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COMING UP | Bridgerton

Bridgerton é o romantismo exacerbado numa narrativa que explora o belo, o bonito e o amor com uma delicadeza rara que é ainda mais notória nesta segunda temporada. Fazer algo dentro do romântico é cada vez mais difícil, ou pelo menos se o objetivo passar por criar algo que seja catchy e abrangente em simultâneo. Bridgerton, por mais que seja um conto de fadas dos tempos modernos, consegue reinventar um pouco a forma como estas histórias são contadas, mantendo o embrulho bonito enquanto a narrativa oferece nuances que encaixam cada vez mais em temas verdadeiramente importantes nos dias de hoje. 

Bridgerton tenta ser uma ode ao feminismo, sem fazer disso o seu principal mote, nem perder uma única oportunidade para mostrar que as mulheres não são um adereço e que o seu poder aparentemente supérfluo numa sociedade clássica é maior do que muitos pensam. Fazer com que algo tão visto, como as histórias sobre o amor, tornar-se em algo que nos prenda e nos faça envolver de uma forma ativa é quase impossível, mas Bridgerton faz isso mesmo com o seu aspeto cativante, a sua banda sonora que serve de ponto de união a vários públicos, e atuações que estão no ponto, que conseguem manter-se à tona dos habituais estereótipos do género. 

A segunda season do drama da Netflix é um bombom que nos faz sorrir e nos delícia em cada novo episódio. Explicamos-te isto e muito mais na edição desta semana do Coming Up. Fica connosco! 

Bridgerton é a novela dos tempos modernos, feita com extremo bom gosto, com a essência das narrativas clássicas das novelas mas com personagens que têm voz e que nos fazem apaixonar por elas à mesma velocidade que estas mudam as suas relações amorosas. "Intenso" é a palavra que melhor define o que acontece nesta nova leva de episódios. Ao contrário da primeira temporada, que trabalhou as relações por um ângulo mais sexual, desta vez o amor é retirado de uma forma um pouco mais pura. 


À boleia do talento do casal protagonista, Bridgerton redefine a ideia de tensão sexual e leva as cenas a um extremo em que essa tensão quase salta do ecrã, sem ser necessária um linguagem tão sexualizada como a que a temporada anterior tinha. Com requinte e bom gosto, a sensação é sentida e torna o argumento ainda melhor por nos dar a ideia que a relação se constrói de uma forma muito mais natural. 


Isto tudo, para além do casting ter ajudado muito, porque, convenhamos, a química cinematográfica de Jonathan Bailey e Simone Ashley é uma coisa fora de série, notória logo a partir da primeira cena dos dois. A relação do casal constrói-se à nossa frente, e de repente mesmo os mais céticos equacionam que o amor à primeira vista pode ser uma realidade. 


O clichê que alicerça esse arco é suprimido pelas suas contracenas que são regadas de paixão e de entrega. O texto até pode não ser algo super elaborado. mas os dois atores dão ao papel uma magia muito peculiar e que nos ajuda ainda mais a envolvermo-nos neste universo tão rico mas que, ao mesmo tempo, tem uma pitada de clichê que poderia fazê-lo tornar-se igual a tantas outras histórias do género que já lemos e vimos. 


Numa trama em que o amor é a base, a garantia que podemos dar é que não existia melhor par para a carregar. Supera em muito a dupla inicial e Kate coloca Daphne no chinelo no que toca a empatia e credibilidade. 



O bom de Bridgerton é que a série consegue ser apelativa sem perder esse tal fator clichê que nos faz continuar a amar estas histórias noveladas. Mas há uma feito neste argumento que é digno de nota: nós, público, sabemos qual é o destino final, e sabemos mais ou menos qual será o caminho que a série fará para lá chegar, mas quando aquilo que já esperávamos que fosse acontecer realmente se materializa, é feito de uma forma diferente do que imaginávamos. 


Isto é, por mais que seja uma trama com um desenlace anunciado, esta consegue surpreender-nos, é quase um reinventar do clichê que nos atrai mais e mais. E não podemos ignorar o ritmo da série, que consegue condensar em uma hora um turbilhão de eventos e sentimentos sem parecer que está em contrarrelógio. Os momentos são saboreados ao bom estilo de um romance, com espaço para que as personagens cresçam e se desenvolvam à nossa frente, e com a magia de conseguir dar espaço a um grande número de personagens, porque sim, este é um universo rico, com muito contexto e muitas personalidades fortes que não podem passar despercebidas. 


Mais até que na primeira temporada, aqui sentimos que existiu esforço para que todos os arcos se continuassem a mover e fazer valer a série de mais do que o amor entre Kate e Anthony. Por mais que a nossa ansiedade de fãs aumentasse quando eles saiam do centro da ação, esta viagem alternada entre vários núcleos, com espaço para que vivessem histórias individuais é uma jogada de mestre tendo em conta que a construção narrativa da série pretende colocar a cada ano um dos irmãos Bridgerton no papel de protagonista. 


Contudo, apesar da série conseguir ter essa visão de futuro bem construída, acaba por nos dar a sensação de que estão a planear muito mais a quarta temporada com Colin e Penélope do que propriamente a de Benedict, que é o irmão que se segue na terceira. 


A terceira temporada tem tudo para ser um prelúdio e com tendência a baixar-nos um pouco as expectativas, mas só o tempo o dirá.


Para quem não conhece as produções da Shondaland este é um excelente cartão de visita para os valores que Shonda Rhimes tenta trazer a todo o custo para as suas narrativas. A criação desta realidade distópica funciona como uma releitura sobre como a história deveria ter sido feita. Não falamos da história da série mas da humanidade como um todo. 


É certo que tem o lado mais clássico que coloca as mulheres a prostrarem-se perante um homem que lhes garanta o futuro, mas esse é o único ponto em que o clássico e os eventos de época se mantém na narrativa, em tudo o resto, quer nos diálogos quer no casting, o que temos é uma luta pelo respeito de todas as etnias e o respeito pelas mulheres. 


Porque por mais que elas estejam naquela situação, elas tamborim têm poder. Elas também podem recusar os seus maridos, também têm a possibilidade de dizer não, a sociedade construída em Bridgerton dá-lhes esses espaço, para lá dos típicos arranjinhos tradicionais que funcionavam quase como um negócio, aqui existe uma vontade de que cada temporada de debutantes seja uma boa e inspirada história de amor. 


Com Kate essa noção ganha outros contornos. Ela está à margem de tudo isso, e posiciona-se como uma mulher que luta pela independência e a liberdade. É um ponto importante de se estabelecer na série para que consigamos perceber que nem todas as mulheres daquela classe estão dispostas a entrar nessa convenção. 


Mas além disso, a série mantém viva uma linha narrativa que coloca as mulheres com uma grande influência na sociedade, se olharmos bem vemos que uma grande parte da reputação das famílias se deve às festas, afazeres, e à forma como as mulheres da casa vendem a sua família para a sociedade, levando muitas das vezes a que esse poder de tornar todos os eventos em algo majestoso seja um chamariz para que os homens das famílias fechem negócios, como é, e bem, explorado no arco dos Featheringtons. 


E mesmo Anthony com os seus complexos de homem da casa consegue entender a relevância de se envolver nestas atividades festivas. 



O universo cresce de episódio para episódio, e a cada novo capitulo desta segunda temporada percebemos que a estrutura está bem maior que na primeira. A grandiosidade dos cenários é outra, mas onde este aspeto mais se nota é no à vontade com que os autores trazem novos personagens sem precisarem de os apresentar por completo de uma só vez. 


O facto da série ter uma renovação antecipada aqui teve um efeito muito positivo e talvez tenha sido a grande chave para o bom ritmo que a trama nos apresenta. Mas já que falamos em personagens, passemos ao ponto seguinte e falemos dos atores. O elenco de Bridgerton continua a entregar interpretações que nos sabem convencer e que conseguem fazer-nos acreditar até nos maiores clichês. 


A adição de Simone Ashley foi um ponto de viragem. Além de trazer uma personagem com muitas nuances interessantes para a série, ainda oferece uma interpretação impactante quando o tema é o seu relacionamento com Anthony. Já falamos sobre isso mas a química dos dois é algo que não nos cansamos de mencionar por elevar a fasquia quando comparada com a maioria dos romances teenager que por aí circulam. 


Há um dado curioso com esta atriz. Em Sex Education ela é uma personagem secundária, não está sequer em todos os episódios, mas de repente vêmo-la chegar de paraquedas a esta segunda temporada e percebemos que ela tem arcaboiço para isto e um muito mais. Mas onde é que isto é curioso? É curioso quando percebemos que Sex Education é uma série com um elenco de luxo. Não há nenhum ator, protagonista ou secundário, que tenha aparecido numa outra produção e não entregue uma atuação digna de destaque dos críticos. 


É um exemplo de casting exímio e raro em Hollywood. Talvez tenha a ver com a preocupação do texto dessa série em nos apresentar personagens reais para lá das noções de perfeição no que ao aspeto físico diz respeito, mas o que é certo é que Simone é só mais um exemplo de que há muitas estrelas perdidas por aí. 


Jonathan Bailey está impecável, como já esperávamos, e quase relega o seu antecessor Regé-Jean Page ao esquecimento. 


Enquanto isso, Nicola Coughlan só vai crescendo à nossa frente e mal podemos esperar pelo momento da trama em que ela vai tomar conta do protagonismo da série. Queremos ver o seu lado mais negro vir à tona e não parece que estejamos muito longe disso.


Bridgerton é uma autêntica pérola no catálogo da Netflix, e quem já se tinha deixado enamorar pela primeira season, chega a esta e percebe que aqui já estamos arrebatados no primeiro episódio. A construção, a harmonia, todos os pontos do projeto fluem no mesmo objetivo e de ponta a ponta só nos restam elogios. 


Até a famosa banda sonora consegue estar melhor, com os temas a serem parte ativa da história servindo como forma de contar o que vai na alma dos personagens fazendo uso de canções que estão na ponta da língua da maioria dos consumidores de uma série como Bridgerton


É de louvar, também, que a série tenha apostado em mais momentos dos núcleos adultos, com Violet e Lady Dunbrey a conseguirem um destaque maior numa história que à primeira vista parece ser um drama com o objetivo de cativar teenagers, mas que na prática é muito mais do que isso pelo subtexto que imprime nos seus diálogos. 


O belo, o embelezamento que vimos na primeira temporada é exacerbado aqui, e até a cena em que vemos o patriarca dos Bridgerton morrer é feita com uma delicadeza e um cuidado tão grande que parece que nada consegue manchar a ideia idílica que a série constrói da sua sociedade. 


Ainda mais aprovada que inicialmente, Bridgerton é uma autentica caixa de pandora que consegue fazer de todos os momentos algo simplesmente lindo. É a novela dos novos tempos, e querem saber? Ainda conseguimos ficar viciados em histórias como esta. 


Que venham de lá as oito temporadas por agora sim queremos conhecer as nuances dos Bridgerton de fio a pavio.