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COMING UP | La Casa de Papel

Voltamos ao assalto! La Casa de Papel é uma série de emoções fortes, capaz de ir para o momento mais dramático para sequências de ação que deixam bem presente a aposta alta da Netflix na série. É uma série familiar, com a palavra família a ganhar ainda mais destaque nesta quinta temporada, em que essa ligação afetiva do público com os personagens se revela fundamental para aguentarmos alguns desaires na narrativa e conseguirmos chegar ao final triunfal que tem tudo aquilo que um fã da série quis ver. Corta a respiração, quase que beira as lágrimas e sobretudo abre espaço para uma avalanche de possibilidade que um bom fã de La Casa de Papel adora para poder teorizar. Fica connosco em mais uma edição do Coming Up onde te desvendamos tudo sobre o princípio do fim da saga dos nossos assaltantes favoritos! 

Depois de um final da quarta parte que enrolou um pouco e não nos deu as explosões a que estamos habituados, esse ritmo mais lento continua no arranque desta nova sequência com um primeiro e segundo episódios que trazem um breve contexto sobre onde está cada um dos personagens, estendendo-se um pouquinho demais, mas que faz sentido para que possamos dar valor ao que acontece depois. 

A mecânica de construção é a mesma que já vimos anteriormente: Estão numa situação limite, com zero possibilidades de solução num clima de tensão que só se adensa enquanto o lado da polícia vai mostrando todo o seu esplendor e as suas possibilidades. É um prova de resistência inicial para o público, mas que é compensada, e bem, a partir do episódio três.

A sequência em que Sierra dá à luz é um reinício. É o espetáculo da vida, nos jogos fadados pela sorte e pela lógica a triunfarem de novo, com a trama a reencarnar nos moldes da primeira temporada, com muito mais foco na estratégia, na lógica, e nas soluções que são, de facto, credíveis e não cartas entregues pelo Deus Ex Machina que durante este segundo assalto tem tido muitas aparições para solucionar problemas. 


Tudo acontece em simultâneo com bom ritmo, e com as quebras para viajarmos ao passado de Berlim a servirem para segurar bem os momentos de suspense. E já que falamos em Berlim, esperamos mesmo que a série justifique bem o tempo que está a gastar para dar sustento àquela história e que não sejam apenas um capricho para continuarem a utilizar um dos personagens mais carismáticos de La Casa de Papel que até aos dias de hoje se devem arrepender de ter morto na primeira temporada. 


Por mais que seja uma ótima solução para dar um pequeno intervalo nos momentos de tiros, porrada e bombas, rouba tempo a alguns dramas que poderiam ter sido melhor explorados, por isso, é bom que o elemento chave para a resolução de todo este imbróglio esteja no bolso de Berlim, ou neste caso de Rafael, porque só assim La Casa de Papel justifica a insistência com Berlim, mesmo depois de já termos perdido personagens tão impactantes como Nairobi e de não lhe ter sido entregue o mesmo destaque. 


Aliás, La Casa de Papel está num ponto em que não está a conseguir gerir o número de personagens que tem, não está a entregar a densidade que é devida a muitos deles, e colocar mais uma figura nesta história neste momento pede uma justificação gigante, que não sabemos até que ponto o guião com o número de episódios que tem pela frente conseguirá entregar. Isto sem retirar ao personagem o carisma que tem, e as múltiplas possibilidades que ele traz para o futuro, até mesmo para um possível spin-off



Enquanto isso, dentro do Banco, temos Lisboa a assumir um maior controlo e a comandar, tal como expectável, as operações a partir de dentro e a trazer o elemento chave que esperamos dela desde que se juntou ao bando: A experiência policial. Finalmente ela faz justiça ao seu passado, entendendo o que se está a passar nos meandros das negociações e controlando o pânico antes da redenção. 


Temos Denver e Estocolmo num drama em loop, que até poderia ser interessante mas que envolto em tudo o que está a acontecer à volta parece um briga de miúdos pouco interessante numa guerra de impulsos que mostra bem o quão frágil é a sua ligação, destruindo o romance que ali existe. 


Aliás, de forma subtil, a introdução da paixão de Manila já é um bom indicativo. Mesmo que acabe por não resultar em nada de consumado já serviu para nos provar que até Denver, que parecia ser, estranhamente, o elemento mais sólido daquele relacionamento começa a ter dúvidas se tudo aquilo não foi apenas um fruto do momento, agora que as diferenças entre ambos estão mais expostas que nunca. 


E por falarmos em Manila, um aplauso para a forma como têm tratado a personagem. Ela é, talvez, a que mais desenvolvimentos novos e camadas recebe nesta nova parte, conquistando o público numa jornada que tem tanto de bom como de suspeito, porque com um foco tão grande colocado em cima dela as probabilidades de que algo não corra bem são ainda maiores. E o destino não parece reservar nada de muito risonho para Manila durante o assalto. Foi claramente um salto maior que a perna para ela, e talvez as suas inseguranças possam trazer uma de duas opções: Ou um destino trágico para a personagem ou então colocar em causa algum dos planos. Certo é que ela não vai passar despercebida.


Despercebido passa Palermo, que depois de uma jornada épica que passou de anti-herói a um apaixonado e romântico, nesta primeira parte teve poucos momentos de destaque. Apesar da cena em que Helsínquia é ferido ser importante para o percurso da personagem se redimir aos olhos dos fãs, Palermo passou de protagonista a secundário de um momento para o outro, e num timing que era crucial para que o público se afeiçoasse a ele e lhe perdoa-se por indiretamente ter sido o responsável pela morte de Nairobi. 


O luto pela personagem está a ser feito na pressão, o que até se entende dadas as circunstâncias, mas esse é um dos temas que a história está a segurar para nos surpreender depois, porque toda a mágoa dos personagens e a raiva acumulada com Palermo acabará por explodir mais cedo ou mais tarde, até porque convenhamos que apesar de inteligentes, os assaltantes deste bando têm na sua larga maioria uma coisa em comum: Todos se guião na base do impulso. E nem Helsínquia será suficiente para salvar Palermo. Parece que estamos numa fase em que o grupo entendeu que Palermo é melhor como aliado do que como inimigo, mas nem por isso, ao contrário dos restantes, ele é um membro da família. 


Mas na lista de personagens que passaram quase despercebidos há um claro vencedor, Rio. Rio é uma daquelas figuras que já não tem mais sumo, já não há nada para dar porque o argumento assim o quis. Não há um esforço visível para tornar o personagem mais relevante, e esta parte tornou isso bem claro com Rio a orbitar sobre Tóquio com meia dúzia de diálogos, sem momentos de tensão que o colocassem no centro da ação, pelo menos até ao episódio final.



Vamos falar sobre o elefante na sala, o final. O momento em que La Casa de Papel renasce de todos os momentos em que engonhou e consegue escancarar surpresas atrás de surpresas sem que consigamos tirar os olhos do ecrã por um segundo. Entregou tudo aquilo a que tivemos direito numa dinâmica que nos faz voltar a apaixonar pela série e que reitera bem que ninguém está a salvo. 


Ser popular entre os fãs é sinónimo de um final trágico mas heroico em La Casa de Papel. Já devíamos ter entendido isso com Berlim e Nairobi, mas provavelmente ninguém estava preparado para ver Tóquio entre as vítimas dos autores. Deitando por terra toda e qualquer teoria que circulasse na internet, Tóquio despediu-se, tal como sempre, em grande estilo, culminando a sua jornada numa entrega total à família que conquistou e mostrando bem a sua evolução como personagem, de rapariga independente e com perdas mal resolvidas que a impediam de sentir afeição real por outros até que no seu último suspiro ela se entrega totalmente às ligações que fez e utiliza a sua morte mais que certa como arma de arremesso para dar a liberdade aos seus companheiros de resistência. 


Foi uma pedrada no charco, mas atirada no momento certo com estrondo que nos deixa ainda com mais expectativa para o final. Mas à parte disso tudo, a morte Tóquio traz algo ainda melhor para a série. Tóquio sempre foi protegida, e esteve debaixo do holofote, foi extremamente bem desenvolvida, mas roubou a cena durante cinco temporadas, é uma ladra de protagonismo. 


Sem personagens tão marcantes e com presença tão forte quanto Tóquio, Berlim ou Nairobi, abre-se uma nova porta para explorar os restantes elementos do bando, para lhes dar consistência e questionamentos que valham a pena. Para Rio, por exemplo, pode ser um pouco de viragem para que ele possa aproveitar a sua raiva para ter um papel mais ativo. Mas pode ser igualmente bom para Denver ter mais tempo para desenvolver os seus dramas que até então são bem rasos, ou para Manila continuar a ser uma aposta forte.


Esta é uma temporada que está alinhada no dinamismo mais comercial possível, com sequências de luta que nos deixam empolgados e menos explicações estratégicas que o habitual, relegando, até, o Professor para um papel mais secundário em algumas partes. Mesmo que no seu todo não seja perfeita por não conseguir resolver a maioria dos problemas que apresentou durante os eventos da última metade da quarta temporada, é impossível negar o aumento de qualidade. Ao contrário do encerramento da quarta parte, aqui temos finalmente desenvolvimento, conteúdo, e um trabalho criativo que se sustenta para trazer surpresas, com plot twists que, de facto, não antevemos. 


Um dos principais defeitos que La Casa de Papel tem é a necessidade de recorrer sempre aos personagens carismáticos sem explorar os novos integrantes do elenco. E é algo que chega a ser um tanto ou quanto ridículo, porque os autores sabem criar personagens interessantes mas não os conseguem desenvolver no tempo disponível porque voltam sempre ao ponto seguro com personagens como Berlim ou Arturito. 


E se Berlim tem a sombra de ser um elemento fulcral para o plano, Arturito é um empecilho que já poderia ter sido eliminado há muito tempo. Mesmo o seu drama com Estocolmo é algo tão banal e clichê que acaba por ser anticlímax. Queremos mais Sierra e mais Lisboa, que são duas das personagens que mais precisam de mostrar todo o seu esplendor. 


Sobretudo Sierra, que tem um magnetismo gigante e que tem do seu lado a vantagem de não sabermos bem qual é o seu posicionamento no meio de tudo isto, sabemos apenas que ela é louca o suficiente para ir até onde for preciso para se salvar. Esperemos que lhe façam justiça, porque ela precisa de ter mais destaque, sobretudo depois da sequência do nascimento da sua Victoria que se tornou num dos melhores momentos da série no seu total. 


Que venha depressa o final, temos tantas questões que se torna quase impossível que consigam responder a todas, mas vamos confiar. Continuemos o atraco!