Header Ads

Entrevista DOP - Cátia Ahlam


Cátia Ahlam é bailarina e professora de Dança Oriental em Portugal há quase 20 anos. Na terceira edição desta iniciativa entre Fantastic - Mais do que Televisão e o projecto Dança Oriental Portugal, a bailarina falou-nos um pouco sobre a importância da formação no seu percurso, a sua ligação e benefícios de trabalhar com acessórios, os desafios de trabalhar em grupo e algumas dicas sobre como angariar clientes privados, entre outros temas.

1. Como surgiu a tua paixão pela Dança e, em particular, pela Dança Oriental?
O mundo artístico sempre me fascinou, a dança aparece por magia. A tradução da música em movimentos é uma forma de expressão, uma fala mundial e é daí que surge todo o meu encantamento relativamente à arte de dançar. Artista é aquele que expressa, não só na Dança Oriental mas em qualquer arte que o coração fala através de algo e é assim que surge na minha a vida a dança árabe. Curiosamente a partir do momento que a vi pela primeira vez na televisão, bem novinha, de imediato despertou em mim um interesse na busca de a começar a praticar. A dança em si, tudo o que a dança envolve, a música, os movimentos, as cores, a cultura levou a que eu me iniciasse nesta arte.

2. Qual o significado do nome ‘Ahlam’ e porque é que o escolheste como nome artístico?
“Ahlam” significa “Sonho” aquilo que a dança árabe representa para mim. Não foi um nome pensado, e sim um nome que me define enquanto pessoa sonhadora que sou. É no meio de uma apresentação que o meu professor egípcio, na altura, me pergunta “Habibi, escolhe uma palavra que te defina” e eu disse-lhe “Sonho”, de imediato respondeu “A partir de hoje o teu nome artístico será Ahlam”.

3. Ao longo dos teus 18 anos de carreira, fizeste cursos e workshops com vários bailarinos nacionais e internacionais. Qual é a importância da formação no percurso de uma bailarina de Dança Oriental?
TODA! Por muito gosto que tenhas por algo o estudo é imprescindível, e saberes fazer os movimentos (que só treinando os fazes) é a base das bases, com a matéria o teu interior floresce. O estudo é feito a cada dia, estamos sempre a aprender. Eu sigo com a minha aprendizagem, somos todos diferentes e cada pessoa na dança tem algo a ensinar-nos. Aqueles que admiramos fazem-nos muitas vezes ver de forma diferente os movimentos e a dança, o que nos torna mais cultos, mais ricos em termos pessoais e artísticos.
Ao longo de todos estes anos todos os professores/as que tive contribuíram um pedacinho para a minha bailarina e para a minha professora. Em sala de aula aprendemos mas também vemos o que funciona. Desde que me iniciei a dançar sempre tive professores regulares sim mas à parte disso sempre fiz as formações que tive possibilidade quer cá em Portugal quer fora e isso contribuiu em diferentes formas de ver a dança em algo enriquecedor para a minha formação. É importante fazerem cursos, estudarem sim com professores regulares mas terem sempre formação extra como é o caso dos workshops com outros professores, até porque é ao sairmos da nossa zona de conforto que experimentamos outras formas de aprender e dançar, e que vimos a dança com diferentes olhos, através de outras perspetivas.

Direitos Reservados



4. Enquanto bailarina, destacas-te no panorama nacional pelo teu trabalho com acessórios. 
Podes dizer-nos como surgiu este interesse?
Desde sempre, de forma automática, comecei a dançar e o acessório enraizou-se em mim. O acessório desde que iniciei esta prática é o prolongar do meu movimento, a expressão maior do meu corpo. Não há uma altura específica, algo que me tenha despertado o interesse, pois para mim é algo adquirido desde o começo.

5. Para uma bailarina profissional, quais os maiores benefícios de aprender a trabalhar com acessórios?
Em primeiro lugar a postura. Para trabalhares acessórios tens que trabalhar muito a tua postura corporal, o alongamento corporal. Para o movimento ser tecnicamente bem executado e visualmente bonito todo o teu corpo tem algo a dizer, com isto quero dizer que todo o teu corpo trabalha. O manusear acessórios, trabalhá-lhos e ter destreza com eles contribui mais para a tua dança. Há inúmeras formas de dançar com diferentes acessórios: é o dar ar à imaginação, o ter inúmeras possibilidades de movimentos que podes levar às tuas apresentações, e ensiná-los. Na minha opinião é imprescindível trabalhares acessórios enquanto bailarina e enquanto aluna pois é uma mais-valia para ti e para o teu corpo.

Direitos Reservados


6. Há vários anos que és coreógrafa no Grupo Dançattitude. Podes falar-nos um pouco sobre o teu processo criativo coreográfico em grupo?
O processo criativo passa por várias fases. Por vezes surge primeiro a música e depois toda a criação coreográfica e outras vezes é pensado primeiro o que que vou querer dançar (por exemplo com pois com véu de seda) e só depois vem a música ou então há ainda uma terceira vertente que é o conjugar da música perfeita para aquilo que eu quero mostrar, surgindo a par. Após esta fase é então decidido se a música terá ou não acessórios, e a partir daí é então iniciada a construção coreográfica. Muitas vezes eu opto por ir coreografando, isto é, coreografo a primeira parte da canção e mediante o ensaio, o passar às colegas e o treino vemos o que funciona e as alterações que surgiram. Mediante isso, parto para a seguinte fase da coreografia.
Em grupo temos que ter atenção que somos todas diferentes, o que funciona para umas pode não funcionar para outras, as deslocações, os movimentos, o estarmos iguais é algo que à medida que ensaiamos vamos reajustando umas às outras e dai a criação coreográfica, em grupo, vai sofrendo alterações de forma a cada vez tornar a coreográfica mais “grupo”.

7. Quais as maiores vantagens e desafios de trabalhar em grupo para uma bailarina profissional?
O grande desafio de trabalhar em grupo é tornar o grupo o mais homogéneo possível em termos sobretudo de movimentos. É a coreografia funcionar em todos os elementos e visualmente torná-la apelativa para nós e para o público. É importante nós colegas de Dança Oriental, trabalharmos juntas, partilhar em sala de aula, em palco, dar a conhecer algo bonito, uma junção de movimentos entre pessoas totalmente diferentes e que funciona a dançar.


8. És professora de aulas regulares há vários anos. Podes falar-nos um pouco sobre o teu método de ensino?
O meu método de ensino difere mediante a aula/nível que estou a lecionar. 
O meu objetivo em aula é que a aluna usufrua da aula em si, ou seja, que saia da aula motivada a continuar porque gostou e aprendeu algo. A minha aula regular divide-se em duas a três partes, onde percorro diferentes abordagens. Falando em aulas gerais, a base técnica está sempre presente e é dedicado um tempo específico para a prática da mesma. É a partir da técnica que se constroem movimentos, uniões, onde aplicamos o que apendemos em sala de aula. À medida que as aulas vão avançando e progredido o aprendizado leva a construções de sequências e coreografias mais elaboradas e também introduzindo e treinando diferentes acessórios, sempre com a técnica na sua base. É uma evolução que difere de turma para turma, de pessoa para pessoa e que a todas tento chegar da melhor forma para que aprendam e se divirtam em aula, porque para nós a dança é para ser aprendida, treinada e expressamente vivida porque nos faz bem e gostamos. Estamos todas em aula para usufruir da mesma.

9. Costumas fazer vários eventos por todo o país em festas particulares, hotéis, feiras de viagens e restaurantes árabes. Como é a receptividade do público à Dança Oriental?
É ótima. O público varia muito mas por norma sou sempre bem recebida e o público é muito acolhedor, respeitador e atento na sua maioria.

10. Para as bailarinas que te seguem e que também pretendem entrar neste mercado, podes dar algumas dicas sobre como angariar este tipo de clientes?
O passa a palavra é a melhor fonte de divulgação do nosso trabalho por isso temos sempre de dar o nosso melhor quando nos apresentamos, em todos os aspetos. No meu caso e ao longo de todos este anos, o passa a palavra é o melhor meio de comunicação entre as pessoas, os convites e contratações chegam-me por indicação de quem me viu atuar. Quando um cliente que te contrata através de um site por norma é especificamente para aquele evento e não volta a repetir salvo raras exceções.



11. Que características achas indispensáveis num professor de Dança Oriental?
Saber o que faz e o que ensina. Ser humano, simples, recetivo; ouvir os alunos e a eles chegar até que entendam a matéria que lhes está a ensinar.

12. Qual a tua visão sobre o nível da Dança Oriental nacional?
Relativamente a níveis mais iniciantes ainda permanece em algumas alunas o fazer dança por atividade, noutras porque gostam e querem aprender e se empenham nisso progredindo ao longo das aulas.
Cada vez mais noto uma maior evolução técnica a nível de alunas que se querem tornar profissionais e das próprias profissionais da área, o nível de dança esta a tornar-se mais elevado, mas saliento o facto de não ser só a técnica que importa e sim o coração que comanda o corpo - a dança.

Direitos Reservados


13. O que achas que se pode fazer para a Dança Oriental se desenvolver mais em Portugal?
Dinamizar a atividade. Tornar a atividade mais apelativa ao público externo. E nós entre profissionais da área promover em grupo a dança oriental em si.

14. Podes dar algumas dicas às bailarinas que querem seguir a Dança Oriental de forma profissional?
Estudarem sempre, nunca pensarem que sabem tudo, procurarem aprender, terem aulas com diferentes professores. Terem aulas presenciais e não só pela internet, ao vivo o professor chega melhor a cada uma levando a uma maior evolução e aprendizagem. Verem vídeos, estudarem movimentos e junções, tentarem por vocês mesmas construírem a vossa dança e lembrando sempre que dançar não é só coreografar e dançar coreografia e sim improvisar também, que isso é uma grande aprendizagem.

15. Podes nomear uma actuação de Dança Oriental/Fusão que te marcou? Quais as razões que te levaram a sugerir esta performance?
Uma das últimas atuações que mais me tocou, ao vivo, foi a de David Abraham na Gala East Fest em Lisboa com a música “Asturias”, absolutamente sem palavras ver este artista ao vivo e toda a sua dança, com detalhe e precisão. Deixo o link da música não a apresentação de cá mas a música dançada pelo mesmo noutro festival. Mas saliento o facto de ao vivo e cá em Portugal ter sido algo único, quem dança sabe que cada atuação e diferente e a de cá foi especial.


16. Quais são os teus próximos projectos e objectivos profissionais?
Levar a cada vez mais pessoas a dança árabe quer a nível de eventos quer a nível de aulas/workshops.
Ensinar e desfrutar da dança com aqueles que dela usufruem. Continuar a coreografar pessoas profissionais e amadoras, quer em grupo quer a solo. Contribuir para o bom nome e a boa prática da dança oriental. Levar um sorriso a cada pessoa que desfruta da minha arte. Continuar a estudar SEMPRE a dança árabe e a cultura árabe.

Entrevista DOP - Cátia Ahlam
Por Rita Pereira
Maio de 2021