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Fantastic Entrevista - Rita Ribeiro: "Os atores são uns loucos saudáveis que têm a capacidade de viver várias vidas numa só"


Filha dos atores Maria José de Basto e Curado Ribeiro, desde pequena que conhece o ambiente que se vive nos palcos e bastidores. Define-se como uma pessoa tranquila e atualmente faz parte do elenco da novela Bem Me Quer e entra nos ecrãs dos portugueses, diariamente, com a sua Teodora. Na edição desta semana do Fantastic Entrevista estamos à conversa com a atriz Rita Ribeiro, que vem partilhar algumas memórias que marcaram o seu percurso bem como os sonhos que ainda quer concretizar.

Conhecemos a Rita enquanto profissional, mas gostaríamos de saber como se definisse enquanto pessoas. Quem é a Rita Ribeiro?

Eu vejo-me como uma pessoa tranquila, uma pessoa que tem momentos de grande alegria, mas também tem momentos de tristeza. Sei lidar com as minhas imperfeições e aceito-as, mas também sei lidar com as minhas virtudes. Gosto muito de tratar dos outros, sou muito maternal mesmo para os amigos, apesar de ser só mãe de duas filhas que amo muito. 

Quais são os seus maiores sonhos?

Os meus sonhos na vida, o meu propósito, é sempre a paz, e acredito que na vida tudo é possível e que os milagres acontecem desde que tenhamos abertura para mudar as nossas percepções da vida, porque a vida está sempre a mudar e portanto nós também temos que mudar e evoluir com a vida. Sou uma pessoa tranquila, faço meditação todos os dias, estimo muito a vida, acho que esta é realmente uma coisa muito sagrada. Quero trabalhar sempre enquanto puder e tiver forças para isso, não penso reformar-me. Os meus sonhos passam sempre por esta profissão que eu amo cada vez mais, ser atriz, ser criativa... Apesar de eu achar que viver já é um ato criativo de uma enorme responsabilidade.

Falar da carreira da Rita Ribeiro, requer falar da Fifi de Os Batanetes, uma personagem transversal a várias as gerações, até porque a série nunca deixou de estar no ar com sucessivas repetições até ao presente. Tem saudades deste projeto e da "sua" Fifi?

Eu adorei fazer Os Batanetes, foi uma fase da minha vida profissional que eu estimo, até porque durante estes anos todos foi talvez o meu grande pico de popularidade. Tínhamos uma equipa onde havia uma grande harmonia, uma grande diversão, e muito entusiasmo a fazer o que fazíamos. Foi realmente muito muito divertido ter feito Os Batanetes.

Continua a sentir o carinho do público relativamente a esta sitcom?

Ainda hoje recebo feedback do público, continuam a ver e a adorar apesar de já ter sido feito há quase 20 anos, mas gostaria muito de voltar a fazer comédia para a televisão. Aquela era uma comédia que abraçava um pouco a farça, mas eu gosto muito e acho que é bom. Nós trabalhámos e divertirmo-nos ao mesmo tempo.

Acha que a televisão, tal como a conhecemos, tem futuro ou considera que as novas plataformas digitais de streaming e digitais estão a ultrapassar o formato tradicional?

Penso que a televisão está a avançar num caminho bastante construtivo e eu, pelo menos, considero que gosto cada vez mais de fazer televisão até porque a qualidade é superior. Não sei dizer o que é que vai acontecer no futuro. Claro que a internet vem fazer muita concorrência mas acho que a televisão nunca acabará desde que se mantenha o gosto e a qualidade. Sei que estamos a viver uma época de grande concorrência mas, para mim, estamos principalmente a viver uma época de grande cooperação.

Sendo um dos nomes incontornáveis do Teatro e Portugal, protagonizou espetáculos como "Gisberta", “A Flor do Cacto” e "Um Violino no Telhado". Que memórias guarda desses tempos? “BOCAge – O Mais Honesto Homem para se Amar” foi um dos últimos projetos que a levou a pisar as tábuas.  Bocage é um dos poetas da sua vida? Porquê?

Eu não sou nada saudosista, apesar de abençoar todo o caminho percorrido. Fiz espetáculos muito bons e bonitos e estou muito grata por terem ocorrido sempre bem, mas abraço muito o presente e penso muito no futuro e nas oportunidades que a vida guarda para mim. Ao todo, eu tive sete produtoras de espetáculos. Esta última, a “Magia Abrangente”, que criou o espetáculo do Bocage, tem estado parada por causa da pandemia mas tenho esse espetáculo em carteira e um concerto de fado, até porque tenho conciliado a minha carreira sempre com a música. Na calha está também um monólogo da Sandra José. Vou estar no Teatro Taborda com uma encenação de São José Lapa, também.

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Já participou em diversos musicais para crianças, nomeadamente Branca de Neve no Gelo, Cinderela no Gelo e A Surpreendente Fábrica de Chocolate. O que é que a atrai mais neste formato? Trabalhar para um público jovem é desafiante?

Durante quatro a cinco anos participei nos espetáculos no gelo de uma produtora do Norte que é a AM. Adorei ter feito estes espetáculos, além da magia que era serem feitos em cima do gelo, eram grandes produções e que levavam centenas de crianças ao teatro. Dá-me ideia de que a última peça que fiz foi A Surpreendente Fábrica de Chocolate, onde tivemos cerca de 80 mil crianças a ver. Durante a época de Natal, fazíamos mais de cem espetáculos. Eu tinha uma atriz no meu lugar, que fazia a peça para as escolas durante a semana, mas foi uma experiência que eu adorei. Conheci imensa gente nova, porque nós passamos de jovens a veteranos assim num abrir e fechar de olhos e hoje em dia eu já sou quase sempre a que tem mais idade nas companhias. Então, adoro trabalhar com jovens e acho que o teatro infantil e para a adolescência é muito importante para a formação dos atores e dos futuros atores. Cada vez há mais jovens a querer seguir esta magnífica arte que é altamente terapêutica e que é um veículo para nos conhecermos como pessoas e sermos melhores como seres humanos.

Considera que o palco é o local privilegiado na formação e carreira de um ator? Porquê?

Eu sou filha de atores e tive o privilégio de em criança assistir a muitas peças de teatro e bastidores de muitas conversas de atores, tendo por isso um grande fascínio pelas pessoas desta arte. Os atores são pessoas muito abençoadas, são uns loucos saudáveis que têm a capacidade de viver várias vidas numa vida só. O palco é um lugar privilegiado para nós podermos aprender na prática, e nada é comparável a estar em cima do palco, apesar de que eu, hoje em dia, ter  uma grande vontade de fazer televisão. Talvez me sinta uma pessoa mais comum, mais normal, se é que existe alguma normalidade, porque posso estar à noite em casa e porque tenho este bem-estar de poder estar com os meus cães e de poder ter também o meu momento de lazer, juntamente com o meu trabalho.

Atualmente podemos vê-la em Bem Me Quer, uma produção que está a ser muito acarinhada pelo público. A Teodora é proprietária de um típico café de aldeia que vende produtos serranos. Como foi construir esta personagem com traços tão característicos?

O Bem me Quer tem sido uma novela que tenho adorado fazer. A Teodora tem sido uma descoberta que eu me baseei em pessoas que fui conhecendo na minha vida e que hoje de alguma forma estou a homenagear. É uma mulher simples, mas que tem a sabedoria da terra e é também muito maternal, a proteger os seus filhos e isso aí identifico-me bastante com ela. Às vezes até um bocado exagerada, mas também eu acho que é uma mulher boa, real, que existe muito e que tem também várias camadas e uma delas é poder ter a capacidade de pensar que há sempre possibilidade de sermos felizes, mesmo que a idade esteja a correr já para uma idade em que as pessoas dizem que já não se podem apaixonar. A paixão é sempre possível e é sempre possível viver a vida e desfrutar dela até que deus quiser.

Um dos grandes desafios deste projeto é estarem a gravar com as medidas de segurança devido à COVID-19. Como está a ser trabalhar desta forma inédita?

Estou muito grata por ter surgido este trabalho televisivo durante estes confinamentos e durante toda esta fase que estamos a viver porque a vida continuou e eu não dei muito por isso. Quer dizer, vou dando por isso porque tenho de fazer muitos testes e tenho de andar de máscara, mas foi para mim uma grande salvação como tem sido sempre a minha profissão. Tem sido realmente sempre uma ajuda muito grande para mim como pessoa, talvez por ter nascido em todo este ambiente.

Quais são as suas maiores influências, a nível pessoal e profissional?

As minhas maiores influências claro que foram a minha mãe e o meu pai e já agora todos os grandes atores e todos os seres humanos com um caráter incrível que se têm cruzado comigo na minha vida desde que nasci.

Enquanto atriz, o que é que ainda gostava de fazer?

Os meus sonhos e o que eu sonho fazer ainda e eu costumo às vezes dizer isto que é o melhor está para vir. Não tenho medo de desafios, abraço quase sempre os meus desafios desde que o meu coração diga que é para o fazer. Sempre que ousei fazer coisas e sair da minha zona de conforto, tive um grande reconhecimento. As melhores coisas que me aconteceram na vida foi sempre que eu abracei a mudança sem medo, com coragem e a recriar a vida permanentemente.

 

Fantastic Entrevista - Rita Ribeiro


Por José Miguel Costa, Joana Sousa, Miguel Frazão e André Pereira


Maio de 2021

Fotos: Direitos Reservados