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Rafael Medrado: "«Alice, o Outro Lado da História» preocupa-se com levantar indícios e brincar com a nossa perceção"

Foto: Klip Agency

Rafael Medrado é brasileiro, mas vive em Portugal já há alguns anos, onde já integrou diversos projetos. Atualmente, podemos vê-lo na peça de teatro imersiva Alice, o Outro Lado da História mas, em breve, estará na nova série da RTP Da Mood que deverá estrear em 2022. Além destes projetos, integrou o filme brasileiro Carnaval, que está disponível na Netflix. O Fantastic esteve à conversa com o ator para conhecer um pouco mais destes seus projetos.

Alice, o Outro Lado da História é, mais do que uma peça de teatro, uma experiência imersiva que desconstrói, não só a ideia do teatro tradicional, mas também uma história infantil por muitos conhecida, Alice no País das Maravilhas. Sendo “um espetáculo criado e idealizado antes da pandemia” mas com um cariz de experiencia imersiva, exigiu que o encenador, Miguel Thiré, adaptasse a sua criação de forma a “atender às necessidades que o novo normal exigia.”, conta-nos o ator.

Para Rafael, “esta foi uma das experiências de teatro mais enriquecedoras”, sendo um espetáculo que “abraçou a possibilidade de o público estar muito mais próximo, sendo, num primeiro momento, a personagem principal” e assumindo depois um papel de “voyeur”. “O facto de nós, atores, trabalharmos uma personagem para aceitar e contracenar com o público como uma personagem e embarcar nessa viagem do acaso, ainda que programado e orientado, exige estar aberto ao novo e contracenar com o imponderável, com algo que não se sabe que vai acontecer mas, mesmo assim, continuar nos contornos de uma história e de uma contracena, é descobrir um novo mundo de possibilidades, de criatividade e de criação dentro do teatro e dentro da representação.”, acrescenta o ator.

O ator considera que “fazer o Alice, o Outro Lado da História é colaborar com a história, é passar a limpo uma história e contribuir para a arte como um registo, como pensamento e como obra a ser contemplada, experimentada e experienciada.”, numa tentativa de “desconstruir e desmistificar um conto infantil tão conhecido e depois conhecer a vida real dessa Alice”

Levantando muitas questões sobre “o que aconteceu, o que era preciso ser feito e o que se passou na cabeça daquela menina que, dos 7 aos 10 anos foi aluna de um professor, e aos 17 anos é internada compulsivamente num hospício”, o objetivo último deste espetáculo é que o próprio público “junte as peças para dar o seu veredito final.”. “Ao invés de simplesmente entregar uma opinião de bandeja, o espetáculo preocupa-se com levantar indícios e brincar com a nossa perceção, sendo que somos nós que temos que escolher”, acrescenta.

Foto: Direitos Reservados

Da Mood é a nova série da RTP que leva os telespectadores ao universo da música, mais concretamente ao sonho de uma boys band e tudo o que isso representa no mundo musical. Rafael Medrado será Paulo, “um brasileiro que vive em Lisboa e que é convidado a entrar na banda para substituir Rui (Miguel Raposo) num dado momento. Ele representa muito o emigrante que não mede esforços para trabalhar, porque precisa de se manter.” “É um freelancer da música que faz ao mesmo tempo várias coisas. Assim, a relação do Paulo com a banda é mais profissional, e este convite é mais um trabalho que ele faz com esforço, dignidade e profissionalismo, esforçando-se para desenvolver o trabalho de dançarino e cantor, e faz de tudo para poder viver da música. Além disso, também a relação com os outros integrantes é mais distante.”

Levantando um pouco o véu, Rafael confidenciou-nos ainda que Rui (Miguel Raposo), a personagem principal da série, “com todas as suas questões, em conjunto com os outros componentes da banda também com os seus sonhos e vontades, leva-nos por um caminho de tentar conciliar conflitos entre eles, e internos também, em prol de um sonho comum.”. Além disso, Paulo “muda muita coisa” na série, “dado ser uma figura externa que tenta dividir algumas cumplicidades e chegar com uma energia que altera um pouco a ordem estabelecida e que vai exigir uma nova organização.”.

De acordo com o ator, “a série trata de questões delicadas da alma humana e da sociedade através da comédia.” A história do Henrique Dias e realização cuidadosa e criativa do Sérgio Graciano, que Rafael considera “um casamento maravilhoso”, resultou numa “obra sobre o sonho, as frustrações e os obstáculos para conseguir alcançar esse sonho”, e numa história recheada de “peripécias maravilhosas e de situações hilariantes, mas acima de tudo quotidianas e muito atuais, conflitos muito pessoais como os que estamos a viver agora.”.

Para Rafael, esta série relaciona-se muito com “período pandémico que estamos a viver”, que exige “refrescar o sonho, relembrar dos sonhos e de correr atrás deles como possibilidade de um futuro melhor. “Sonhar é ter esperança de um tempo melhor, de um desejo de futuro. Não é fácil percorrer e conseguir realizar os nossos sonhos e, como não é fácil, os obstáculos frustram-nos. O que a série faz de melhor, além de falar sobre o caminho a ser percorrido pelo sonho, é lembrar que o caminho é irregular e imponderável, e deve ser encarado com leveza, porque é bom contemplar o caminho com as coisas positivas que ele nos traz.”, acrescenta. 

Foto: Direitos Reservados

A oportunidade de integrar Carnaval, presente numa plataforma como a Netflix, foi para Rafael Medrado “surpreendente e gratificante”, dado que a plataforma permitiu ao “produto artístico (…) chegar a quase todo o globo terrestre” e dar a possibilidade às pessoas de “assistir a uma obra sem barreiras e sem distância, com a facilidade das legendas e das dobragens”. “O Carnaval chegou a 180 países (…) ficou no top 5 e top 10 de alguns países da Europa e eu comecei a receber um retorno de países dos quais eu não compreendo o idioma”, acrescentou.

O ator confidenciou ainda que, nos seus 16 anos de trabalho enquanto ator, nunca viveu “uma experiência como foi a experiência da Netflix.” Que tornou a sua obra “universal, e tornou possível atravessar distâncias.”, situação que o deixou “muito grato e muito honrado”.