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COMING UP | Praxx

Praxx é o novo drama que promete colocar as nossas emoções à flor da pele e que vem reforçar a qualidade da oferta do catálogo da OPTO SIC. Numa proposta ousada e arriscada, Praxx conquista-nos pelo seu ângulo e pela forma como nos apresenta as emoções despidas de artifícios. 

A dor não se mascara, não se exagera, mas nesta série tem o grande elemento surpresa de atravessar o nosso ecrã e fazer-nos sentir o sofrimento de quem está dentro daquela tragédia. 

O clima que mistura suspense e drama em doses pesadas ganha outra dimensão por estarmos a falar de uma história que é do conhecimento geral e que continua a arrepiar-nos e a incomodar a maioria aos dias de hoje. 

É um reviver da angústia inimaginável daquelas famílias feita com a dureza que respeita os eventos trágicos, mas sem perder a sensibilidade de contar algo que nos comova e nos toque. 

Falamos disto e de muito mais neste Coming Up onde embarcamos naquela que é provavelmente uma das narrativas mais densas produzidas por um canal de televisão nos últimos anos. Fica connosco, há muito a dizer. 

Praxx carrega o peso do “baseado em factos verídicos” com o selo de controverso pronto a ser colocado antes mesmo de vermos o primeiro capítulo desta história. Mas quando assistimos a este episódio percebemos que esse adjetivo está longe de descrever a nossa experiência, dura, pesada, dramática, realista, estas talvez sejam algumas das palavras que melhor definam a história que se começa agora a desenvolver.

Além da dimensão da dor da família que almeja reencontrar alguém que já está dado como perdido por todos, sobre a qual falaremos mais adiante, a série vai mais longe no realismo e mostra-nos uma visão fiel do bom e do mau sobre o que se passa nos anos chave da vida destes jovens adultos que constroem Praxx


A série, pelo menos neste primeiro episódio, mas que acaba por ser o mote para o que daí vem, não se preocupa em encontrar culpados, vilões fáceis que construam uma estrutura narrativa clássica. Aqui o senso de verdade é o timoneiro principal e muito mais do que se preocupar em apontar dedos, a série pretende embarcar naquilo que imaginamos tratar-se de um relato puro e duro sobre o que aconteceu, sem pinturas que melhorem ou beneficiem a transição para uma produção audiovisual. 


É nessa abordagem sobre o que é, de facto, importante e real que a série nos vai conquistando e nos vai atraindo para o seu lado mais emocional ao qual é impossível passarmos indiferentes. 


Fazem-se em Portugal vários projetos com muita qualidade, mas se há traço comum nos projetos levados a cabo pela produtora Santa Rita Filmes é o de que na larga maioria deles as nossas emoções misturam-se com a ficção numa união difícil de desfazer por nos colocar no lugar do outro e nos deixar com a cabeça às voltas quando o episódio ou o filme terminam. 


É um gatilho emocional duro, quase cruel, mas que é fruto de um trabalho gigantesco onde o bom gosto e a crueza da realidade se cruzam sem nos ser percetível à primeira vista.



Regressando ao episódio e abstraindo-nos desta visão mais geral. Praxx arranca no momento chave, não nos deixa à espera do desenrolar de uma história que todos nós, infelizmente, conhecemos bem. E coloca-nos logo na linha da frente na expectativa de que tenhamos algum tipo de resposta sobre os eventos trágicos, mas num paralelo bonito, se é que podemos utilizar esta palavra, com a incerteza das famílias. Também eles estão a aguardar soluções para este quebra-cabeças, também eles querem entender o que aconteceu, mas estão, tal como nós agora, à espera envoltos num mar de lágrimas que os impede de aceitar a lógica por detrás dos factos, de aceitar o inevitável. 


E avançamos para o que acontece antes, o flashback clássico dos dramas de investigação que é uma prisão fácil para o espectador, How To Get Away With Murder que o diga que nos cativou por seis temporadas nesta estrutura. Neste regresso ao passado a nossa angústia só aumenta, por vermos a devoção destes jovens, a vivacidade, os sonhos, as paixões. É neste ponto que tudo se torna mais palpável e duro, porque sabemos qual é o destino, mas ainda nos esforçamos para o negar. 


E começa o loop mental em que nos colocamos na posição das famílias das vítimas e pensamos que se é difícil aceitar o futuro que já sabemos que vai acontecer, nem nos é possível imaginar o que vai na alma daquelas pessoas. É tão triste, cruel, duro e credível. 


Mas há arte nesta verdade, e arte de primeira água. Maria João Pinho soma aqui, a par de Glória, uma das suas maiores interpretações na carreira televisiva, numa exposição da dor que é atroz, mas que acreditamos que seja justa com aquela que foi sentida por aqueles pais. 


A cena em que ela se recusa a aceitar a lógica e que coloca a filha em cheque é um nó na garganta, coloca-nos em ponto rebuçado, deixando-nos completamente vidrados com a sua atuação, comprando cada emoção, cada sensação. 


É injusto comparar o trabalho e talento de duas figuras tão marcantes e grandes, mas a dor que Maria João Pinho reflete em Praxx, é igualável à de Ana Moreira em Sombra. As temáticas dos dois projetos, que cruzam em vários momentos, são socos no estômago de qualquer pessoa, mas ambos vivem do talento avassalador das atuações das atrizes que vestem o corpo de mulheres, de mães, que naquele momento são expostas a uma das maiores dores possíveis e que ainda encontram forças para acreditar e fé para se manterem de pé. 


Se em Glória as cenas em que Maria João Pinho é violentada, violada e espezinhada, já nos deixam num desconforto visceral, aqui o texto faz a sua arte subir de tom e puxa para fora o nosso respeito pela sua entrega vestindo um personagem que nada tem de fácil, mas que carrega a sensibilidade e a fragilidade de tantas e tantas mulheres que se veem ali representadas. 



De Maria João Pinho passamos para Madalena Almeida. Há muitas edições que referimos um e outra vez que Madalena Almeida é figura de primeira água no mercado audiovisual nacional, mas em Praxx teremos uma prova (como se necessário fosse) daquilo que dizemos por aqui. 


A Marta de Madalena é um desafio para qualquer interprete. Não pelo diálogo ou pela postura, mas porque tem de se construída num híbrido de frieza e comoção que não está ao alcance de todos. E a forma como Madalena a carrega tem a transparência necessária para que também nos coloquemos na sua posição. 


As contracenas de Madalena e Maria João Pinho são a cereja no topo do bolo de um projeto com uma qualidade alta e que bebem o melhor que os seus artistas lhe podem dar. 


A revolta de Marta é a revolta de todos nós cidadãos, consternados com o que aconteceu, aliando a essa revolta a dor da perda de alguém tão próximo e que é um ponto fundamental na sua vida. 


São indiscritíveis a emoções que vamos sentindo enquanto a acompanhamos, porque, de facto, ela prende-nos ao ecrã, o baseado perde-se e de repente, quando damos conta parece que estamos mesmo dentro de uma história real, e carregamos todas as emoções, e falamos com o ecrã, e procuramos respostas e soluções, e justificações.


Da realização irrepreensível de Patrícia Sequeira até ao argumento de Ana Lúcia Carvalho e Patrícia Sequeira que contorna possíveis polémicas entregando uma história que se centra no ângulo da dor, Praxx tem tudo para se tornar numa das melhores produções exclusivas da OPTO SIC. 


Aliado a isso tem no elenco alguns dos melhores nomes da nova geração da atuação em Portugal, com João Arrais, Vera Moura, Margarida Bakker, Mariana Pacheco, João Jesus, Alexandre Jorge, que inclusive está aqui a provar que merece mais oportunidades na ficção e que é desperdício não ser aproveitado para mais papéis com carga dramática, e Catarina Rebelo que em poucas cenas já volta a provar mais uma vez que ela será uma das grandes divas da ficção no nosso país. 


Para quem acompanha a carreira de Catarina Rebelo e assistiu Mar Salgado não é uma surpresa ver o poço de talento que borbulha nela, mas Praxx é a confirmação que faltava para mostrar ao mundo que Catarina Rebelo já não é uma criança e que tem um tempo de drama no mínimo tocante. 


A ousadia de Praxx contrasta com o seu apelo emocional que é tão denso e empático que nos deixa à margem das polémicas ou do burburinho que anda à sua volta. 


É provavelmente uma das séries que mais utilizadores vai cativar e que pelo que apresenta neste primeiro episódio merece, claramente, uma montra maior para ser vista. 


Esperemos que vos tenhamos ajudado a entender que Praxx não é só mais um bom projeto nacional, é uma produção que merece a nossa atenção e para a qual temos de ir com preparo emocional. 


Não será, certamente, a última vez que falamos dela por aqui.