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"A Grande Paródia", de André Carvalho, soma prémios no circuito de festivais

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Imagem: Direitos Reservados

A curta-metragem portuguesa A Grande Paródia, realizada por André Carvalho, continua a somar distinções no circuito de festivais nacionais e internacionais. Estreada mundialmente em 2019, na Alemanha, a produção conta já com sete prémios e três nomeações no seu currículo. O Fantastic falou com o responsável pelo projeto sobre este percurso do filme.

A Grande Paródia é, segundo a sinopse oficial, um filme sobre um realizador que adormece enquanto vê televisão e sonha vender a alma a troco de fama e glória - um argumento escrito por André Carvalho enquanto estava na Alemanha. "Quando escrevi a curta, estava em Berlim. E quando fui para Berlim, fui na expectativa de alguém que se está a afogar e esbraceja, desenfreada e desesperadamente, para chegar à superfície, para respirar; para sobreviver", começa por contar André Carvalho ao Fantastic.

Esta curta-metragem, que tem tanto de auto-irónica como de corrosiva, pode ser assumida como um comentário ao cinema independente na visão do realizador, numa perspectiva da indústria portuguesa em particular. "Já estava familiarizado com o 'mundo' do audiovisual, mas desconhecia o backstage do cinema. E é realmente o que nos ensinam, nas escolas de cinema, que 'o cinema é mentira'. O cinema é como que uma Rosa. É muito elegante e perfumada, mas é cheia de espinho", explica ainda o autor de A Grande Paródia, fazendo este paralelismo entre o que vemos no filme e o que acontece na realidade.

Para André Carvalho, o filme acaba por abordar o "confronto com esta realidade; o perceber que 'fazer' cinema, não é fácil; o perceber que “fazer” cinema, não é para todos; e, principalmente,  perceber que, também no mundo do cinema, se tem que ceder e aceitar e fazer, muitas vezes, projetos de que não se gosta ou com os quais não nos identificamos de todo, mas que se aceita e se faz, somente pela 'sobrevivência', isto é, pela recompensa monetária e não pela recompensa 'prazerosa' ou moral".

 Antes de A Grande Paródia, André Carvalho já tinha realizado uma outra curta-metragem, Floating Above Suspicion, um drama sobre relações à distância e a forma como as novas tecnologias podem ser prejudiciais para as mesmas. Dois géneros completamente diferentes, justificados pelo facto do realizador não ter um género cinematográfico de eleição.

"Eu uso a escrita e por consequente o pouco 'filmmaking', em geral, que tenho vindo a fazer, como um diário. Escrevo sobre o que se está a passar comigo ou sobre o que estou a viver e presenciar no momento. Quase como que uma terapia. Depois, claro, há coisas que escrevo que nunca saem da gaveta e outras que consigo que saiam. Nestas, que tenho essa sorte, acabo por tentar perceber, de que forma poderei vir a transmitir realmente a 'mensagem' pretendida", explica.

Imagem: Direitos Reservados
 
De carácter surrealista, A Grande Paródia é gravada em película, uma opção do realizador que surge depois de ter feito "umas 'brincadeira' com uma Super 8" e de ter achado "super interessante a textura e os contrastes". Depois disso, surgiu a ideia de o próprio assumir o protagonismo da ação. "A ideia de ser eu a fazer o acting, manteve-se desde início. Queria que o objecto final, funcionasse como uma espécie de 'statement' e para tal, achei que seria fundamental dar o meu 'corpo' e dar a minha 'cara' ao projeto", revela ainda, ao Fantastic.

O conceito do filme foi ainda pensado de acordo com as sensações que este pretendia transmitir a quem o assistisse. A desilusão do realizador com o próprio cinema e a estranheza de toda a ação foram fulcrais para essas decisões. "Sendo o tema, um tema duro e pesado e como estava a viver toda aquela 'desilusão amorosa' com o cinema, quis trazer esse meu desconforto, essa minha revolta, esse meu 'coração partido', à tela. Ora a textura da película de 8mm, sem a definição da de 35mm ou até  da de 16mm, seria o match perfeito para tal", continua André Carvalho.

Mais tarde, o realizador percebeu ainda que "se optasse por fazer um 'silent movie', algo que já 'não se faz' ou que o público já não está de todo habituado, viria a acrescentar, ainda mais, alguma estranheza ao objeto", ajudando-o desta forma a "despertar as sensações pretendidas", sendo por esse mesmo motivo que optou por uma fotografia a preto e branco.

A Grande Paródia foi considerado pela organização do MOTELx 2020 como sendo um "filme visceral", motivo que a levou a vencer uma Menção Honrosa na categoria de Prémio Melhor Curta de Terror Portuguesa. Para além do reconhecimento no festival de cinema de terror português, o filme já venceu também muitos outros prémios. "Poderia dizer que não tinha grandes expectativas em relação a este projeto, antes da estreia, mas estaria a mentir. A Grande Paródia, teve um grande impacto na minha vida. Foram várias as fases/etapas, que tive de ultrapassar, para realmente a conseguir realizar", explica o realizador ao Fantastic.  

"Mesmo nos momentos de maior 'aflição', nunca deixei de acreditar, mas tendo-se tornado num processo tão moroso, suscitou um certo 'pesar' e alguma ansiedade. Acho que agora, que já consegui de alguma forma distanciar-me, do mesmo, vejo que, no seu 'todo', é bastante coeso, em todos as suas áreas/departamentos. Tornando-o, assim, num objecto 'forte', se assim o puder classificar", continua. Ainda assim, o responsável por A Grande Paródia confessa que "não estava nada à espera que fosse reconhecido desta forma, nem pelo público, nem pelos críticos", devido ao "estilo bastante próprio" do filme e por "não ser  um tema propriamente fácil e capaz de aceitação, da parte de 'qualquer' pessoa".


Das várias premiações, para além daquela obtida no MOTELx 2020, faz ainda parte uma menção honrosa no Experimental Forum 2020. Já no Hollywood Blood Horror Festival 2020, venceu nas categorias de Melhor Cinematografia (Nuno Martini) e Melhores Efeitos Especiais / Maquilhagem (Alex Costa). No Independent Shorts Awards 2020, também este ano, o filme venceu o Silver Award, para Melhor Curta Experimental, entregue ao realizador André Carvalho e ao diretor de fotografia Nuno Martini. 

No Los Angeles Cinematography Awards 2020 foi eleita a Melhor Cinematografia para um filme a preto e branco (Nuno Martini) e no The Monkey  Bread Tree  Film Awards 2019 venceu na categoria Melhor Realização (André Carvalho). Para além das sete vitórias, recebeu ainda três nomeações no Short the Point International Film Festival 2020, no Rome Prisma Independent Film Awards 2019 e ainda no Berlin Flash Film Festival 2019.

Depois de A Grande Paródia, André Carvalho já está a trabalhar no seu próximo projeto. "Neste momento, estou a escrever um guião, que à partida será para uma longa, do género Drama/Romance, em que procurarei fazer uma co-produção Portugal, Alemanha, sobre a Monogamia e os Desamores", revela o realizador ao nosso site.