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COMING UP | And Just Like That…


Como um velho amigo que não vemos há muito tempo com o qual a conversa continua como se ontem estivéssemos estado juntos. Esta é a melhor definição para And Just Like That… Regado de um sabor nostálgico que nos enche o coração e sem perder a imagem de marca, Carrie, Miranda e Charlotte estão de regresso num abraço aconchegante que chega com magia e um apelo emocional forte que casa ainda melhor quando assistimos a um reencontro entre amigos depois de nas nossas vidas termos passado vários meses sem vermos os nossos ente-queridos. É simplesmente bonito, numa simplicidade e sensibilidade acima do esperado e sem tentar replicar os segredos que fizeram de Sex and The City uma série de culto. Em And Just Like That… temos a essência adaptada à fase da vida em que as personagens e público alvo da época estão, com questões maduras e o habitual extremo bom gosto. Falamos disto tudo na edição desta semana do Coming Up, fica connosco e reencontra-te com estes ícones. 

De série simples (porém importante), Sex and The City sempre teve arrojo em agarrar alguns dos temos que fazem os cabeçalhos de jornais, uma linha orientadora que se mantém e constrói um cenário perfeito para o reencontro que achamos que não iria voltar a acontecer, ou pelo menos não numa série de episódios. 

Mas além de trazer essa energia dos temas atuais traz, ainda, diálogos cuidados que não despojam as personagens das suas anteriores orientações. Carrie continua a ser a Carrie, tal Charlotte, e todos os outros que já passaram por aqui nestes dois primeiros capítulos.

O romance sempre foi o grande alicerce de Sex and The City, o que torna, ainda mais, inesperado o grande ponto de partida para este regresso. Big morreu, de forma completamente inesperada colocando um ponto final numa daquelas paixões que era para a vida toda e deixando o público com lágrimas nos olhos. 


Em termos de criatividade este novo arco é um motor suficientemente forte para justificar este regresso e para provar que estas personagens têm mais para contar, além de lhes dar uma pitada de drama e nuances interessantes que podem render atuações dignas de Emmys. 


Porém, enquanto a morte de Big foi uma solução ousada para amarrar este retorno e garantir que o revival não existia apenas por um capricho dos criadores e fãs, também acaba por colocar a nu o grande problema de And Just Like That… Samantha. 


Quando a série foi anunciada e soubemos que Samantha não ia continuar a primeira sensação que tivemos foi achar que nenhuma justificação que pudessem dar para a sua ausência iria ser suficientemente plausível ao ponto de ser minimamente credível achar que ao final de todos estes anos e acontecimentos marcantes o grupo simplesmente se tinha separado e virado costas. 


Contudo, logo no primeiro episódio, os autores dão uma saída de cena digna à personagem, que estando noutro pais acaba por estar mais distante dos dramas da amigas. Até aí tudo bem, mas essa lógica cai por terra quando se dá a morte de Big, um dos maiores eventos da vida de Carrie, e enquanto Charlotte e Miranda tentam a todo o custo estarem presentes, Samantha manda apenas um ramo de flores.



E é este o grande problema de coerência que a série vai ter de enfrentar. É difícil de acreditar que exista um corte tão profundo entre as duas ex-amigas ao ponto de ela não marcar presença num momento tão importante. Já tivemos vários exemplos de séries que continuaram mesmo depois da saída dos seus protagonistas, mas este é um claro exemplo de como a realidade atrapalha (e muito) a construção de uma continuação. 


Ainda por cima, como tivemos uma nota tão básica para a sua ausência no funeral, a ideia com que ficamos é que o argumento vai oferecer sempre pensos rápidos para sarar as feridas de lógica causadas pelas faltas de Kim Cattrall. Isto agravado pelo sonho dos autores de que um dia vão conseguir reunir o quarteto, porque sim, essa vontade, claramente, continua a existir. 


Por mais que até nos ofereçam uma resposta coerente para ela não estar, essa mesma resposta é um arco deixado em aberto que vai ter, obrigatoriamente, de ser alimentado, e eventualmente fechado. Ainda que seja dramático e chocante, matar a personagem era a resposta mais óbvia e a solução perfeita para não criar momentos constrangedores em que a credibilidade dos eventos é colocada em causa por algo que não está nas mãos da criatividade dos argumentistas resolver. Até porque para quem acompanha minimamente a carreira da atriz sabemos que o seu retorno é altamente improvável. Antes encerrar já o assunto do que alimentar expectativas que vão, apenas, massacrar os fãs.


À parte do drama de não termos Samantha, que é o grande ponto negativo da série, And Just Like That… tem o acerto gigante de desconstruir a imagem do que é ser uma mulher bonita. Despida de alguns preconceitos, o enredo leva estes ícones a abraçarem os seus cabelos brancos, as rugas, e as questões da idade fazendo um casamento perfeito com o público maioritariamente feminino que as acompanha e que, muitas das vezes, entendem estas alterações do seu corpo como o final, como se nunca mais se pudessem sentir bonitas. 


É uma mensagem importante, velada no extremo bom gosto da série, mas que traz poder e feminismo é pode reforçar a autoestima de quem se relaciona com todos aqueles temas e se sente menos bem. É a velha máxima de que se vemos uma realidade na TV essa realidade passa a ser aceitável. 


Contudo, apesar da mensagem importante e fundamental que passam há alguns momentos em que o texto usa a idade como um recurso excessivo envelhecendo demais as suas personagens e dando sintomas de 70 a mulheres de 50. Entende-se qual é a mensagem que querem passar, mas em alguns momentos saiu como algo forçado. 


Podíamos ter-nos ficado apenas por aquele diálogo maravilhoso sobre o cabelo de Miranda, que mesmo trocando o vermelho pelo branco não retira em nada a personalidade de Miranda e não faz dela uma mulher menos bonita, atraente ou diferente. Miranda é, de resto, aquela que melhor tem erguido a bandeira do envelhecimento e ganha com isso alguns dos momentos mais emblemáticos de And Just Like That…



Miranda tem um arco que ainda se está a construir e que ainda está numa fase um tanto ou quanto desinteressante, mas que tem tudo para dar mais upgrade moral à série. Apesar de um arranque atabalhoado e um pouco previsível tem tudo para ser trazer temas interessantes para a discussão, sobretudo pela contracena que se gerou com Karen Pittman, que volta a ganhar aqui um papel de destaque depois do arraso que foi a sua interpretação em The Morning Show


Seguindo para outra protagonista, Charlotte bem carregada de emoções é tão expansiva quanto aquilo a que nos habituou. É o alívio cómico que precisamos com Kristin Davis a trazer de volta cada traço da sua personagem como se a tivesse estado a interpretar até ontem. É divertida e ainda traz consigo uma família cheia de nuances que casa bem com os tempos atuais em que os retratos de família já não são tão convencionais como antigamente. É o contraste certo que casa com a tal atualidade que And Just Like That… quer trazer. 


Para finalizar o ramo, Carrie, que vai ter o peso dramático da série nas costas. Por mais interessante que seja o seu arco preocupa-nos que Sarah Jessica Parker não esteja à altura do desafio, tudo porque nestes primeiros episódios ao entregou tudo o que personagem pedia. 


Pedia-se mais emoção, mais empatia. A morte de Big foi passada quase como apenas mais um evento na vida de Carrie, sem lhe dar o devido impacto. A ver vamos como a série consegue desenvolver isso de agora em diante.


Em resumo, And Just Like That… cumpre a proposta de trazer de volta a magia e o ambiente do clássico, num tom que também ele é clássico e que vai aos poucos lançando iscas para assuntos mais atuais. Não é conservadora mas é elegante na abordagem a cada assunto, com figurinos que vão buscar as tradições dos visuais da série do inicio dos anos 2000. 


Foi um acerto de modo geral, com uma bomba relógio nas mãos dos argumentistas sem que eles possam desviar-se muito sob pena de deitar por terra a credibilidade de uma marca de sucesso. É o abraço que precisamos numa fase em que o passado está cada vez mais presente nas multiplataformas e que a pandemia nos dá tempos livres para podermos matar saudades ou conhecer algumas das produções que fizeram a industria de Hollywood ser aquilo que conhecemos hoje em dia. 


And Just Like That… conversa com muitos públicos num ritmo apetecível que não enrola e que ainda dá espaço a que cada personagem seja desenvolvida com direito a todos os seus traços peculiares. Tomara que continue a surpreender-nos da forma como fez com a morte de Big e que consiga continuar a justificar o revistar da vida destas personagens. 


Tomara que Sarah Jessica Parker tenha força emocional para colocar a produção num bom lugar quando a concorrência é muito mais agressiva do que era à época do clássico Sex and The City. Teremos direito a Emmy ou ficamos apenas por um emotivo reencontro sem grandes frutos para o futuro? É esperar para ver.