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COMING UP | Quién Mató a Sara? - 2ª Temporada

Quién Mató a Sara? tem novos episódios disponíveis na Netflix. Depois de nos ter conquistado com os seus plot twists inspirados no clássico Comte Montecristo, a segunda temporada revela-se um abuso do conceito e transforma os grandes pontos positivos da primeira leva de capítulos em coincidências forçadas que parecem arrastar a narrativa. Este é mais um exemplo de como saber parar uma série no tempo certo é a chave para que o sucesso perdure e de como os constantes aumentos de episódios desvirtuam a intriga de uma história ao ponto de a tornar banal e sobretudo forçada. Entre arcos mal encadeados, personagens que ficam estáticas nos mesmos pontos e respostas múltiplas às mesmas perguntas a darem resoluções diferentes para as mesmas questões, Quién Mató a Sara não nos conquista e sobretudo não nos vende a necessidade de prosseguir para uma terceira season. Depois de um somatório de elogios, a violência gratuita tomou conta de uma narrativa que continua a brindar-nos com a maestria mexicana de nos oferecer sempre pequenos momentos explosivos, mas que acaba, nesta temporada, por tornar o argumento em algo previsível, confuso e ao nível de história próximo dos vazios forçados de Toy Boy. Vem connosco em mais uma edição do Coming Up, onde te vamos dizer quais foram os limites ultrapassados neste enredo e como o sucesso pode ser um fator preponderante para estragar uma boa série. 

Desta vez temos uma resposta para a pergunta que dá título à série, pelo menos de forma aparente. Mas esse é, também, outro dos problemas que esta nova temporada nos dá. Depois de uma season inteira a entrarmos no jogo de detetives construído de forma próxima com o público, desta vez o enredo forçou-se a entregar ainda mais twistspara esta pergunta, chegando ao ponto de nos questionarmos quantas vezes é que Sara morreu? É que mesmo depois de uma cena em que mostram claramente quem cortou as cordas do pára-quedas temos outra logo em seguida que diz que tudo foi fabricado por uma outra dupla de interessados na morte da rapariga. Enfim, um chorrilho de plot twists desnecessário que torna o mistério em algo banal e com pouco sentido, apenas para servir de justificação para uma nova sequência de episódios e continuar a dar sentido ao título da série. Mas o grande ponto que torna tudo um pouco mais ridículo, é que os personagens que constroem está narrativa têm discussões interessantes, têm desenvolvimentos pessoais que realmente dão pano para mangas e que facilmente poderiam assumir-se como motores da trama numa terceira temporada. Contudo, ao invés de aproveitar o potencial, os autores da série preferem dar-nos mais uma temporada à volta da questão de quem matou Sara, repetindo pela terceira vez o processo de investigação, numa fase da série em que finalmente se abria espaço para que os protagonistas lidassem com os fantasmas das suas ações no decorrer deste processo de investigação. Esta é a principal nota de intenções sobre o porquê de considerarmos que a segunda e possivelmente a terceira temporada são manchas no currículo de uma produção que nos prendeu desde os primeiros minutos na primeira temporada.



Essa necessidade de dar uma maior densidade aos mistério em torno de Sara resulta num acrescento de personagens em quase todos os episódios. Estaria tudo bem se elas de facto trouxessem dados que revolucionassem por completo todo o enredo, mas isso não acontece e na verdade acabamos por ver em grande plano histórias de novas figuras, enquanto os anteriores elementos da série, com os quais já construímos uma relação de empatia, chegam quase a tornar-se figurantes. Vamos começar por Rodolfo, que numa temporada inteira conseguiu voltar ao mesmo ponto de partida, com o ódio por Álex a regressar a torná-lo novamente num vilão com pouca noção da realidade. Depois de tudo o que aconteceu a este homem na primeira leva de capítulos é aceitável que ele esteja a passar por um processo de depressão, mas convenhamos que se torna ridículo ver que em oito episódios ele serviu única e exclusivamente para ser dar um final a Sofia. Nada mais aconteceu na vida deste homem, que, recordemo-nos, era só um dos nomes principais na primeira temporada. Enquanto as suas dicotomias pessoais ficam em banho-maria, por arrasto, a história de Bruno tem fica em stand-by. O pequeno membro da família Lazcano tem um momento em que mostra que está a seguir as pisadas depressivas de Rodolfo, mas nada mais que isso e acaba por deixar definitivamente a história sem que o seu arco tenha uma real conclusão. Terão os autores chegado à conclusão que tinham demasiadas personagens e pouco espaço de ecrã? A resposta a esta questão parece ser um fio redondo, dada a quantidade de arcos que se resolveram com mortes precoces e de desaparecimentos que serviram apenas para não terem de se preocupar em avançar com o desenvolvimento pessoal de figuras importantes como César ou Eliza. Um recurso que quando bem utilizado pode funcionar mas acabou por transparecer como uma jogada forçada num argumento que até então até tinha conseguido primar por núcleos bem encadeados com profundidade de caracteres acima da média para este género de dramas.


A lista de mortes é extensa, mas no fundo todas entram para a categoria de Deus Ex Machina, à excepção de Elroy, que foi a única com um real propósito que serviu a narrativa. Tudo o resto foram aceleradores de ritmo com a esperança de nos oferecer momentos explosivos ao nível do que aconteceu na primeira metade desta história e de dar a sensação de que nenhum personagem estaria realmente a salvo. Porém, enquanto nos tentam forçosamente convencer disso, a realidade é que apenas dispensaram personagens que eram pontas soltas numa trama que tentaram orquestrar, recusando-se a ir além ao ponto de dispensarem figuras com um impacto grande na trama. Perdemos a conta à quantidade de vezes que Eliza esteve em risco, o arco dela tornou-se digno de uma telenovela barata, e parece ter servido apenas para preencher a quota de herói romântico que tentam carimbar em Álex. César é outro bom exemplo, Quién Mató a Sara? teve nesta temporada a hipótese perfeita de se fazer valer dos seus personagens e ainda oferecer uma morte surpreendente do homem que parecia imbatível, mas até nesse ponto conseguiu resvalar para um clichê barato. Aliás, clichês esses que ao contrário do que aconteceu antes, aqui são dados ao desbarato logo depois da passagem de tempo de seis meses, o momento em que realmente podemos dizer que a segunda temporada começa. Se até ao momento em que se doa essa passagem de tempo, a coesão da primeira temporada está toda lá, a partir daí é o descalabro, com tudo a acontecer muitas das vezes sem sentido, levando-nos a questionar os mínimos detalhes. Quão facilmente conseguem entrar nas instalações de hospitais em alas com segurança mais apertada? Quão facilmente conseguem estes personagens ter acesso a injeções letais? Quão facilmente conseguem entrar na casa uns dos outros sem partirem uma única janela? Enfim, uma série de questões que colocam em causa a lógica da série e que nos afastam da empatia que criamos com a trama na primeira temporada.



E seguimos nos pontos mais fracos para falarmos sobre algumas atuações sofríveis. Se já antes nós tínhamos queixado da interpretação de Claudia Ramírez como Mariana, nesta segunda season conseguimos ter uma atriz que a supera pelas piores razões: Litzy, a nova vilã da história, Marifer. Desde a falta de química com Álex, que nos dá contracenas desgastantes até ao facto da sua personagem ser complemente louca e desprovida de uma bússola moral, passando por um final desastroso em que se apresenta como uma mulher ciumenta capaz de tudo para conquistar uma relação amorosa com Álex, quase se esquecendo dos reais motivos que a fizeram iniciar toda a sua jornada de vingança, Marifer conseguiu superar a tenebrosa atuação da interprete de Mariana e tornar as vilãs deste enredo em figuras menos ameaçadoras, um vez que credibilidade é um conceito que não casa, de todo, com elas. Mas à parte disso, temos uma lista de personagens que passam, literalmente, toda a temporada a chorar fazendo disso o seu estilo de vida, mesmo quando a narrativa dá um salto de seis meses. Cherma e Rodolfo atingiram novos cúmulos, mesmo que a narrativa do primeiro ainda se tenha desenvolvido um pouco. Mariana e a sua obsessão ficaram perdidas nos meandros de narrativas que ofereceram apenas mais do mesmo, enquanto Sofia ganha o prémio de maior bibelô desta sequência. Eliza e Álex continuam a ser os personagens com um melhor casting, mas com o argumento a colocá-los sempre de volta às mesmas discussões nem a melhor atuação pode salvar a alma dos dois personagens, que aqui ficam a milhas de conseguirem segurar a empatia que tinham conseguido antes.


A lista de defeitos podia continuar, em mais uma prova de que nem sempre um sucesso deve ser estendido, mais que não seja, por existir falta de opções criativas para que a história avance de forma a conseguir continuar a conquistar-nos. Quién Mató a Sara? é a mais recente entrada no top de séries estragadas pelos malabarismos em quererem esticar algo que deveria ter recebido um travão. Se pelo menos todo este percurso tivesse servido para que o final desta segunda temporada nos desse uma resposta definitiva para a questão que serve de título à série, poderíamos pelo menos dar-lhe esse mérito, mas não acontece, o que nos deixa com medo de que a terceira sequência se revele como a manchada final para o enredo, baixando ainda mais a qualidade do produto. A verdade é que há muito pouco espaço para conseguir piorar ainda mais e a única certeza é de que vamos continuar a ver um argumento a andar em círculos. Saber quando parar uma série é a pergunta que os executivos que apenas pensam no lucro não querem nem ouvir falar, e no fundo, quem sofre é o público que depois de se deixar envolver com uma narrativa se sente quase na obrigação de saber, pelo menos como é que a história dos personagens com os quais criou empatia acaba. Aqui, a vontade de continuarmos a assistir para sabermos o que acontece esvai-se e na verdade só queremos que a terceira metade nos dê um encerramento tão digno quanto possível e que pelo menos regressemos ao nível de encadeamento e coerência da primeira season. As expectativas são baixas, mas se tivermos dois episódios sem ter Rodolfo e Cherma a chorarem em todas as suas cenas já estamos no lucro, se tivermos uma Mariana escorraçada da história para dar espaço a um vilão coerente o ganho é ainda maior. Contudo, isto é o melhor dos cenários, mas neste momento parece-nos uma realidade bem distante.