Header Ads

COMING UP | La Casa de Papel


Mãe dos plot twists, a mensagem de resistência de La Casa de Papel provou que sabe escrever poesia como ninguém. Depois de muitas indas e vindas e nem sempre ter estado no seu melhor, a série entrega um final épico, digno e com sentido para o seu bando. Mas a cereja no topo do bolo é ter La Casa de Papel a voltar a mexer com as nossas entranhas e nos deixar a roer as unhas até ao limite. Que saudades dos apertos de peito que a trama nos dava nos primeiros tempos, voltou a trazer todas essas memórias neste final que, sem dúvida, nos deixa com lágrimas nos olhos por sabermos que desta vez a despedida será definitiva. É perfeito? Não é. Mas é quase! Falamos-te dos pontos positivos e negativos de um dos finais mais aguardados dos últimos tempos. Fica connosco em mais uma edição do Coming Up. 

La Casa de Papel conquistou-nos por conseguir criar uma história que prende a partir de uma criatividade incrível que faz inversão de marcha e nos coloca a torcer por vilões aparentes. Mas depois desse namoro apaixonante La Casa de Papel cresceu e colocou-se em bicos de pés, com uma temporada em que se achou melhor mas que só serviu para borrar a pintura enquanto brincava o mesmo jogo de Game of Thrones e desperdiçava alguns dos seus melhores personagens em sacrifícios chocantes mas um tanto ou quanto inúteis para manter esse amor do público.

Apesar disso, o engenho manteve-se. A base de ter um plano bem montado que oferecia soluções lógicas e premeditadas para qualquer situação esteve sempre lá e quer queiramos quer não dava-nos vontade de continuar a ver, porque no fundo, mesmo nos seus piores momentos a série continuava a conseguir surpreender-nos com reviravoltas inesperadas e ousadas. 


O final não ofereceu menos que isso, pelo contrário elevou a fasquia e bebeu bem a canção de resistência que cantaram ao longo dos últimos anos. No final das contas, voltaram a usar o esquema de colocar o bando num ponto em que estava tudo perdido, para depois mostrar que só o diálogo resolve. 


Além de inesperado, este final condiz a cem por cento com as linhas bases da série que nunca foi dada a violência gratuita e utiliza este exemplo como uma lição de moral para quem assiste. É certo que tudo aquilo que vemos ali é extremista e incorreto, porém, mostra a força do povo contra um regime aparentemente pacífico que na cortina é capaz de torturar, matar e sacrificar o outro em prol do dinheiro. 


Pode parecer que La Casa de Papel descreve os líderes de estado como pessoas sem qualquer empatia e cujo o único interesse é a riqueza, mas a verdade é que essa leitura extremista pode não estar assim tão longe da verdade e se pensarmos bem toda a sequência final da negociação entre Tamayo e o Professor é bem realista, sobretudo se tivermos em conta que a honra de um pais está, naquele momento, nas mãos de alguém cujo o ego está inflamado ao mesmo tempo que está ferido. 



Um final de uma obra de ação está intrinsecamente ligado com a morte. Tornou-se quase uma obrigação ter algum sacrifício épico para fechar com chave de ouro um filme ou uma série do género. E aqui essa atmosfera de uma grande morte eminente foi palmilhada desde a quarta temporada deixando-nos com o coração nas mãos a tentar descobrir quem seria a vítima nesta segunda parte da quinta temporada. 


Felizmente não houve mais sangue derramado no lado do bando, mas esse ambiente cercado de nuvens negras deixou-nos em ponto de rebuçado várias vezes e colocou-nos de tal forma conectados com a série que é quase impossível não nos comovermos quando Lisboa conta aos fãs dos atracadores sobre a morte de Tóquio. Há uma verdade gigante, uma tristeza ali, que é fruto de um excelente elenco que veste aquelas personagens quase como uma segunda pele. 


Essa ligação entre os atores e os seus papéis é algo raro mas também se tornou num dos grandes truques para que tudo isto funcionasse tão bem. Cada despedida era sentida pelo elenco como uma perda verdadeira, ao passo que todos sabiam que aquela era a última temporada e que à semelhança dos seus personagens o fim desta jornada estava próximo do final. 


É algo que passa para o espectador, algo que eleva a série e torna tudo mais consistente e poético. Mas já que falamos em elenco, é chegada a hora de nos debruçarmos numa das melhores personagens de toda a série: Sierra.


Najwa Nimri rouba a cena uma e outra vez com os melhores diálogos, os melhores momentos, e conquista-nos minuto a minuto como personagem que vai ficar durante anos no nosso imaginário. Felizmente é um daqueles casos em que os nossos medos não se concretizam e apesar do tempo curto que tinham para desenvolver a personagem, Sierra foi bem aproveitada. 


Era óbvio desde o primeiro minuto que ela iria em algum momento trocar de lado, contudo, isso aconteceu num ponto da história em que já nos parecia impossível fazerem essa transição de uma forma coerente. Mas, bastou uma pequena sequência para tornar tudo possível sem grandes artimanhas. Professor e Sierra salvam-se mutuamente numa sequência de resistência que foca mais uma vez na total displicência do governo para com o seu povo enquanto busca o culpado. 


A sequência em que Sierra e o Professor fogem dentro do prédio de Tamayo é um dos melhores momentos da temporada, construindo uma ligação sem precisar de grandes explicações, ao passo que aumenta o ódio pelos vilões. É um momento em que se definem os reais papéis de cada jogador e também marca a viragem do ponto de interesse, deixamos de olhar com tanta atenção para o que se passa dentro do banco e começamos a agarrar-nos ao que se passa cá fora num embalo bonito que serve para mostrar o quão grande se tornou a mensagem destes assaltantes. 


O assalto ao banco tornou-se um pretexto, quando o que realmente importa é muito maior que todos eles. Destaque ainda para o momento em que o Professor entrega o seu bando nas mãos de Sierra numa última jogada de confiança, que além de render mais uma cena bonita ainda justifica o porque de terem introduzido uma personagem tão carismática perto do final. Toda a jornada de Sierra, no fundo, serviu para alicerçar aquele momento, e valeu a pena!



Contudo, se esse momento de Sierra parece ter sido planeado ao detalhe, há outros casos em que a montanha pariu um rato e mancham o final de La Casa de Papel sem necessidade. Falamos claro de Tatiana e Rafael. 


Depois de uma quantidade gigante de flashbacks que tornaram viva a imagem de Berlim, está finalmente justificado qual era o papel de Tatiana e Rafael nesta história: Serem desnecessários. Depois de duas temporadas inteiras a teorizar sobre como Tatiana seria a chave do plano, eis que ela toma de uma vez parte ativa na história presente para dizer pouco mais de três frases e provar que todo o background que lhe deram foi inútil e serviu apenas para ocupar momentos em que a história precisava de respirar. 


É certo que o momento em que a dupla de ladrões engana a banda serviu para dar a alavanca final para Sierra brilhar, mas não justifica nem um pouco todo o destaque que lhes foi dado, além de que serviu pra muito pouco em termos de narrativa. Não vemos o ouro a ser cedido, não há um confronto real entre os dois gangues, e tudo se resolve com um simples papel que nem tão pouco é mostrado ao público. 


Foi a ponta solta que mancha a temporada e que é suficientemente desinteressante para nos fazer achar que La Casa de Papel ainda precisava de aprender a fazer uma autoanálise. Em vez de perdermos tempo a dar sustento para personagens que têm zero interesse poderíamos ter acompanhado a situação de Arturito. A personagem é chata, sim, mas pelo menos ele tem uma função grande dentro do argumento é ficou relegado a uma mísera menção sem tão pouco parecer nos últimos capítulos. 


É um exemplo claro em que os autores se enrolaram com o tempo que tinham e já não sabiam o que fazer mais para justificar todos os elementos que criaram. Talvez tenhamos mais respostas na série spin-off de Berlim, mas o tempo em que essas soluções deviam ter sido mostradas já passou e o público não perdoa faltas de timing.


Mesmo com esse destaque negativo, a segunda metade da quinta temporada de La Casa de Papel não envergonha e ainda consegue emocionar corações de pedra. O final foi desenhado de uma forma surpreendente, poético e bonito que da respaldo para que eles não regressem e consigam ter uma vida muito mais feliz do que a que tinham conseguido no final da segunda temporada. 


Ou seja, para as vidas deles, este segundo assalto foi necessário, calando as vozes críticas que diziam que esta terceira, quarta e quinta temporadas eram forçar a história a espremer sumo de laranjas secas. Afinal havia líquido, havia algo que poderia realmente ser diferente. Conseguiram convencer-nos quando já achávamos que seria impossível, por isso, parabéns Professor fez um bom truque de magia com o público também. 


La Casa de Papel, mesmo com defeitos, é uma das melhores histórias de sempre da Netflix é uma das melhores ofertas do seu catálogo, ou pelo menos das mais criativas. Marcou a indústria de uma forma que é irreversível, invertendo papéis e paradigmas que diziam que as grandes histórias eram contadas nos Estados Unidos. 


Só por isso já merecia o nosso aplauso. Este final foi o encerramento perfeito, porque depois de tudo isto não podiam ousar de dar aos seus personagens um fecho que não fosse feliz, sob pena de ser a machadada final do seu público. 


No final das contas conseguiu justificar quase tudo e envolver-nos com uma empatia que não tínhamos há muito tempo. Ainda não perdoamos Álex Pina pela morte de Nairóbi mas deixamos-lhe um sorriso de parabéns por nos ter feito apaixonar pela mensagem destes atracadores. Voltem sempre.