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COMING UP | The Rings of Power

E saltamos de um épico para outro. Depois de na semana passada termos o regresso do universo de Game of Thrones, é a vez de outra das grandes obras de fantasia regressar aos olhos dos seus fiéis fãs. The Rings of Power traz de volta a essência Tolkien numa epopeia que se apresenta como longa, bem sustentada e rica em pormenores. 

De regresso está, ainda, Galadriel numa escolha inteligente que une a nova obra com a sua raiz enquanto transforma uma das personagens mais carismáticas das longas-metragens no Ulisses da vez. Sauron é, de novo, o grande inimigo a combater, numa atmosfera muito mais obscura daquela que vimos na trilogia. 

Falamos disto e de muito mais na edição desta semana do Coming Up, onde abordamos a riqueza técnica de um dos projetos que promete ser um marco histórico no audiovisual. Fica connosco, há muito para conversar. 

Lord of The Rings é uma franquia de riqueza ímpar que fez escola para muito do que são os projetos de fantasia que nos enchem os olhos nos dias atuais. O retorno, aguardado e pedido por muitos tardou, mas The Rings of Power fez valer cada segundo de espera. 

Apesar desta não ser uma produção que encante tudo e todos é inegável que ela está à altura da magnitude e do tamanho do material base. 

A régua aqui aumenta e The Rings of Power, gostemos ou não, eleva a forma como se deve olhar para a produção de séries para o streaming. Será este o grande projeto que fará a Amazon Prime Vídeo rivalizar de vez com a Netflix e o Disney+?

Pisando as pegadas de Lord of The Rings, The Rings of Power entrega-se por completo ao estilo contemplativo com a beleza dos seus frames a tornarem-se o grande atrativo da série. A grandiosidade e a beleza encontram aqui um casamento perfeito em que o técnico e a arte se unem de uma forma incrível que inveja até as grandes obras cinematográficas de Hollywood. 


Tudo é gigante sem resvalar no exagero, na ostentação. No fundo, Rings of Power tem exatamente aquilo que a grande maioria das adaptações deveriam ter quando são levadas para o ecrã: Um orçamento que faça justiça à obra. 


Não desfazendo o material original, nem tão pouco a polémica prequela de Hobbit, o que é certo é que a preparação técnica para a série e o alto budget dão a este universo uma dimensão muito maior. Além de mais realista (tanto quanto possível, pelo menos), o pormenor e detalhe visual torna tudo quase palpável, o que funciona de forma perfeita para sentirmos o ambiente que rodeia os protagonistas. 


E isto torna Sauron mais ameaçador, com as cenas do primeiro episódio a deixarem logo esse lado negro e mais denso saltarem para o centro da ação num contraste de cores que ajuda a entendermos bem como a beleza e a paz vibrante da história se vai eclipsar rapidamente. 


A arte é, de resto, algo constante, as cores da série são parte da ação. No fundo, esse lado técnico e artístico tem em The Rings of Power uma função narrativa muito maior do que é habitual. 


E é impossível não estabelecermos um comparativo com Game of Thrones que fazia na primeira e segunda temporada exatamente o mesmo esquema. É como se bebessem esse exemplo e o ampliassem a um universo que é, ainda mais, rico que o de Martin.



O estilo narrativo é claro com uma linha bem traçada e vincada num ritmo mais lento que dá tempo e espaço para que a história não aparente ser pré-fabricada. O detalhe é imenso e tudo é apresentado ao público numa sensação de tempo real que cativa aqueles que seguiram religiosamente a primeira temporada de Game of Thrones


Ainda assim, The Rings of Power toma o risco de parecer vagarosa demais. O contemplativo não cai no gosto de todo o género de público, e o relato quase histórico deste universo fantasioso dá à produção uma profundidade e um background que obriga a uma atenção maior. 


Não é uma daquelas histórias em que podemos desviar os olhos para o telemóvel, no fundo se há algo que já podemos ter como certo com estes dois episódios é que esta não é uma série para preguiçosos. 


Mas, voltando ao esquema do argumento, tal como acontece em Lord of The Rings a ação divide os seus protagonistas em grupos para que a história geral seja contada. Ou seja, é o velho e funcional método de levar figuras distintas, sem aparente ligação, em atalhos para se unirem todos no final das contas na mesma estrada principal. 


À parte de, tal como dissemos, este método ser extremamente funcional e comum nestas grandes epopeias, no caso específico de The Rings of Power evita muitos diálogos e cenas que sirvam apenas para fortalecer ligações, além de abrir espaço para que o fio condutor se desenrole mais rápido, sem se preocuparem tanto em dar consistência às emoções que os personagens têm uns pelos outros. 


Apesar da série não ter isto como necessidade pelo ritmo mais lento que tem, acaba por ser uma escolha bastante inteligente para que as narrativas individuais ganhem mais impacto, acabando por explorar muito melhor e com mais profundidade a personalidade e as lutas individuais de cada um dos protagonistas.


Foco. Esse é o grande segredo de The Rings of Power. A série sabe exatamente onde quer chegar. Não há dúvidas disso. É, também, por isso que a série se pode dar ao luxo de gastar tempo de ecrã a mostrar a beleza dos cenários, a majestosa qualidade técnica das cenas e o lado mais contemplativo. 


É um luxo raro no audiovisual, porém é uma prova factual da liberdade criativa dos autores. Ao contrário da maioria dos projetos que cavalgam o streaming, aqui não há teto. No fundo, a sensação que temos a cada nova cena com efeitos visuais magistrais é que o único limite de The Rings of Power é, de facto, a vontade de quem escreve. 


Um privilégio raro que pode pender para uma riqueza abismal que torne a série numa daquelas que vai ficar gravada na memória do público, mas por outro lado pode ser o carrasco do projeto por dar demasiado espaço a episódios de engorda, os chamados fillers que pouco acrescentam ao final. É nesta linha que a série se desenrola e que nos impede de lhe dar uma nota maior na nossa análise. 


Chega a tornar-se um pouco confuso falar sobre a série para além do excelente lado técnico e design que tem, porque esses aspetos acabam por nos deixar inebriados. Tudo é tão bonito e repleto de glamour que acabamos por ignorar falhas e desculpar momentos em que o episódio nos perde. 


Mas, quando pensamos de forma mais fria sobre aquilo que assistimos entendemos que não estamos perante um projeto que vá escalar posições nos tops de favoritos. Porque nem parece ser esse o objetivo. 


The Rings of Power é muito mais sobre mostrar a grandeza do que propriamente sobre a epopeia em si, é um quadro magnifico transporto para o ecrã que poderia ter saltado de um clássico de Homero. Uma comparação fácil, dado que, tal como dissemos antes, Galadriel assume-se como uma espécie de Ulisses deste mundo da Terra Média.



E sobre o elenco? As atuações, por mais credíveis e sustentadas que estejam ainda não se conseguem sobressair a tudo aquilo que envolve a narrativa, à beleza do lado mais técnico e digital. O facto de os personagens terem cruzadas solitárias não ajuda propriamente a que as atuações saltem à vista, por enquanto pelo menos, mas ainda assim é impossível fecharmos os olhos ao carisma de Morfydd Clark. 


Aguerrida e marcante, com uma linguagem corporal que nos desvenda o estado de espírito da personagem, Morfydd carrega na sua Galadriel uma protagonista que oscila entre a violência e a amabilidade. Com emoções à flor da pele que se escondem atrás da armadura, ela é o lado mais emocional desta história e abusa da impulsividade da personagem para a tornar humana, real e palpável. 


Apesar da série ainda não ter encontrado momentos para a colocar, realmente, no centro dos holofotes, ela parece ser daquelas figuras que assim que tiver uma oportunidade nos vai deixar rendidos e envoltos pela sua atuação ao ponto de nos dar uma experiência imersiva. 


Robert Aramayo ganha mais destaque no segundo capítulo num drama que promete ser mais denso, mas que para já ainda está a ser tratado pela rama, sem nos deixar espaço para um comentário mais longo sob pena de estarmos a ser injustos a longo prazo. 


E enquanto isso, é Nora, a personagem de Markella Kavenagh, quem nos carrega para continuarmos a assistir à série por ter um arco mais descontraído, sem o peso se se sustentar apenas na beleza cinematográfica e por neste momento se ter tornado na única personagem com maior espaço de desenvolvimento. Do seu lado tem, ainda, a vertente cómica que funciona sem ser demasiado básico, mas sem se perder nos meandros da grandeza do texto.


The Rings of Power é um desafio. Não é uma série que nos arrebate na história, mas é uma experiência que merece ser vista para vermos o que de melhor se faz na indústria, aqui temos a nata dos efeitos visuais, do design, da fotografia, num cuidado extremado que é uma autêntica aula. 


Não é o tipo de projeto que prende tudo e todos e quem não é fã declaro de Lord of The Rings pode encontrar algumas dificuldades em relacionar-se com a ação, mas nem é esse o principal desafio ou problema que vai encontrar aqui. 


O ritmo e a enxurrada de contexto exigem um arcaboiço mental que nem todos estarão disponíveis a dar e a série pode acabar por se sufocar na sua própria grandeza e na ausência de uma mão pesada da produção que imponha limites à vontade dos criadores, que claramente são fãs de Tolkien, em mostrar cada detalhe deste universo. 


É estranhíssimo apelarmos aos cortes dos produtores sedentos de Hollywood, mas em The Rings of Power esses limites impõem-se para nos libertar de uma história travada. É certo que é ótimo ver os eventos serem saboreados no seu devido tempo, mas chega a ser demais, há momentos do segundo episódio que são claramente arrastados de mais e um pezinho no acelerador só iria ajudar a fazer sobressair os personagens. 


É uma série sobre a qual é difícil falar porque temos duas visões distintas: Uma quando estamos a assistir e deixamos o nosso queixo cair pela qualidade e outra quando nos distanciamos e percebemos que não há assim tanto por onde espremer. Não funciona na sua totalidade, mas vale a pena dar uma chance, porque quando tudo já estiver alicerçado talvez a nossa perspetiva seja outra. 


É esperar para ver, mas o terceiro capítulo poderá ser um fator decisivo demais para uma série que se apresentou com expectativas tão altas.