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Fantastic Entrevista - Joana Moura


Joana Moura é bailarina, coreógrafa e professora de Dança Oriental. Na segunda edição desta parceria entre Fantastic - Mais do que Televisão e o Instagram Dança Oriental Portugal, falámos com esta artista sobre o seu início na Dança, as suas influências, as peripécias por que já passou em palco, a sua marca LadyBug Design, o seu grupo 'Zaharah', a sua visão sobre a Dança Oriental nacional, entre outros temas.

1. Como é que começaste a dançar?
Comecei a dançar como a maioria das meninas começa, iniciei Ballet aos 3 anos. Foi a minha primeira grande paixão, fiz exames da Royal Academy of Dance e foi uma modalidade que pratiquei até aos 20 anos. Pelo caminho passei pelo Contemporâneo, pelas Sevilhanas e ainda pelo Flamenco.

2. Quando começou a tua paixão pela Dança Oriental?
É uma história curiosa, em 2006 a minha mãe quis que eu experimentasse uma aula de Dança Oriental na escola de dança que eu frequentava, eu tinha apenas 14 anos e achava, como muitas pessoas, que na Dança Oriental as meninas andavam ali só a abanar a anca com cintos de moedas, como eu estava errada! Fui à aula contrariada e saí a querer mais, já lá vão 14 anos a "abanar a anca".

3. Já actuaste em vários espaços e contextos (bares, eventos privados, espectáculos, concursos) ao longo destes anos de dança. Podes contar-nos uma peripécia que te tenha acontecido num momento da tua carreira?
Como a maioria das bailarinas já vivenciei algumas peripécias como um véu ficar preso no fato, ou as alças do soutien rebentarem, etc. Mas 2 momentos que me marcaram foram com música e foram tão parecidos e tão diferentes ao mesmo tempo. Num festival de dança em Madrid onde fui dançar com o grupo a que pertencia na altura as Mahtab, a meio da actuação o CD encravou e ficou a tocar uma espécie de remix em loop, ora sendo um grupo não podemos simplesmente improvisar então continuámos com a coreografia como se nada se passasse e felizmente a música voltou ao normal precisamente no momento da coreografia em que íamos, qual a probabilidade? Foi uma sorte! O outro momento relacionado com música foi num dos espectáculos de alunos anuais que ajudo a organizar na DanceFloor Academia, o técnico de som não conseguia encontrar a música que era suposto tocar a seguir, então, enquanto resolvia a questão eu (Bruxa Má) e mais dois professores (Princesa e Chapeleiro Maluco), todos personagens da história do espectáculo entrámos em palco e improvisámos, fingindo que fazia parte da história, sem música e tudo para que o público não se apercebesse que algo estava errado. A certo ponto alguém no backstage começou a bater palmas para marcar um ritmo para nos ajudar a guiar, daí o público alinhou e demos por nós, três pessoas de modalidades completamente diferentes, a improvisar com a ajuda do público, foi uma conexão e um sentimento que até hoje não consigo explicar, foi único mas também os 7 minutos mais longos da minha vida artística!
Fotografia: GiDreams Photography


4. Quem são as tuas maiores influências artísticas?
Tudo me inspira, uma música, um fato, uma cor, uma vivência, outros bailarinos ou filmes. Se falarmos de bailarinos de dança oriental talvez quem me inspire mais seja Mahaila El Helwa, Dariya Mitskevych, Alida Lin, Fleur Estelle, Victoria Muñoz, a lista está em constante mudança pois todas as bailarinas evoluem de dia para dia.

5. Ensinas Dança Oriental na DanceFloor Academia (Loures) e na Academia de Dança Ritmos e Reflexos (Cacém) . Podes falar-nos um pouco sobre o teu método de ensino? 
O mais importante para mim é que as minhas alunas se sintam confortáveis na minha aula e se divirtam! Os meus métodos diferem de aula para aula, de aluna para aluna, pois todas são diferentes e todas precisam de algo diferente de mim, seja uma explicação técnica, seja teórica, seja um sorriso ou que simplesmente puxe por elas. O meu método é aliar a teoria com a técnica e a conexão da aluna com a dança e comigo e as colegas, porque se tiver um grupo unido já é meio caminho andado.

6. Quais as maiores diferenças que encontras entre o mercado de Dança Oriental nacional de quando começaste a praticar e actualmente?
Na minha opinião o mercado mudou muito! Para começar há mais professores, logo há mais divulgação da arte e mais alunos. Temos mais eventos, espectáculos, workshops e festivais o que ajuda na evolução dos bailarinos e da modalidade na comunidade, mas ainda há muito a fazer.

7. Como bailarina que participa regularmente em vários concursos em festivais nacionais e internacionais, qual é a tua opinião sobre os concursos nos festivais de Dança Oriental?
Considero que os concursos têm um lado bom e um menos bom. Por um lado uma bailarina que vai a um concurso dedica-se mais a estudar a cultura, a música e a dança, vai trabalhar mais a sua técnica, a sua expressão, o sentimento, etc, ou seja, ir a um concurso "obriga-nos" a evoluir, e quando podemos ter acesso às apreciações do júri melhor ainda, podemos perceber do ponto de vista dos profissionais internacionais quais os nossos pontos fortes e fracos para podermos trabalhar e evoluir mais. O lado menos bom é a competitividade e a falta de camaradagem que por vezes se vê no camarim. A rivalidade não é boa nem para nós nem para a comunidade.
Fotografia: New Vintage Photo

8. Para além também tens uma marca, a LadyBug Design. Podes falar-nos um pouco do seu surgimento e identidade? 
Desde o início que eu e a minha mãe fazemos os meus fatos. Começámos a brincar cada vez mais, passámos a fazer os fatos das alunas e colegas de dança, então sentimos a necessidade de criar uma marca, a LadyBug. Queríamos associar o nosso nome à marca e entre as opções estava LadyBug (Joaninha), a minha mãe quis que assim ficasse e eu não fui capaz de lhe dizer que não.

9. Nos últimos dois anos tens-te apresentado nos palcos dos festivais portugueses dançando música Fado com Dança Oriental. Como e quando surgiu esta ideia e vontade?
A primeira vez que vi a conjugação foi quando vi a minha professora da altura, Joana Grácio, a dançar num projecto com Guitarra Portuguesa "In Canto", fiquei apaixonada, mais tarde fizemos uma coreografia em aula ao som da "Mariquinhas", desde então que a minha mãe me pede regularmente para dançar Fado e como já se percebeu, eu  faço-lhe muitas vezes a vontade! Comecei a dançar Fado em eventos e mais tarde em concursos na categoria de Fusão. A música mexe muito comigo e acho que dançar Fado já faz parte da minha marca.

10. Tens um grupo multipremiado de Dança Oriental - as Zaharah - com a tua colega e amiga Diana Fradique. Como surgiu e quais os maiores desafios que têm no vosso grupo?
As Zaharah surgiram de uma vontade de dançar e trabalhar em grupo, já participava em competições e assistia às categorias de grupos e ficava fascinada com as diferentes dinâmicas, é diferente do trabalho a solo. Já tinha estado num grupo grande e sabia que era algo que não queria repetir, é muito difícil gerir um grupo com muitas pessoas, as suas disponibilidades, temperamentos e os diferentes objectivos podem ser uma grande dor de cabeça! Eu sabia que queria um grupo pequeno, 2 ou 3 elementos e foi quando me lembrei da Diana, dançámos na mesma turma com as mesmas professoras durante muitos anos por isso a nossa técnica é muito parecida - o que é um bónus num grupo - por isso fiz-lhe o convite que ela aceitou logo! 
Acho que o nosso único desafio é gerir a nossa disponibilidade para ensaios, estamos em fases diferente da vida, enquanto ela tem um trabalho dito "normal" eu dou aulas à noite por isso temos de ensaiar nas horas de almoço dela ou nos fins de semana em que ela não tem os miúdos, fora isso funcionamos muito bem a todos os níveis! Tenho que dizer que tenho uma admiração muito grande pela Diana, não sei como ela consegue conciliar o trabalho com a vida pessoal e ainda consegue aturar-me e ter tempo para os nossos ensaios.



11. És professora e auxilias na organização dos espectáculos da escola DanceFloor Academia, em Loures. Que desafios enfrentas quando organizas um espectáculo?
Organizar espectáculos dá muito trabalho, principalmente quando são da dimensão das festas de final de ano da DanceFloor, onde temos um guião, uma história e personagens, para além dos trabalhos coreográficos das várias modalidades e onde anualmente levamos a palco cerca de uma dezena de professores e quase uma centena de alunos. Acho que o maior desafio no meio de tudo é lidar com a reticencia dos professores e dos alunos em seguir um tema e um guião, todos os anos é uma luta mas todos os anos vale a pena ver no final do espectáculo o brilho nos olhos deles e ter o sentimento de missão cumprida!

12. Qual a tua visão sobre a Dança Oriental portuguesa actualmente?
A Dança Oriental em Portugal evoluiu muito nos últimos anos, o que é bom mas na minha opinião ainda temos um longo caminho a percorrer, como disse anteriormente. Apesar de toda a informação, dos workshops e festivais acho que ainda há pouca procura por formação, a Dança Oriental é um mundo, estamos em constante pesquisa e aprendizagem.

13. Que dicas dás às bailarinas que estão a surgir e que querem seguir a Dança Oriental de forma profissional?
Estudem! Sei que parece ridículo, mas é preciso estudar muito, teoria, prática, fechem-se em estúdio, dancem, pratiquem, façam formações, workshops e aulas com vários professores, todos vos vão passar informação de diferentes formas e o que podem não conseguir fazer com um, outro pode explicar-vos de uma forma diferente, para além de que cada professor tem o seu estilo e as suas preferências que não têm necessariamente que ser as vossas!

14. O que achas que se pode fazer para a Dança Oriental se desenvolver mais em Portugal?
Estamos num bom caminho, sinto que cada vez há mais divulgação, mais eventos, mais professores e mais alunos, simplesmente temos que continuar e insistir no que estamos a fazer agora.

15. Se te pedisse para nomeares um livro, uma peça de dança e uma música que aches que toda a gente precise de ler, ver e ouvir, quais seriam? E porque é que os escolherias?
Sou uma pessoa indecisa, não tenho uma música ou um filme favoritos mas sim vários, são listas em constante mutação, acredito que não sou a mesma pessoa hoje que fui ontem porque tudo o que fazemos no dia-a-dia nos muda um pouco.
Qualquer filme da Disney mexe comigo, principalmente os da minha infância e todos têm uma ou mais mensagens bonitas para nos passar.
Todos devíamos ouvir muita música, de todos os géneros, andar de carro comigo pode ser uma verdadeira aventura, tanto pode estar a dar R&B, como, músicas da Disney, musicais, música clássica ou claro música árabe! 
Uma peça de dança... Sou suspeita, a base da minha dança é e sempre será o Ballet, gosto de ver qualquer peça. De Dança Oriental a Diva Darina a dançar Dulce Pontes "Canção do Mar" é uma performance que por mais vezes que veja mexe sempre comigo!



16. Quais são os teus próximos projectos e objectivos profissionais?
O meu objectivo é treinar para ser cada vez melhor e conseguir levar a Dança Oriental a mais pessoas. 
Neste momento estou a desenvolver um projecto "Hafla", é uma espécie de palco aberto que vou realizar na DanceFloor Academia onde pretendo juntar alunas e bailarinas amadoras e dar-lhes espaço para mostrar a sua arte sem qualquer tipo de pressões ou julgamento.
A ideia surgiu de conversas com outras profissionais da área e da minha própria experiência e percurso. Enquanto alunas normalmente temos oportunidade de dançar em público apenas em grupo, nas festas de final de ano das escolas e sempre no âmbito de turma, não há grande abertura nem oportunidades para explorar os solos. Mesmo quando as professoras trabalham os solos em aula as alunas não têm onde os apresentar sem ser em âmbito de competição ou, em cafés e bares onde por norma são pagas para dançar e serão consideradas no mercado de trabalho como profissionais quando ainda não o são.

Assim surge a "Hafla", um espaço onde podem apresentar o seu trabalho, podem ver o trabalho de outras bailarinas amadoras e podem ainda conviver com as restantes meninas e professoras que as acompanham, criando assim um ambiente caloroso de partilha que na minha opinião deve ser a base da dança especialmente em contexto de aula!

Fantastic Entrevista - Joana Moura
Por Rita Pereira
Março de 2020