Rafael Medrado: "«Alice, o Outro Lado da História» preocupa-se com levantar indícios e brincar com a nossa perceção"
Foto: Klip Agency |
Para Rafael, “esta foi uma das experiências de teatro mais
enriquecedoras”, sendo um espetáculo que “abraçou a possibilidade de o público estar
muito mais próximo, sendo, num primeiro momento, a personagem principal” e
assumindo depois um papel de “voyeur”. “O facto de nós, atores, trabalharmos
uma personagem para aceitar e contracenar com o público como uma personagem e
embarcar nessa viagem do acaso, ainda que programado e orientado, exige estar
aberto ao novo e contracenar com o imponderável, com algo que não se sabe que
vai acontecer mas, mesmo assim, continuar nos contornos de uma história e de
uma contracena, é descobrir um novo mundo de possibilidades, de criatividade e
de criação dentro do teatro e dentro da representação.”, acrescenta o ator.
O ator considera que “fazer o Alice, o Outro Lado da
História é colaborar com a história, é passar a limpo uma história e contribuir
para a arte como um registo, como pensamento e como obra a ser contemplada,
experimentada e experienciada.”, numa tentativa de “desconstruir e
desmistificar um conto infantil tão conhecido e depois conhecer a vida real
dessa Alice”
Levantando muitas questões sobre “o que aconteceu, o que era
preciso ser feito e o que se passou na cabeça daquela menina que, dos 7 aos 10
anos foi aluna de um professor, e aos 17 anos é internada compulsivamente num
hospício”, o objetivo último deste espetáculo é que o próprio público “junte as
peças para dar o seu veredito final.”. “Ao invés de simplesmente entregar uma
opinião de bandeja, o espetáculo preocupa-se com levantar indícios e brincar com a nossa perceção, sendo que somos nós que temos que escolher”,
acrescenta.
Foto: Direitos Reservados |
Levantando um pouco o véu, Rafael confidenciou-nos ainda que
Rui (Miguel Raposo), a personagem principal da série, “com todas as suas
questões, em conjunto com os outros componentes da banda também com os seus
sonhos e vontades, leva-nos por um caminho de tentar conciliar conflitos entre
eles, e internos também, em prol de um sonho comum.”. Além disso, Paulo “muda
muita coisa” na série, “dado ser uma figura externa que tenta dividir algumas
cumplicidades e chegar com uma energia que altera um pouco a ordem estabelecida
e que vai exigir uma nova organização.”.
De acordo com o ator, “a série trata de questões delicadas
da alma humana e da sociedade através da comédia.” A história do Henrique Dias
e realização cuidadosa e criativa do Sérgio Graciano, que Rafael considera “um
casamento maravilhoso”, resultou numa “obra sobre o sonho, as frustrações e os
obstáculos para conseguir alcançar esse sonho”, e numa história recheada de “peripécias
maravilhosas e de situações hilariantes, mas acima de tudo quotidianas e muito
atuais, conflitos muito pessoais como os que estamos a viver agora.”.
Para Rafael, esta série relaciona-se muito com “período pandémico que estamos a viver”, que exige “refrescar o sonho, relembrar dos sonhos e de correr atrás deles como possibilidade de um futuro melhor. “Sonhar é ter esperança de um tempo melhor, de um desejo de futuro. Não é fácil percorrer e conseguir realizar os nossos sonhos e, como não é fácil, os obstáculos frustram-nos. O que a série faz de melhor, além de falar sobre o caminho a ser percorrido pelo sonho, é lembrar que o caminho é irregular e imponderável, e deve ser encarado com leveza, porque é bom contemplar o caminho com as coisas positivas que ele nos traz.”, acrescenta.
Foto: Direitos Reservados |
A oportunidade de integrar Carnaval, presente numa plataforma como a Netflix, foi para Rafael Medrado “surpreendente e gratificante”, dado que a plataforma permitiu ao “produto artístico (…) chegar a quase todo o globo terrestre” e dar a possibilidade às pessoas de “assistir a uma obra sem barreiras e sem distância, com a facilidade das legendas e das dobragens”. “O Carnaval chegou a 180 países (…) ficou no top 5 e top 10 de alguns países da Europa e eu comecei a receber um retorno de países dos quais eu não compreendo o idioma”, acrescentou.
O ator confidenciou ainda que, nos seus 16 anos de trabalho enquanto
ator, nunca viveu “uma experiência como foi a experiência da Netflix.” Que tornou
a sua obra “universal, e tornou possível atravessar distâncias.”, situação que
o deixou “muito grato e muito honrado”.
Comente esta notícia