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Entrevista DOP - Nanda Zompero


Fotografias: Direitos Reservados

Nanda Zompero é uma bailarina, professora e coreógrafa brasileira de Dança Oriental. Nesta estreia da 3ªtemporada da iniciativa entre Fantastic - Mais do que Televisão e DOP - Dança Oriental Portugal, a bailarina falou-nos sobre as razões da sua mudança para Portugal, a sua adaptação ao país, o seu ensino, a importância do Marketing Digital na divulgação do seu trabalho, as diferenças entre o mercado de Dança Oriental brasileiro e português, entre outros temas.

1. Como surgiu a tua paixão pela Dança e, em particular, pela Dança Oriental?
Adoro contar essa história! Desde muito pequena eu gosto de dançar! Aos 4 anos de idade eu já estava no Ballet clássico e no Jazz, porém eu fui uma criança obesa, até os meus 13 anos, e o Ballet não era dança mais confortável, então uma dia eu assisti uma apresentação de Dança Oriental na televisão e fiquei encantada. De tanto pedir a minha mãe procurou uma escola, porém estamos a falar dos anos 90 e não era uma modalidade muito fácil de ser encontrada, então minha mãe achou uma professora em um ginásio (que na verdade tinha um conhecimento bem limitado de dança oriental, pois era aquelas professoras de ginásio que ensinam vários estilos), e passado algum tempo, quando eu tinha 11 anos, finalmente achamos uma escola de dança a sério, foi então que eu me apaixonei mesmo e nunca mais parei!

2. Durante vários anos tiveste alguns estúdios de dança, o ‘Nanda Zompero Escola de Danças’ e o “Nanda Zompero - Estúdio de Danças Árabes’. Como surgiu a ideia de criar estas escolas e quais as maiores aprendizagens que tiveste? 
Por ter começado a dançar muito novinha, consequentemente eu comecei a dar aulas muito nova. Dos 11 aos 15 anos eu evoluí muito rápido na dança, passei por várias escolas e desfrutei de muitos festivais e workshops (nessa época eu ia para os festivais somente para fazer as aulas). Com 15 anos eu comecei a dar aulas em uma das escolas que estudei, e com o passar do tempo eu senti necessidade de ter um espaço pra chamar de meu e poder dar as aulas e guiar as coisas a minha maneira. Então com 16/17 anos eu abri o meu primeiro estúdio, se chamava “Espaço de danças Khawala”, ficava na parte de baixo de um salão de beleza, e tinha como modalidades aulas de Dança oriental e Dança de Salão (danças sociais cá em Portugal). Fiquei um tempo nesse espaço e depois acabei usando o salão de festas da casa dos meus pais pra montar outro estúdio. Eu era muito nova e não fazia ideia do como administrar um negócio, divulgar e nem nada disso. Nesse meio tempo eu me formei na faculdade (sou formada em Criação e Produção gráfica digital = design gráfico), e comecei a ter que me dividir entre faculdade, aulas, estágios. Além disso ao mesmo tempo meu pai precisou levar sua empresa para o salão que eu utilizava, então improvisei salas de aula em quartos e até na sala da casa dos meus pais. Quando me formei na faculdade, passei a trabalhar em agências de publicidade e dar aulas somente aos sábados, e por mais cansada que eu estivesse, eu jamais deixei a dança.

O trabalho em agências é muito duro, sem horários, uma rotina muito insana. Foram 6 anos tendo imensos problemas de saúde e zero qualidade de vida. Foi então que no ano de 2013, ao sair de uma agência que eu trabalhava, minha sogra me ofereceu a possibilidade de montarmos uma escola de danças juntas, ela tinha acabado de se reformar, assim como a minha mãe, ela tinha um imóvel de sua mãe que estava disponível para locação, e foi assim que eu joguei toda a minha carreira como designer no pro alto e fui montar a minha própria escola. Tive muita ajuda da minha família, aliás a escola foi construída junto com eles! Era numa casa bem grande onde eu tinha: recepção, uma lojinha, uma “ventreoteca” com livros, revistas e DVDs para as alunas desfrutarem, 2 vestiários, 2 salas de aula, 2 casas de banho e 1 escritório. Ao princípio abri a escola com diversas modalidades, no Nanda Zompero Escola de Danças tínhamos aulas de Dança Oriental, Zumba, Dança de Salão, Street Dance, Dança Cigana, Pilates, Jazz etc. Após 3 anos sendo uma escola de dança com diversas modalidades eu resolvi fazer uma mudança e transformar minha escola em um estúdio especializado em danças árabes. Dessa forma, além de todas as aulas e professores serem de um único estilo, eu também criava eventos e possibilidades voltados somente para a dança oriental.

Os maiores aprendizados são, ter a noção de que ter uma escola nada tem a ver com ser bailarina e professora! São funções diferentes, que demandam dedicações diferentes. Nessa época eu tive que aprender a administrar, contabilizar, fazer emissões de notas fiscais (recibos, IVA etc), aprender a divulgar, aprender a fazer planejamento, ser responsável pelo trabalho e ordenados de outras pessoas, cuidar da limpeza e organização do local e etc. Definitivamente além de dar muito trabalho, não é pra qualquer um. Um outro aprendizado enorme, é o fato de que quando alguma coisa dá errado, ou algum profissional faz alguma asneira, a “culpa” disso será da escola, a responsabilidade, o nome, será sempre da escola, isso serve inclusive de dica pra quem pretende abrir uma escola, ter o seu nome artístico como o nome do comércio, pode ser negativo em relação a este ponto, entende? Foram coisas, que ninguém me disse, eu aprendi literalmente vivendo!

3. Com base na tua experiência, e tendo em conta os bons momentos e as dificuldades por que passaste, podes dar-nos algumas dicas sobre a gestão de um espaço de Dança?
Como mencionei acima, acho fundamental ter a consciência de que ter sua própria escola vai demandar que trabalhes por 2 ou 3 talvez. A função ser professora e bailarina já demanda bastante, então tem que estar disposta a aprender e realizar funções que vão além das que já está habituada a fazer (exceto que tenha condições de contratar outras pessoas para realizar essas funções). Eu diria hoje, pra quem fosse abrir a sua escola, que pensasse em fazer um espaço ou oferecer serviços fora do convencional. Sinto que é um mercado bastante saturado e que se faz sempre “o mais do mesmo”, percebe? Por exemplo, eu amaria frequentar uma escola que fosse também uma casa de chá, uma escola que além de escola, fosse uma casa de shows, enfim. Eu mesma tinha muitas ideias que não tive como colocar em prática por diversas razões.

Eu também diria pra avaliar muito bem a questão de colocar outras pessoas a trabalhar na sua escola como professores, infelizmente apesar de existirem muitos profissionais na dança, muitos não são “profissionais” e isso traz imensos problemas, e foi inclusive o motivo por eu ter feito a mudança e ter optado trabalhar somente com a Dança Oriental.

E por último eu diria, criem oportunidades! De todas as formas possíveis, para o seu mercado de atuação, para as suas alunas, para os seus admiradores, a minha escola foi um grande canal de crescimento e oportunidades na minha vida, logo em seu primeiro ano eu contratei a bailarina Esmeralda Colabone para dar workshop pela primeira vez em São Bernardo do Campo, isso me fez conhecer ela e fez com que pessoas que já praticavam a dança conhecessem a mim e a minha escola. Depois passei a criar eventos com vários profissionais em ascensão na dança oriental com baixo custo, eram aulas temáticas diversas, um dia inteiro de aulas, isso deixava as alunas muito felizes, fazia com que o trabalho desses profissionais fosse mais conhecido e também abria portas pra mim e para esses profissionais. Criar noites temáticas como “noite dos solos”, “show de halloween”, faz com que as alunas tenham um ambiente saudável e divertido pra dançar, gera uma renda extra pra escola com a venda de bilhetes e mantém as alunas motivadas, eu diria que ter a sua própria escola é criar a realidade que você quer e deseja pro seu mercado de atuação.

4. Em 2018, deixaste a tua vida no Brasil para vires para Portugal. Quais foram as razões que te fizeram vir para cá?
Meu marido sempre teve o sonho de sair do país, era uma vontade dele de longa data! No ano de 2016 fez uma entrevista para a Polônia e chegou a fase final, porém na última hora não deu certo. Eu nunca tive esse sonho, sempre fui muito apegada aos meus pais, amava a minha escola e a minha vida ao lado dele, mas sempre entendi os seus motivos da mesma maneira que ele entendia os meus. Até então estávamos vivendo o meu sonho, de ter a escola, ir nos festivais e viver da dança. Ele sempre me apoiou muito, aliás se não fosse por ele, muitas coisas não teriam sido possíveis, como as minhas viagens para outros estados do Brasil a participar de festivais. Em Janeiro de 2017 meu pai descobriu que estava com câncer, ele tinha apenas 53 anos, 3 meses depois minha mãe também adoeceu e adivinhem só? Ela também tinha câncer. Minha vida virou de cabeça para baixo, deixei de ser a mulher workaholic que só pensava em trabalho para me dividir entre imensas internações, idas a hospitais, passeios de ambulância, quimioterapias e uma vida que sinceramente eu não desejo a ninguém. Resumindo a história, minha mãe faleceu em Julho de 2017 e meu pai em Fevereiro de 2018, entre a perda dos meus pais ainda perdi meu único avô em vida (pai da minha mãe), e a avó do meu marido, que era como se fosse minha avó, e a proprietária da casa onde eu tinha minha escola, uma das pessoas que tornou meu sonho possível. Depois que tudo isso aconteceu, meu marido Fabio me disse que gostaria de voltar a tentar um emprego fora, seu sonho era ir pra algum país que falasse a língua inglesa, pois isso era um desafio pra ele, e ele queria muito vivenciar isso. Visto as condições físicas e psicológicas que eu me encontrava, disse pra ele que fosse atrás do seu sonho, e que eu o acompanharia, afinal de contas, um relacionamento não pode ser feito com base em um sonho só.

Então, ele começou a fazer uma série de entrevistas, para vários países, e acabou sendo contratado cá, a princípio era o único país que ele não queria (por causa da língua), mas no seu projeto, ele se dividiria entre Portugal e Londres, então ele viu nisso uma porta de entrada para realizar o seu sonho. Quinze dias depois, ele estava embarcando pra cá, fiquei no Brasil 4 meses sozinha para poder cuidar da parte burocrática e depois vim. O resumo é que apesar de ser o último país que ele queria, e eu não ter nenhuma expectativa, nós nos apaixonamos por Portugal! Nos adaptamos muito facilmente cá, fizemos amizades maravilhosas e nos sentimos em casa. Não queremos mais nos mudar e somos muito gratos por termos vindo “parar” aqui.

5. Como foi a tua adaptação ao país?
No começo, como tudo na vida não foi fácil. Meu marido saia pra trabalhar, eu ficava sozinha em casa, quando ia aos lugares não entendia o que as pessoas falavam, e como faziam mais de 7 anos que eu não tirava férias, estava me sentindo perdida, nunca fui uma mulher “do lar”, nunca me vi tendo como objetivo de vida os cuidados da casa e esperar o marido com a janta feita. Nada contra quem tenha este tipo de vida ok? Apenas não era a minha vida e nem o que eu estava acostumada. Apesar das dificuldades, sempre que podia sair com meu marido para conhecer mais de Lisboa, comer um pastel de nata e desvendar o país, eu me apaixonava mais e mais! Em questão de poucos meses fui aprendendo a me comunicar melhor, criando uma nova rotina e começando a reconstruir a minha vida, do lado de cá.


6. O que mais gostas em Lisboa e em Portugal, no geral?
O que mais amo aqui é a segurança. Amo muito meu país, mas estava a viver de uma forma muito complicada lá, sentia medo o tempo todo, sempre era assaltada, e não podia se ter nada de “valor” como um bom telemóvel sem que acabasse por perdê-lo por esses motivos. Aqui podemos andar tranquilos na rua, andar de transporte público (acreditem, eu não fazia isso no Brasil há imenso tempo, pelas condições precárias, como super lotação, falta de segurança etc), cá dentro dos carros também nos sentimos seguros, coisa que lá também não acontecia. E também temos uma melhor qualidade de vida. Como vim de São Paulo, o ritmo de vida e de trabalho lá é muito frenético, não paramos nunca, não temos folga, e é uma corrida incessante em busca de sucesso, de alcançar mais, de estudar mais etc. Quando me mudei pra cá, meu marido me fez 1 único pedido: não trabalhar mais aos finais de semana. Parece bobo, mas não sabíamos o que era ter 1 final de semana de descanso a mais de 7 anos. Morar aqui, nos possibilita ter como passear ao ar livre sem gastar muito, acesso a várias praias, parques e lugares históricos e etc. Eu não sabia o que era isso nem como era viver assim. Admiramos muito a forma que os Portugueses desfrutam da vida, e é algo que queremos e aderimos pra nós.

7. Utilizas muito o Instagram para partilhar as tuas opiniões, sobre vários assuntos, e para divulgares o teu trabalho enquanto professora de Dança Oriental. Quão importante são estas plataformas e, em particular, as ferramentas que tens de Marketing Digital para conseguires viver desta arte?
Na minha opinião isso sempre foi essencial, mas hoje em dia, visto a situação que vivemos é ainda mais. Como sou formada em comunicação, sempre associei minhas duas profissões e sempre tive consciência de que se eu não divulgasse o meu próprio trabalho, ninguém saberia que ele existia. No ano de 2020 eu comecei a estudar Marketing Digital, pois senti a necessidade de alcançar ainda mais as pessoas no universo online. Eu hoje tenho o meu site, o meu instagram e de complemento o e-mail, grupos de whatsapp e telegram. Acredito hoje que qualquer pessoa que queira viver de dança ou qualquer tipo de arte deva estar nas redes sociais, mostrar seu trabalho, falar sobre ele e mostrar seus valores como pessoa e como profissional. Antigamente as pessoas pediam recomendações, hoje em dia elas fazem uma pesquisa no google ou em suas próprias redes, são outros tempos, e ao meu ver, temos de nos adaptar o máximo possível. Mesmo que a profissional não tenha intenção de ensinar no formato online, ela deve pensar em como as pessoas chegarão até ela no presencial? Mais do que entrar em uma rede social e postar um banner, não podemos esquecer que as pessoas seguem pessoas e não empresas, ou escolas. Estudar marketing e ser designer, definitivamente fez e ainda faz muita diferença no meu trabalho como bailarina e professora.

8. Um dos teus focos de trabalho é o Folclore Árabe, nomeadamente o Baladi, estilo pelo qual és conhecida. Podes falar-nos um pouco sobre como surgiu este interesse e qual a importância que o Folclore tem para um bailarino de Dança Oriental?
Esta história é interessante, pois não foi nada planejado. Quando fiz minha primeira apresentação de Baladi, ele não era muito conhecido. Não se viam muitas apresentações e não era um estilo “popular” como é hoje. Eu tinha assistido um vídeo de duas bailarinas que gosto muito, Mahaila e Dani Nur, e eu fiquei apaixonada! Sem pensar muito liguei pra minha mãe e pedi para ela fazer uma galabia pra mim, fui atrás da música, da tradução, de entender mais ou menos como “funcionava” aquela dança, e me joguei! Foi incrível, pois comecei a ter imenso feedback das pessoas, e foi então que eu tive um click, aquilo em mim era natural! Não era forçado, não era interpretado, apenas tinha muito haver com a minha personalidade e dança! Então comecei a estudar o estilo a sério, e no mesmo ano, fui em uma categoria nomeada “golden era” a qual interpretei a bailarina Fifi Abdo, preparei um número com Sagat, fiz a clássica galabia branca, estudei muito seus trejeitos, expressões e acabei por conquistar o primeiro lugar na categoria. Com tudo isso, fui me apaixonando cada vez mais, buscando, estudando, pesquisando e faço isso até hoje. Como foi algo que aconteceu de forma natural, a cada 6 meses preparava um número novo e levava para os eventos e festivais, e isso foi me trazendo reconhecimento e por consequência prêmiações. Também criei minha companhia de dança, que no seu primeiro ano com uma coreografia em homenagem a Fifi Abdo ganhou vários prêmios. Sempre digo que o Baladi foi um presente da dança na minha vida, algo que simplesmente aconteceu.


Quanto ao folclore, eu julgo essencial o estudo dele, e muita consciência de que existe a Dança Oriental e existe o folclore árabe, e que apesar de serem coisas distintas, estão ligadas e todos deveriam estudar. Por muitos anos eu tive uma visão bem limitada sobre o folclore, e sinceramente falando, sinto que quanto mais estudo, menos eu sei. Apesar das pessoas fazerem associação do meu trabalho com o Folclore de forma geral, eu estudo e faço aperfeiçoamento somente na dança Baladi a mais de 4 anos. Não acredito em “formações” de folclore, pois ao meu ver, é impossível um profissional saber todas essas danças. Quando falamos em folclore e cultura árabe, estamos falando de 22 países com imensas danças regionais e muita informação que não chega até nós. Por isso eu digo que amo muito o folclore, estudo, mas não sou especialista, sou uma eterna estudante.

9. Quais são as maiores diferenças entre o mercado português e o mercado brasileiro de Dança Oriental?
Primeiramente eu diria que essa comparação é difícil visto que o mercado da dança oriental no Brasil é muito maior do que cá em Portugal (obviamente não dá para comparar visto o tamanho dos países). O que eu sinto mais diferença mesmo é em relação as oportunidades e facilidades, no Brasil existe tudo muito, muitas opções de ateliers, de fatos para aulas, de produtos como DVDs, livros e etc. Lá nós temos imensos músicos e bandas, e muitas oportunidades de onde dançar. No Brasil, mesmo que uma bailarina não seja contratada para dançar em restaurantes por exemplo, ela sempre terá um evento pra dançar no final de semana, mesmo que seja como mostra não competitiva. Aqui, eu brinco que tenho “abstinência de palco”, pois só temos 1 festival, ou temos de viajar para outros países para poder participar dos festivais (o que demanda um grande investimento). Lá nós também fazemos muitas colaborações entre professoras, ou seja, uma faz um sarau e convida e a outra e suas alunas. Cá eu percebo que isso começou a acontecer mais agora e obviamente a pandemia impediu que muitas coisas legais acontecessem, mas num geral, é isso. As referências também são diferentes, sinto que cá estudam mais bailarinas russas, ucranianas etc, enquanto no Brasil falando de forma bem generalizada mesmo, as pessoas estudam muito os bailarinos egípcios e tem uma boa parte que também estuda os bailarinos argentinos, que tem um estilo bem diferente e estilizado.


10. Podes falar-nos um pouco sobre o teu método de ensino?
Eu sou uma professora que trabalha muito com a técnica. Eu preso muito pela postura e bom entendimento dos passos, desde os mais básicos até aos mais elaborados. Na minha metodologia de ensino, após a postura a aluna vai aprender os passos, um de cada vez, vai o fazer e repetir imensas vezes e só depois de muito praticar vai ter isso aplicado a uma sequência ou mesmo coreografia. Eu também prezo muito pelo ensino teórico e da musicalidade. Desde o nível iniciado, as alunas tem bases teóricas e iniciação ao ritmo. Eu preso que as minhas alunas desenvolvam seu estilo próprio e decidam aquilo que gostam, gosto de desenvolver as alunas dentro do seu melhor, e sinceramente falando sinto que sou boa nisso, em extrair das pessoas aquilo que elas tem de melhor, respeitando a sua individualidade. Também incentivo desde o início que as alunas se interessem e busquem além da sala de aula, sempre mostrando e trazendo oportunidades para que elas conheçam e estudem com outros profissionais. Eu acredito muito que bons bailarinos são construídos bebendo de várias fontes, então isso é incentivado dentro da minha sala de aula. Na minha metodologia de trabalho também tem muito senso de humor, eu sou muito palhaça, o que faz que as alunas não sintam o quanto estão sendo “cobradas”, elas se divertem, eu corrijo e exijo um monte, e todo mundo sai feliz (risos).

11. Que características achas indispensáveis num professor de Dança Oriental?
Neste momento eu falo como aluna e não como profissional, na minha opinião um bom professor tem que ser dedicado, estudioso, atencioso e acima de tudo respeitar muito os limites do seu aluno. Saber até onde pode exigir e o como cobrar. Também tem que ter didática, ao meu ver a pessoa pode ser incrível, mas se ela não souber passar a informação, não souber explicar, não será um bom professor. E apesar de parecer óbvio, tem que estar em constante atualização, eu já tive muitos professores que se deixaram acomodar com o passar do tempo, e não é legal, pois somente quando vamos ter aula com outro profissional é que nos damos conta do quanto ficamos estagnados, por isso, pra mim é indispensável estudar com uma pessoa que se atualiza constantemente.

12. Para além de dares aulas presenciais, tens também o Clube de Estudos da Nanda no Instagram, onde dás aulas online. Quais as maiores diferenças entre as tuas aulas presenciais e as aulas online, especificamente através deste grupo? 
O Clube de Estudos foi um projeto pioneiro na dança oriental em aulas pelos 'Amigos Chegados' do Instagram. Começou de forma muito despretensiosa por dica da minha amiga querida Ju Sobral, e foi crescendo e tomando forma. O clube hoje é um dos meus projetos queridinhos! Nele, nós trabalhamos 1 tema diferente por mês, e esse tema é sempre escolhido junto as alunas que estão nele e nunca somente por mim. Hoje em dia as aulas são gravadas e postadas em um perfil privado no Instagram. São duas aulas semanais e temos um grupo no telegram onde eu tiro dúvidas, envio links e presentinhos para as alunas. Elas também tem total liberdade de me enviar seus vídeos treinando e sempre recebem um feedback meu. Também crio playlists temáticas no spotify para que elas tenham acesso as músicas e possam treinar em casa. No final de todo o mês no clube eu dou uma aula live com duração de 1h ou 1h30, e tenho trazido convidados especiais o que tem sido um sucesso. O melhor do clube, é que as alunas tem acesso a tudo isso por apenas 10 euros. É um projeto que eu me orgulho, por poder levar aulas e conteúdo de qualidade forma acessível para qualquer pessoa de qualquer lugar do mundo, como as aulas ficam disponíveis elas se organizam para assistir nos dias e horários melhores pra elas, o que torna tudo ainda mais interessante.

A grande diferença das aulas presenciais ou live para o grupo, é que por ser aula gravada eu não tenho como corrigi-las, exceto que me enviem o seu material a treinar. É por isso que eu considero o CDE da Nanda um complemento as aulas e nunca um substituto. É essencial que as alunas estejam ativas com suas professoras em aulas regulares e usem o grupo para complementar seus estudos.


13. Qual a tua visão sobre o nível da Dança Oriental portuguesa?
Acho o nível muito bom, principalmente a nível técnico. Sinto que cá as bailarinas tem um trabalho coreográfico muito bom e uma limpeza técnica muito boa também. Sinto que cá tem um trabalho maior a nível de espetáculo, e um trabalho mais voltado para coreografias do que improviso. Mas também percebo que isso se dá pelas oportunidades de apresentações que são diferentes das que ocorrem no Brasil. De forma geral, eu gosto muito, e me inspiro em muitas bailarinas daqui.

14. O que achas que se pode fazer para a Dança Oriental se desenvolver mais em Portugal?
Acho que temos que fazer um trabalho maior para trazer pessoas leigas pra este universo. As pessoas acabam por produzir e fazer as coisas sempre pra quem já está no meio, mas pouco se faz para atrair novas pessoas. Também acho que maiores colaborações entre as profissionais pra criar saraus, eventos em suas escolas, e criar situações onde as alunas possam dançar e interagir são mesmo muito legais. Do mais, penso que quanto mais eventos, festivais, apresentações em restaurantes, mais mostrarmos a dança e seus benefícios mais divulgada a dança será.

15. Podes dar algumas dicas às bailarinas que querem seguir a Dança Oriental de forma profissional?
Eu diria para que tenham certeza do que querem, e que tenham consciência de que vão ter de trabalhar duro e muito, pois viver de arte não é fácil. Estudar o máximo possível, e ter clareza do que quer ser, na minha opinião se quer ser professora é um caminho, se quer ser bailarina profissional é outro, se quer empreender é outro e assim por diante. Pra quem quer ser professora eu diria para além de estudar muito, quando se colocar em sala de aula, dar muitas aulas mesmo, se for possível, seja trainee com uma professora que goste, e aprenda muito com ela. Prepare o seu corpo para além da dança oriental para aguentar longas horas em pé, cuide da sua voz, ela é preciosa e nós falamos muito, leia muito, busque muito, nunca esteja satisfeita, queira sempre mais. Se o foco for ser bailarina, crie uma rotina de treinos diários, esteja atenta as novas modas e tendências em relação às músicas e estilos, sempre estude as traduções das músicas, prepare o seu corpo para a carga horária de shows, invista em fatos e boa maquiagem, tenha sempre books profissionais atualizados e um bom vídeo de teaser. Acho que essas já são boas dicas e que mostram bem a diferença das funções.

16. Podes nomear uma actuação de Dança Oriental/Fusão que te marcou? Quais as razões que te levaram a sugerir esta performance?
Eu poderia mencionar várias, mas tem uma que me marcou muito mesmo, que foi a apresentação da bailarina Kahina no Festival Shimmie ano de 2016, ela interpretou a música Purple Rain do cantor Prince no show de gala onde o tema era “Grandes nomes da música”, eu estava sentada na primeira fileira na companhia das minhas alunas, e essa apresentação da Kahina me fez chorar e ficar toda arrepiada. A expressão, a música, a técnica, até hoje, só de lembrar eu ainda sinto todas as sensações. Definitivamente foi uma das apresentações mais impecáveis que eu já assisti.


17. Quais são os teus próximos projectos e objectivos profissionais?
Confesso que essa pandemia me fez refletir e mudar muitas coisas. Eu hoje só quero poder contribuir de forma positiva o máximo que eu puder para a comunidade dança oriental e atrair o máximo de pessoas que eu puder para se descobrir através da dança também. Eu gostaria muito de poder levar meu trabalho para outros lugares dentro e fora de Portugal, e também tenho alguns projetos para quem já está no meio da dança e quer se profissionalizar. Por enquanto, farei tudo que puder no formato online.

Entrevista DOP - Nanda Zompero
Por Rita Pereira
Fevereiro de 2021