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Fantastic Entrevista - Madalena Aragão

Foto: Pedro Aragão Dias

Madalena Aragão tem apenas 15 anos mas já conta com inúmeros projetos no currículo. Começou em 2016, na telenovela "Rainha das Flores" e, desde aí, foi conquistando o seu lugar no mundo da representação. Em 2019, integrou o elenco de "Nazaré", onde interpretou o papel de Carolina Carvalho, uma jovem que vive o drama da violência doméstica. Mais tarde, assumiu o papel de Ana Catarina em "Quer o Destino", que tem vindo a ser um enorme desafio para a atriz. 

Começaste o teu percurso em televisão em 2016, na novela "Rainha das Flores”, da SIC. Como foi para ti iniciares a tua carreira com grandes nomes da representação?
Quando comecei tinha 10 anos e por isso não tinha muito essa noção. Para mim eram apenas pessoas muito queridas que me ajudavam e que estavam sempre lá quando precisava. Hoje quando penso nisso é que percebo a enorme sorte que tive. Por tudo!

Em que momento sentiste que o que querias realmente fazer era representar?
Fazem-me imenso essa pergunta, mas sinceramente eu não sei responder com clareza. O que posso responder é que sempre me lembro de mim a fazer de conta. Sempre adorei vestir-me de personagens. Mesmo fora das datas próprias, tipo carnaval. Sempre representei e escrevi os teatros em casa e na escola, por isso acho que entrar nesta arte foi uma coisa natural. Todas as pessoas que viviam comigo sabiam que era este mundo em que eu queria viver e que me fazia feliz.


Sentes que o facto de trabalhares no mundo da representação te priva de viveres mais a tua infância/adolescência?
Em parte sim. Não trocava nada. Nunca. Mas há momentos em que me apetecia ter uma vida de miúda mais normal, por exemplo quando não posso ir para um campo de férias com amigos ou mesmo de férias de verão porque estou a gravar. Quando não posso sair com amigos porque tenho que estudar cenas das personagens e coisas da escola porque o tempo fica mais reduzido para tudo. Mas repito, não trocava nada porque sei que temos que trabalhar muito e fazer sacrifícios para sermos bons.
  
No final de 2019, abraçaste o papel de Ana Catarina na nova novela da TVI, "Quer o Destino". De que forma encaraste este desafio?
Quando fui fazer o casting para a Ana Catarina percebi que a personagem era forte e importante na história e por isso ia bem nervosa e receosa, mas o Chico (Francisco Antunez), que é o Realizador e Diretor de Projetor, foi super querido e colocou-me mesmo à vontade. Correu bem e quando me disseram que tinha ficado com o papel, depois de gritar até ficar rouca, de pular até à lua, comecei a ver como trabalhar a personagem que era complexa. Tinha bastantes “camadas”. Mas também é isso que é giro, certo?

Tanto em “Quer o Destino”, como em “Nazaré” e até anteriormente em “Rainha das Flores” tiveste personagens com histórias de vida, de alguma forma, complicadas. Em algum momento sentiste uma responsabilidade acrescida para passares uma mensagem ao telespectador? Como te preparaste para construir personagens tão densas?
O que me preocupa é pensar que não consigo transmitir bem aquilo que os escritores idealizaram quando escreveram a personagem. Normalmente, no início da história, tento colar-me a situações semelhantes que possam ter acontecido à minha volta e que conheça bem. Mas rapidamente entro na personagem e sinto-a cá dentro. Quando estou a gravar eu passo a ser “ela. E as coisas acontecem naturalmente. Claro que ter atores mega experientes e fenomenais a darem-me ótimas contracenas ajuda imenso. Faz toda a diferença. Ou seja, quando entras numa boa equipa é difícil seres muito mau.

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A novela “Quer o Destino” tem sido muito acarinhada pelo público e foi também um projeto especial para o elenco, percebendo-se o bom ambiente que viveram nas gravações. O que é que retiras de melhor, a nível pessoal, de "Quer o Destino"?
A bondade. A generosidade com que me trataram. Este grupo estava mesmo cheio de boas pessoas normalmente mais preocupados com os outros do que com eles próprios. E muito palhacinhos também, o que ajudou ao bom ambiente e a descontrair nesta fase tão estranha em que vivemos.

Como é para ti o processo de terminar um projeto e despedires-te de uma personagem?
Há projetos mais fáceis de sair do que outros. Há projetos que quase preciso de terapia. É muita dor. Porque estás a ver e a relacionar-te com pessoas que realmente gostas, que querias ter para a vida e de repente, de um dia para o outro deixas de ver. Eu ainda não sou completamente autónoma. É difícil estar com as pessoas. E isso é mesmo chato. Mesmo difícil. É claro que sei que vou gostar deles para sempre e que eles vão estar lá para mim se eu precisar. Mas não os vejo todos os dias. 

Um dos grandes desafios deste projeto foi o facto de interromperem as gravações e retomarem com todas as medidas de segurança devido às COVID-19. Como foi trabalhar desta forma inédita?
Acho que nos portámos todos muito bem. Cumprimos sempre as regras que a TVI e a Plural nos iam indicando e conseguimos chegar ao final das gravações sem quaisquer problemas. Felizmente.


Já em 2020 integraste o elenco de projetos como “Gargalhadas à Grande”, do Panda Biggs, e “Quarenteens”, ambas destinadas a um público jovem. Como tem sido o feedback desta faixa etária em relação ao teu trabalho?
Pelo que me vou apercebendo eu acho que as pessoas gostam do que faço. E essas séries foram mesmo giras. Ambas com orçamentos baixos, mas ficaram mesmo fixes. Na Quaranteens, só a Bia Frazão é que gravou exteriores e com apoio do Miguel Frazão (Pai e Realizador), porque todo o elenco gravou por casa, sozinho. Claro com apoio à distância. Mas com muita criatividade. Eu acho que a série é mesmo brutal face às condições. E têm um argumento magnífico.

Fora do pequeno ecrã, sabemos que participaste num espetáculo chamado “Nocturnos – os contos improvisados de Edgar Allan Poe”, que funcionou precisamente à base do improviso, trabalhando não só a história, como a relação com o espaço - a Quinta da Regaleira, em Sintra. Como foi este desafio?
Essa personagem era da Beatriz Frazão. Eu só a substitui, por convite, em alguns dos espetáculos porque ela estava a filmar outra coisa no porto. Mas fico agradecia para sempre. Eles são o melhor Grupo de Teatro de improviso. E as melhores pessoas do mundo para se estar na Regaleira à meia noite. Só espero que a Covid passe rápido e que possamos fazer muitos mais espetáculos daqueles.

Já no cinema, para além de teres integrado o elenco de algumas curtas-metragens, podemos ver-te em “Fátima”, um filme de Marco Pontecorvo. O que nos podes contar acerca desta experiência no grande ecrã?
Não tenho palavras. Quando te vês no meio de centenas de figurantes todos vestidos à época, com drones a filmar, em locais espetaculares, com atores que sempre idolatraste, é tipo um sonho. No filme, poucas pessoas me reconhecerão. A minha personagem como Rain Kid tem uma participação mínima. Fiz essencialmente de dupla da atriz principal. A Stephanie Gil. Então só quem sabe as cenas que fiz me reconhecerá, pois só apareço de costas, ou lado, as mãos, etc. A Lúcia Moniz brinca comigo e chama-me “A minha filha de costas”. Foi mesmo maravilhoso ter participado numa produção daquelas com atores e realizadores internacionais e serviu para me testar num projeto em inglês, porque lhes dava as contracenas.


Daqui para a frente, pretendes continuar a apostar na tua formação enquanto atriz? Sentes que isso é uma parte importante do percurso?
Claro que sim. Gostava muito de ir para fora estudar representação. Em Portugal vou fazendo todos os workshops de teatro, castings, cinema que conseguir. E depois se não for logo para fora, também há boas escolas profissionais, em Portugal, para nos preparar.

Quais são as tuas maiores inspirações nacionais e internacionais, quer a nível artística, quer a nível pessoal?
São tantas. Por esta ou aquela razão. Mas tenho medo de me esquecer de alguma portuguesa por isso só falo em duas estrangeiras que também adoro por serem ótimas atrizes e defensoras de causas que eu acho importantes: a Meryl Streep e a Scarlett Johansson

Se te voltássemos a entrevistar daqui a 10 anos, o que gostarias de estar a fazer nessa altura?
A ser feliz. Não sei quais serão as plataformas de streaming na altura, mas com 25 anos gostaria de estar a fazer uma série fixe numa “Netflix” dessa época e uma grande peça de teatro. Esses são os meus sonhos.

Fantastic Entrevista - Madalena Aragão
Por André Pereira e Joana Sousa
Setembro de 2020