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Especial "Quero é Viver” | Helena Amaral (Autora) e Vitor Hugo (Diretor de atores)

Foto: Direitos Reservados

A nova novela da TVI, Quero É Viver, estreia já dia 3 de janeiro e conta com uma história escrita por Helena Amaral a partir de um original chileno, Casa de Muñecos. Joana Seixas, Sara Barradas, Fernanda Serrano e Rita Pereira serão as protagonistas, no papel de irmãs. O Fantastic esteve à conversa com Helena Amaral, responsável pela adaptação da história, e com Vitor Hugo, diretor de atores no projeto.

A ação começa quando a matriarca de uma família, Ana (São José Lapa), descobre que está com Alzheimer e decide escondê-lo, separar-se após cinquenta anos de casamento e começar a viver plenamente o tempo que lhe resta é de lucidez. A doença acaba também por afetar todo o meio familiar, em particular ao seu marido Sérgio (Fernando Rodrigues) e às suas quatro filhas: Natália (Fernanda Serrano), Irene (Joana Seixas), Maria (Rita Pereira) e Olga (Sara Barradas), que começam a questionar a aparente felicidade e estabilidade em que vivem.

Helena Amaral confessou ao Fantastic que a história foi “criada a partir da novela chilena Casa de Muñecos que, por sua vez, tem como inspiração Casa de Bonecas, uma peça muito conhecida do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen.” Para si, o interesse da história reside “na alegria e na ternura do enredo e, sobretudo, no facto de ser uma história de mulheres, numa época de fortalecimento social das vozes e da presença das mulheres.”

“Adaptar funciona como uma espécie de homenagem a obras anteriores que, por alguma razão, se destacaram (…) o maior desafio é sempre conseguir estar à altura do que nos inspira". No entanto, “traz consigo os desafios normais na criação duma telenovela: identificação dum ponto de partida - e desequilíbrio - forte, definição dum ambiente reconhecível e verosímil e criação de personagens que o público possa vir a sentir como «família»", admitiu a autora.

Quando questionada acerca da forma como esta história se distingue de outras tantas que já escreveu, nomeadamente, mais recentemente, Quer o Destino e Amar Depois de Amar, Helena contou-nos: "O poeta Al Berto, que conheci bem, respondia quando alguém lhe apontava que escrevia sempre a mesma obra: «Havia de escrever o quê? Se não fosse a minha obra, a quem pertenceria?» (…) Um texto resulta da combinação entre o seu autor e o momento específico em que o escreve. Esta história que (...) fala de mulheres, revelar-me-á nuns dias mais sábia, noutros só mais velha... E revelará uma história que, sonho, se venha a afirmar por si".

Acerca das expectativas para esta história, a autora pretende “que a sua obra agrade, que o público adira ao enredo e que permita que essa história lhe faça companhia em casa, todos os dias”, admitindo que tem ainda a expectativa de “sem perder o rumo”, se deixar “encantar com as histórias e fruir, frase a frase, o privilégio de as escrever para depois poder ler e, finalmente, ver e ouvir.”

Enquanto diretor de atores, Vitor Hugo procura, “humildemente (…) servir aos atores, como um espelho que lhes reflete, reapresenta, lhes devolve as singularidades e especificidades” que pôde ir conhecendo “em cada um deles durante os ensaios (e sempre mais a cada dia), particularidades que vestem as personagens com os modos sempre únicos que apenas cada um possui.” O também ator confessa ainda que este é um papel engrandecedor. “Belo é poder servir. Meta última, ou primeira, a depender de nossa maturidade ou humildade. Estar a serviço do outro (…) contribuir com entusiasmo e generosidade para que brilhem sua melhor luz, riam seus melhores risos, contagiem-nos com o melhor de si”.

No entanto, e sendo também ator, Vitor Hugo partilha com os colegas “a paixão de representar. Este gesto de extrema coragem e exposição que é garimpar em nós mesmos os tesouros de nossas próprias emoções (que muitas vezes enterramos e escondemos até de nós mesmos).”, confessando ainda: “Partilho o medo de não estarmos à altura dos desafios e cenas diárias, de não sermos bons o suficiente para iluminarmos os personagens, (…) as frustrações de sabermos não termos sacado pérolas que sabemos carregar mas que requer mergulhos profundos para os quais nem sempre temos fôlego… (…) o tremor que se nos vai dentro e pelo corpo todo quando uma palavra sai precisa e arrebatadora (…), quando conseguimos em cena relembrar a nós mesmos e ao público que o belo em sermos humanos é o olho no olho, a escuta, a prontidão, a mão estendida ao outro e a capacidade de vermos Beleza em chorar de amor, em rir entre amigos, em perceber instantes de Graça, esta beatífica que se dá entre dois seres humanos quando verdadeiramente se fazem presentes um para o outro.".

Vitor descreve esta história como “uma história de amores, frustrações, desejos, sonhos reprimidos e atropelados pela vida, e sonhos construídos e conquistados pela vida", numa telenovela “onde a protagonista é uma senhora de 70 que, com tanta vida vivida, ainda busca a luz como os girassóis”. Outra das particularidades é o facto de ser uma novela sem um vilão, o que, segundo o diretor de atores, "foge ao maniqueísmo do bem e do mal, e traz o olhar do espectador para dentro das personagens (e de si), com o reconhecimento de que somos sempre, cada um de nós, os heróis ou vilões de nossas próprias histórias, quer seja por nossas escolhas, quer pelo modo como reagimos ao que os outros ou o acaso nos traz".

Nesta história, “todas as personagens são riquíssimas, com conflitos que, em sua quase totalidade são causados pelo próprio exercício de suas liberdades e escolhas individuais, motivadas pelo amor, ou falta deste; ou motivadas pela necessidade de pertencimento, que nos leva por vezes a fazer aquilo que esperam de nós, e não aquilo que nossa vontade, razão e coração por vezes nos sopram”. Isto exige de toda a equipa um cuidado em “contribuir para que cada personagem releve suas mais profundas fragilidades, desejos e contradições, sem se vitimizar, ou delegar a culpa aos outros, ou à sociedade, e assim trazer ao de cima a dor e delícia de sermos simplesmente aquilo que somos.”.

Neste sentido, Vitor Hugo descreve a protagonista, Ana, “como um farol a cintilar luz e direção aos demais personagens, náufragos emocionais de suas próprias decisões ou falta delas”, que exige uma procura de construção do “entendimento de que Ana não resolveu «jogar tudo para o alto» e recuperar na velhice uma adolescência ou juventude perdida”, mas que “está mais próxima da sabedoria”, como uma “contrapartida natural daqueles que cumpriram com amor e dedicação e também dor e frustração todas as etapas de suas vidas, e aprenderam e maturaram tanto com as conquistas quanto com os deslizes”.

Esta protagonista irá então “reapresentar às personagens da novela (e também ao público) as grandes questões de sempre: «quem tu és?»; «que fazes aqui?»; «quais os teus sonhos?», «que fazes tu para seres feliz?».

Com todo este trabalho, Vitor procura pôr-se a serviço “para que confiem” que procura apenas ajudar os colegas “a trazer ao de cima as flores que trazem no peito”. “E quando ao término da cena, veem o brilho em meus olhos, sabem que estes apenas refletem a luz que colhi deles, atores. Então juntos acreditamos, e sabemos estar no caminho.”, finalizou.