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COMING UP | Shang-Chi and The Legend of The Ten Rings

A Marvel está de regresso às estreias exclusivas no cinema. Shang-Chi and The Legend of the Ten Rings revelou-se como o título perfeito para este regresso às origens numa longa-metragem que tem outro impacto quando é vista no grande ecrã e que respira no híbrido entre um filme que faz nascer um herói e uma película de ação que eleva ainda mais a fasquia da Marvel. No fundo, é a Marvel a superar-se a ela mesma, com uma história bem orquestrada, que não é refém da mítica jornada de herói, e que é, acima de qualquer coisa, um espetáculo visual. Das lutas bem coreografadas até à fotografia, passando pelas cenas de ação, o ritmo do filme é frenético e é exatamente o que precisávamos: Um blockbuster com extremo bom gosto e um piscar de olhos à pluralidade dos heróis da Marvel. Falamos disto e muito mais no Coming Up desta semana, fica connosco e vamos descobrir os segredos do primeiro novo membro dos Avengers nesta Phase 4do MCU. 

Se há algo que a Marvel Studios tem conseguido é tornar as suas películas em verdadeiros espetáculos sem que percam a essência de filmes de ação, mas garantindo que até os mais céticos sobre estas longas-metragens saem de dentro deste universo a desfazer-se em elogios e felizmente Shang-Chi é mais um exemplo disso, numa linguagem que conversa com vários públicos e uma ação que carrega vários momentos de explosão sem parecer forçado. 

É a pintura perfeita para trazer um novo herói, uma nova cultura e introduzir ainda mais elementos para dentro do mundo Marvel sem nos perdermos ou nos deixar questões em aberto. E este é só o início de um percurso que pode trazer não só grandes histórias mas uma representatividade ainda maior entre os protagonistas do MCU.

Agora que o universo Marvel está bem estabelecido é hora de arriscar e surpreender, e Shang-Chi é exatamente o que precisávamos sem saber. Fugimos dos típicos estereótipos caucasianos, fugimos dos Estados Unidos, e fugimos da interdependência que os personagens novos têm com membros já integrantes da super equipa. 


Aqui é tudo maioritariamente novo, num elogio a uma diversidade cultural que parece suprimir as falhas deixadas pelo Live Action de Mulan e que traz ao grande ecrã a delicadeza de uma cultura ancestral em cada momento de luta. 


O primeiro combate entre Wen Wu e Jiang Li define bem o tom da película, numa dança bonita que conversa com vários públicos e momentos em que nos apela à memória afetiva de algumas animações clássicas da Disney. É um momento visualmente brilhante mas é também o ponto que marca pela diferença de tudo o que vimos até então na Marvel por nos conseguir transportar de imediato para aquele universo onde nem tudo se encaminha para cenas de porrada com murros e pontapés. 


Há um extremo cuidado em envolver a natureza no argumento, mesmo sem ser politizado, numa mensagem sobre a importância da conservação das nossas raízes que transmite mensagens subliminares bem interessantes para o público. No fundo na primeira meia hora conseguimos ter um pouco de tudo no filme, garantindo que agrada a espectadores distintos sem perder o fôlego e sem que esses momentos sejam divergentes. A forma quase harmónica com que tudo se junta é uma homenagem bonita e faz esse trabalho de transição entre a cultura americana para a chinesa parecer algo natural e bonito, chegando mesmo a ser quase uma metáfora para o confronto da natureza dos dois povos. 



Shang-Chi é introduzido da melhor forma possível, tornando-se muito provavelmente na melhor apresentação de um herói da Marvel. Black Panther já tinha provado que o estúdio conseguia desprender-se dos estereótipos de filmes de origem e demarcar-se da típica jornada de herói que acompanhamos umas cinco vezes no arranque da Marvel nos cinemas, mas Shang-Chi and The Legend of The Ten Rings consegue ser até melhor, por ser o híbrido perfeito entre o clássico e esse toque de modernidade comercial que não esquece a história mas que dá aos fãs rajadas de ação que nos cativam em todos os momentos. 


Ele é engraçado, divertido, tem muito background, mas um background que é apresentado de forma clara e envolvente sem deixar cair o ritmo de um épico, com muita dinâmica e uma envolvência que é construída como uma boa história dos desenhos animados orientais. Por mais pesada que seja a origem, os diálogos conseguiram aligeirar e fazer-nos entender todo o novo universo em segundos, com as tiradas cómicas de Awkwafina a serem a cereja no topo do bolo. 


E temos de dar um aplauso para a forma como Katy e Shang-Chi foram introduzidos. Não se sentiu que existisse uma exigência de romance, há toda a questão da pressão social para que eles sejam mais que amigos, mas é algo natural e construído com verdade, com mais verdade que muitos dos novos romances que fazem sucesso recentemente. 


Voltando a Shang-Chi, ele ganha outra dimensão quando o filme se preocupa em lhe dar camadas, um dos maiores acertos para nos provar que nem todos eles são puramente bons, e que tal como todos nós têm defeitos. Um jornada de humanização de personagens que é, no fundo, um dos grandes segredos para o sucesso do MCU, e que mais uma vez foi cumprido aqui, não só com o protagonista mas também com a maioria das personagens secundárias, como Katy que é uma figura com a qual nos é fácil conectar e que tem uma destreza e inteligência acima do comum. Enquanto procura um futuro, talvez o seu cérebro possa ser mais uma das armas da equipa de pensadores dos Avengers junto, precisamente, com Bruce Banner e talvez até Shuri.


E já que falamos em personagens vamos descobrir um pouco mais sobre eles, começando por Wen Wu, o vilão com laivos de anti-herói e que traz para o argumento camadas diferentes num personagem cujo amor é a força que o move. 


Por mais criticáveis que possam ser as suas atitudes é de louvar as motivações que o levam a agir, numa noção de família transversal a culturas, e uma vingança que dá camadas ao personagem. Ele não é simplesmente um vilão que quer conquistar poder e o mundo, ele é um homem apaixonado por quem o fez ver o mundo de uma forma diferente e que vai ao centro da terra para recuperar o afeto que perdeu. Mesmo que os seus atos sejam injustificáveis, é impossível não nos relacionarmos e não conseguirmos entender o que está para lá das atitudes vilanescas. 


Há conteúdo, há contexto, e por mais que ele seja um figura facilmente odiável ficamos no limbo entre a compreensão, a pena, e a raiva pela cegueira dele em estar disposto a tudo para recuperar alguém. Claro que temos todo o passado do personagem para ajudar a construir essa ideia de vilão, mas colocando em perspetiva, Wen Wu, casa bem com a linha de novos vilões da Marvel que são tudo menos básicos e que nos levam a questionamentos interiores que vão além do expectável em películas dominadas pela ação. 


Além da sua construção ser essencial para entendermos que Shang-Chi não é apenas a primeira camada de rapaz afável. O treinamento a que foi sujeito molda a personalidade e talvez ainda não tenhamos visto neste primeiro filme todas as formas como as suas reações podem, de facto, ter sido alteradas. Mas é também graças a ele que ganhamos uma outra noção sobre Xialing que a torna numa das personagens mais interessantes da trama.



Com a irmã de Sang-Chi temos uma visão mais agressiva do que vimos com a versão Live Action de Jasmine em Aladdin. Mas por mais que os traços base sejam os mesmos, o quadro final é bastante diferente, com uma personagem que se tornou numa durona com instintos de sobrevivência que a tornam perigosa e que poderão levá-la no futuro a tornar-se menos boazinha do que inicialmente pensamos. 


Além de termos novamente um leitura sobre o patriarcado, com Xialing as nossas impressões são diferentes. Talvez o seu arcaboiço emocional não fosse tão consistente assim caso ela tivesse recebido o mesmo tratamento e treino de Shang-Chi, talvez ela se tornasse realmente numa assassina sem  escrúpulos, e talvez esse seja um evento Nexos interessante para vermos numa segunda temporada de What If?… 


Mas centrando-nos no filme, a personagem carrega a ideia que toda a organização tem sobre as mulheres, numa leitura sobre empoderamento feminino que não é extraordinariamente original mas nem por isso menos importante. O diálogo em que aconselha Katy a acenar com a cabeça a tudo o que Wen Wu diz, referindo que foi assim que se tornou aquilo que é hoje, é bem mais dramático do que aparenta numa primeira vista e traz para os holofotes um tema que tem muito por ser debatido e que vai casar muito bem com o destino da personagem na história e numa possível continuação. 


Ela é uma personagem rica, sobre a qual queremos ver mais, e sobretudo uma outcast que pode enriquecer, ainda mais, o leque de personagens da Marvel, numa lógica até algo próxima de Hawkeye. Uma conversa entre os dois pode ser interessante. 


Nós queremos mais de Xialing. Por mais que ela fique em evidência e que tenha um bom contexto, ela é daquelas figuras que desperta interesse ao ponto de queremos tê-la como centro das atenções, ver a sua evolução depois de abraçar de vez as suas origens. É o tipo de figura que pode ter muita influência no futuro da Marvel, até mesmo depois de entendermos o seu final. Ela é dona de um exército, e não parece querer ficar por aqui. Não será uma Avenger, pelo menos não a full time, mas poderá ser a chave para muitos dos problemas futuros da equipa que tem agora como reforços não só Shang-Chi mas também Katy.


E pontos, ainda, para o filme, por nos dar uma base que não a torna numa mera figura coadjuvante mas que nos justifica o porquê de não ter sido ela a detentora do maior poder. Por mais que o seu passado tenha sido conturbado, a verdade é que há ali muito para resolver antes que lhe seja depositada a confiança total para lidar com níveis de poder sequer próximos dos que Shang-Chi tem agora entre mãos.


Shang-Chi and The Legend of The Ten Rings é o ponto de partida que precisamos para regressar às grandes produções no cinema, numa história muito rica que traz diversidade entre os heróis da Marvel e que conversa com públicos não americanos e europeus, voltando à máxima apresentada em Black Panther de trazer para todos aquela noção de que qualquer um poder ser um herói. 


A Disney tem-se esforçado em quase todas as suas produções para descentralizar os seus protagonistas, e com Shang-Chi conseguiu trazer um background sustentando que ajuda, ainda mais, a fazer esse público sentir-se em casa. 


Aqui conseguiu voltar a agarrar num protagonista pouco conhecido e fazer dele um dos destaques e por mais que não existam promessas de que Shang-Chi possa passar perto de se tornar no novo Tony Stark, o que se sente neste filme é o mesmo cuidado e amor que existiu na época para trazer o Iron Man para os cinemas, com um orçamento que concretiza bem todas as ideias e uma cinematografia que faz corar alguns dos cineastas gigantes. 


Existiu cuidado no detalhe e o resultado foi uma pintura bonita, com os efeitos especiais a serem utilizados na medida necessária mas sem serem apenas fogos de artificio. A nota é extremamente positiva e já dá vontade de explorar mais deste universo, é o tipo de projeto que nos dá vontade de rever os clássicos do Kung-Fu, mas sem se tornar apenas nisso. 


A Marvel está no ponto em que já é capaz de fazer qualquer coisa, e o melhor de tudo é que o que decidir fazer vai conseguir fazê-lo bem e com respeito para com o seu espectro de fãs que quer ver muito mais do que cenas de luta. A beleza está nos detalhes e detalhes é algo que não falta. Vamos voltar às salas de cinema, Shang-Chi and The Legend of The Ten Rings é a aposta certa para voltarmos a viver e a divertir-nos com o melhor que o cinema tem para oferecer.