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Miúdos que Já São Graúdos - Gonçalo Lima

 

Estreou-se em televisão na série O Clube das Chaves e, depois desta, participou noutras produções juvenis da TVI. Seguiram-se alguns trabalhos no pequeno ecrã, mas a carreira de Gonçalo Lima passa agora, maioritariamente, pelo teatro. Habituado aos palcos e com os musicais a assumirem uma grande importância no seu percurso, também as dobragens e a música marcam a vida profissional do ator. Vem conhecer Gonçalo Lima, nesta edição do "Miúdos que já são Graúdos".

Em 2005, estreava na TVI a série O Clube das Chaves, onde interpretavas o pequeno Vasco. Na altura, com 11 anos, o que mudou na tua vida com a participação nesta série?
Muita coisa mudou na minha vida nessa altura. Na verdade, foi o início das grandes mudanças que foram acontecendo. Continuei a estudar, obviamente, e a tentar sempre ser um aluno exemplar, mas juntamente com isso tinha textos para estudar e decorar em casa, tinha as gravações da série propriamente ditas e ainda alguns eventos ou ações de promoção que estavam associadas à serie, em que era necessário estar presente. Portanto na realidade o meu tempo livre reduziu drasticamente, mas a diversão e o prazer de estar a trabalhar naquela série, com toda a equipa incrível que tínhamos, compensaram tudo.

A verdade é que o Vasco não era só o “miúdo tímido” que aparentava, era na verdade o “Fantasma da Ordem”, a resolução de grande parte dos enigmas. Como foi interpretar esta personagem?
Confesso que ao início fazer a série me pareceu assustador e tive medo de não corresponder às expectativas. Rapidamente esse sentimento se desvaneceu com os primeiros ensaios. Ter tido a possibilidade de me estrear com uma personagem assim em que houve espaço para explorar e desenvolver uma personagem tão rica, foi uma dádiva. Era uma personagem cheia de camadas e foi um grande desafio, que me deu tanto trabalho quanto gozo.

 

 O projeto teve um grande impacto junto do público, tendo sido reexibido durante vários anos na televisão. Ainda hoje és reconhecido pela série? Como lidas com esse facto?
É engraçado que ainda hoje há quem me reconheça e identifique imediatamente quem sou. Há também algumas pessoas às quais a minha cara não lhes é estranha, mas não identificam imediatamente de onde será. Confesso que não consigo perceber como é que isso acontece... Acho que estou tão diferente... Eu não me reconheceria! (Risos)

Seguiram-se as participações na série Detective Maravilhas, Malucos & Filhos e Morangos com Açúcar. Sempre sonhaste ser ator?
Acho que desde que me lembro que quero ser ator. Lembro-me de ser muito miúdo e adorar as apresentações de Natal do colégio, em que tínhamos sempre actuações muito variadas. Adorava a adrenalina desses dias e de ter aquela gente toda a ver. Óbvio que também fazia as minha "palhaçadas" em casa, para um público mais familiar e ficava sempre em êxtase com as pequenas cenas e apresentações. Acho que foi por volta dos 8 anos que tive a certeza que queria ser ator. Lembro-me de dizer à minha mãe que queria ser ator e para irmos "tratar disso".

Na altura, como viveste esta evolução no teu percurso televisivo?
Foi muito enriquecedor poder ter tido a possibilidade, logo no início do meu percurso, de trabalhar em projetos diferentes e com outras pessoas. Acho que foi o momento perfeito porque nessa altura sentia-me uma autêntica esponja, a absorver conhecimento de todos os lados. Sempre tive uma noção muito grande de que há muita coisa a aprender para se ser bem sucedido. Devo isso à minha primeira professora nestas andanças, que mais tarde veio a ser também minha diretora de atores no Clube das Chaves, a Rita Alagão. Ainda hoje é a minha bússola em momentos de aperto e de dúvida. É, e acho que vai ser sempre, a minha referência mais pura.



O teu último papel em televisão foi com uma participação especial em A Herdeira, há cerca de 3 anos. Tens saudades de representar para televisão?

Sim, nessa novela tive o prazer de fazer um jovem hacker e foi bom voltar a fazer televisão depois de alguns anos fora do plateau. Sinto saudades, sim... É diferente do registo dos trabalhos que tenho feito nos últimos anos, e acho que vai ter sempre num lugar especial no meu coração, porque foi como me estreei e isso não se esquece.

Numa altura em que as plataformas de streaming ganham cada vez mais destaque em todo o mundo, achas que a aposta neste formato em Portugal é também uma realidade?
Sim, acho que sim. Aliás, já está a surgir conteúdo exclusivo para essas plataformas e acho importante que assim o seja. É bom acompanhar a maré do que se faz lá fora para melhorar e potenciar o que se faz cá! Acho que as plataformas de streaming vieram dar um novo boost à produção audiovisual em Portugal, estávamos a precisar!

Tens também desenvolvido alguns trabalhos de voz. É um tipo de desafio que te agrada?
Trabalhar com a voz sempre foi algo a que dei muita importância. A voz pode definir uma personagem e, tal como a corporalidade, temos muito por onde explorar. Mais recentemente comecei a desenvolver algum trabalho como locutor, mas essencialmente como dobrador e descobri uma nova paixão. É incrível como apenas com a voz, sem a tal parte da corporalidade, conseguimos passar todas as emoções e dar vida a uma personagem. Tem sido maravilhoso viver esta paixão. Felizmente já tive possibilidade de fazer de tudo um pouco e de experimentar muita coisa em tão pouco tempo. 

Nesta área da voz e das dobragens, que projetos destacas?
É difícil escolher projetos para destacar, mas já que falamos em plataformas de streaming posso destacar o meu primeiro projeto em dobragens que foi para a Netflix, Doze, Para Sempre. Na mesma plataforma também dei voz a alguns projectos como A Viagem de Chihiro, Julie And The Phantoms, A Week Away, Sente o Ritmo, etc. Recentemente realizei um dos meus maiores sonhos e fui parte integrante do elenco da versão portuguesa de uma série da Disney juntamente com a Pixar: Monstros: Ao Trabalho.

Atualmente, o local onde te podemos ver mais vezes como ator é mesmo o palco e contas já com várias peças de teatro no currículo. Como tem sido este percurso?
Fazer Teatro é das coisas que mais prazer me dá, seja ele de que tipo for - Comédia, Tragédia, Musical, Teatro para Bebés, etc. Pode parecer um clichê, mas no palco consigo purgar todas as minhas frustrações. Acaba por ser uma terapia, e ainda me pagam para isso! Não podia ser melhor.

Protagonizaste peças como A Volta ao Mundo em 80 Dias, Tom Sawyer, Peter Pan ou Os Três Mosqueteiros. Como é trabalhar num registo familiar, sobretudo no teatro, onde tens a reação do público no momento?
Como já disse anteriormente, o Teatro para mim é uma terapia e poder receber o calor e a energia do público é o que potencia mais a realização pessoal. Fazer espetáculos para público familiar é delicioso. As crianças e os bebés são super livres e refletem precisamente o que estão a sentir, e para nós, que estamos no palco, é maravilhoso receber esses estímulos.



No Teatro Musical, contas no currículo com espetáculos como Romeu e Julieta: Do Ódio ao Amor, A Conquista: O Musical, Peter Pan no Gelo ou Hakuna Matata – O Musical. Enquanto intérprete, qual a importância da música da tua vida?
Descobri a música como parte de mim há poucos anos, e foi precisamente nessa altura que percebi que poderia fazer Teatro Musical e juntar o canto a tudo aquilo que já adorava fazer. Sinto-me muito realizado em todas as valências sempre que tenho a possibilidade de fazer um musical. Sinto que a música e o canto nos ajudam a expressar emoções que só com a fala já não somos capazes.

Em cinema, apenas participaste na curta-metragem Salmiakki, em 2013. Gostarias de ter mais oportunidade no grande ecrã?
Acho que ainda não senti "o chamamento" do cinema. Acredito que ele venha a surgir, mas não me imagino, pelo menos para já, a trabalhar muito "no grande ecrã".

Num ano particularmente difícil para a cultura em Portugal, achas que é urgente haver mudanças no setor?
Precisamos de ser respeitados, a todos níveis. Precisamos urgentemente da dignificação da nossa carreira. Precisamos da criação de estatutos que nos protejam. E quando digo "nos" refiro-me a todos os intervenientes do meio cultural, seja qual for a sua profissão. Precisamos TODOS de sentir que existe um rumo e um futuro ao escolher ser-se artista em Portugal!

 

O que é que te falta fazer enquanto ator?
Ui, falta-me tanta coisa... Falta-me fazer tudo na verdade! Algumas coisas já escreveram o meu pequeno percurso, mas ainda há tantas outras para juntar. Acho que ainda me faltam uns belos e longos anos de percurso profissional, que quero rechear de desafios e de projetos maravilhosos.

Quais são as tuas maiores influências a nível artístico e pessoal?
As minhas grandes referências em termos pessoais na minha vida são as minhas pessoas... Quem está comigo e me acompanha. A nível artístico gosto de me deixar influenciar por algumas pessoas que já foram cruzando o meu caminho e que deixaram a sua marca. Já falei de uma, Rita Alagão, que é assim A GRANDE influência e inspiração, mas entretanto já foram surgindo mais algumas pessoas, que tento ir mantendo por perto para continuar a inspirar-me nelas.

Qual é a principal diferença entre o Gonçalo Lima de hoje e o miúdo de há 16 anos, que integrou O Clube das Chaves?
As diferenças são muitas. Aliás, arriscaria dizer que sou uma pessoa completamente diferente, mas com os mesmos sonhos e desejos. Todas as lutas e todas as conquistas pelas quais fui passando os últimos 16 anos, construíram uma pessoa muito mais forte, segura e determinada. Já não tenho a ingenuidade de criança, mas mantenho a vivacidade da altura. O Gonçalo de hoje está orgulhoso no que o Gonçalo da altura se tornou.

Vê a mensagem que o Gonçalo Lima deixou para os leitores do Fantastic:


Miúdos que já são Graúdos
Agosto de 2021
Por André Pereira

  Fotos: Direitos Reservados