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Pensa Rápido: André Carvalho Ramos

Foto: Direitos Reservados
É no terreno que o jornalista tem o primeiro contacto direto com a realidade. Aconteceu em Pedrógão Grande, nos incêndios de 2017, mas também na Grécia, junto dos refugiados, e na Cisjordânia, onde assistiu de perto aos confrontos entre Israelitas e Palestinianos. André Carvalho Ramos carrega já uma bagagem cultural que só cabe mesmo no porão. O jornalismo foi o seu plano A. E o B também. Nunca houve outra opção. Passou pela RTP, CMTV e TVI. Foi nesta última estação que fez a sua estreia profissional, através de um estágio. Acabou por voltar anos depois. Agora faz parte da equipa da CNN Portugal. Em junho de 2021 foi-lhe atribuído um Golden Nymph Award, no 60º Festival de Televisão de Monte Carlo, pela reportagem O Diagnóstico: Covid-19. São muitos anos de experiência, muitas histórias contadas e muitas outras por partilhar. Talvez só um livro não seja suficiente.
Foto: Direitos Reservados
1. Uma notícia que tenha marcado o início do teu percurso enquanto jornalista.

A primavera árabe pelo impacto que teve na queda de regimes ditatoriais e nas guerras civis, como a da Síria, que ainda perduram, foi o evento que coincidiu com os meus primeiros anos de jornalismo e que mais me marcou.

2. Quais os temas de três reportagens que te tenham desafiado mais?

O primeiro, sem dúvida, a crise de refugiados na Europa. Em 2015 comecei a investigar o tema, no ano seguinte produzi a minha primeira reportagem na Grécia onde fiz a travessia por mar e estive nos piores campos de refugiados como o campo de Moria, em Lesbos. O segundo maior desafio foi a opressão militar de Israel contra Palestinianos. Estive na Cisjordânia numa altura complicada, com ataques à Faixa de Gaza e protestos violentos em Jerusalém. O terceiro maior desafio foi a Guerra na Ucrânia e a crise migratória que ela provocou.

3. Quando olhas para todo o processo jornalístico, desde a pesquisa à publicação de uma reportagem televisiva ou escrita, qual é a parte que não gostas tanto?

O mais frustrante é o tempo de espera. Quer seja a espera por uma autorização para entrar num determinado lugar, quer seja a espera por alguém aceitar conceder uma entrevista. Ser paciente é uma mais valia neste trabalho e ao mesmo tempo uma das maiores dificuldades.

4. Um site onde costumas pesquisar informação/curiosidades para incluíres nos teus artigos.

Normalmente os trabalhos de investigação baseiam-se em documentos oficiais ou, até, confidenciais. O meu objetivo é sempre publicar algo que não tenha ainda sido publicado noutro lugar. Porém, há projetos excelentes, alguns de brilhante reputação como a revista The New Yorker, outros mais recentes, como o jornal online The New Humanitarian. Ambos são as minhas leituras frequentes.

5. Que reportagem aconselhas a ver/ler este verão? 

Há dois livros que saíram recentemente que aconselho a quem se interessa pelo tema dos refugiados - mais atual do que nunca por causa da Guerra na Ucrânia - e também a quem acredita que tem certezas inabaláveis sobre o assunto. The Fourth Time, We Drowed - Sally Hayden; The Naked Don't Fear The Water - Matthieu Aikins. São excelentes trabalhos jornalísticos e, em breve, espero também ter o meu primeiro livro publicado, resultado de sete anos de investigação nesta área, em vários países.

Foto: Primavera Árabe (Direitos Reservados)
A Primavera Árabe foi um dos acontecimentos históricos que marcou os primeiros anos de jornalismo de André Carvalho Ramos. É um bom pretexto para recordar as origens deste conjunto de protestos e manifestações que derrubaram ditaduras no Médio Oriente e Norte de África. Estávamos em dezembro de 2010. Em Sidi Bouzid, região central da Tunísia, um jovem vendedor ambulante via os produtos que transportava num carrinho de mão serem roubados pelos polícias que minutos antes o agrediram. O jovem ateou fogo sobre si mesmo. Morreu nas próprias mãos. O povo saiu à rua em sua defesa. A ditadura estava a ser ameaçada pela população. O então presidente da Tunísia foi forçado a sair do país. Era inverno. Mas o nome Primavera Árabe remete para o florescer das democracias. Os tunisinos foram os primeiros. Os protestos estenderam-se a outras regiões do Norte de África e Médio Oriente. Egito, Argélia, Líbia, Síria, Jordânia, entre outros. As redes sociais foram um instrumento fulcral na mundialização deste acontecimento da história contemporânea. Houve ditaduras e censuras derrubadas, mas nem tudo está resolvido. Passado 12 anos, a Síria, por exemplo, continua em guerra civil. O regime autoritário está longe de terminar. Resta-nos a esperança.