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Duplo Clique | "Bandeira verde na RTP"

 

Água de Mar estreou segunda-feira, na RTP, como nova aposta na ficção, convidando os telespectadores a desfrutar dos areais da Foz do Arelho. A “Praia das Conchas” vai ser, nos próximos meses, o local de ação das múltiplas histórias desta série com um elenco de luxo, com ares de novela, ares de telefilme, mas com objetivos bem definidos: elevar o índice de qualidade da ficção em português e viver o verão ao máximo com “100% bronze e 0% de preocupações”. 


Este projeto estendeu a toalha ao sol bem cedo para conquistar o melhor spot na imensa maré virtual em que estão mergulhados os espectadores. Em especial os jovens, um público-alvo que o canal do Estado pretendeu atrair com a enorme vantagem de ter José Eduardo Moniz como consultor e uma das mentes mais brilhantes a construir fenómenos de sucesso. A produção da série não perdeu tempo, levando a cabo uma implantação assinalável do produto em todas as plataformas sociais, móveis e interativas que o público mais utiliza onde quer que esteja. E sem as quais o efeito de adesão, tal como o sal adere à pele, não seria tão prazeroso: a estreia [em julho de 2014] foi vista por 734 mil pessoas num horário cuja liderança dificilmente o Jornal das 8, da TVI, deixa escapar, mas marcou também quase o triplo de audiência da estreia de Bem-Vindos a Beirais, a bitola assumida por todos como um medidor de estratégia. À mercê dos ventos que norteiam o comportamento televisivo do público – que aos poucos irá perceber que não se trata de mais uma série juvenil pré-fabricada – o novo formato deve preferencialmente continuar no horário das 21 horas para fidelizar espectadores. Até porque Água de Mar é uma concha rica em surpresas.


As primeiras imagens aéreas da praia e do campeonato de surf marcaram rapidamente o nível de exigência e inovação da nova produção, a cargo da produtora Coral Europa que é especialista em formatos de entretenimento. Além da qualidade de imagem ser excelente, a realização exímia e excitante rasga os modelos de filmagem da ficção dos canais privados e impressiona. As câmaras são também atores, pois focam, centram ou desviam os olhares do público; a utilização de filtros pode desagradar a alguns mas ajuda a recriar a atmosfera e temperaturas de uma Califórnia portuguesa. Enviado diretamente da Foz do Arelho – com direito a sequências timelapse espetaculares – o postal audiovisual não ficaria completo sem a banda-sonora adequada (ainda que parcialmente igual à das novelas da SIC ou da TVI). Mas o que há de novo para contar numa história desenrolada entre um bar de praia e um posto de vigia de nadadores-salvadores?

 

O texto exigente e moderno que dará corpo e sentido às narrativas fechadas de cada episódio e à trama comum é o elemento que pode marcar a diferença face ao que já foi realizado no género. As personagens da série da RTP aparentam ser as mais óbvias, inseridas no ambiente descontraído das férias, mas prometem interpretações carismáticas ou simplesmente populares, servindo alguns modelos de eficácia comprovada de pequenos conflitos e peripécias típicas da faixa-etária dominante. Se, por um lado, a série é povoada por um elenco bonito e talentoso que migrou da TVI para a RTP (Tiago Costa, Helena Costa, Ricardo Sá, Mafalda Vilhena, Rui Santos, Pedro Barroso e Sara Barros Leitão protagonizaram o verão passado a novela Mundo ao Contrário), por outro a presença de São José Lapa e Vítor de Sousa, a par de Jorge Corrula, assegura a preferência dos espectadores pelas encenações de cartas dadas e o selo de qualidade.

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“Sal, Sol e Rock’n-roll” não é o lema de uma geração rebelde com as hormonas aos pulos, mas antes a mensagem comum aos grupos de jovens e adultos que durante as férias pretendem divertir-se de forma mais responsável. A par dos amores e desamores, adeptas dos prazeres do corpo, o grupo de amigas cosmopolitas e requintadas abrilhantado por Núria Madruga e Sofia Aparício faz lembrar uma comédia romântica, essencial para a boa disposição correr nas veias do público, pelo que provavelmente não haverá muito drama no enredo.

Água de Mar é uma história em série com uma produção arrojada, competente e que merece sair da sombra que carateriza a RTP. É o farol que pretende atrair novos banhistas para águas já navegadas mas que podem trazer outro sal. Vamos a banhos?
Duplo Clique - 12ª Edição
Uma Crónica de André Rosa