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Contos Bastardos • "Uma carrada de factos sobre a Dinamarca"

 

Uma carrada de factos sobre a Dinamarca

Ontem morreu uma andorinha na minha varanda.
(na da frente, onde o sol bate à tarde)

Lembrei-me daquele trabalho de grupo de Estudo do Meio, no terceiro ano, onde a professora Cristina nos pediu para escolhermos um país da União Europeia.
Escolhi a Cristiana e juntas escolhemos a Dinamarca.
(Na altura já havia computadores, mas serviam para jogar pacman no intervalo - para pesquisar existia a Coleção Países e Povos do Mundo, do Readers Digest.
Fotocopiámos o volume da Europa do Norte e colámos os recortes a preto e branco nas folhas A4. Canetas de cor brilhantes para os títulos e marcadores para desenhar à vista o viking mais realista que a Cristiana conseguiu.)

Cartolina vermelha e branca para a capa.
Fitinhas nas mesmas cores passavam, entrançadas, pelos túneis abertos pelo furador: uniam as doze folhas do nosso projeto - com índice, introdução, conclusão e uma página dedicada à Pequena Sereia.

Chegou o dia de o apresentar à turma,

Mas
(Tragédia)

o encadernamento artesanal desmoronou-se
numa queda
de recortes
mal colados (a mãe bem disse para usarmos uhu em vez de cola baton),
um barco viking no chão junto aos dados oficiais do país (população total, área geográfica, língua, moeda oficial)

(Os meus títulos escritos com canetas de cor das caras, da Faber-Castell, o viking menino-dos-olhos da Cristiana, tudo regado como canteiro com as nossas lágrimas).

A professora reconfortou-nos.
“Não é por morrer uma andorinha que acaba a Primavera!”


(No meu cérebro de oito anos, a dúvida. A primavera já tinha acabado, o aquecedor do fundo da sala de aula fora ligado há semanas.)

Não sei se esta andorinha que morreu na minha varanda conheceu a Escandinávia - mas desde esse dia, no terceiro ano,

onde aprendi o significado de metáfora,

que vivo confiante de que a primavera nunca tarda muito em voltar.

 
Texto: Sónia Costa 
Ilustração: Filipa Contente