Fantastic Entrevista - Ioana Hristova: "Acho que um ator deve experimentar de tudo"
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Ioana Hristova tem apenas 20 anos, mas começa já a cimentar o seu caminho no mundo da representação. Tornou-se conhecida do público em 2019 quando desempenhou o papel de Leonor na telenovela da SIC Alma e Coração, uma miúda doce e tranquila e determinada que sofre uma enorme transformação depois de ter sido raptada por uma rede de tráfico ilegal, de onde regressa traumatizada e distante. A par desse projeto, participou também em diferentes filmes e peças de teatro, tendo também conquistado uma Medalha de Ouro num Concurso Internacional na modalidade de Dança Contemporânea. O Fantastic esteve à conversa com a atriz para conhecer mais acerca do seu percurso.
Sendo tu Búlgara, como é que vieste para Portugal?
Eu vim para Portugal com três
anos. Acho que todos os emigrantes vão para outro país à procura de uma vida
melhor. Eu vivia numa pequena aldeia na Bulgária e, quando o meu pai teve uma
oportunidade de vir para Portugal, os meus pais decidiram que seria uma boa
oportunidade para mim e para a minha irmã nos desenvolvermos.
Sentes
que o facto de teres mudado de país foi determinante para a mulher e atriz em
que te tornaste?
Sinto sim. Não é muito fácil
crescer num país que não é teu. Tive de lidar com muitos desafios que me
moldaram. Sinto que tudo o que passei contribuiu para a pessoa que sou hoje. A
minha paixão pela representação sempre esteve cá, por isso acho que mesmo se
tivesse ficado na Bulgária eu ia seguir este caminho e talvez até seria mais
fácil. Não pensava muito nisto quando era mais nova mas acho que o facto de ser
estrangeira me faz querer trabalhar mais e provar que tenho as mesmas
capacidades que um português tem.
De
que forma é que a cultura búlgara ainda está presente em ti?
Principalmente com a minha
família. Os meus pais fizeram questão de eu continuar ligada à Bulgária. Em
casa só falávamos búlgaro, via televisão búlgara e todos os anos vou à Bulgária
ver a minha família. Não há pessoas mais
acolhedoras que os Búlgaros. Se algum dia forem convidados para um almoço
búlgaro têm de se preparar para uma festa enorme. Muita comida, música e sim, provavelmente, bebida. E eu tenho notado esse traço búlgaro em mim. Eu adoro cozinhar
para os meus amigos e conviver com eles em casa num ambiente de família.
Frequentas
também Aulas de Dança na Escola de Dança Ana Köhler e chegaste até a conquistar
uma Medalha de Ouro no Concurso internacional “Dance Awards” na modalidade de
Dança Contemporânea. Que papel tem a dança na tua vida?
A dança fez sempre parte de
mim. Na verdade, posso dizer que foi através da dança que perdi grande parte da
minha autoestima, mas também foi com a dança que voltei a ganhar a confiança em
mim. No meu quinto ano entrei para o conservatório de dança onde aprendi muito
e cresci muito. Mas na altura, no conservatório, os métodos de ensino eram muito
rigorosos. Não é para todos, muitas vezes quis desistir por achar que não tinha
jeito e que a dança não era para mim porque me fizeram acreditar nisso. Mas
graças à minha mãe que nunca me deixou desistir, eu encontrei a escola da Ana
Köhler onde comecei a ter aulas. Eu saía da escola e ia direta para as aulas
lá, quase não tinha tempo para estudar na verdade. Mas foi nessa escola que
consegui encontrar a felicidade na dança. Vou para sempre agradecer à Ana por
me ter feito ver que a dança é uma arte de felicidade. Os concursos nos EUA
foram experiências de outro mundo. Para uma pessoa que estava habituada à bolha
que era o conservatório, ver como as coisas eram no estrangeiro foi incrível.
Realmente abriu-me os olhos ainda mais. E sim, nós fomos principalmente pela experiência,
mas sair de um concurso gigante como aqueles com medalhas de ouro é outro nível
de felicidade.
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Eu acho que
esta paixão sempre esteve aqui. Sempre que ia ao cinema eu entrava num mundo
diferente, para mim era magia. Quando era mais nova fazia sempre espetáculos
para os meus pais em casa e o meu maior fã provavelmente era o espelho. Ficava
horas a imaginar histórias e a fazer personagens. Foi quando saiu o filme
Hobbit que eu fiquei obcecada por pesquisar como são feitos os filmes e quanto
mais pesquisava mais me apaixonava pelo cinema. Na altura nem sabia que era
possível uma pessoa estudar para se tornar atriz ou realizadora, depois
encontrei a EPI. Quando fiz a audição, não achava que tinha jeito para ser atriz, tanto que tinha como segunda opção ser realizadora. Mas durante os três anos
que estive a estudar comecei a ganhar confiança e a acreditar que tinha tudo
para conseguir.
Daqui para a frente, pretendes continuar a apostar na tua
formação enquanto atriz? Sentes que isso é uma parte importante do percurso?
Eu acredito que um ator nunca deixa de aprender. Seja por estudar em universidades, fazer workshops ou mesmo em trabalho. Eu tenho apostado mais em workshops internacionais porque, para mim, dão uma perspetiva diferente. Eu acho que formação para um ator é fundamental para o seu desenvolvimento. Mas o fascinante desta profissão é que nunca chegamos ao ponto que queremos, estamos sempre a querer aprender mais, fazer mais e melhor.
Começaste
o teu percurso em televisão em 2019, na novela "Alma e Coração” da SIC.
Como encaraste esta oportunidade?
Para mim foi uma oportunidade
incrível. Tinha algum medo porque queria dar o meu melhor e tinha medo que
alguma coisa corresse mal. Eu sou uma pessoa muito ansiosa e perfecionista, o
que muitas vezes se torna chato porque acho sempre que podia fazer melhor. Mas
foi uma oportunidade que eu agarrei com tudo. Trabalhei muito e esforcei-me
todos os dias porque queria provar que conseguia.
Nesse
mesmo projeto tiveste uma personagem com uma história de vida,
de alguma forma, complicada. Em algum momento sentiste uma responsabilidade
acrescida para passares uma mensagem ao telespectador? Como te preparaste para
construir uma personagem tão densa?
Não
estava à espera de ter uma personagem com uma história tão forte. E no início
assustei-me porque senti uma grande responsabilidade. Porque sim, eu estou a
contar uma historia, mas há pessoas que realmente passaram e passam por
situações daquelas. Fiz pesquisas mas também me agarrei ao texto que tinha.
Analisei ao máximo a história da Leonor e, consoante o desenvolvimento dela, eu
consegui perceber que tipo de personagem é que ela é, como reage aos
acontecimentos, e agarrei-me a isso.
Tentei ao máximo passar a emoção da personagem. E tive muita ajuda dos
realizadores e da direção de atores.
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Eu cresci muito com esse
projeto. Realmente senti uma evolução enorme em mim mesma. A Ioana que começou
o projeto estava sempre nervosa com medo de errar e a Ioana que de lá saiu já
não tinha tanto medo. Já tinha outro nível de confiança. E aprendi a não me focar tanto nas minhas
dúvidas e a confiar nos realizadores. E claro, fiz amizades incríveis com pessoas
maravilhosas com as quais adorava trabalhar outra vez.
Como é para ti o processo de terminar um projeto e
despedires-te de uma personagem?
Assustador. Porque quando
chegamos ao fim temos sempre aquele medo do "e agora?". Mas, por outro lado, eu já
estava pronta para me despedir da Leonor. Foi uma personagem pela qual me
apaixonei e com a qual aprendi muito, mas já estava pronta para finalizar essa
aventura e passar para outra. Realmente no fim do projeto eu sentia a Leonor
como parte de mim e vai para sempre ser parte de mim porque lhe dei tanto. Mas
todas as coisas boas chegam a um fim para dar espaço a outras.
Fora do pequeno ecrã, sabemos que participaste em peças como “Tese 442”, “O Mórbido Ilusório” e “Ensaio
Geral”. Consideras que o palco é o local privilegiado na formação e carreira de
um ator?
Acho que um ator deve experimentar de tudo. Um pouco de cinema, televisão, teatro e dobragem. Nunca sabemos se vamos encontrar uma paixão maior. Eu adoro teatro e sinto falta.
Simplesmente adoro o contacto direto com o público e a energia que traz. Eu
cresci em palcos e realmente sinto como uma segunda casa.
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Já no cinema, integraste o filme “Vermelho Monet”, que conta com cenas em Lisboa, Paris e Londres, sendo falado em Português do Brasil, Portugal e Angola, além de conter cenas em inglês e francês. A história intimista e pessoal possui influência na paixão do diretor pela arte da pintura. O que nos podes contar acerca desta experiência no grande ecrã?
Foi uma
experiência pela qual estou muito grata. O que mais me fascina na representação
é mesmo o cinema e é onde eu me quero desenvolver mais. Ter a oportunidade de
fazer parte de um projeto desses foi um privilégio. Trabalhei com atores
espetaculares com os quais aprendi muito mesmo.
Quais são as tuas maiores inspirações nacionais e
internacionais, quer a nível artística, quer a nível pessoal?
A nível
profissional acho que não vou surpreender ninguém ao dizer que me inspiro nos
grandes atores de Hollywood. Mas não tenho um ator ou atriz específico em que
me foco. Eu simplesmente vejo muitos filmes e séries e analiso tudo o que os
atores fazem, como se mexem, como falam, como passam a emoção, e tento passar
isso para o meu trabalho. A nível pessoal as pessoas que mais me inspiram são
mesmo os meus pais. São ambos pessoas que me ensinaram a lutar para alcançar os
meus sonhos por mais difícil que seja e, apesar de todas as minhas dúvidas, nunca
deixaram de acreditar em mim e de me empurrar para a frente.
Se te voltássemos a entrevistar daqui a 10 anos, o que
gostarias de estar a fazer nessa altura?
Provavelmente gostava de estar
em Hollywoood, a fazer filmes e talvez a realizar também. Gostava muito de ter já uma boa carreira e, quem sabe, criar uma família. Mas, mais do que tudo, quero sentir que estou feliz onde quer que eu esteja.
Fantastic Entrevista - Ioana Hristova
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