COMING UP | The Umbrella Academy - 3ª Temporada
O mundo vai acabar, outra vez. The Umbrella Academy repete a fórmula na terceira temporada, que nos deixa uma sensação agridoce, entre a muitas voltas e reviravoltas para tentar entregar algo de novo numa história que mantém os mesmos conceitos. Desta vez nem o ritmo conseguiu mascarar a história mastigada com a narrativa a encerrar naquilo que parece ser, realmente, o princípio do fim da jornada desta família disfuncional. Fiquem connosco em mais uma edição do Coming Up onde vamos tentar entender o percurso sinuoso da nova leva de episódios deste sucesso da Netflix. Prometemos que não te vais arrepender!
Com um arranque diferente, esta terceira e muito aguardado season de The Umbrella Academy tinha em si as expectativas de romper o plot base da série e direcionar o público para uma nova sequência que retirasse os protagonistas de lugares onde já os vimos.
Porém, essa expectativa rompe-se ao fim de poucos capítulos quando entendemos que aquilo a que vamos assistir é novamente o jogo do pião.
E o que queremos dizer com isto? Ora bem, quando soltamos um pião no chão, ele gira sobre o mesmo eixo, dando voltas um pouco maiores até reduzir a velocidade e acabar deitado no chão, ou seja, no seu ponto de partida.
Esta analogia é um espelho perfeito do que acontece na terceira temporada de The Umbrella Academy. Inicia forte, com novas personagens, novos problemas, mas rapidamente começa a dar voltas maiores e a entrar no mesmo loop dramático da temporada anterior, que numa segunda season para fortalecer as personagens ajudou imenso a que criássemos empatia, mas agora transpareceu uma falta de rumo gigante.
Isto porque os debates foram, de novo, em torno dos mesmos assuntos, sendo que a transição de Viktor é o único detalhe de desenvolvimento de personagem que realmente é tratado com cuidado e calma, e como sabemos essa alteração na personagem nem tão pouco se deve à equipa criativa da série.
Nem Alisson, nem Five, nem sequer Luther carregam algo de verdadeiramente novo ao ponto de precisaremos de número tão grande de episódios dramáticos. É certo que todos eles têm questões importantes que são dignas de serem apresentadas e exploradas, mas perde-se tanto tempo em torno dos mesmos assuntos que de repente, quando damos conta o tema central da temporada é relegado para segundo ou terceiro plano.
Mas comecemos com Alisson, que é a rainha do drama. O trabalho de Emmy Raver-Lampman é um dos melhores da série, mas o seu talento é desperdiçado numa temporada inteira que coloca a personagem como alguém que vive o luto tornando-se numa pessoa amarga e rabugenta.
Alisson tem todos os motivos para se revoltar, afinal de contas foi a que mais perdeu com tudo o que aconteceu nos eventos anteriores, mas a jornada dela resumiu-se única e exclusivamente a diálogos inflamados, e em muitos momentos a participação dela na história soa a um penso rápido para tapar possíveis furos do argumento.
Ela foi totalmente instrumentalizada sem receber em troca algum desenvolvimento, o que acaba por incomodar ainda mais quando temos em conta que na season anterior ela foi o grande destaque e a personagem que mais cresceu e que mais aprendeu.
Avançando na lista de irmãos, temos Five. Este é o personagem mais intenso desta história e, também, o mais importante para aquilo que é a raiz da série: As viagens no tempo e a realidade pré-apocalíptica. Nestes novos episódios a única grande alteração temos no personagem é a sua vontade de se reformar, algo que, de resto, até já tinha sido referido anteriormente, mas que agora parece estar perto de se concretizar.
Até temos um momento, enquanto ele e Lila partem em busca da comissão, em que temos um vislumbre de um possível game changing, mas na realidade o que encontramos é uma reviravolta altamente previsível e que funciona como uma solução Deus Ex Machina para resolver o problema impossível que os autores criaram para este novo mistério.
A aparição da versão mais velha de Five surge quase como um Profeta do fim dos tempos ao mesmo tempo que dá a garantia de que vão superar a a ameaça. Ou seja, a partir de então, a sensação de que algo de realmente errado pode acontecer perante esta terrível ameaça desvanecesse. E acaba por ser algo surpreendente dentro da série, visto que até esta terceira temporada estrear, The Umbrella Academy foi uma das produções que melhor partido tirou do conceito de viagem no tempo.
E Luther? O que há de novo para contar? De facto, aconteceram muitas coisas na vida deste personagem. A paixão por Sloane, apesar de ter sido criada e desenvolvida com uma pressa absurda, acabou por colocá-lo num ponto de destaque maior, ajustando a balança entre os irmãos protagonistas, porque se nos recordarmos com clareza, Luther foi deixado em stand-by na segunda temporada para dar espaço aos seus parceiros.
Aqui ele ganha os holofotes, mas não da forma mais criativa. A paixão por Sloane vende-nos um Romeu e Julieta no fim dos tempos, que não acrescenta em nada à visão fofinha que já tínhamos de Luther, e o único momento em que ele realmente se realça é quando morre nas mãos do seu pai, algo que os autores se apressam a reverter rápido. Esperemos que esse twist tenha um impacto maior na quarta temporada, para fazer com que valha a pena.
Depois do menos bom, entramos agora na melhor parte da temporada. E se falamos sobre highlights então é obrigatório começarmos por Viktor, e pela forma madura com a qual a série retratou a sua mudança de género. Sem dramas, sem discursos longos, sem demasiado foco, Vanya apresentou-se à família como Viktor sem que isso se tornasse uma questão de debate familiar. Até porque é algo íntimo que diz respeito, apenas, à própria.
É claro que o tema não foi passado em branco, e que Harlam, por exemplo, faz menção ao assunto, mas a forma com a série dá sustento à mudança sem a tornar um assunto que absorva tudo à sua volta e que coloque a personagem num ponto desconfortável é de uma sensibilidade louvável.
A restante jornada de Viktor não tem grandes nuances para além do que já vimos antes da personagem, continua a ser a voz do coração dentro da equipa e continua a ser o membro mais influenciável, mesmo que ela se negue a acreditar nisso. O arco em que ela e Alisson ficam em posições opostas é um dos momentos mais arrastados desta temporada, mas os pontos positivos do seu trajeto nesta temporada acabam por compensar o círculo infinito de discussões da família Hardgreeves.
E saltamos para Diego, e consequentemente para Lila. A dupla perfeita de The Umbrella Academy, que mais uma vez não falha a sua proposta de nos entreter na loucura dos seus personagens. Feitos um para o outro, Diego e Lila enchem-nos a medidas e os momentos deles com Stan roubam-nos várias gargalhadas e deixam-nos ainda mais ansiosos para ver como será a relação dos dois com um bebé. Nada apontar naquele que é o melhor núcleo da série.
E encerramos a viagem pelos irmãos originais com Klaus. Com Klaus já sabemos que não podemos criar expectativas, porque serão sempre superadas. Reforçando novamente o nosso amor pela loucura dele, Klaus passa por algo verdadeiramente diferente nesta nova season, onde percebemos um pouco mais dos seus poderes, enquanto esquecemos por momentos as suas loucuras para encararmos uma versão um pouco mais terra-a-terra do personagem, mesmo que por breves minutos.
A terceira temporada foi-nos vendida como a grande apresentação da Sparrow Academy, os anti-heróis ou opositores que prometiam roubar as cenas. Porém, a promessa ficou-se por isso mesmo.
Tivemos uma introdução apressada que nos criou alguma antipatia por estes novos elementos, num esquema de apresentação de personagens bem raso, e que ao fim ao cabo serviu apenas para que os argumentistas tivessem mais opções na hora de matar personagens, visto que para eles parece ser crucial manter a formação inicial intocável.
Há um medo gigante em mexer de forma drástica no seu elenco raiz e isso acaba por esvaziar as opções de reviravoltas que estão à disposição. Algo que, de resto, faz pouco sentido se tivermos em consideração que esta é uma série que tem canal aberto com o sobrenatural, e para a qual reavivar personagens é algo relativamente fácil e justificável, como acontece com Luther no season finale.
Ou seja, a necessidade de terem novos personagens era nula, e até poderia ter dado espaço para acrescentar outros detalhes que tornassem a ameaça desta temporada bem mais ameaçadora do que realmente foi.
Sobre a Sparrow Academy a única conclusão que podemos tirar é a de que são um bando de arrogantes, mas à parte do óbvio, conseguimos encontrar muito potencial desperdiçado numa corrida contra o tempo que não lhes permitiu sequer chegar ao gosto do público.
Corrida essa que foi perdida, visto que apesar de tudo ser bastante acelerado, as cenas dramáticas que ocuparam espaço que poderia ser dado a mais cenas das novas figuras acrescentaram muito pouco ao nosso conhecimento sobre os personagens.
Há um erro na construção base desta temporada que acaba por a tornar arrastada de uma forma paradoxal, porque apesar desse arrastar de arcos, sentimos que há muito mais para contar que foi absorvido por uma suposta falta de tempo.
De uma forma geral, a terceira temporada de The Umbrella Academy parece estar perdida numa encruzilhada sem saber bem qual é o passo seguinte, perdida dentro dos seus conceitos fundamentais e demasiado agarrada ao esquema que fez das duas seasons anteriores verdadeiros fenómenos.
A conclusão da temporada oferece-nos um caminho um pouco mais apetecível, mas vale a pena lembrar que tínhamos essa mesma sensação na temporada anterior e nada do que eram as nossas expectativas foi, de facto, cumprido, por isso mesmo que o encerramento tinha algo de bombástico ficamos, para já de pé atrás, com receio de que a equipa de autores volte a falhar a condução da história.
Reginald tem tudo para se tornar no maior vilão da série, mas a sua ascensão a um ponto tão supremo de poder transpira a final. Se pudéssemos apostar, a história de The Umbrella Academy na Netflix já está a contar os episódios para o seu apoteótico final, e sinceramente, já parece ter chegado o momento certo para a despedida.
Até porque, uma última temporada retira um pouco as condicionantes do texto em carregar os personagens principais para novas sequências.
Caso se confirme que a quarta temporada será o encerramento desta história, os autores podem, finalmente, gritar liberdade, porque vão poder fazer com os personagens o que realmente querem, sem estarem agarrados à necessidade de os continuar a manter infinitamente na história, mesmo quando os seus assuntos já estão esgotados.
Aguardemos pelo bater do martelo, esperando que mesmo que não se confirme o final a nova temporada saiba qual é, de facto, o caminho pelo qual quer seguir.
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