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Fantastic Entrevista - Joana Marques


Joana Marques é bailarina e professora de Dança Oriental em várias cidades no Norte do país. Nesta entrevista, uma parceria entre o Instagram DOP - Dança Oriental Portugal e o website Fantastic - Mais do que Televisão, fala-nos sobre o seu método de ensino, os desafios de organizar espectáculos, sobre as razões que a fizeram afastar-se dos palcos da Dança Oriental nos últimos anos, sobre o seu novo projecto entre outros temas.

1. Como surgiu a tua paixão pela Dança e em particular, pela Dança Oriental?
Antes de mais, agradeço-te pelo convite para esta entrevista. Sinto-me muito honrada. O meu caminho pela dança começou cedo, aos 4 anos de idade, com o Ballet Clássico. Mais tarde, estudei música e experimentei outros estilos de dança. Sempre me fascinou a ideia de movimentar o corpo ao som de música. Sempre me fascinou a Dança. Os sons, a música, toda a cultura do Médio Oriente, há muito, me seduziram e, em 2006, conheci a Dança Oriental. Senti-me imediatamente maravilhada por este estilo de dança. Os movimentos que despertam o autoconhecimento, a consciência do corpo... mas, além disso, o que chamou a minha atenção, logo na primeira aula em que participei, foram as mulheres presentes: tinham idades muito distintas e corpos diferentes entre si, e do meu. Senti-me bem, acolhida, aceite. Não era importante a aparência do corpo, não era uma condicionante, ao contrário do que muitas vezes me fizeram crer – uma crença, infelizmente, reforçada e perpetuada, em vários estilos e por alguns profissionais. Sabia bem dançar entre mulheres. Livre de imposições, julgamentos ou críticas. Este acolhimento que senti e que acredito, deva ser incondicional para qualquer pessoa que deseje dançar, foi uma das fortes razões para me deslumbrar pela Dança Egípcia. Envolvi-me o mais que pude: fiz workshops, formações, aulas particulares, fiz um curso para ser formadora certificada e comecei a dar aulas, participei em competições. Mergulhei até hoje, nadando por várias correntes e conforme a minha maré interna me leva.

2. Quem são as tuas maiores influências artísticas?
Como ser que se expressa e comunica através da arte (não só na dança), tudo me influência e mobiliza a artista em mim. Tudo o que me toca, me arrepia a pele, me emociona revela-se como uma inspiração, consciente, mas muitas vezes essa inspiração é inconsciente e só mais tarde a reconheço como tal. Livros, peças de teatro, música, muita música e outros estilos de dança vibram em mim, traduzem-se no impulso criativo. Inspiro-me na vida, nas minhas próprias vivências e das pessoas que me rodeiam. Às vezes é uma conversa, outras vezes uma paisagem, um aroma... sou admiradora das pequenas coisas, dos detalhes da vida. Costumo tropeçar nas inspirações sem muitas vezes as procurar e isso envolve-me e transforma algo em mim. Em concreto posso citar: José Saramago, Sophia de Mello Breyner, Vinicius de Moraes, Vincent van Gogh, Miles Davis, Camille Saint-Saens, Debussy, Om Kalthoum, Isadora Duncan, Pina Bausch, Mahmoud Reda, Mercedes Nieto, Joana Saahirah.
Dezenas de nomes ficam aqui em falta, mas estes foram os que me ocorreram à memória mais rapidamente.

3. Relata-nos um momento marcante muito positivo da tua carreira
Não consigo relatar apenas um. Poderia falar das competições que ganhei, dos momentos em que dancei no Egito, para egípcios, da aprendizagem com Mestres internacionais inspiradores... Mas aquilo que mais me marca são pequenos (gigantes) momentos diários. O que mais me marca são as mudanças que o movimento e a dança traz às minhas alunas e às suas vidas e que eu tenho a honra de facilitar e ver acontecer. Desde as mais pequenas coisas às mais significativas, impulsionadas pela dança. Tenho alunas que me relatam que a dança as ajudou em momentos bastante difíceis das suas vidas, acolhendo-as, promovendo bem estar, acalmando o coração, tirando o foco do problema, proporcionando clareza mental para enfrentar com mais coragem os desafios da vida, e tanto mais. Estas conquistas delas são alguns dos pontos altos do meu percurso.

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4. E um menos positivo?
Procuro concentrar-me nos momentos mais felizes, tendo claro, consciência dos pontos menos bons, do lado sombra. A vida traz-nos muitas bênçãos, mas também lições para aprender, que nos levam à evolução, ao desenvolvimento e ao crescimento, como pessoa e profissional. O que recordo com distância, foi o momento em que me percebi do lado oposto daquele que encontrei na minha primeira aula. Quando dei de caras com a competição nociva, a inveja, o julgamento permanente, a comparação estéril, a ambição exacerbada, a intriga, a hipervalorização das roupas, cabelos, imagem e do efeito espetáculo, em detrimento da arte e da genuina expressão.

5. Actualmente és professora de Dança Oriental em espaços em Gaia, Matosinhos, Paços de Ferreira, Estarreja, Trofa e Maia. Quais as características que consideras essenciais num bom professor de Dança Oriental?
Para mim um bom professor deve ser imparcial, carinhoso e exigente, saber transmitir os conhecimentos que tem, partilhar, acolher, ter várias formas de ensinar um mesmo tema, ter paciência, respeitar a individualidade de cada aluno, compreender o seu ritmo e condicionantes físicas, psicológicas e emocionais. Um bom professor deve motivar, inspirar, ser ético, profissional, empenhado, ter brio e comprometimento. Estudar sobre o corpo humano de uma forma holística. Ser pontual, estudar sobre a sua área e não só, interessar-se pelo aluno, ter a capacidade de unir todos os elementos de um grupo, ser compreensivo, preparar-se para a aula, estar atualizado, avaliar-se, mostrar-se disponível para o esclarecimento de dúvidas e para repetir quantas vezes for necessário. Ser criativo e sensível, transmitir os valores com que se identifica e educar, fomentar a entre ajuda, a parceria, combater a intriga e inveja, não menosprezar, nem denegrir nenhum colega, corrigir e não criticar, apaziguar conflitos, ser facilitador da auto descoberta, promover a auto aceitação. Ser apaixonado pelo que faz, porque isto sente-se, no brilho do olhar e na energia que coloca numa aula.

6. Podes falar-nos um pouco sobre o teu método de ensino?
O meu método de ensino foi evoluindo ao longo dos anos, através da minha experiência e do que vou percecionando nas aulas, com as minhas alunas. Comecei por ensinar conforme via outros profissionais ensinar, logo em seguida fiz formação nesta área, para desenvolver mais competências. Já lá vão mais de 10 anos a transmitir e partilhar. Mas sobretudo comecei a ouvir mais a minha intuição. Não ensino apenas técnica. Para mim a dança é muito mais do que aprender passos e coreografias. Acredito que tenho um modo muito pessoal de transmitir e de partilhar os meus conhecimentos e a minha essência. Acredito na individualização da Dança – em cada corpo e em cada mulher ela pode ser comunicada de formas diferentes, todas elas válidas – porque a individualização sempre acontece na apropriação de qualquer linguagem. Além da aprendizagem da dança propriamente dita, as minhas aulas visam desenvolver a criatividade e a capacidade de improvisação das alunas, trabalham o corpo, através dos movimentos, alongamentos e exercícios de fortalecimento, acolhem a mente e a alma. Só quem já experimentou sabe. Há liberdade para ser quem é, experimentar, explorar, (re)conhecer e (re)conectar-se consigo e com o seu corpo.

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7. Quais são as maiores dificuldades em ser professor de Dança Oriental em Portugal?
Posso falar apenas pela minha própria experiência, são algumas, no entanto, tudo se ultrapassa acreditando sempre no próprio objetivo profissional e fazendo movimentos em prol deste. Primeiro, a procura. Não é (ainda) uma dança tão procurada por quem quer aprender dança como outros estilos. É muito comum surgirem alunas que apenas desejam experimentar uma aula, sem o desejo de prosseguir, por diversão. Mas é certo que, quem vem e se apaixona, ganha um amor para a vida toda. Ainda que por vezes, por circunstâncias da vida se afastem, os filhotes voltam sempre um dia mais tarde para matar saudades. Como qualquer profissão por conta própria, há sempre uma certa incerteza. Quer sobre a constância das turmas, as remunerações variáveis de mês para mês, o temível mês de Agosto... Há dois anos aproximadamente estou numa pausa de palcos. Senti  e intuí de me dedicar exclusivamente ao ensino da dança, à minha formação e à organização de espetáculos, entre outros projetos, e apesar das dificuldades, estou muito feliz. Faço o que amo e isso traduz-se no meu coração como motivação e alento. Não posso deixar de referir o preconceito que ainda existe acerca da Dança Egípcia e dos seus praticantes e profissionais. Ainda o sentimos, cada vez menos, mas há ainda muitas ideias pré-concebidas que precisam cair.

8. Organizas várias viagens ao Egipto, juntamente com a Maktub Travel. De que forma as visitas que tens feito ao Egipto te têm ajudado e/ou transformado enquanto profissional desta arte?
É verdade, já fui 5 vezes ao Egito e espero continuar a fazê-lo e a levar outras pessoas comigo e com a Maktub Travel para que, como eu, se apaixonem por este país africano incrível. Nestas viagens pude, entre outras coisas, contactar com o povo e com a essência autêntica da Dança. Ali, a Dança, que está no sangue das pessoas, há talvez milhares de anos, é uma forma de celebração, de alegria, de festa, é uma manifestação cultural. Isto transformou a forma como eu via a Dança e sem dúvida, impactou a minha vida, a minha forma de ensinar, os meus valores e a minha arte. Beber da fonte é essencial.

9. Anualmente costumas organizar vários espectáculos para as tuas alunas, entre os quais o SUNA. Quais os maiores desafios e vantagens de organizar espectáculos deste género?
Os maiores desafios prendem-se com a demanda de energia, tempo e dinheiro que um evento desta proporção exige. Não me queixo, porque adoro fazê-lo e as vantagens são compensadoras. Claro, há sempre imprevistos e contratempos, que às vezes nos tiram do centro, mas o que seria da vida sem eles? Tornam as conquistas ainda mais especiais. Recentemente comecei a incluir o teatro, como fio condutor das danças e do tema no espetáculo e a aventurar-me na escrita do guião e na encenação do mesmo. Tem sido uma aventura muito prazerosa. As principais vantagens são os momentos que proporciono ao público, apresentando um espetáculo saído do meu coração, da minha inspiração e que conta com uma dedicação transcendente das minhas alunas e todos os envolvidos. Mas sobretudo, adoro poder reunir todas as minhas alunas no mesmo palco. Ver como se entreajudam nos bastidores, como se dedicam em cada pormenor. Ver amizades surgir. É isto, entre muitas outras coisas, que me faz continuar a fazer estes espetáculos. Elas e o público já aguardam pelo próximo, assim que o espetáculo termina e isso é muito gratificante. Todo o trabalho vale a pena, sempre.

10. Nos últimos tempos tens-te dedicado a um novo projecto que envolve a especialização que fizeste em Dança Movimento Terapia e a especialização Facilitadora de Círculos Femininos. Por que razão resolveste formar-te nestas áreas em específico?
É uma longa história, mas relativamente recente. Há uns dois/três anos passei por uma fase de distanciamento da Dança, não do ensino, mas dos espetáculos e das competições. Precisava de abrandar, parar mesmo, e perceber o que se passava dentro de mim, qual a direção a seguir, uma vez que estava a olhar a dança, que tanto admirava, numa outra perspetiva e me sentia desiludida. O palco foi-se tornando pouco apetecível, já não me "chamava". Dei por mim a não me identificar com muito de que vi pelo mundo fora. Foram longos meses de reflexão, de exercício da minha intuição e de estudo de outras áreas. Foi um período de introspeção, dúvida, procura, em que olhei para dentro de mim, até surgir o vislumbre de um novo caminho. O que sempre me deu maior satisfação, ao ensinar, foi acompanhar o desenvolvimento das alunas, algumas aprendem comigo há vários anos, e reconhecer o que a dança fez/faz por elas, muitas vezes sem se aperceberem. As mudanças acontecem na técnica, é verdade, mas não só, as mudanças acontecem, e isso é ainda mais importante, nas pessoas, no seu desenvolvimento. Eu assisti, com as minhas alunas, à forma como o olhar sobre elas próprias se ia alterando, se ia tornando mais gentil, eu assisti ao crescimento da autoconfiança e da autoestima, aos benefícios que surgiam na vida pessoal, no trabalho, na família, ao alívio de dores, à melhoria da postura... uma lista sem fim. Aquilo que mais me gratificou, ao percorrer este caminho, foram as pequenas/grandes vitórias destas mulheres que decidiram aprender comigo, porque essas conquistas, guiadas pela dança, eu tive a alegria de constatar com os meus olhos. Era, para mim, a evidência do poder que o movimento e a dança têm de nos transformar. Consequentemente, a par do meu próprio desenvolvimento pessoal, fui procurando saber mais sobre o modo como o movimento e a dança podem ser terapêuticos. Decidi aprofundar o conhecimento nesta área. Comecei a estudar de forma autodidata, até surgir a oportunidade de fazer um curso de Especialização em Dança Movimento Terapia (DMT). Nele, descobri técnicas e adquiri ferramentas incríveis para elevar o meu trabalho a um outro nível. Sempre acreditei que a dança deve ser encarada como muito mais do que aprender passos e coreografias. Acredito numa aprendizagem e num envolvimento holísticos e sinto que o desenvolvimento na dança caminha lado a lado com o desenvolvimento pessoal. Digo isto pelas minhas próprias vivências e pelo que vejo no dia a dia com as minhas alunas. Eram, pois, bem fundamentadas as razões que me levaram a querer estudar e aprofundar a área da Terapia com Movimento e Dança. Mais tarde fiz o curso de Facilitadora de Círculos de Mulheres que me nutriu de conhecimentos fundamentais, para mim e para um novo projeto que estava a surgir. Caminhando, de descoberta em descoberta, por este trilho, continuo apaixonada pela música, pela cultura e pela dança do Médio Oriente. A minha profunda realização está em transmitir, partilhar, guiar, em ensinar a quem, como eu, ama o movimento e está aberta a receber tudo o que ele pode oferecer. Acredito que o corpo é uma ferramenta de empoderamento e movimentá-lo sem amarras, quebrando regras, pode ser terapêutico.

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11. No que consiste este teu novo projecto?
É um projeto que contempla vivências que combinam as minhas várias áreas de interesse, inteiramente voltadas para a mulher e para o universo feminino. Surge da fusão entre o conhecimento e a experiência de mais de dez anos de dança, do estudo constante e do contacto com as tradições e a cultura do Médio Oriente, do convívio diário com mulheres, nas aulas, da formação em Facilitadora de Círculos de Mulheres e da Especialização em Dança Movimento Terapia (DMT). Estou em permanente aprendizagem e pesquisa em temas relacionados com o feminino, a dança, o movimento, a linguagem corporal e a psicologia humana, em suma, em temas relacionados com o desenvolvimento pessoal da mulher, em diversas e relevantes dimensões. As sessões, de grupo ou individuais, com dinâmicas que combinam momentos de dança, movimento (livre e espontâneo), partilha, diálogo, meditação, entre outras práticas, têm o intuito de contribuir para o empoderamento e desenvolvimento femininos, dando início ou continuidade a processos, muitas vezes profundos e até terapêuticos, em direção ao que cada participante, enquanto ser único e individual, mais precisar. A mulher é acolhida num ambiente seguro para se expressar livremente, para comunicar- pelo movimento, pela arte e pela dança. É promovida a conexão com o próprio corpo e com a verdadeira essência de cada uma, ajudando no resgate e potencialização da confiança, autenticidade, criatividade, força... Cada sessão tem um tema a ser trabalhado e explorado, que pode, ou não, ser anunciado previamente.

12. Como bailarina já participaste e venceste várias várias competições em festivais nacionais e internacionais. Qual é a tua opinião sobre os concursos nos festivais de Dança Oriental?
Como tudo na vida, acho que têm um lado bom e outro menos bom. Sinto que as competições funcionam muito bem no sentido de dar um objetivo à bailarina e a encher de motivação. A bailarina que decide ir a uma competição, vai dedicar-se mais, ouvir mais música, treinar mais a técnica, pesquisar mais intensamente, procurar conhecimentos junto de outros profissionais, dedicar-se com outro grau de comprometimento, ou seja envolver-se mais ainda. É uma forma relevante de conhecer pessoas, outros bailarinos e talvez os júris da competição, seres dançantes que partilham da mesma paixão. É uma oportunidade para viajar quando são competições fora da sua cidade e haverá certamente, aventuras para recordar. A competidora vai certamente evoluir, quanto mais não seja no à vontade em palco. Mas pode procurar saber, junto dos júris e outras pessoas que considere conhecedoras sobre a dança, a sua opinião sobre a sua prestação, dicas, críticas, incentivos, um direcionamento... E claro, é uma das formas (não a única) de se dar a conhecer e ir conquistando alguma visibilidade. No entanto, o lado sombra, foi uma das razões que me levou ao afastamento desse meio. Não é uma característica que me define, ser competitiva e tenho horror à comparação, porque no fundo é isso que se faz. Quando estava a deixar de ser “just for fun” foi o momento de sair, se não estás ali de alma, só de corpo e estratégia, mais vale não estar. Quanto ao lado menos bom, para mim começa com o facto de que Arte não se compara. A Dança Oriental é a favor da individualidade, da originalidade, da essência de cada um traduzida em movimento, logo, como somos todos diferentes (e ainda bem!) a comparação não serve às raízes da Dança e da Arte. Há parâmetros que podem até justificar isto, como a presença em palco, o figurino adequado ou não e a correta utilização de uma música face ao estilo escolhido, mas cada um tem a sua própria maneira de sentir a música e de a interpretar, os movimentos são sempre diferentes de corpo para corpo, ainda que obedecendo a “regras” de execução técnica, portanto como comparar?

13. Qual a tua visão sobre a Dança Oriental portuguesa actualmente?
Apesar de o meu olhar estar mais direcionado para dentro das minhas salas de aula , para a docência da Dança, para o meu desenvolvimento, formação e para os meus novos projetos, pelo que vou acompanhando, estou grata. Sinto que cada vez mais a Dança Oriental ganha espaço ao lado das outras Danças, e a pouco e pouco vai sendo valorizada e reconhecida. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mesmo a nível do apoio e incentivo à cultura em geral, no nosso país. Fico feliz ao ver a Dança Oriental que se faz em Portugal a viajar pelo mundo. Há muito bons profissionais aqui e jovens talentos a surgir que têm os meus aplausos e a minha admiração.

14. O que achas que se pode fazer para a Dança Oriental se desenvolver mais em Portugal?
Acho que estamos a trilhar um caminho interessante, pelo que tenho acompanhado. Iniciativas como a tua são de louvar. Há que falar mais sobre a dança e as pessoas dedicadas a ela. Divulgar onde for possível, criar festivais e encontros que façam o intercâmbio de artistas, que abram palcos para novos talentos. Há muito por onde desbravar caminhos. É preciso pessoas que o desejem fazer, com ideias frescas. Apostar na individualidade e no conhecimento. Abraçar a diferença e acolher.


15. Que dicas dás às bailarinas que estão a surgir e que querem seguir a Dança Oriental de forma profissional?
Apostem na formação, não só em Dança Oriental, mas em outras áreas artísticas. Procurem um professor (ou vários), que vos inspire e vos toque a alma, com quem se sintam crescer, que aposte no vosso desenvolvimento na dança e pessoal, estes caminham lado a lado. Vejam muitos espetáculos, leiam livros, vejam filmes, “consumam” arte, conforme puderem. Estudem sobre a cultura, a história, o contexto social, oiçam muita música. Apostem no vosso desenvolvimento pessoal, no auto conhecimento, em experiências extra palco, extra sala de aula... Alimentem a vossa chama com o que vos faz bem. Nutram-se. Dediquem-se, treinem, experimentem. Sem medo. Mantenham a humildade, a auto confiança e espalhem amor por onde quer que vão e em cada gesto. Respirem. Improvisem. Parem e absorvam a vida. Dancem.

16. Se te pedisse para nomeares um livro, uma peça de dança e uma música que aches que toda a gente precise de ler, ver e ouvir, quais seriam? E porque é que os escolherias?
Não acho que toda a gente precise do que eu recomendo. É complicado escolher apenas uma obra de cada. Eu adoro a ideia de estudar livros, aliás costumo ler livros com um lápis na mão. O tipo de literatura que mais me chama é sempre no sentido do estudo, de aprender mais sobre um determinado tema. Adoro ler sobre cultura, principalmente do Médio Oriente, história, psicologia, formas de comunicação, desenvolvimento pessoal, temas relacionados com o feminino, sociedade, etc. Tendo de nomear um livro, escolho então o último que li e que me impactou imenso, de Eckhart Tolle – Um Novo Mundo, excecional para quem deseja começar a “despertar”. O primeiro filme que me vem à memória é Latcho Drom, um documentário francês de 1993, dirigido por Tony Gatlif, maravilhoso. Uma música... desculpa não sou capaz de escolher apenas uma. Eu adoro música, de todos os géneros. Sou bastante eclética nas minhas escolhas. Adoro conhecer música nova e encanta-me música tradicional de um determinado país, do mais puro e cru que existe, como o nosso fado tradicional. Às vezes acordo e penso que ainda não conheço, por exemplo, música tradicional da Etiópia, então vou procurar conhecer. Sinto que aprendo muito e me inspiro quando o faço. Sou muito curiosa. Também gosto de ouvir novas propostas, que desconstroem o tradicional, inovações criativas.
Tenho a felicidade de viver com um músico, que também me apresenta muita música de todo o mundo.

17. O que é que ainda gostavas de alcançar na tua carreira?
Sou um ser em movimento. Os meus sonhos estão também sempre em movimento, em mutação. Não sou de ideias fixas, inflexíveis. Já há muito que me guio pelo meu sentimento e deixo-me levar ao sabor da vida e da minha intuição. Sei que quero continuar a trabalhar com dança, e com o movimento, porque não me consigo imaginar doutra maneira. E com mulheres, com o feminino, contribuindo para o empoderamento e desenvolvimento de cada uma das pessoas que se cruza comigo, através daquilo que mais amo fazer. O que eu encontrar no meu caminho ou é lição para aprender ou bênção e tudo é muito bem vindo, porque como sei que estou na direção certa, vivendo ciente do meu propósito, o que quer que seja que eu decida alcançar, ou que me for presenteado, será bem vindo e abraçado.

Website Oficial da artista: www.joanamarquesdance.com

Fantastic Entrevista - Convidada Joana Marques
Por Rita Pereira
Agosto de 2019