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COMING UP | ÉLITE



Estamos de volta às aulas e a Las Encinas. Neste novo ano letivo a série, que em linhas gerais segura o mesmo suspense de How To Get Away With Murder num ambiente em tudo similar ao de Rebelde Way, regressa numa segunda temporada ambiciosa, que além de repassar todas questões da anterior ainda adiciona alguns assuntos bem fora da caixa. É praticamente impossível construir uma teia tão perfeita como Élite numa história que toca tantos pontos diferentes. Mas a Netflix volta a provar que não falha em séries de língua espanhola e oferece uma trama ainda mais empolgante nesta segunda leva de episódios. Com o seu estilo bem teenager, mas que consegue agradar aos fãs de um bom mistério, a sequência vem com força cheia de pontos positivos. Mas no meio de tudo isto quais são afinal os destaques?

O método é o mesmo. Recheada de flashbacks, voltamos a cruzar-nos com um quebra-cabeças bem orquestrado que apesar de não ser inovador em comparação com outras histórias do género deixa alguns plot twists que compensam em grande escala. É uma aventura constante, com uma fluidez ainda maior que na primeira season. Desta vez o sexo quase explicito que caracterizou o storytelling fica atenuado e abre caminho para focar noutros temas. Depois da aceitação e da religião, os criadores arriscaram tudo e sem pudores apresentaram uma relação bem controversa entre dois meios-irmãos, que apesar de chocante não deixa de ser uma abordagem completamente disruptiva em séries contemporâneas. Mas nem é este o grande destaque do desenvolvimento do argumento. O psicológico dos personagens é testado a cada episódio, representando a forma como cada aluno reage à tragédia que aconteceu com Marina. Neste ponto, Guzmán assume total protagonismo. Para tentar ultrapassar a morte da irmã, o jovem refugia-se nas drogas. Revelando um caminho teoricamente mais fácil para mascarar o sofrimento. Algo bem profundo e negro, que por mérito do texto não fica por explorar e que dá uma densidade ainda maior ao personagem. Tudo isto se torna ainda mais impactante se tivermos em consideração que o miúdo rico era totalmente contra este tipo de comportamentos. A violência, a revolta, tudo está lá numa representação bem diferente do luto. Todo este arco é um dos momentos que merece aplausos, sobretudo pelo trabalho do ator Miguel Bernardeau.


Polo é outro grande destaque. Já sabemos que é ele o grande responsável pela morte de Marina, mas o texto orienta-nos no sentido inverso para que entendamos o sofrimento do personagem em vez de o vilanizar. É como um ciclo que vai da decadência à psicopatia em poucos episódios, sem deixar de nos apresentar a ansiedade, a falta de afeto e de autoconhecimento que já vinha de trás. Da relação com Carla à tentativa de suicídio, levam a uma envolvência tão forte com o personagem que nos fazem quase sentir pena, sem que encaremos naquilo que ele se está de facto a tornar. Por outro lado, Ander parece ter cedido o holofote ao seu namorado. Depois de todo o destaque que teve na primeira temporada, o filho da diretora perdeu-se dentro do enredo e parece ter servido apenas como recurso narrativo para adensar ainda mais a loucura de Polo e para mostrar as consequências dos excessos de álcool ou drogas. Faltou-lhe ação e desenvolvimento, não só na relação com Omar, mas até pela questão do divórcio dos pais que parece ter ficado esquecida.

Omar ganhou finalmente liberdade para se conectar com o plot principal. O contraste de religiões é, certamente, um dos assuntos mais interessantes de toda a trama de Élite, e nesta nova leva, tudo se desenrola no caminho que já tínhamos previsto: O corte final entre Omar e o conservadorismo dos seus pais. A cena em que o jovem confronta o pai é um dos pontos altos desta segunda metade e o momento-chave para a mudança de Omar. Longe do jovem muçulmano que conhecemos até então, há agora espaço para conhecermos um novo homem que depois de tanto tempo reprimido pode abraçar aquilo que realmente é. Uma mensagem bem interessante sobre a intolerância que acompanha toda a temporada. A mudança de mentalidades volta a ser ponto assente, com Nádia a ser o destaque da discussão. Depois de finalmente se entregar ao que sente, a jovem vê-se envolvida numa confusão gigantesca que a obriga a ter de se confessar aos seus progenitores. A revelação da verdade foi uma das grandes cenas destes novos episódios e abre caminho para um terceiro capítulo bem diferente no ceio daquela família.


Com tantos personagens com um desenvolvimento tão denso e aprofundado, a narrativa abriu vagas para três novos estudantes, Valério, Rebeca e Cayetana que parecem ter servido mais como lufadas de ar fresco entre temporadas do que propriamente como figuras importantes dentro da história. O facto de toda a trama girar em torno do assassinado de Marina e destes não terem vivido o acontecimento, leva a que estejam à parte do ponto principal, pelo menos numa primeira fase. Contudo, trazem consigo outras discussões bem interessantes e não deixam de ser peões importantes para que tudo flua ainda melhor. Cayetana é a personificação de como as Redes Sociais estão longe de ser um espelho da realidade, e no mundo de Élite falar sobre aparências parece casar de forma perfeita com a sinopse da série. Esperemos que tenhamos mais desenvolvimentos da sua relação com Polo agora que ambos são os grandes alvos a abater. Valério vem mostrar-nos o tema das drogas do ponto de vista do consumidor, mas na realidade a sua função é outra: Apresentar-nos um pouco mais sobre quem é a sua irmã Lucrecia. A miúda mimada que tudo faz por Guzmán mas sobre a qual praticamente nada sabíamos. Além da sua estranha proximidade com o irmão, percebemos que há muito mais para descobrir sobre Lu, e para Danna Paola roubar a contracena para si. É uma das personagens que mais cresceu nesta nova sequência com um background bem fundamentado.

Há espaço para tudo em Élite e esta nova fornada veio provar isso mesmo. Podemos ainda surpreender-nos com a história e primeira temporada está longe de ser um golpe de sorte. Afinal quem iria suspeitar que Samuel e Carla se iriam envolver? E que Guzmán se podia aliar com o pior inimigo? A terceira parte, já confirmada pela Netflix, chega em 2020 mas até lá há muito por onde teorizar. Afinal onde está realmente Nano? E Christian? Realmente desapareceu? Será que Polo vai voltar a matar?

Ricardo Neto