Fantastic Entrevista - Diva O'Branco: "Acho que, em televisão, deviam apostar mais em caras novas"
Estreou-se em televisão em Água de Mar, em 2015, no papel de Aisha. Depois da participação na produção da Coral Europa para a RTP, seguiram-se várias personagens em séries e telenovelas da SIC, TVI e RTP. Mais recentemente, integrou o elenco de Amar Demais, da TVI e o Fantastic falou com a atriz sobre este seu percurso, não só em televisão, mas também em cinema e em teatro.
Estreias-te profissionalmente em teatro no ano de 2016, na peça A Cidade, com encenação de Luis Moreira. Como recordas os teus primeiros momentos em palco?
Muitos nervos. Muita união. Muito foco. Muita confiança no nosso trabalho e muita diversão em palco com um texto e encenação incríveis. Foi muito gratificante recebermos o prémio de “Melhor Peça Profissional - José Boa-Vida”.
Seguiram-se mais dois projetos teatrais nos últimos anos. Para além de Sonho de Uma Noite de Verão, subiste também ao palco com Rita no Reino das Páginas, que estreou em 2017 e foi reposto em 2020. Como foi trabalhar em teatro em plena pandemia?
Voltar a subir aos palcos sabe sempre bem, mas ter a oportunidade de trabalhar em tempos de pandemia soube ainda melhor. Saber que o publico estava lá para nos ver, mesmo com todas as restrições e com a máscara colocada durante a peça inteira, é especial. Ver a felicidade do publico pelos olhos, vale ouro. Mas confesso que não vejo a hora de voltar a ver um plateia cheia, sem restrições de lugares e livre de máscaras.
No início de 2021, o novo confinamento vem obrigar a Cultura a parar novamente. O que achas que é urgente mudar na forma de pensar e apoiar a Cultura no nosso país, seja durante ou após a pandemia?
Vou ser muito direta: Dar valor. Quem é que consegue sobreviver a uma pandemia ou viver uma vida inteira sem arte? Sem livros, filmes/séries, música, arte para apreciar e compreender e espetáculos para entreter? Ninguém! É urgente valorizar mais a nossa cultura. Antes, durante ou pós pandemia. É um bem essencial para a saúde mental de todos nós.
Ao longo dos últimos seis anos, participaste em várias séries e telenovelas portuguesas. Como recordas a tua estreia, em 2015, no papel de Aisha em Água de Mar?
Foi muito engraçado. Fiz uma personagem árabe, e fiquei em pânico quando soube (risos). Tive uma sessão intensa com uma tradutora e basicamente decorei os sons e a forma como se diziam as falas, porque para o contexto da cena eu tinha o texto em português. Uma coisa é certa: Tanto estudei aquela musicalidade e frases que sei as falas até hoje (risos).
De que forma tens visto a evolução dos conteúdos de ficção para televisão e streaming, no nosso país? Achas que os hábitos de consumo e a forma de os ver, pelos espectadores, estão a mudar?
Sim, acho. Fico feliz por ver mais diversidade e mais ficção portuguesa a ser consumida. Mais apostas, não só em telenovelas, mas em filmes, séries, minisséries e Youtube. Acho apenas que, em televisão, deviam apostar mais em caras novas, muitas das vezes, são sempre as mesmas caras. Existem muitos atores de todas as idades a formarem-se e cheios de paixão e talento, um talento que muitas vezes é desperdiçado.
Um dos projetos nos quais participaste foi O Mundo Não Acaba Assim, uma série da RTP gravada em pleno confinamento, exibida em 2020. Como foi fazer parte deste projeto tão diferente e inovador?
Inesperado. O guionista e realizador Artur Ribeiro, via as minhas danças (um dos meus hobbies) nas redes sociais e achou engraçado escrever um excerto sobre uma aula de dança online onde a minha personagem seria a professora de dança dos actores (Sandra Santos, Margarida Bento e Pedro Tochas). A produção da serie, trouxe, a casa de cada um, todo o material com toda a segurança. Não conhecia pessoalmente nenhum dos meus colegas, conhecemo-nos via zoom enquanto ensaiávamos e gravávamos a cena. A direção de atores e realização foi toda no momento com o Artur. Cada um em sua casa, a dar o seu melhor, com base na sua personagem e guião. Foi muito motivador e tenho a certeza que nunca me vou esquecer deste projeto tão especial. O resultado final da serie foi muito divertida e emocionante, isto porque abordava vários temas pessoais ou familiares de quem está a viver em confinamento durante uma pandemia: A nossa nova realidade.
Mais recentemente, integraste o elenco de Amar Demais, ainda em exibição na TVI. Muitos dos telespectadores poderão não saber, mas tu és a "dupla" de Sofia Ribeiro, interpretando as duas gémeas da trama. Como encaraste este desafio de interpretar duas personagens criadas por outra pessoa?
Foi um desafio diferente do que estava habituada e onde aprendi muito.Viver e decorar duas personagens, ir gravar para quando terminar ter de mudar de look para voltar a set e gravar tudo outra vez, mas na outra personagem, com outra fisicalidade, outra intenção, tentando sempre dar a melhor contracena possível, tendo sempre em mente não só as marcações como o cuidado para também os gestos estarem de acordo com as cenas anteriores. Foi isto...em modo repeat. Sinto-me uma privilegiada por ter tido a oportunidade de abraçar este desafio. Foi muito trabalhoso, mas fui muito feliz.
Já tiveste, também, a experiência de interpretar personagens para cinema. Pudemos ver-te no filme Bem Bom e, em breve, em Salgueiro Maia - O Implicado. O que é que os nossos leitores poderão esperar destes dois projetos?
Projetos fortes, baseados em histórias verídicas. Excelente realização da Patrícia Sequeira e do Sérgio Graciano e grandes interpretações.
Bem Bom vai dar origem a uma versão televisiva, no formato minissérie. Como vês esta adaptação de obras cinematográficas para uma exibição em televisão?
É uma mais valia. Uma ida ao cinema pode ser muito caro para uma família inteira, e assim chegamos a mais gente com a nossa arte. Para quem tem a oportunidade de ver as duas versões, a magia do Cinema e a TV em casa, têm sempre surpresas, porque existem sempre cenas novas e edições diferentes. Sendo que as séries têm a vantagem de ter mais tempo de antena, o que equivale a mais pormenor.
Apesar de jovem, contas já com uma longa formação enquanto atriz, que vai desde o Teatro, até à interpretação para Cinema, passando por outras áreas específicas. Quão importante é a formação para um ator?
Acredito que tudo se faz muito melhor com dedicação e trabalho. Sou a favor de defender a minha profissão como tantas outras profissões que não poderíamos exercer sem formação. A formação dá-nos bases muito importantes. Deixa-nos descobrir várias técnicas e mentores, aprender com os erros, melhorar ferramentas, e para mim o mais importante é: saber estar. Quando temos consciência das nossas bases tanto em teatro como em TV/Cinema a nossa única preocupação é criar e viver a personagem no momento. Mas não vou ignorar o facto de existirem atores com muita formação e sem talento, ou sem formação com muito talento.
Que referências, a nível artísticos, te inspiram enquanto atriz?
Tantos e tantas. Vou deixar aqui alguns dos nomes que me inspiram em várias áreas artísticas: Seja pela humildade, talento ou trabalho. Lúcia Moniz, Fernando Pessoa, Clint Eastwood, Leonardo Di Caprio, Scarlett Johansson, Rupi Kaur, Joquin Phoenix, Ava DuVernay, Carina Russo, Madalena Almeida e como diz a Maria Rueff “fazer esplanagem” (observar pessoas na rua)… entre muitos outros!
Tens uma longa carreira pela frente. O que te imaginas a fazer daqui a 20 anos?
Imagino-me a… estar a trabalhar neste meio que tanto amo. Trabalhar em tudo o que já trabalhei mas com mais oportunidades. Quero continuar a fazer Teatro, Cinema, Televisão e Dobragens. E enquanto isto, formar uma família, estar tranquila, feliz e o mais importante… ter saúde.
Fantastic Entrevista - Diva O'Branco
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