Fantastic Entrevista - Mariana Monteiro: "Poder usar a visibilidade que tenho para ser uma voz de causas é algo que me deixa muito realizada"
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És natural do Porto mas mudaste-te com 16 anos para Lisboa.
Sentiste que o facto de seres natural do norte do país te iria dificultar o
processo de conquistar oportunidades no mundo da representação?
Bom o motivo da minha mudança já foi a entrada nos Morangos
então não existiu essa fase de vir para a capital à procura de um lugar no
mundo da representação. E nessa altura tão pouco sabia o que realmente queria
fazer e por isso vi nesta oportunidade uma espécie de Gap Year, uma vez que
tinha que suspender por um ano os estudos (eu ia para o 12º ano). Ia ganhar
tempo e, claro, experimentar um desafio completamente novo.
Começaste em 2005,
nos Morangos com Açúcar onde interpretavas o papel de Beatriz Gouveia. Que
importância teve para ti esta primeira oportunidade para aparecer no pequeno
ecrã?
Eu
via a minha entrada nos Morangos como um desafio, que implicava a minha mudança
do Porto para Lisboa, viver pela primeira vez sem a minha família (pais e
irmã) e portanto era, acima de tudo, uma experiência. Não pensava que ia ditar a
mudança de rumo que acabou por ter na
minha vida .
A partir daí, e até 2017, participaste em inúmeras
telenovelas, sendo protagonista em algumas delas. Como é o processo de
construção de uma personagem? Tens mais dificuldade em criá-la ou a
despedires-te dela?
No formato telenovela o tempo de ensaios é relativamente
escasso então eu costumo dizer que absorvo ao máximo o processo de ensaios, mas
é já depois do arranque das gravações que começo a incorporar a personagem. Costumo sentir que lá cheguei uns 2 meses depois. A vantagem é que como não
gravamos por ordem cronológica, depois não se percebe tão facilmente se existir
alguma fragilidade na construção inicial.
Apostaste na tua formação enquanto atriz, com diferentes
workshops não só em Portugal mas também noutros países, nomeadamente no Brasil,
Espanha e Estados Unidos. Que importância achas que a formação tem no teu
trabalho? Sentes que é importante ires acompanhando o que se vai fazendo lá
fora?
Eu não tenho uma formação convencional. Terminei o 12º ano,
enquanto fazia a minha segunda telenovela, e achava sempre que teria tempo para
ingressar numa universidade. A verdade é que o trabalho foi aparecendo de forma
consecutiva e eu não era capaz de dizer que não, até porque era isso que me
permitia estar a viver sozinha em Lisboa, e por isso sempre que posso fazer
formações curtas, workshops, assistir a palestras, não hesito. A formação é realmente fundamental para a evolução de qualquer profissional. Entre 2018 e
2019 fiz mais de 10 formações e senti que foi o tempo e dinheiro melhor investido!
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Tiveste ainda duas experiências diferentes no teu percurso, como repórter do The Voice Portugal e como apresentadora do The Voice Kids. De que forma encaraste esta oportunidade?
Mais uma vez, vi aí um desafio, uma oportunidade de sair
completamente da minha zona de conforto. Eu gosto realmente de me sentir
desafiada. E de facto, até hoje, acho que foi onde me senti mais testada e com
os nervos mais em franja. Já admirava quem comunica/apresenta, mas depois
disso, mais ainda!
Em 2014 participaste na série Mulheres de Abril da RTP e,
mais tarde, nas duas temporadas da série Ministério do Tempo. Quais foram as
principais diferenças que encontraste entre o formato de telenovela e o de
série?
Bom, são conteúdos muitos diferentes, a começar pelo número
de cenas que se gravam por dia - umas 30 em telenovela e umas 10 máximo no
formato série. Então isso permite um tempo de ensaio para cada cena muito
maior. E além disso a própria narrativa. O guião de uma série tem uma estrutura
diferente, assim como o perfil das personagens. A novela é mais exigente na
gestão das emoções porque temos que ir a muitos lugares em 12h e na série
acabamos por “saltitar” menos. O formato novela, para mim, prepara-nos para
qualquer coisa depois.
Já tiveste algumas experiências em longas e
curtas-metragens, sendo uma das mais recentes no filme Reverb, de Afonso
Pimentel. Nesta curta, gravada com uma equipa reduzida e uma produção de baixo
custo, a tua interpretação é o centro da narrativa. Como foi participar neste
projeto?
Então, eu fui a produtora desse projeto, ou seja, fui eu
quem convidou a equipa porque queria ter material a falar em espanhol e o
Afonso é realmente muito talentoso, dá cartas como ator e como realizador e
aceitou de imediato o desafio. Assim como o ator Lucas Dutra que muito
prontamente quis integrar a equipa, e deu ajuda na parte técnica e de
iluminação. Depois tive ainda o Miguel Ângelo no som. O Afonso partiu de uma
sinopse que eu tinha escrito, desdobrou em guião e com boa vontade e algumas
ajudas conseguimos um resultado final positivo.
O que é que te levou a fazer uma paragem no teu percurso
televisivo em 2017? E porque decidiste regressar, em 2019?
O motivo foi simples, trabalhava desde 2005
ininterruptamente e estava cansada e artisticamente sentia que precisava
realmente de respirar. Ter uma rotina que não fosse sair de casa e ir para um
estúdio de televisão. Comecei aos 16 anos, então entrei no mercado de trabalho
mais cedo que o normal e precisava mesmo de uma pausa. O chamado ócio
criativo.
Integraste o projeto Chamadas Para A Quarentena, uma série
inovadora que passou do digital para a televisão, sendo emitido pela RTP com o
nome O Mundo Não Acaba Assim. Como foi fazer parte deste produto gravado
inteiramente à distância, durante a quarentena?
Foi uma lufada no meio de tempos tão estranhos que
vivemos. Era por um lado estranho que tivesse que descer para apanhar um
telefone com umas luvas e desinfetante, mas saber que podia por um pouco
representar e além disso fazer companhia a quem depois ia assistir. Porque
apesar da distância física que essa fase reclamava nunca estivemos tão unidos.
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Em 2019 protagonizaste Terra Brava, novela que viu as gravações suspensas, devido à pandemia. Devido às restrições de segurança, foram gravadas cenas da novela, que incluíam um beijo, com recurso à técnica chroma key, algo muito pouco comum em telenovelas, devido à sua exigência técnica e financeira. Como enfrentaste este desafio?
Ficará certamente na história, sobretudo as imagens de
ensaios porque estamos todos de máscaras, a cumprir as distâncias e portanto
tudo anti-natura. Não poder fazer uma “festa” ao meu filho da história ou
abraçar um colega de cena foi muito estranho, mas também ficou provado como nós
seres humanos nos adaptamos tão rapidamente às circunstâncias.
Em 2020, fizeste parte da peça Romeu e Julieta. Quão diferente é a construção de uma personagem para teatro em relação ao trabalho para televisão? Gostarias de voltar a fazer teatro em breve?
Vamos voltar a cena ainda este ano. Vamos estar em Dezembro,
no teatro Virgínia e no teatro Aveirense portanto aproveito para dizer que quem
não viu, ainda tem esta oportunidade. Foi um projeto incrível e o que mais
gosto em teatro, além do sentimento de estar no "aqui e agora" onde não há
cortes, é todo o processo de ensaios. O John Romão fez um trabalho connosco de
pesquisa, exploração e de corpo muito interessantes.
Na RTP1, vamos poder ver-te no telefilme Na Hora dos
Lobos. O que é que nos podes contar acerca da tua personagem?
Posso contar que foi a primeira Mariana a quem dei vida e
que é uma personagem bastante forte, com um percurso dramático mas ao mesmo
tempo um exemplo de luta. Ser dirigida pela Maria João Luís foi a cereja
no topo do bolo.
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Fiquei bastante sensibilizada quando me fez o convite,
porque é uma responsabilidade grande, mas que me faz muito sentido. Poder usar
a visibilidade que tenho para ser uma voz de causas é algo que me deixa mesmo
muito realizada. A Catarina é um exemplo enquanto mulher, mãe e profissional.
Lançaste dois livros infantis sobre a igualdade de
género, em 2015 e em 2018. Sentes que o facto de teres uma exposição pública
acarreta uma responsabilidade de abordar e ter um papel ativo em temas
importantes como este?
Ora bem! Acho que podemos tirar o melhor partido possível da
exposição que temos, com compromisso e consciência de que podemos fazer a
diferença. Aliás, qualquer pessoa pode fazer a diferença, quanto mais alguém
que tenha um publico com maior alcance.
Quais são as tuas maiores aspirações nacionais e
internacionais?
Gostava muito de fazer mais teatro e de ter mais projetos em
cinema.
Se te voltássemos a entrevistar daqui a 10 anos, o que gostarias de estar a fazer nessa altura?
Se há coisa que aprendi com a pandemia foi a não pensar a tão longo prazo, então em vez de responder ao que gostaria de estar a fazer, prefiro dizer que gostava de me sentir bem comigo e realizada pessoal e profissionalmente.
Fantastic Entrevista - Mariana Monteiro
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