COMING UP | Loki
E está feita a apresentação ao multiverso da Marvel. Além de satisfazer uma das maiores vontades e pedidos dos fãs desde a estreia de Endgame de brinde ainda temos como timoneiro da viagem um dos mais carismáticos personagens deste universo, Loki. A estreia a solo do anti-herói não podia, mesmo, ser melhor e já podemos elevar a fasquia para algo tão bom quanto WandaVision, depois de uma investida mais morna com os problemas mundanos, mas igualmente importantes, de The Falcon and The Winter Soldier. É quase impossível apresentarmos defeitos a um argumento que é tão balançado e que logo no primeiro episódio já sabemos que vai ficar na nossa memória durante um largo período de tempo. Do ritmo perfeito ao humor que não sai fora de pé e que consegue manter os mistérios nos devidos lugares sem se tornar demasiado engraçadinho, esta é mais uma obra com o cunho da Disney que a continuar a este ritmo vai fundir mais rápido do que pensamos aquilo que é o cinema planeado para encaixar nas listas de premiações com os projetos que trazem os heróis da Banda Desenhada para o cinema. A linha é cada vez mais ténue e Martin Scorcese deveria mesmo meter os olhos em Loki, ele e todos nós. Porquê? É o que te vamos dizer nesta edição do Coming Up. Fica connosco e entra na linha temporal da nova aposta do Disney+.
Comecemos esta nossa análise pelos jogos de memória que nos convidam a uma nova viagem ao universo Marvel, é certo que é um fan service, mas estes lembretes nostálgicos são aquilo que realmente faz diferir as produções da Marvel Studios das restantes, aqui é mesmo tudo ligado e é mesmo necessário vermos tudo o que está para trás se realmente quisermos ter um entendimento real de cada detalhe.
E se há coisa que os autores destas novas séries do Disney+ sabem fazer bem é brincar com o coração de fã dando ao público aquilo que mais queremos, daí que não seja propriamente uma surpresa que tudo arranque na batalha de New York, contudo, pode haver um motivo muito mais poético para que os eventos de Loki arranquem precisamente no pontapé de saído dos Avengers no cinema.
Na verdade, Loki junta-se ao projetos que vão fazer a viragem de tudo o que até agora interpretámos como canónico no MCU ao mesmo tempo que traz o arrojo de novas formas de contar histórias que foge um pouco da habitual pirotecnia do género e se expande por caminhos que vão muito mais pelo storytelling do drama, carregados de contexto para não desiludir o público que cresceu com a complexidade dos vários personagens da Marvel.
É importante relembrar que ao entrarmos no multiverso as possibilidades são praticamente infinitas, e enquanto para o público isso até pode ser um atrativo, se não existir uma lógica o resultado poderá ser uma confusão narrativa que não terá ponta por onde se lhe pegue. Felizmente estamos bem entregues nas mãos de Kevin Feige e Loki é a prova suprema disso.
Aqui temos a instituição, o manual completo de como funciona o tempo na Marvel dando resposta a todas as questões levantadas pela viagem no tempo de Endgame, no fundo o que existiu aqui é mais um bonito exemplo do respeito que existe da Marvel Studios para com o seu público, esforçando-se para não deixar pontas soltas.
Loki fez a pergunta que todos queríamos fazer: Se ele estava ali, porque é que Steve Rogers não passou por esse mesmo processo? Ou será que passou e nós não vimos? É que se fosse a segunda opção iríamos assistir a uma demanda para vermos esse percurso no ecrã.
Contudo, a resposta é dada de uma forma clara e bem simples, o que aconteceu com Thanos estava previsto, era suposto e seguiu as regras. Loki, mais uma vez, reagiu apenas à sequência de eventos e é isso que o torna culpado na situação. Claro que ele agiu sem ter uma noção do que estava a acontecer, mas era uma ponta solta que precisava de ser amarrada, dando mais uma oportunidade de expandir o personagem, que continua a ser um dos favoritos dos fãs, sem desvalorizar o percurso de redenção que ele fez até então.
No fundo, de forma realista, foi um casamento perfeito entre uma desculpa para introduzirem novos conceitos ao mesmo tempo que valorizam um dos personagens com o melhor desenvolvimento que têm disponíveis, dando-lhe finalmente o destaque merecido na pele de protagonista e sobretudo fugindo ao percurso de vilão puro e duro, porque se há algo que já aprendemos com Loki é que ele é uma daquelas figuras que não é simplesmente preto ou branco, a substância é maior.
Mas avancemos para lá da índole de Loki, uma das coisas que melhor funciona na série é o ritmo. Por mais que estejam a dar constantemente injeções de informação sobre novos conceitos, a maestria do guião não deixa nem por um segundo que sintamos que é algo pesado.
Aliás pelo contrário, as piadas colocadas no sitio certo e a sensação de que Loki está tão confuso quanto nós resulta em adrenalina constante que nos prende a atenção e sem darmos por isso já temos toda aquela dimensão instituída na nossa mente. Nada que não tivesse acontecido antes na Marvel, mas se nos lembrarmos que primeiro que devolvessem Asgard em condições foram precisos quase três filmes, aqui encontramos mais uma prova de que a própria Marvel está a saber gerir muito melhor o que quer apresentar ao público.
Há um maior foco e por isso é que temos a sensação constante que nenhum diálogo é um mero acaso, é tudo crucial e importante e num piscar de olhos podemos ter perdido a resolução de algum mistério sobre o qual andamos a matutar desde o final de Endgame e nem dêmos conta. Isso tudo aliado à brilhante ligação que temos entre Loki e Mobius, que de longe nos deixa afirmar que não vai ficar apenas pela série, porque nada se desperdiça e quando temos Owen Wilson naquele que poderá ser mais um projeto de culto numa carreira memorável, os dados já estão todos lançados.
De reforçar ainda, a estética criada para servir de cenário à TVA, que é tão simplista quanto necessário para não se tornar em mais um ponto de distração.
Já falámos de Owen Wilson por alto, mas vale a pena voltarmos a dar atenção ao ator, porque se trata de um daqueles casos em que a incursão no mundo dos heróis poderá ser uma bonificação para a carreira.
Já todos conhecemos o talento dele, mas aqui abrem-se possibilidades para que nos apresente um trabalho diferente numa personagem que foge dos parâmetros habituais do protagonista que interpreta na maioria dos seus trabalhos, sem deixar de lado a curiosidade deste ser o seu segundo projeto consecutivo em que as linhas temporais são cruzadas por fatores alheios depois de Bliss, uma das mais recentes longas-metragens originais da Amazon.
Enquanto aguardamos por ver Owen Wilson brilhar ainda mais, com a expectativa de que o seu agente seja uma personagem crucial para esta nova fase da Marvel, não há como não referir Tom Hiddleston, o maior talento bruto revelado pela Marvel Studios e que continua a ser uma das grandes galinhas de ovos de ouro da produtora.
Icónico como é seu apanágio, Hiddleston tem aqui um ponto um interessante porque apesar de assumir o personagem título, neste primeiro capitulo não deixa transparecer o peso de carregar a série nos ombros, a atuação é tão leve e descontraída que torna todas as tiradas mais cómicas em frases orgânicas.
É um exemplo sobre como a personagem e o ator entram numa simbiose perfeita, enquanto eleva ainda mais as expectativas para o futuro do personagem, porque sim, não podem fazer-nos acreditar que o Deus da Mentira não voltará nunca mais para a timeline sagrada, vá, sabemos que vai acontecer, só importa saber em que condições.
Nada a apontar no primeiro capitulo daquela que é uma das séries mais aguardadas para 2021. Loki é um daqueles projetos que já andávamos a pedinchar enquanto fãs desde que Loki se aliou pela primeira vez com os Avengers.
Desejo concedido pelo génio Kevin Feige, a produção não poderia ser melhor e sai sem mácula do primeiro episódio rivalizando com WandaVision entre as produções mais promissoras do Disney+ logo nos primeiros minutos da estreia.
Temos sucesso garantido e provavelmente daqui a uns dias começarão a surgir os primeiros títulos que referem Loki como a série mais assistida neste momento no mundo. E sabem que mais? É merecido. E não dizemos isto apenas pelo gosto pessoal mas sim pelo trabalho de construção que tornou um produto mainstream em algo mais do que entretenimento barato, ao passo em que vamos aglomerando um conjunto de leituras moralistas que podem até ter algum impacto junto do público mais jovem que tendencialmente vai ver a série como se de um ato religioso se tratasse.
Nesta nova era de superheróis no cinema, a Marvel continua a vincar a sua maestria e a provar que o caminho entre os blockbusters e os filmes de culto está a encurtar, sendo que vai chegar a um ponto em que se tornará quase impossível não termos séries da Marvel entre os indicados aos grandes prémios.
Rendido, é a palavra que melhor se adequa ao primeiro episódio de Loki, e que chegue depressa a próxima quarta-feira, porque podemos estar próximos de uma revelação bombástica que nos vai guiar nesta nova Phase 4 da Marvel, vem daí Mephisto, sabemos que é uma questão de dias até seres referido.
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