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COMING UP | Gray Man

Há um novo blockbuster à nossa espera no catálogo da Netflix. Gray Man é a nova história que nos promete conquistar, mesmo que não fuja da estrutura habitual do mundo da ação. Nesta longa-metragem dos irmãos Russo, a ação, pirotecnia e ritmo não faltam, e os realizadores provam mais uma vez que conseguem gerir com entendimento perfeito daquilo que são os desejos do público deste género. Na história não há nada de inovador ou extremamente impactante, mas convenhamos que temos um legado gigante de franquias tão grandes quanto 007 que tornam difícil apresentar algo que nos surpreenda. Com isso em mente, Gray Man consegue prender-nos a atenção e render duas horas de entretenimento puro numa produção com um budget que transpira ostentação, mas que não desilude na sua utilização. 

Falamos disto e de muito mais nesta nova edição do Coming Up, onde prometemos falar-te daquele que é o pontapé de saída para uma das futuras marcas de maior sucesso do serviço de streaming nos próximos anos. 

A Netflix tem, nos últimos tempos, habituado os seus utilizadores com filmes de grande orçamento onde a ação prospera. Com Gray Man essa tendência mantém-se, mas ganha uma forma especial por trazer a magia do cinema para o projeto. 

E o que queremos dizer com isto? Apesar de produtos como Red Notice ou Extraction nos encherem as medidas, não nos oferecem tanto espetáculo quanto Gray Man, que claramente é pensado como um blockbuster daqueles que ainda levam milhares de fãs ao cinema, e que consegue trazer essa grandiosidade para o catálogo da Netflix.

Os efeitos visuais e as lutas bem coreografadas são elementos essenciais para que essa potência de blockbuster salte à vista, e aqui a magia desses pontos chave é notória, assim como é notória a sua importância para que o ritmo da trama nos pareça acelerado e para não deixar transparecer em momento algum o facto dos fios condutores da narrativa não nos trazerem nada de novo e em alguns momentos até roçarem os clichês previsíveis. 


Com imagens que nos enchem o olho, Gray Man conquista-nos desde que a primeira luta acontece à nossa frente. Numa sequência que deixa com inveja a mais recente aventura de James Bond no grande ecrã, Ryan Gosling e Callan Mulvey são um ótimo cartão de visita para nos deixar com os olhos postos no ecrã desde o primeiro segundo. 


show de cor é brilhante e rende excelentes transições que comprovam de antemão que no aspeto técnico esta seria uma obra que sabe utilizar o melhor da sua arte. 


Mas avancemos para a história em si. Sierra Six é um mercenário nas mãos da CIA contratado para eliminar um suposto homem que coloca em causa os interesse nacionais. Quando completa a sua missão entende que matou um dos seus, numa jogada de espionagem que já está vista e revistas na extensa lista de projetos que exploram os meandros do mundo das agências secretas e da corrupção, mas que apesar da sua simplicidade acaba por criar um fio condutor que entrega exatamente aquilo que o público que procura um filme como Gray Man quer: Um argumento que não seja confuso, que não nos obrigue a uma atenção maior, mas sim que nos entretenha, nos faça passar o tempo. 


Numa longa-meteram de ação com as características de Gray Man, o que pretendemos é desfrutar dos grandes efeitos visuais, e essa leitura do público foi apanhada na perfeição pelos realizadores, com a vantagem ainda, de não ousarem demasiado ao ponto da história se embrenhar na sua profundidade. É simples, mas com bom gosto, numa simplicidade atraente e limpa.



A história avança e começam a existir os paralelismos expectáveis com a franquia de 007, que inclusive não é ignorado pelo filme e entre os diálogos ainda é possível ouvir algumas tiradas que em jeito de piada acabam por desmistificar comparações e que ao abraçarem a proximidade entre os dois títulos acabam por enaltecer o peso que as histórias do agente secreto mais famoso da história do cinema têm para este género de obras. 


É uma referência subtil, mas que surge como uma homenagem velada que só ajuda a espelhar o bom gosto com o qual Gray Man foi feito. 


A história expande-se com mais personagens que ajudam a estabelecer uma linha narrativa mais coesa. Depois do embate inicial, a estrutura ganha agora um esquema de aliados e vilões que é clássica, mas que traz consigo figuras com alguma riqueza e que por terem atuações cativantes acabam por parecer ainda melhores do que realmente são quando vistas preto no branco. 


Six tem, afinal de contas, um grande patrono dentro da CIA, um antigo líder, Fitzroy que traz para discussão a importância do resguardo da vida privada dos agentes secretos e o quão fácil é fazer desse lado privado um instrumento de corrupção. 


À parte disso, a introdução destes outros personagens que orbitam em torno de Six dá-lhe um senso de vulnerabilidade que é importante para a construção de empatia com o protagonista. E por mais que seja difícil comprarmos a ideia de que alguém com o sangue-frio de tirar uma vida (mesmo que em prol de uma causa nobre) consiga ter um lado de tanto afeto como é mostrado com Six, ainda conseguimos deixar-nos enredar por esse paradoxo e cair na ladainha romântica de que existe sensibilidade para lá da capa de homem duro de roer. 


Uma sensibilidade que é, de resto, um dado importante na história quando além das suas ligações de honra com o seu ex-patrão e padrinho, Fitzroy, e com a sua pseudo-parceira, Dani, lhe acrescentam uma conexão paternal com Claire, e aí já estamos tão enredados com a lógica de que Six é um homem de extrema sensibilidade, que acabamos por nem levantar questões morais sobre o quão real poderia se ruma ligação como aquela. 


Esse lado mais romanceado do enredo é uma construção básica que serve a proposta do entendimento raso e ausência de complexidade. Além dessa leitura óbvia, é também, um excelente acelerador. Não se perde tempo com o sentimentalismo habitual. 


As cenas são feitas com uma visão tipicamente masculina, em que privilegiam a ação e reduzem o lado emocional ao extremamente necessário, e ainda assim, conseguem a proeza de não desvirtuarem a história, de nos conseguirem conectar com esse lado aspeto mais dramático, ou seja a cartada da simplicidade funcionou na perfeição e ainda ajuda a que o filme se mantenha no ritmo frenético. 


A ação e a sensação de que algo ainda mais grandioso está iminente é constante, com cada nova sequência a superar a anterior. As cenas de perseguição em Praga são provavelmente as melhores executaras nos últimos anos em projetos que tenham esta tónica de explosões e pirotecnia. Não só pelo espetáculo visual que obviamente nos enche o olho, mas, também, pelo realismo que dão às cenas, por não deixarem passar momentos de CGI nas brechas das transições. 


É um trabalho perfeito que satisfaz não só no realismo das cenas, mas também ajuda a que a história se desenrole de uma forma coesa. 


O lado artístico e o argumento estão na comunhão perfeita, com os atores a terem atuações dignas de nota, e que não deixam a fasquia cair, mostrando mais uma vez o talento transversal de Ryan Gosling que em Gray Man consegue aliar drama e ação numa só obra, trazendo para o filme as influências anteriores do seu vasto currículo onde ele sempre destacou nos dois géneros. 


Aqui, o ator consegue entrelaçar as duas vertentes e criar uma personagem que apesar de ser bastante estereotipada não nos deixa uma sensação amarga na boca nem a ideia de uma cópia datada, ele dá-lhe alma e uma atuação diferente, com influências que nos remetem para projeto anteriores da sua carreira, mas que consegue ter uma linguagem própria que o torna diferente e marcante. 


E o facto de ser marcante num filme de ação já diz muito sobre o seu talento, porque convenhamos que os heróis deste género são todos eles semelhantes e pouco memoráveis. 



Depois de uma longa lista de elogios, vamos aos aspetos que menos nos convenceram em Gray Man. Uma das falhas aparentes está logo no arranque da trama, mas acaba por ser facilmente esquecida pelo brilhantismo dos planos seguintes. 


Falamos da passagem de tempo que marca o arranque da narrativa. Está tudo certo em termos de contexto, mas faltou alguma atenção na caracterização para que essa passagem de tempo não ficasse apenas como um instrumento para contar a história, mas fosse, de facto sentido nos personagens. 


O Ryan Gosling que vemos nessa cena introdutória está exatamente igual ao Ryan Gosling que vemos na cena seguinte que acontece, supostamente, dezoito anos depois. Por mais que saibamos que Ryan Gosling é um dos mais bem conservados atores de Hollywood não há como fechar os olhos à falta de empenho que existiu aí. 


Já estamos habituados a que essas transições de tempo sejam pouco convincentes, mas aqui parece que esse esforço nem tão pouco existiu. Um corte de cabelo diferente era o mínimo. 


Passando à frente e voltando ao elenco, Regé-Jean Page deu-nos recentemente um personagem de sucesso em Bridgerton, mas desta vez provou-se um erro de casting. Com pouca expressividade, aquele que deveria ser um dos maiores vilões deste arranque de franquia e que tem tudo para transitar para futuros projetos de sequência, oferece uma atuação de pouco destaque e que fica vários furos abaixo do restante elenco. 


O contraste é tão grande que enfraquece ainda mais a prestação do ator e revela que nem sempre trazer um nome que está na ribalta é o método mais certo para fazer uma obra funcionar. 


Felizmente o lado dos vilões trazia um Chris Evans lunático que compensou essa inexpressividade numa atuação que o levou para lugares diferentes do que é o seu habitual, e que em alguns momentos até nos deu vislumbres do seu personagem em Knives Out, mas ainda assim conseguiu separar os dois vilões com uma interpretação que foi a contracena perfeita para fazer Gosling brilhar.


Feito para massas, Gray Man revive um género de cinema que está saturado. Com o trunfo da sensibilidade, Grey Man é um joker da Netflix, e promete ser o início de uma franquia risonha, por conseguir trazer a essência dos clássicos blockbusters para o mundo do streaming articulando esse aspeto mais clássico com a tecnologia e a maestria do que melhor se faz na indústria no século XXI. 


Não sendo um filme que vá escalar nos tops de favoritos dos cinéfilos, Gray Man entrega o divertimento e entretenimento a que se propõe e deixa-nos com a sensação de tempo bem passado, mantendo-nos despertos com um ritmo que compensa os clichês do argumento, e com um enredo que apesar de não ser muito elaborado é cativante e bem interpretado por um elenco de luxo que está mais que traquejado em projetos de ação. 


Não há nada que falte, à primeira vista, em Gray Man e esta pode ser uma nova abertura de portas para o cinema de qualidade voltar a abrir os portões da Netflix. Numa fase em que a gigante do streaming se vê a braços com muitos problemas e com uma competição cada vez mais feroz por subscritores, ela volta a provar-se capaz de surpreender e capaz de entregar muito com pouco. 


A realização dos irmãos Russo volta a estar no ponto certo e só eleva o carinho e respeito pelo seu trabalho, deixando os fãs com ainda mais vontade de ver futuros projetos deles enquanto torcemos por tê-los de volta ao MCU. Afinal de contas a visão de Kevin Feige e a execução deles são os dois principais motores do que de melhor se faz na Marvel. 


Joe e Anthony Russo são os visionários do mercado da ação e esse é título que dificilmente lhes conseguirão tirar num futuro próximo.