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COMING UP | Doctor Strange In The Multiverse of Madness

Doctor Strange e Scarlet Witch, a combinação da perfeição e do poder do Universo Cinematográfico da Marvel. A escala mudou, Thanos que era uma ameaça gigante desce de escalão quando comparado à evolução de forças dos heróis atualmente. Doctor Strange In The Multiverse of Madness é um ponto absoluto na história da Marvel no grande ecrã e promete ser um dos grandes tutoriais para o que vem de agora em diante. 

Na amálgama perfeita entre o estilo carimbado da Marvel nos cinemas e o terror característico do currículo do realizador Sam Raimi, a película consegue ter uma identidade visual diferente, escolhas de argumento que o diferenciam das restantes obras da Marvel Studios, mas fá-lo de uma forma justificada, com essas opções a sustentarem-se pelo lado místico e a estabelecerem o multiverso como um lugar bem mais perigoso do que o que imaginávamos. 

Mesmo tendo em consideração que esta abordagem torna esta história num projeto diferente, a sequência de Doctor Strange é, ao contrário de Shang Chi, Eternals ou Moon Knight, uma história que respira em cima da restante coletânea do MCU

Quem não assistiu àquilo que vimos até então dificilmente pode compreender a sua essência, até porque no final da sessão de cinema a ideia com que ficamos é que este é um filme de transição, que serve para definir de uma forma um pouco mais clara o conceito de Multiverso que se falou em Loki e Spiderman: No Way Home, mas sobretudo para nos abrir as portas do futuro e mostrar que a partir de agora os produtores da Marvel podem fazer (quase) tudo o que quiserem. 

Sem a lógica a condicionar os comportamentos dos heróis daqui para a frente, falamos-te do futuro da Marvel e dos acertos e imperfeições do novo título de Doctor Strange no grande ecrã. Fica connosco em mais uma edição do Coming Up.

Vamos arrancar o penso da ferida já e falar do ponto mais polémico desta obra. Wanda, depois de toda a jornada de loucura e redenção em WandaVision volta aqui a assumir o papel de “vilã”. E vilã esta que tem de ter muitas aspas, pois esta é talvez a melhor "vilã" que os projetos da Marvel já nos apresentaram. 


Sem sustentar na justificação rasa de um vilão que o é apenas por ter nascido com as intenções e a educação errada, a anti heroína de Doctor Strange In The Multiverse of Madness tem razões claras para agir como age. 


Depois de perder o irmão, de ser atacada pelo governo quando confrontada com a destruição que os seus poderes descontrolados causaram, de ter perdido o marido e depois os filhos que foram a sua salvação de um luto dramático que nos apresentou a fase de Terapia que tem acompanhado toda a Phase 4 do MCU, Wanda volta agora a tentar ser feliz. 


E chega a este ponto depois de ter levado muita “porrada” da vida, e após se cansar do chavão de que tem de ceder partes da sua felicidade a troco do bem maior, saindo uma e outra vez a perder. Juntando a tudo isto a influência do Darkhold (numa ligação exímia entre a série do Disney+ e a película cinematográfica), Wanda torna-se na vilã mais plausível deste universo e naquela que mais empatia gera da nossa parte. 


Qual é mãe que não estaria disposta a tudo pelos seus filhos? É esse peso que os autores decidiram colocar nas costas de Wanda. É óbvio que todas as ações seguintes são altamente questionáveis do ponto de vista moral, mas se há algo que não podemos apontar é falta de sentido ou de coerência. 


O trabalho de construção foi perfeito, e o filme ainda ajuda a mostrar todo o novo potencial de Wanda como Scarlet Witch, estabelecendo-a como um dos seres mais poderosos deste Universo e que obrigará a um grande esforço por parte da Marvel para encontrarem uma ameaça que se superiorize à escala de poder que estabelecem para Wanda neste filme. 


E tudo isto sem podermos deixar de enaltecer o esforço criativo para criarem uma definição clara do que é a feitiçaria de Doctor Strange e dos restantes magos, e a feitiçaria perigosa da Scarlet Witch. Mesmo dentro deste lado místico, está tudo muito bem definido, sem confusões, questões e com regras e limites implícitos. 


Esta Scarlet Witch na potência máxima é ainda mais poderosa na mão de Sam Raimi que coloca nela toda a sua influência dos filmes de terror e deixa a personagem tornar-se num mostro de filme de terror gore aterrador.



E se falamos de Wanda, passemos agora para o outro protagonista, o personagem título. E sobre ele temos de referir que a terapia continua a ser o prato forte da Marvel nesta fase. Além de nos deixar claro que os poderes de Stephen são ainda maiores do que pensávamos, encontramo-lo num ponto de maior fragilidade com o personagem a entender que dentro da sua arrogância afinal não é dono de toda a verdade e que há muito que desconhece sobre o universo à sua volta. 


Sobre Multiverso, então, entendemos que o personagem sabe mesmo muito pouco, mesmo sendo Stephen um dos personagens mais inteligentes do MCU no momento. As lições de humildade do personagem que começaram lá atrás na sua primeira aventura dentro da Marvel continuam a ser um dos ingredientes principais nesta nova história provando em frente a todos nós que a experiência dele com Tony Stark e Peter Parker teve frutos. 


Na verdade é até curioso pensar que foi um adolescente como Peter Parker um dos grandes motores para aumentar o sentido de humildade de Stephen Strange e que o fez chegar ao ponto em que o encontramos nesta obra, em que ao contrário de todas as suas outras versões que estão perdidas no multiverso ele, de facto, consegue ter empatia pelo próximo, ao ponto de conseguir sentir apreço por America Chavez e de nem lhe passar pela cabeça agir de uma forma em que a possa magoar. 


É uma jornada de herói bastante bonita de se ver, sobretudo por acontecer com um personagem que nos é descrito como alguém egocêntrico. É uma redenção sem o ser. Uma aprendizagem sobre a vida, aproximando o personagem que é o suprassumo do lado místico da Marvel a questões mais mundanas do nosso dia-a-dia. 


E mesmo com muitos dilemas internos do personagem, o filme consegue dar-nos toda essa aprendizagem dele como herói sem deixar a história arrastada, o que é digno de nota. 


Com os dois personagens principais a serem dois dos pontos mais positivos do filme, vale a pena dizer que os highlights não terminam por aqui. Sam Raimi trouxe para este filme algo muito característico da sua visão de cinema. E não, não estamos a falar apenas do terror, mas sim da música. 


A banda sonora, tal como aconteceu com a trilogia clássica de Spiderman, desempenha um papel fundamental nesta película e é um dos elementos-chave que fazem o filme ter um ritmo soberbo. Sem deixarem espaços em branco, a aventura corrida que coloca os heróis em contrarrelógio para resolverem uma série de questões importantes que podem acabar com uma ameaça à escala Avengers, alicerça-se em temas que nos colocam a par dessa urgência, e da grandiosidade dos eventos que estamos a ver à nossa frente. 


Os temas pesados, com novas que oscilam entre os temas agregados ao terror e à grandiosidade da musicalidade das cenas do género super-herói da Marvel elevam as cenas para outro nível, embelezando ainda mais o trabalho que vemos na atuação dos atores, e dão o suporte certo para as cenas de luta bem trabalhadas que vemos neste filme. 


É quase como se tivessem colocado à frente Sam Raimi a ideia do filme e tivessem dito em seguida: Agora faz algo diferente de tudo o que já vimos. E ele fá-lo. A luta com música entre o Doctor Strange do universo principal e o Doctor Strange Supreme é uma das mais bonitas e criativas de todo o acervo que a Marvel nos ofereceu até então. 


À parte da música, o filme, ou melhor, o terror de Raimi vai ainda mais longe colocando uma justificação ambiciosa dentro do MCU: O sonho como espelho de tudo o que passa no Multiverso. É uma solução que facilita explicações? É. Mas é um risco gigante porque coloca um limite na utilização desta ferramenta em argumentos futuros. Sempre que um personagem sonhar a partir de agora isso tem de ser encarado como uma visão do que se passa com uma variante sua. Não será um passo maior que a perna? Será que a grandiosidade dessa opção foi tão bem pensada assim?



No meio de tudo o que o filme tem para resolver, apresentar e justificar, ainda se encaixa a apresentação de uma nova (e importante) personagem na Marvel. America Chavez é a uma das novas figuras da Marvel e chega com uma apresentação imperfeita, com aquele que é um dos pontos menos bons desta obra. 


A sua história de origem é um pouco rasa, no sentido em que tem uma construção clássica numa fase em que vemos vários super-heróis novos na Marvel a nascerem de formas bem mais criativas, mas é ao mesmo tempo bastante enigmática. 


Sabemos qual foi o evento que originou o despertar dos seus poderes, mas não sabemos de onde é que eles vêm. E isso deixa possibilidades infinitas para justificarem isso. Será que há uma conexão com os Inhumans agora que a Ms. Marvel está prestes a ser apresentada? Será que ela tem o gene mutante dos X-Men? Será que a origem dela é algo cósmico ao nível da Capitã Marvel? Há uma lista infinita de possibilidades e se por um lado isso é ótimo para criarmos teorias, por outro não ajuda estabelecer as narrativas da Marvel nesta fase. 


Com a ação do MCU a acontecer espartilhada pelo multiverso, é importante, cada vez mais, criar caminhos para agrupar personagens. Imaginemos, Yelena e Kate Bishop estão mais ligadas às ameaças da terra, ligando-se a Peter Parker, por exemplo. Ms. Marvel é algo mais cósmico ligando-se a Carol Denvers e Mónica Rambeou, enquanto Moon Knight poderá acabar por se encaixar mais no percurso de Thor. No meio de tudo isto, America Chavez está com caminho indefinido adiando essa orientação para mais tarde. 


É um problema? Não é. Mas poderia ser uma forma de deixar no ar uma resposta sobre onde podemos esperar vê-la no futuro próximo, dado que até ao momento temos uma longa lista de heróis que não têm regresso marcado e que estão em stand-by a aguardar o seu momento. 


Veja-se toda a lista de Eternals, por exemplo. Porém, America Chavez é uma presença interessante e marcante nesta obra, e cativa logo à partida. Queremos ver mais dela. A atriz não parece ter problemas em encontrar o seu espaço mesmo num elenco onde todos brilham e consegue trabalhar um texto que lhe oferece diálogos com as tiradas humorísticas clássicas da Marvel. 


O humor do filme é, de resto, algo bem básico. É até um pouco arcaico porque remete-nos à piada fácil dos primeiros anos do MCU. Um regresso que não pedimos e que esperemos que seja um retorno circunscrito a este filme.


No seu todo, Doctor Strange In The Multiverse of Madness é um evento à escala épica que assenta muito na construção de personagem e que sabe manejar muito bem o que são as jornadas dos seus heróis, trabalhando até com maior profundidade as questões pessoais deles, e piscando novamente o olho à saúde mental sem com isso esquecer o lado fantástico que um projeto mainstream tem obrigatoriamente que ter. 


Na sua essência funciona muito bem e ainda traz de bónus as aparições surpresa da Marvel, que têm sido um marco nesta Phase 4, e que deixam o público na loucura. E aqui fá-lo com graciosidade. A aparição do Professor Xavier, por exemplo, apesar de curta, traz tudo aquilo com que os adultos de hoje que cresceram a assistir ao universo X-Men nos cinemas e a ler Bandas Desenhadas sempre quiseram ver retratado, além da cadeira clássica, o argumento ainda consegue trazer a mítica frase do personagem que mantém intocável a amabilidade Xavier que é um dos seus traços fortes. 


John Krasinski entra finalmente para o MCU, depois de muitos pedidos, numa aparição também ela curta e que nos deixa com um nó na garganta se pensarmos que todos os elementos dos Iluminati foram obliterados por Wanda e que para Patrick Stewart, por exemplo, a sua presença neste filme foi uma despedida. 


Deixa-nos com muitas questões sobre a sua continuidade neste Universo numa obra futura da Marvel, mas em simultâneo consegue deixar isso ambíguo ao referir mais dados da vida do personagem que não necessariamente tinham de ser apresentados neste filme. Esperemos que ele regresse e que traga Emily Blunt consigo, contamos com isso Kevin Feige. 


As conexões com o restante universo cinematográfico da Marvel estão mais fortes que nunca nesta película e aparecem de forma subliminar no comando da ação. Além de termos o background de Thanos a influenciar as ações dos personagens, temos momentos de What If?… recriados à nossa frente e percebemos agora a verdadeira importância de Christine Palmer na história de Stephen, algo que até então só tinha ficado claro na série animada, mas que no primeiro filme foi tratado como algo secundário. 


Há muitos detalhes e pormenores sobre esta obra para serem comentados, e tudo porque este é talvez um dos filmes mais ricos em contexto desta nova fase, parece que finalmente estamos prontos para entrar no futuro e a verdade é que esse futuro que se desenha aparenta ser ainda mais grandioso. 


Esperamos por Benedict Cumberbatch e Charlize Theron mais cedo do que pensamos. Que se cumpra a promessa e Doctor Strange regresse mesmo em breve!