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COMING UP | Toy Boy

Corpos bonitos, erotismo e muito sexo, que mais uma vez é a palavra de ordem de Toy Boy. Na segunda temporada a série mantém o estilo de novela que nos envolve e nos faz ignorar alguns furos do argumento e a canastrice de parte do elenco, com uma narrativa que é mais rica que sustenta bem o mistério e um budget que torna esta nova temporada em tudo aquilo que a primeira almejou ser mas que nunca conseguiu. Longe de ser perfeita mas com boas adições ao elenco e com muito mais pontos que a fazem fugir do registo brega chique, Toy Boy apresenta discussões que são relevantes sem nunca perder o seu aperitivo principal: Entreter. Esta é uma daquelas produções que não se leva demasiado a sério e só ganha com isso. Falamos-te do que há de bom e de mau nesta segunda leva de capítulos em mais uma edição do Coming Up, fica connosco. 

Depois de uma primeira temporada que entregou apenas mais do mesmo velado num erotismo que a valorizou por chamar a atenção de quem procura um elenco que lave as vistas, o drama é o fator que mais ganha nestes novos episódios. 

Com uma história que já foge um pouco mais do lugar comum e que percebe bem quais são os pontos fortes  do projeto, explorando-os até ao tutano. Se na primeira já tínhamos muitas cenas em que o sexo era protagonista, agora essa percentagem aumentou para que 90% da série se resuma a isso. 

Mas o que poderia ser um problema revelou-se num motor gigante para fazer a história avançar e para reforçar o conteúdo e dar forma a uma linha narrativa que rompe um pouco com o padrão clássico do casal que luta contra os poderosos em prol do amor. 

O casal protagonista continua a ser um tédio, já antes o eram e agora, mesmo com as personagens já estabelecidas e cheias de espaço para brilhar continuam a ser o mesmo par chato que parece não conjugar bem. Mas até nisso esta segunda temporada conseguiu ser mais inteligente. 


O amor obstinado de Hugo e Triana foi relegado para um plano secundário com os holofotes a incidirem quase por completo no novo par de vilões que roubou a cena e que realmente elevou o nosso interesse para maratonar a história, porque sim, Toy Boy é uma daquelas séries que facilmente conseguimos ver de enfiada. 


Rania e Leonardo, ou Turco, tomaram conta de tudo, como um vírus que contaminou toda a história e os tornou personagens principais acima de quase todos os outros que por lá estavam antes. 


Salvou-se Macarena, que já tinha sido um dos grandes destaques antes e que agora reforça o seu papel de diva, e Iván, que finalmente vê despertar o seu carácter de anti-herói que já estava a ser desenhado nos episódios anteriores mas que nunca tiveram coragem de abraçar e que mostrou que José de La Torre tem talento para mais. 


A nova dupla de vilões não é introduzida na história de uma maneira brilhante, é uma entrada a martelo, mas é precisamente o respiro que a série precisa para se libertar dos dramas lineares. A forma como de repente tudo se debruça sobre eles é um claro exemplo sobre como Toy Boy não se leva demasiado a sério, e mesmo que falte uma linha lógica sabe entreter e sabe ler bem a audiência. 


Na verdade, os produtores de Toy Boy sabem que o público não procura ali ideias profundas ou demasiado maturadas, procura sim uma história que prenda, com temas que saltem à vista até mesmo dos mais púdicos.



É óbvio que continuam, tal como na primeira série de episódios, a existir várias conveniências, mas há uma tentativa de ligar os pontos que é interessante. Toy Boy assenta na ideia de uma alta sociedade, carregada de influencia, onde mesmo quem não faz parte da elite desempenha um papel relevante e há bordado bonito e até realista até certo ponto na forma como a história constrói uma ligação direta entre empresárias influentes como Benigna e chulos como o Turco. 


São esferas aparentemente diferentes mas todas se unem na busca pelo poder, pela influencia, por aquilo que vale mais que o dinheiro: Reputação. Por mais arrojada que seja esta conexão, a verdade é que ela acaba por fazer sentido e traz uma moralidade para dentro da série que rompe alguns padrões e a torna mais interessante nesta segunda temporada. 


Apesar de já existirem pontos comuns entre estes dois universos na primeira temporada, agora esse fio está muito mais coerente, e há que gabar que mesmo com a série a não se levar demasiado a sério consiga ter aqui uma linha narrativa bem atual para explorar. 


A forma como Macarena se envolve com Leonardo não é muito feliz, aí poderia ter existido mais sumo, mas há um detalhe interessante. Ela faz exatamente aquilo que temos como comportamento típico da Macarena que conhecemos antes e utiliza a sua principal arma: o Sexo. Mas o que ela procura ali é uma aliança que reconstrua a sua posição na sociedade, Leonardo e o seu aparente poder são a escada perfeita para subir na vida, com Hugo a ser um pequeno ponto comum, que ao fim ao cabo deixa de ter relevância neste arco que é, de longe, o certo da história da nova temporada.


Novo clube, novos e bons momentos de dança, e uma Rania que dá dez a zero a Triana no que toca a empatia. Mesmo com uma personagem que fica em cima do muro entre os dois lados do jogo, Rania consegue o nosso apreço e respeito. Ela tem más intenções, e logo de início percebemos que ela consegue ser pior que o próprio irmão, mas serve um propósito claro neste jogo sexual que é Toy Boy: Dar o devido valor ao sexo feminino. 


Toy Boy é uma série com muitos rapazes bonitos que coloca as mulheres numa posição em que elas compram o que querem mas que em alguns momentos da primeira temporada acaba por desvalorizá-las. Rania e Macarena são as respostas que a equipa de autores encontrou para colocar as mulheres com posições dignas, e mesmo que estejamos a falar de figuras pouco confiáveis, certo é que todos temos noção de que elas movimentam muito mais as águas que qualquer homem que esteja em jogo. 


E falando de Rania e do conteúdo sexual desta temporada, o erótico deu lugar a um novo espaço. Não foi só a casa que mudou, agora o nível é outro e não se trata só de dançar e de striptease, a prostituição, que é tema que vem sendo arrastado desde a primeira temporada como secundário é agora o palco principal da atuação, mostrando uma imagem da sociedade que revela o poder do sexo, e quanto os segredos dúbios de quem tem dinheiro suficiente para gastar com fetiches pode realmente ser uma carta valiosa nas mãos erradas. 


É uma realidade escandalosa, que a série, mais uma vez consegue tratar de uma forma bem crua e com veracidade. Mesmo que seja para servir a história estereotipada de uma novela de horário nobre, acaba por funcionar e torna-se no casamento perfeito entre aquilo que o público quer ver e a realidade das sombras da alta sociedade que Toy Boy quer mostrar.



Já falamos muito dos acertos desta nova temporada, mas onde é que a história da segunda temporada de Toy Boy se perde? Há duas respostas para esta pergunta. 


A primeira, que já falámos ao de leve, é na insistência forçada no amor entre Hugo e Triana que é chão que já deu frutos e que já queimou. Não há nada de interessante ali. Desta vez até existia um dado mais dramático com a possível não recuperação de Triana mas o desinteresse nesse arco foi tanto que tudo aconteceu depressa demais ao ponto de quase nem sentirmos o medo que a série nos tentou impor sobre as possíveis sequelas de Triana. 


Num momento estamos a ver Triana a chorar por possivelmente não recuperar a sua atividade motora e no outro já estamos a ver pronta para fugir do hospital e ir até ao barco de Hugo numa licença poética disfuncional que nos faz perder o já ponto foco que tínhamos nesse pseudo drama clássico. E enquanto isso acontecia, víamos, em paralelo Hugo a desenvolver-se enquanto personagem longe dessa muleta, e a mostrar que não tem de ficar totalmente subjugado à sua relação. 


Hugo, que diga-se, é o estereotipo completo de herói romântico com uma pitada de burrice que torna o personagem atroz. Quantas cabeçadas serão precisas para que ele deixe de se armar em mocinho e seja capaz de ter um papel mais incisivo sem confiar em tudo o que mexe? É que a estupidez, ou falta de uma escrita elaborada, é tanta que ele chega ao cumulo de mais uma vez virar as costas àqueles que considera como irmãos em prol de alguém que ele nem conhece tão bem quanto pensa, não aprendeu mesmo nada com Macarena. 


Juntando a este problema de personalidade o fraco talento de Jesús Mosquera, quase que mais valia dispensarem já o personagem. 


E a segunda resposta à pergunta fica com Andrea. Já não há paciência para as loucuras que fazem com este personagem. É que este é um daqueles casos em que no papel tem todos os ingredientes para levantar bandeiras, para ter uma voz, para ser o eco certo para chamar a atenção de uma série de temas e o que fazem com ele? Dão-lhe o clichê mais básico possível para tentarem justificar um twist final que surpreenda o público e que ao fim ao cabo nem precisava de ridicularizar tanto a personagem. 


Isto sem ignorar, claro, o facto de Juanjo Almeida merecer um Razzie pela sua atuação sofrível que vale apenas pela contracena com Carlo Costanzia, e mesmo assim Jairo merecia uma melhor parelha.


Mas com tudo isto, Toy Boy consegue uma nota acima da média, porque mesmo com problemas no elenco e nas conveniências de eventos consegue entregar uma história que faz sentido e que se sustenta muito bem. 


Não é simplesmente a banalidade do sexo. É uma leitura interessante que utiliza o sexo como arma de fogo para disparar uns quantos tiros na podridão da alta sociedade, desfazendo convenções e desmontando algumas ligações perigosas que não estão tão distantes do que se passa cá fora como muitos pensam. 


Ou seja, conseguiram nesta segunda temporada uma maior credibilidade, e notou-se uma clara influencia da Netflix nas rédeas da história, os personagens estão mais maduros, os dramas estão um pouquinho menos água com açúcar e os holofotes começam rapidamente a colocar-se no sentido certo sem perderem o elemento novela que muitos podem odiar mas que acaba por ser um ingrediente fundamental para que a fórmula da série funcione. 


Há muitos acertos nesta temporada que parecem frutos do acaso, numa sorte descomunal que nos envolve, mas não é apenas isso. A nova temporada tem ritmo, tem episódios mais curtos, ganchos certeiros, nuances maiores e até na qualidade dos figurinos se nota que a fasquia está agora mais alta. 


É uma renovação certeira, se é que a terceira temporada não foi já gravada em segredo, porque aquele final dá todos os indícios de que isso tenha acontecido. Há muito por explorar, numa história quase banal que se tornou numa agradável surpresa e que consegue o compromisso de entregar ao público alvo exatamente aquilo que quer ver ao mesmo tempo que dá um banho de carga dramática que puxa novos públicos. 


Nesta recente onda de dramas eróticos que já conta com títulos como Sex/Life ou Desejo Obscuro, talvez Toy Boy consiga ser aquela que mais se sobressai, e pasmem-se os que criticaram a primeira temporada, sobressai pelo conteúdo e nem tanto pelos corpos escaldantes. 


Que venha a terceira season, seguramente promete continuar a surpreender.