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COMING UP | House of The Dragon

A essência de drama familiar com um épico de ação mantém-se firme em House of The Dragon, mas a grande questão que se levanta quando falamos desta nova aposta do HBO Max é: Conseguirá superar os receios de quem se desiludiu com o final insípido de Game of Thrones? Ao primeiro capítulo a história consegue, pelo menos, convencer-nos que merece uma chance com uma trama que faz retornar a grandiosidade da narrativa mãe enquanto nos promete menos complexidade e um drama mais vivido. 

À priori, House of The Dragon parece ter conseguido trazer os aspetos que tornaram Game of Thrones em algo que move multidões, porém, ainda não deixa acreditar inteiramente que esse sucesso se vá repetir porque desta vez parece que teremos uma grande franquia a focar-se num nicho. 

Vamos do geral para o particular, numa transição usual em spin-offs mas que pode não cair no gosto de todos os fãs. 

Falamos-te dos altos e baixos e da luta pelo trono de ferro, num regresso aguardado a Westeros que promete dar muito que falar no Coming Up. Fica connosco, há muito para conversar e opinar sobre este primeiro episódio. 

Vamos seguir a ideia dos autores e começar também do geral para o particular, arrancando a nossa análise com o ritmo da série. Game of Thrones habituou-nos (à exceção da sua última temporada) a uma intriga saboreada em que as ações tomavam o tempo necessário para transmitir a sua devida importância e aquele senso de épico que nos agrada a todos. 

Mas essa estrutura é algo que House of The Dragon não herdou.

Por mais que nos pareça numa primeira impressão de que este é um drama com muitos detalhes por explorar, talvez essa ideia pré-concebida esteja errada. Porquê? Ora, o primeiro capítulo tem uma série de sequências de ação que acontecem umas atrás das outras, sem deixarem o devido fôlego entre elas, é um contrarrelógio nada habitual neste universo, e que acaba por funcionar para aumentar o nosso interesse porque temos uma lista de eventos marcantes logo no arranque. Mas deixa a expectativa alta para sabermos como é que conseguirão manter a fasquia neste nível nos episódios seguintes. 


No mesmo episódio, e é certo que temos que ter em conta que se trata de um episódio de introdução a uma história e que por isso tem de ser cativante, a lista de twists só aumenta em cada transição, e por mais que isso nos deixe deliciados também consegue deixar-nos apreensivos com receio de que não exista uma narrativa que suporte esta velocidade ao longo de mais nove episódios de uma hora. 


É preciso extrair muito sumo de uma narrativa nichada, centrada num determinado grupo de pessoas, para se sustentar neste nível de impacto, o que aumenta muito o desafio de House of The Dragon


Se as expectativas de que se supere ou pelo menos se equipare a Game of Thrones já deixavam a trama numa posição delicada, com este primeiro episódio a sensação que nos deixam é a de que os argumentistas dificultaram ainda mais a sua vida. 


Ou os planos serão maiores do que pensávamos ou House of The Dragon poderá estar a caminhar para um precipício e levar no salto toda a réstia de esperança dos fãs do universo de George R. R. Martin.



Porém, apesar dessa velocidade aumentada na introdução de elementos que realmente viram o jogo, neste primeiro capítulo cada curva na estrutura é embelezada com cenas de ação artísticas numa direção de fotografia que mais uma vez deixa Westeros transparecer toda a sua grandiosidade. 


Há quadros desenhados num cuidado extremado em cada frame, numa beleza que só um budget elevado pode cobrir, mas que ainda assim ajuda a que o drama se torne crível dentro de uma história de fantasia. Ou seja, por mais que estejamos a lidar com matérias que incluem dragões e algum misticismo, o sentido bélico de um enredo clássico e histórico mantém-se intocável. 


É o melhor de dois mundos. Mas, ainda nos aspetos técnicos vale a pena realçar que para as vozes críticas que não deixam She Hulk brilhar para além dos erros de CGI, mas que se enternecem com a beleza de House of The Dragon, algo está altamente incoerente. 


É que tal como a mais recente produção da Marvel, também aqui falta um pouco mais de cuidado com a criação de figuras de computador. Por mais que isso não seja algo inédito dentro da franquia de Game of Thrones e que não seja sequer algo que invada a nossa relação afetiva com os personagens. 


Este é um detalhe que à luz das discussões atuais não pode passar em claro, e mesmo com um orçamento que é, claramente, maior que o de She Hulk, as falhas notam-se de igual modo, e talvez até com menos desculpas, dado que esta é superprodução vendida para o público como uma aposta de milhões. 


Contudo, vale a pena ressaltar que mesmo com dragões robóticos, House of The Dragon consegue passar a sua mensagem e magnitude sem problemas. 


Mas deixemos de lado estes dados mais técnicos e concentremo-nos no que realmente importa: A história. Num híbrido entre um argumento de novela e uma adaptação de um romance Shakespeareano com vários laivos do clássico HamletHouse of The Dragon traz uma narrativa que facilmente nos prende e nos envolve com os seus personagens e as questões que os assombram. 


O primeiro episódio já nos deixa uma clara definição dos interesses de cada personagem e deixa-nos com lados pelos quais podemos torcer, com uma interpretação sem mácula de Matt Smith, que é de longe o detentor da figura mais impactante da história. 


O príncipe rebelde, que tem tanto de sanguinário quanto de justo aterra nesta história para nos mostrar que independentemente de tudo se há algo que George R. R. Martin sabe fazer bem é escrever personagens com todas as dualidades humanas necessárias para as tornar verídicas. 


No final do capítulo já estamos rendidos à figura, já fazemos um esforço mental para defender as ações que ele toma na história que justificam o injustificável, como a carnificina que ele traz no arranque da sua participação, mas a amabilidade dele com a sobrinha e o irmão e a sua falta de ambição ao cobiçado trono num universo onde todos parecem almejar esse feito fá-lo ainda maior e mais cativante. 


Tudo isto sem ignorarmos o casting perfeito de Matt Smith, que a cada novo papel que lhe entregam em projetos Pop nos deixa ainda mais rendidos à sua forma de criar arte. É bonito de se ver e ele enche, de facto, as cenas em que entra. 



Rhaenyra é nos introduzida como a real protagonista de House of The Dragon, mesmo sem que isso seja taxativo, herdando a mesma lógica de Game of Thrones que deixava espaço para que todos pudessem ter holofotes sobre si. Mas sobre esta personagem há algo importante a realçar. 


Por mais que estejamos a falar de alguém com algumas semelhanças visuais com Daenarys, é interessantíssimo ver o esforço dos criadores para deixarem uma clara distinção entre as duas, e devemos referir aqui que seguir a fórmula já mais que aprovada de Daenerys era, de facto, o caminho mais seguro. 


Rhaenyra chega com muitos dilemas e com uma imaturidade que se disfarça na confiança e na esperança de que ela tem de um dia conquistar um lugar maior entre a corte. Mas é ingenuidade dela que nos deixa presos à personagem que carrega ainda uma visão cor-de-rosa das coisas e que apesar de saber um pouco sobre o mundo onde vive ainda não despertou totalmente para a importância e para o seu lugar no mundo. 


O primeiro episódio dá, precisamente, aquilo que será o grande mote da primeira temporada: A ascensão e autodescoberta de Rhaenyra. 


Ao longo da série, daquilo que nos é possível antever, vamos ver um Rhaenyra a passar de uma simples adolescente com problemas triviais para uma adulta regente que terá um autêntico choque de realidade que teve o ponto de partida na morte da mãe, mas que poderá ser ainda maior agora que ela chegou a uma posição que ela almejava mas que não estava totalmente ciente das suas obrigações. 


Emma D’Arcy cumpre o objetivo proposto numa atuação contida que deixa espaço para se soltar ao longo da série, e que nos guarda surpresas. E quem não gosta de ser surpreendido? Ela chegará lá, com certeza.


Não é Game of Thrones, e ainda bem. House of The Dragon é exatamente aquilo que entendemos por um spin-off com o lucro de não viver numa inteira co dependência com o material base. É diferente e por ser uma história voltada e centrada num núcleo mais pequeno (pelo menos para já) ganha tempo e espaço para explorar as personagens com uma dimensão e profundidade maior que a que tínhamos nas últimas seasons do sucesso da HBO. 


É grande sem ser demasiado vistosa e não se agiganta no seu alto orçamento preferindo dar destaque ao que realmente importa: A fluidez da narrativa. No primeiro episódio corre risco por deixar cair vários ganchos que podem fazer falta mais tarde para nos continuarem a prender, mas acaba por nos envolver com essa enxurrada de eventos, ou seja, para um primeiro capítulo podemos dar a missão da série como cumprida. 


Há sumo, e há referências subtis a Game of Thrones, que não deixam a história inteiramente desconectada, porque convenhamos que a maioria do público que chega a House of The Dragon vem precisamente atrás dessas referências e como fãs, obviamente soltam um sorriso em cada fan service, mesmo que seja só um easter egg


Na verdade, é essa utilização subtil que nos capta a atenção, porque é um pitada de açúcar que ajuda a adoçar tudo um pouco mais. 


Com nota positiva, House of The Dragon tem tudo para ser um braço forte de Game of Thrones e tornar-se precursor de mais spin-offs de George R. R. Martin. 


Esperemos que não destruam o baralho de cartas, porque destruir expectativas é a última coisa que um fã de Game of Thrones precisa. Que venham daí mais reviravoltas que nós já estamos sentados à espera.