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COMING UP | Hocus Pocus 2

Estão abertas as hostilidades para o Halloween que este ano chega com cheirinho de clássico e num ambiente muito mais familiar que o esperado para as longas-metragens desta época. Do fundo do baú, a Disney tirou uma carta de mestre que aquece o coração das crianças dos anos 90 e 2000 com uma continuação há muito desejada, mas que nem sabíamos que precisávamos. Hocus Pocus 2 traz um argumento doce, com algumas travessuras que não agradam tanto, mas mantém-se fiel à imagem que o nosso consciente coletivo tem desta aventura. 

A simplicidade é o trunfo maior num argumento que soube adaptar a história aos tempos atuais sem inventar demasiado e que prova que é possível mexer num clássico sem parecer que estão apenas a querer ganhar dinheiro. 

De consumo obrigatório, a continuação de Hocus Pocus é, de longe, a melhor a longa-metragem com o selo original Disney+ e aumenta-nos as expectativas sobre o que está para vir. 

Esta semana embarcamos com as três bruxas loucas e vamos decifrar como é que tantos anos depois Hocus Pocus nos continua a enfeitiçar. Fica connosco em mais uma edição do Coming Up. 

Hocus Pocus é um daqueles títulos em que a magia não é apenas um artificio do argumento, mas se sente quando entramos na história. É um daqueles filmes que nos deixa um quentinho no coração por ter um texto simples, que se molda a vários públicos, e que mesmo sendo uma história de contos de fadas com três bruxas como protagonistas nos consegue dar aquele clássico sentimento de esperança e felicidade que é imagem de marca da Disney.

Mas estamos a falar de uma sequência, numa Hollywood que adora fazer sequências inúteis que acabam por manchar o legado do material original. E isso deixa-nos logo com expectativas regradas, o que só torna a experiência de assistirmos a este filme em algo ainda melhor. 


Por mais que o enredo seja puxado para uma perspetiva mais atual, os efeitos datados, o guarda-roupa e a essência dos personagens permaneceram intactos. Ou seja, não existiu aquela quebra de empatia com as figuras principais que acontece na maioria das sequelas, aqui tudo aconteceu de forma contínua. E o que há de novo só ajudou a subir a qualidade e a relembrar o quão bom foi assistir ao primeiro filme. 


A comédia é um dos grandes ex-líbris de Hocus Pocus, que se tornou um sucesso pelo magistral tempo de comédia e sintonia que existiu entre as três atrizes que vestiram a pele das irmãs Sanderson, e quando mergulhamos neste segundo título desta franquia o que sentimos é que existiu um cuidado enorme em manter o tom. 


Numa contracena perfeita que faz parecer que a primeira obra foi filmada no ano passado, quando na verdade já se passaram quase trinta anos, as três atrizes estão em completa simbiose. E o nosso imaginário expande-se aqui, com a nostalgia a ter um papel fundamental, é certo, mas sobretudo por ter existido o cuidado de guiar a história para algo que fizesse sentido e tornasse necessária esta continuação sem desvirtuar o final bem amarrado do primeiro Hocus Pocus.



Somos introduzidos a três novas figuras principais neste novo capítulo da história de Hocus Pocus, quase como a dar a entender que estava a existir uma passagem de testemunho ali. 


E temos essa sensação durante um bom tempo do filme, mas enquanto ainda estamos a tentar entender qual é o posicionamento das três novas adições, eis que regressam as figuras que realmente queríamos ver. E aí não há coração de fã que aguente quando elas começam a sua coreografia doida, é tocante ver a forma como elas surgem juntas e com a mesma sintonia. 


Avançamos para o ponto alto deste novo texto com a adaptação das três bruxas à atualidade, que nos rende várias gargalhadas. Quando são levadas para um centro comercial e compelidas a experimentar produtos de rejuvenescimento já o filme nos conquistou. Mas melhora, quando caem de paraquedas numa competição de melhor disfarce… Delas mesmas, na qual o argumento tem uma tirada genial ao entregar o prémio às candidatas que transformaram os seus disfarces em algo mais sensual. 


É uma crítica nas entrelinhas que mostra ao público o intuito de quem escreveu em manter uma história que é fiel ao seu potencial aspeto datado e não se converte ao que é mais comercial, e que pode ser chamariz de atenções. É uma alfinetada leve, mas excelente porque pareceu que naqueles segundos o autor conversou com o público nos disse que entendia o que os nossos corações de fãs queriam ver. 


As linhas gerais da história são clichês, mas são aquele tipo de clichê que por mais que existam vinte histórias iguais nos vai continuar a encantar e a fazer-nos sorrir. Porque na verdade, aqui, neste caso em específico, a história, apesar de importante, não é o que mais nos atrai. 


Nós queríamos ver as tropelias das três bruxas, e foi exatamente isso que tivemos. Com o bónus de conseguirmos entender que até as atrizes estavam felizes com o regresso. 


É raro termos uma sensação quase palpável do divertimento do artista ao desempenhar um papel, mas é exatamente isso que Sarah Jessica Parker passa em cada segundo de ecrã. Ela está a divertir-se, ela está ali a conviver com parceiras que querem abraçar o público. E isto torna tudo muito mais mágico. 


Bette Midler continua irrepreensível com a sua Winifred que é um prato cheio de loucuras, mas uma excelente amostra do seu talento e de como uma personagem com uma construção mais estereotipada pode sobressair e perdurar ao longo do tempo quando é representado com uma entrega de corpo e alma. E não sentimos que a idade tenha passado por ela na sua atuação. 


A Winifred doida, mas possessiva que nos marcou está aqui transposta exatamente como era, sem sentirmos os 30 anos que passaram. E vale a pena dizer que estamos a falar de um papel muito marcante sim, mas que precisamente por ser tão marcante poderia facilmente fazê-la cair num exagero ainda maior. Não foi o que aconteceu e ainda bem, foi um momento feliz. 


Kathy Najimy continuou a ser figura apoio, mas entregaram-lhe uma das melhores soluções de argumento dos últimos tempos, trocando a sua vassoura, que já na época do último filme era bem modernista, por robôs de aspiração. Foi um dos melhores momentos do filme e ainda acaba por ajudar a desenrolar a trama no momento final. É excelente.



Mas é tudo positivo? Não, não podemos dizer isso. E porquê? Porque apesar do texto clichê que nos preenche as medidas, e da mensagem subliminar do texto que prova que querem manter a nossa nostalgia intacta, existem três novas adições que não foram uma ajuda assim tão grande a esta sequência. 


Apesar de cumprirem com a sua função, as três adolescentes não conseguem passar-nos empatia, parece que foram escritas sem grande inspiração e que têm personalidades tão rasas, que as tornam desinteressantes. 


Além disso, temos entre as atrizes Whitney Peak, que volta a provar aqui que tem muito caminho para percorrer. Se em Gossip Girl ela já era engolida pelo restante elenco, aqui a sensação piorou. 


Em Gossip Girl ainda lhe podia ser dado o benefício da dúvida por ter em mãos uma personagem que era a representação da chatice, mas aqui em que ela tinha espaço para mostrar um pouco mais do seu talento e beber da contracena, o que temos é uma falta de carisma que acaba por não entregar o impacto necessário nas reviravoltas da trama. 


Belissa Escobebo, a Izzy do filme, parece em muitas das cenas que absorveu o carisma das personagens para si, entregando melhores contracenas, melhores diálogos, e muito mais empatia. 


É obvio que como ferramentas da história, elas cumpriram o propósito de existir algum tipo de ameaça para com as três bruxas protagonistas, e por isso a experiência não perde por ter estas atuações mais sonolentas, mas ainda assim é um aspeto que baixa um pouco a qualidade do filme, que com outro casting para estes papéis poderia ser muito melhor. 


E não é falta de qualidade da direção de casting, porque temos o exemplo de Tony Hale que caiu neste imaginário e encaixou como uma luva.


Feitas as contas, Hocus Pocus 2 é obra da nostalgia e do talento das três protagonistas que carregam o filme nas costas e entregam tudo o que queríamos ver e ainda surpreendem. O argumento dá sustento para que as protagonistas brilham e soube, de forma magistral, beber o contributo da atualidade para esta narrativa. 


É uma longa-metragem que consegue juntar gerações, que consegue passar um legado sobre a importância dos clássicos e como antigamente se faziam histórias com muito mais alma. Porque o grande segredo deste filme está no material original, se despíssemos o argumento do background anterior, provavelmente nem iríamos ter vontade de assistir. 


No final, funcionou, e funcionou bem, com muito divertimento, o que só eleva a responsabilidade de Disenchanted, que tem agora a obrigação de surpreender por ter um enredo com muito mais estruturas, com muitas nuances e com uma história que foge completamente do comum. 


Esperemos que em alguma realidade paralela os autores destas duas sequências se tenham sentado e discutido sobre o que realmente o público espera de uma sequência. É aguardar que não nos desiludam, e que voltem a cativar-nos com a alegria e a magia da forma que a Disney faz em todas as suas películas. 


Hocus Pocus 2 vale a pena a atenção do público que gostou do primeiro, e proporciona o encontro entre a infância dos pais com o mesmo período da vida dos seus filhos, numa obra criativa que faz justiça à ideia de que a Disney é uma marca para toda a família. 


É bonito, e veríamos novamente sem problemas, enquanto rezamos para que aquele vislumbre de um possível terceiro filme não seja esticar demasiado a corda. Estaremos atentos a isso!