que aquilo que foi apresentado, e parece que o cunho de Tim Burton se ficou única e exclusivamente pelo arrojo nos cenários e figurinos. O esqueleto é ótimo, mas o corpo não deu nas vistas, e talvez um segundo ano não seja uma certeza tão grande quanto os fãs de Wednesday gostariam. 


Na utilização ou adaptação do universo satânico aos dramas adolescentes, The Chilling Adventures of Sabrina acaba por levar a taça, mesmo com muitos arcos em que se perdeu totalmente. Enquanto isso, Wednesday fica-se por uma série que é um excelente passatempo de maratona fácil, mas que não entrega nada de relevante. 


Não é um trabalho memorável na carreira de Tim Burton, que parece ter conseguido mergulhar muito mais no universo de Alice In Wonderland do que no de Addams Family, apesar do segundo ter muito mais a ver com o seu currículo. 


Os memes do talento de Jenna Ortega são a melhor coisa a retirar da série, e isso já não é um presságio muito bom. 


Esperemos que caso venha uma segunda temporada consigam dar um pouco mais de profundidade, porque depois desta ainda não estamos convencidos a marcar encontro para a continuação. Aguardemos por novos planos da Netflix.