COMING UP | A Lista
Trazer para Portugal as grandes fórmulas do sucesso da ficção internacional é um dos grandes pilares da OPTO. Em A Lista, a nova aposta da plataforma de streaming nacional os créditos continuam a não ficar por mãos alheias e navegando na mesma onda de sucessos de histórias mais adolescentes que cativam todos os públicos como Pretty Little Liars ou 13 Reasons Why, a série confirma mais uma vez que em Portugal há muito talento. Fica connosco, prometemos contar-te tudo o que há de bom em mais uma série original da OPTO que num texto em português promete falar várias línguas.
Com uma história criativa, que sabe utilizar clichês de forma correta ao ponto de lhes dar sentido e de os continuar a tornar apelativos, e um elenco promissor, A Lista tem todos os ingredientes para se tornar em algo viciante e memorável, num trabalho em que todos os elogios vão para a autora Raquel Palermo, que num episódio de apresentação e sem entrar por detalhes maiores já conseguiu despertar-nos interesse e motivos para nos relacionarmos com os seus protagonistas.
A Lista parte da proposta de mistério que cativa qualquer pessoa: uma morte sem explicação que reúne um grupo de pessoas improvável e que promete trazer um chorrilho de segredos que nos deixam de boca aberta. Mas aqui o grande truque para nos fazer encarar a série com outros olhos está no pote de origamis que nos deixa com a noção de que tudo é possível e que estes momentos de loucura no primeiro capitulo são apenas leves descontrações para um argumento que deverá ser bem mais pesado do que era expectável.
A construção inicial que concentra todas as personagens centrais num único local com a sensação de que todos eles estão a testar os seus limites num espaço onde tudo é permitido já deixa antever que naquela festa tudo o que possa acontecer vai trazer combustível para assegurar uma temporada inteira, mais ou menos na mesma lógica do sucesso de Élite, onde em todas as temporadas temos um evento que serve de palco para todos os arcos e núcleos se desenvolverem.
Até ao ponto da morte de Patrícia temos a típica história adolescente, onde os personagens até parecem encaixar-se em padrões de representatividade que as mais badaladas séries da Netflix tentam incluir nas suas produções. Mas torna-se mais que isso ao fugir da bolha dos dramas adolescentes quando entra em discussões sobre a vida profissional destes jovens adultos.
Apesar de ainda não termos visto muito disso neste primeiro episódio, termos essa referência já comprova que não, a história não vai ser uma releitura dos dramas teenagers, nem Gossip Girl, nem Élite, nem nada que se pareça. Vai, sim, ser um híbrido entre as loucuras que existem nesse mundo dos adolescentes com a abordagem de temas mais sérios ligados ao arranque da vida adulta onde a analogia de Patrícia ganha outro significado, não é uma série que vai trabalhar com os sonhos dos adolescentes que ainda não sabem ou não têm noção sobre o que é a vida, é sim uma trama com objetivos que trabalha com personagens que já estão a criar alicerces para o futuro e que já não podem dar-se ao luxo de serem totalmente inconsequentes.
Os protagonistas têm uma ideia genérica sobre a personalidade do outro, o que acaba por ser uma excelente forma de os levar a se descobrirem ao mesmo tempo que o público se vai relacionando com eles e tentando perceber os traços de personalidade que os distinguem. E essa é uma proposta muito ambiciosa, porque há um trabalho na criação de ligações que não é instantâneo, algo que nesses grandes fenómenos de audiências que conversam com o mesmo tipo de espectadores de A Lista, acontece frequentemente.
Aqui, o grupo de pessoas que se reúne em torno do mistério é formado por pessoas até um pouco individualistas, que não devem nada uns aos outros e que no caso de algo dar errado ou de algo acontecer com o outro, a vida de cada um deles vai seguir tal qual como planeado, sem nenhum tipo de mágoa ou sentimento de culpa.
É ambicioso, na medida em que a série parece trabalhar com consequências pesadas para os seus personagens. Neste primeiro episódio, por exemplo, já temos um deles a ser coagido a matar alguém, colocando isso em perspetiva e comparando com Élite, no caso desse possível assassinato dar para o torto, nenhum dos outros elementos do grupo parece estar disposto a arcar com as culpas para proteger o outro, porque simplesmente não tem essa necessidade ou preocupação de defender alguém com quem tem zero ligação.
Ver essa construção de relações desenvolver-se pode ser um dos grandes trunfos para o sucesso de A Lista, e uma ousadia da parte dos autores que exige coragem, porque no caso de algo parecer fabricado todos vão saber que será para favorecer a história e não algo para ajudar a que a série se aproxime da realidade.
Tal como já dissemos, os origamis abrem um leque gigantesco de possibilidades que por mais loucas que sejam acabam por justificar vários avanços na série. Sempre que for preciso algum ponto de viragem para surpreender o público, há ali um refúgio da equipa de argumentistas que pode ser utilizado, o que torna todos os desenvolvimentos possíveis, ao mesmo tempo que antecipa a possibilidade de existirem várias sequelas nesta história.
Porque sim, A Lista não é o tipo de projeto que, à primeira vista, ficará por apenas uma temporada. Há muito sumo. Até mesmo no que diz respeito às dúvidas na vida pessoal dos protagonistas. Todos eles parecem ter as suas próprias questões, não são rasos, e já nos deram neste primeiro capítulo um sneak peek de que vai existir espaço para lhes dar desenvolvimento. A questão é que muitos desses dilemas dos personagens são problemas e temas importantes e bastante ricos que, de certo, não serão resolvidos em dois ou três episódios, logo, se pudermos arriscar, a segunda e terceira temporadas da série são quase inevitáveis.
Este foi o episódio de Patrícia, com muito de Alice, mas seria ótimo, e é até expectável que aconteça, que em cada episódio um dos elementos do grupo assuma o protagonismo. Sobretudo Paulo e Bruno parecem ter muitos problemas para colocar em debate, e que são urgentes de discutir, são o tipo de arcos que a sociedade, e com especial foco nas camadas mais jovens, precisam de ouvir falar, de verem apresentados, e explorados com veracidade, realismo e cuidado para quebrarem estereótipos. Até agora, do pouco que nos foi possível ver, parece que essa verdade será refletida, por isso, de antemão deixamos os nossos parabéns.
No meio de tanta coisa que acontece neste episódio temos, ainda, espaço para abordar um pouco do núcleo profissional de Alice, com o profissionalismo em debate e com uma abordagem da vida dentro daquele escritório de advogados que traz algumas memórias do enredo da construtora da personagem de João Lagarto em Mulheres, da TVI. Certo é que aqui podemos ter a certeza absoluta que essa linha da trama será bem desenvolvida, porque um dos maiores destaques do enredo da novela da TVI foi, precisamente, esse núcleo que abordava a competitividade e a falta de espinha dorsal quando o assunto é subir na carreira.
Há ali muito espaço para dramas e discussões muito mais atuais e para dar uma perspetiva mais transversal à mensagem geral da série. Isto, para além de conjugar um outro tipo de público que não iria ver a série apenas pela proposta mais Young Adult que tem. É a tal perspetiva de híbrido entre as duas linguagens que dá um cunho diferente a esta série, e que até acaba por casar muito melhor com os dramas colombianos que temos disponíveis na Netflix.
Mas comparações à parte, há uma originalidade e uma ousadia na abordagem que tornam A Lista em algo diferente, com os clichês colocados no ponto acerto ao ponto de os conseguirmos suportar e, espantosamente, ao ponto de não deixar a nossa veia treinada de detetives vir ao de cima e desfazer todos os mistérios num único piscar de olhos. Funcionam, e muito bem.
Em geral, há muito cuidado e uma defesa enorme para possíveis momentos em que a série precise de ganhar mais força. A experiência dos autores fala por si, com mecânicas inseridas na narrativa que nos dão justificações para esperarmos quase tudo sem perder a coerência, que é algo que criticamos em muitas das super produções Young Adult que fazem sucesso além fronteiras.
O elogio estende-se, também, ao elenco que conseguiu reunir alguns dos nomes mais promissores do meio artístico nacional com personagens que lhes dão espaço para brilhar, pelo menos à primeira vista. De Luís Ganito a Soraia Tavares, com Filipe Matos e Bruna Quintas pelo meio, o elogio é de ponta a ponta, sempre a deixar-nos com a sensação de que ainda não vimos nada.
Garantido está que a proposta de mostrar que em Portugal também se conseguem fazer grandes projetos comerciais que cativam o público que anda perdido pelas plataformas foi conseguida. Já tínhamos essa certeza com A Generala e O Clube, mas A Lista é o carimbo que faltava, por tentar relacionar-se com uma franja de público que já não está, na sua larga maioria, habituada a consumir ficção nacional, e que acima de tudo é muito exigente porque há um número gigantesco de séries que fazem parte da mesma oferta que A Lista. A qualidade está lá, o mistério está lá, o talento está lá, e não parecem existir razões para que o público não se deixe envolver no drama dos origamis.
É atual, é ousado, e comercial, encaixa bem no conteúdo mainstream e por isso é mais um rasgo inspirado que prova o valor da OPTO para o mercado audiovisual nacional. Para já está aprovado, e parece-nos que não será a última vez que vamos falar de A Lista por aqui. Fiquem connosco.
Comente esta notícia