Viajar Porque Sim #9 | Lisboa vista de cima
Conhecem a
lenda de Lisboa? Diz-se que o nome romano da nossa capital, Olissipo, derivará
de Ulisses, o herói da Odisseia, poema épico atribuído a Homero. Ulisses aportou
em determinada altura a um belo lugar habitado por serpentes, cuja rainha se
apaixonou por ele. Mas Ulisses acabou por partir, deixando a rainha
inconsolável – e os sulcos que ela deixou no solo ao dirigir-se para o Tejo
tentando alcançar o seu amado terão dado origem às supostas sete colinas de
Lisboa, mais tarde baptizadas com nome católicos: São Jorge, São Vicente,
Santana, Santo André, Santa Catarina, São Roque e Chagas.
Lisboa cresceu
muito desde essa altura. Hoje as suas colinas são bem mais do que apenas sete,
e cada uma delas oferece-nos perspectivas diferentes da “Cidade Branca”, como
lhe chamou Alain Tanner no seu filme de 1982. O cineasta suíço adjectivou-a de
branca pela luz que a ilumina durante quase 2800 horas por ano, o que faz dela
a terceira cidade mais soalheira da Europa. E que melhor maneira de apreciar
Lisboa, e todas as suas cores iluminadas pelo sol, do que vê-la de cima? Não,
não é uma viagem de avião ou helicóptero que vos proponho, nem tão pouco vos
vou mostrar perspectivas captadas por um drone. Desta vez vamos apreciar as várias
faces de Lisboa a partir de alguns dos seus lugares mais emblemáticos: os
miradouros.
Teleférico do Parque das Nações
Um teleférico
não é propriamente um miradouro tradicional, mas é sem dúvida uma das melhores
formas de ver o Mar da Palha e o Parque das Nações, a zona mais jovem e
futurista da cidade. São oito minutos de viagem a trinta metros de altura,
percorridos suavemente em cabinas envidraçadas que nos oferecem uma das
perspectivas mais abrangentes e emocionantes do extremo leste de Lisboa.
Telecabine Lisboa
Passeio das Tágides
- Estação Norte (próximo da antiga Torre Vasco da Gama, agora o My Riad hotel)
Passeio de Neptuno
- Estação Sul (próximo do Oceanário)
1990-280 LISBOA
Horário: 11h-18h (de 13 Maio a 13 Setembro 2020);
11h-17h (de 14 Setembro a 21 Março 2021)
(horários especiais nos dias 24, 25 e 31 Dezembro e 1 Janeiro)
Contactos: telefone 218 956 143 email geral@telecabinelisboa.pt
Portas do Sol
Engastado
entre o Castelo e Alfama, o Miradouro das Portas do Sol é um dos locais
privilegiados para observar o cais onde atracam alguns dos grandes navios de
cruzeiro que aportam a Lisboa, ao lado das linhas aerodinâmicas do novo
edifício do terminal. Ao fundo, do lado de lá do Tejo, o Barreiro estende-se a
perder de vista.
Santa Luzia
Apenas 50
metros mais abaixo, o Miradouro de Santa Luzia tem o nome da igreja a que está
encostado. Entre o azul do céu e o do rio, os nossos olhos encontram as cores
pastel do casario labiríntico de Alfama, acima do qual se ergue a cúpula do
Panteão Nacional e, num plano superior, a imponente envergadura da Igreja de
São Vicente de Fora.
Miradouro da Graça
O seu nome
oficial é Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, e a atestá-lo está o
busto em bronze da poetisa, réplica de um outro em pedra criado pelo escultor
António Duarte nos anos 50. Fica paredes-meias com a igreja e o jardim da
Graça, e oferece-nos uma das melhores vistas sobre grande parte da Lisboa,
desde a Mouraria ao Chiado, para a esquerda, e até às Amoreiras, para a
direita.
Miradouro da Senhora do Monte
No mesmo eixo
mas um pouco mais a norte, ao lado da deliciosa Ermida da Nossa Senhora do
Monte, está um dos miradouros mais amados de Lisboa. Daqui temos uma vista
desafogada para o lado norte do Castelo de São Jorge, o Martim Moniz, o Bairro
Alto, e os bairros que acompanham a Avenida Almirante Reis até ao Areeiro. E
descobrimos pormenores encantadores nas silhuetas dos telhados e das torres.
Jardim do Torel
Este jardim
escondido entre a Avenida da Liberdade e o Campo dos Mártires da Pátria,
empoleirado no alto da colina de Santana, é ainda praticamente um segredo de
Lisboa – e é também um dos seus melhores miradouros. Está rodeado de palacetes
do século XIX e distribui-se em vários níveis. Tem bancos, pequenos lagos,
estátuas e muita sombra, e uma vista directa para a Baixa, a encosta da sétima
colina e o famoso e bem mais frequentado Miradouro de São Pedro de Alcântara,
que fica mesmo em frente.
Santa Catarina
É mais
conhecido por Miradouro do Adamastor, à conta da escultura de Júlio Vaz Júnior
ali colocada desde os anos 20 do século passado. Reaberto há menos de um ano
depois de obras de recuperação, o espaço é um dos lugares preferidos pela
juventude trendy lisboeta que adoptou
recentemente o bairro da Bica como local-coqueluche. Virado de frente para o
Tejo, é o melhor local para observar a zona ribeirinha entre o Cais do Sodré e
Santos, e o padrão irregular da colmeia de edifícios que é o bairro da
Madragoa.
Capela de São Jerónimo
Fica na zona
mais nobre do Restelo outro dos melhores segredos de Lisboa. Rodeado de
pinheiros e grandes casas, pouco ostentatórias e dissimulando cuidadosamente a
riqueza de quem as habita, o local onde se ergue esta pequena e simples capela
com origens no século XVI é um miradouro fantástico sobre Belém e o trecho
final do Tejo antes de se encontrar com o oceano. Ao fundo, no enfiamento da
extensa avenida que desce até ao rio, a Torre de Belém ganha ares de miragem.
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Estes são
apenas alguns dos muitos locais que nos desvendam perspectivas diferentes de
Lisboa, esta cidade que teima em reinventar-se para se manter, aos nossos
olhos, sempre menina e moça.
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