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Fantastic Entrevista - Margarida Moreira: "Tudo na vida de um ator é material de estudo, desenvolvimento e crescimento"

Foto: Direitos Reservados

Foi há mais de duas décadas que Margarida Moreira se estreou enquanto atriz profissional no Teatro Armando Cortez com a peça Trainspottinng, de Pedro Varela. Apesar de se ter licenciado em psicologia, a representação sempre foi a sua paixão e hoje já soma ao seu currículo dezenas de projetos de teatro, cinema e televisão, com destaque para as novelas Laços de Sangue, Mar Salgado e Rainha das Flores. O Fantastic esteve à conversa com a atriz que é protagonista do telefilme  Maluda, da RTP2, para saber mais sobre o seu percurso bem como as suas perspetivas de futuro.

Fizeste formação em psicologia antes de te tornares atriz. O que é que te levou a mudar para uma área tão diferente?

Eu não mudei. O meu objetivo sempre foi ser atriz e fui sempre fazendo formação a par com alguns trabalhos que foram surgindo. Houve a necessidade, por preocupação dos meus pais, que eu tirasse um curso superior e por isso quando chegou a altura de escolher qual o caminho académico a psicologia surgiu como um complemento ao meu desejo de ser atriz. A verdade é que me deu e dá mais conhecimento e entendimento sobre o outro e sobre as personagens.

Antes de te dedicares ao cinema e à televisão, começaste no teatro. Consideras que o teatro funciona como uma escola? Porquê?

O teatro será sempre a base para qualquer ator. É lá que estamos ao vivo de carne e osso perante o público sem margem para repetição, como acontece na televisão e no cinema. O teatro é vida e essencial para o nosso crescimento enquanto atores e pessoas. Eu comecei no teatro amador desde muito cedo e foi lá que fui experimentando e crescendo como atriz. Mas esse crescimento é diário e constante. Tudo na vida de um ator é material de estudo, desenvolvimento e crescimento.

Estreias-te enquanto atriz profissional em 1999, no Teatro Armando Cortez, com a peça Trainspotting, de Pedro Varela. O que é que aprendeste nesta primeira experiência, que levas para o resto da tua carreira?

Essa foi a minha estreia profissional e vem com uma história muito peculiar. Eu fui chamada para substituir uma atriz que tinha de sair por motivos vários e não se tinha a certeza se essa substituição iria acontecer ou não. Eu fui ver o espetáculo, que era lindíssimo, e recebi o texto, mas não houve ensaios e, por isso, um dia quando estava nos bastidores  o Pedro Varela perguntou porque estava eu ainda por vestir pois iria entrar. Subimos ao palco e foi-me mostrando de um modo geral as entradas e saídas de cena. Portanto, a minha estreia profissional foi sem ensaios. E lembro-me que um dos atores, pelo qual ficarei eternamente grata, me levava pela mão no escuro para uma das saídas de cena pois entrava no cenário e eu no escuro, pela falta de ensaios, não sabia por onde sair. O espetáculo era incrível e foi uma honra fazer parte dele. Para o resto da minha carreira não sei o que me trouxe, mas tenho a certeza que foi a confirmação de que estava pronta, apesar dos inevitáveis obstáculos e erros, para agarrar as oportunidades.

Em 2002 fizeste uma formação de interpretação e comportamento diante das câmaras com o ator Nicolau Breyner. Quão importante tem sido para ti poderes aprender e evoluir com atores consagrados no panorama nacional?

É um privilégio poder aprender com os melhores e considero o Nicolau um dos meus mentores e que acreditou em mim desde o início. O seu olhar e confiança em mim foram muito importantes.

O teu primeiro trabalho em televisão data de 1997, na série juvenil da RTP - Riscos. Como é que recordas esse tempo?

Recordo a alegria de poder estar naquele mundo que era a televisão pela primeira vez. Lembro-me de poder observar tudo o que se passava à minha volta e aprender com isso.

Entretanto, fizeste parte do elenco de séries e novelas de sucesso, como Morangos Com Açúcar, Laços de Sangue, Mar Salgado, Rainha das Flores, entre outras. Estes sucessos levam a que coloques uma pressão acrescida em cima de ti nos projetos seguintes?

Não considero que seja assim. Fazem apenas parte do meu percurso. São projetos que fiz com a mesma dedicação e amor que todos os outros, mas estou sempre focada no que vem a seguir.

Foto: Direitos Reservados

No teatro, foste protagonista ao lado de Ricardo Barbosa da peça Adão + Eva - A Experiência. Qual é o maior desafio de ser uma das caras principais de uma peça?

Fui e sou... pois continuamos com o espetáculo. Tivemos um interregno por causa da pandemia, mas estamos à espera que nos remarquem os espetáculos que foram cancelados. O desafio de ser uma das personagens principais é o mesmo de ser uma personagem secundária. Acontece que quando se é um personagem que está o tempo todo em cena, a evolução da personagem é diferente porque com a respiração do público as cenas evoluem de outra forma. Ainda mais numa comédia como é o Adão + Eva - A Experiência em que a resposta do público é mais imediata e essa relação entre o público e a cena faz com que as cenas evoluam ou cresçam de formas diferentes.

Quais são os teus maiores desafios durante o processo de preparação de uma determinada personagem?

Eu sou muito focada naquilo que o texto me dá e me diz sobre as personagens. A partir da matéria escrita e do que o personagem diz existe material para aprofundar sobre quem é aquele ser humano. Gosto de ir a fundo quando tenho essa possibilidade, pesquisar e fazer trabalho no terreno.

A tua irmã Anabela também trabalha como atriz e já chegaram a fazer projetos juntas, nomeadamente o filme Diamantino, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt. Quais são as tuas principais vantagens de partilhares o mesmo palco e o mesmo ramo profissional com uma irmã?

Trabalhar com alguém com quem se tem muita intimidade é sempre bom porque quanto mais relaxado está o ator mais permeável está à cena e à contracena. Então, quando se tem uma química com a outra pessoa as coisas fluem de outra forma. Ainda não trabalhámos muito juntas e acho que ainda falta arriscarem mais em nós as duas juntas. No filme O Último Banho, de David Bonneville, fazemos de irmãs sem serem gémeas e foi interessante alguém ter finalmente agarrado nessa possibilidade. Aliás, agora quando estive no Transilvânia Internacional Film Festival, o diretor do festival em entrevista depois de uma sessão de visionamento do filme, referiu que nós nem parecíamos gémeas e que quem não sabe nunca pensaria tal coisa. Portanto, acho que existem ainda muitas possibilidades por explorar comigo e com a Anabela.

Foto: Direitos Reservados

Ainda a respeito do filme Diamantino, foste nomeada para os Prémios Fantastic 2020, na categoria de Melhor Atriz Secundária em Cinema. Qual o impacto deste tipo de nomeações e reconhecimento no teu percurso?

Acho que as nomeações e os prémios são o equivalente aos aplausos no final de um espetáculo. São o reconhecimento do nosso trabalho. Mas valem o que valem e nós devemos ter a bússola dentro de nós para sabermos para onde vamos ou para onde queremos ir e esse caminho deve vir de dentro e, por isso, devemos ser nós os nossos críticos e estarmos em permanente evolução.

Apesar da pandemia e das restrições que a ela estão associadas, este ano já estiveste envolvida em vários projetos, tanto em cinema como em televisão. Após um 2020 em que muitos projetos foram adiados, qual a sensação de teres oportunidade de viver um 2021 com várias propostas de trabalho?

É muito bom regressar e trabalhar. Foi um ano muito difícil para todos e vivemos tempos complicados. Fazer o que mais amo será sempre um privilégio.

Destes projetos fazem parte a série Causa Própria e a longa metragem Sombras Brancas, de Fernando Vendrell. Como foi participar em produções em contextos tão diferentes?

Como disse, foi bom retomar ao trabalho e trabalhar ao lado de pessoas que admiro. Sou feliz a trabalhar.

Em junho, estreou nos cinemas portugueses o filme O Último Banho, de David Bonneville, uma produção que tem feito sucesso em vários festivais a nível internacional. Como foi participar neste produção?

Trabalhar com o David Bonneville foi muito bom. É um realizador que compreende a importância de se trabalhar com o texto e as personagens. Houve vários ensaios em que a discussão sobre o texto e sobre o background das personagens se revelou muito produtiva e foi muito importante. O filme é sobre relações e emoções humanas e por isso fazer esse trabalho foi muito bom. Gostei muito.

Foto: Direitos Reservados

És a protagonista do telefilme Maluda, da RTP2.  Como descreverias este projeto?

É um projeto em que mergulhei a fundo e me transformei verdadeiramente. Eu que nada tenho a ver com a Maluda fisicamente, fui muitas vezes durante a rodagem tendo feedback de que estava igual a ela. Foi uma honra vestir a pele da Maluda, uma mulher extraordinária, talentosa e à frente do seu tempo. Uma mulher que soube elevar o seu talento e a sua obra. Uma mulher de afetos e personalidade forte mas também frágil sem o ser. Toda a equipa desdobrou-se para dar o seu melhor e o realizador Jorge Paixão da Costa foi incrível e inexcedível para fazer deste filme uma obra a não perder.

Se te voltássemos a entrevistar daqui a 10 anos, o que gostarias de estar a fazer?

Continuar a fazer o que mais amo, teatro, cinema e televisão. Ser feliz.


Fantastic Entrevista - Margarida Moreira

Por André Pereira e Miguel Frazão

agosto de 2021