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COMING UP | Control Z

De volta ao Colégio Nacional, Control Z traz uma nova temporada recheada de arcos interessantes enquanto enfrenta os mesmos problemas de outras séries Young Adult da Netflix, como Outer Banks ou a quarta season de Élite. Contudo, os defeitos não apagam a criatividade e o enredo sumarento que a segunda temporada nos traz. Bem melhor que a primeira, e com uma mensagem moral importante incluída sem se tornar demasiado óbvia, este é um exemplo de como ainda há margem de manobra para desenvolver dramas com mistério sem cair diretamente no clichê. Falamos disto e de muito mais em mais uma edição do Coming Up, fica connosco e sabe o que temos a dizer dos novos capítulos de Control Z

O ritmo da primeira temporada de Control Z já nos tinha conquistado, com personagens saboreados, arcos verdadeiramente interessantes, com uma quota parte de representatividade que é necessária mas sem que toda a história se debruçasse em torno disso, e um mistério que expressava bem o principal mote deste enredo: o Bullying

Tudo isso continua lá, sem quebras de ritmo, sem se perder nos vários arcos, mas com um ponto negativo em comparação com o argumento da primeira leva de episódios, desta vez há menos espaço para que as personagens se desenvolvam, ou melhor para que algumas das personagens tirem alguma lição própria. 

Mesmo sem falhar inteiramente em dar consistência às personagens, há arcos com narrativas muito mais fluidas que outras. É isso acaba por fazer parecer que há algumas figuras desta história que andam em círculos desnecessários e que servem para criar apenas um apontamento de tensão nos episódios. É o caso claro de Pablo, que se tornou oficialmente o personagem mais desnecessário de toda a trama. 


É coerente nas suas atitudes, mas a sua revolta parece ser apresentada sempre da mesma forma e sem que lhe seja dada oportunidade para que nós, enquanto público, o entendamos verdadeiramente. Em todos os episódios há um momento de pancada entre Pablo e Raúl. 


E se nos primeiros capítulos até fazia sentido tendo em conta o background das duas personagens, acaba por cair no ridículo quando é repetido uma e outra vez, levando-nos a odiar cada fala que ele dizia. Parece que ele se tornou numa figura oca, com uma raiva que só se transmite na violência e que a única função dele no enredo é simplesmente agredir Raul, sem que isso traga uma consequência real para a trama, dado que mesmo com uma série de episódios de violência parece que os personagens têm algum super poder de cura, pois raramente ficam com lesões expressivas. 


Nem mesmo o relacionamento com Maria o salva. Andam oito episódios em círculos sem solução e sem uma conclusão que os leve de facto a algum lugar. Numa série onde todos parecem correr riscos de vida, Pablo salta para o topo da nossa lista de personagens a eliminar em breve. 



No fundo há demasiadas personagens com muito sumo e caminhos em aberto, e parece que a dada altura o tempo de cada episódio não é suficiente para dar a devida resposta às necessidades de cada arco. É algo muito semelhante ao que acontece com a quarta temporada de Élite, onde poderíamos cortar Patrick que o impacto seria zero, ou em Outer Banks, em que Kira serve apenas para encher o ecrã e reforçar o número de elementos do núcleo principal. 


No auge de alguns arcos mais interessantes ver o desenrolar do triângulo amoroso de Maria, Cláudia e Pablo dava vontade de passar essas cenas à frente, e o pior é que no final de contas se o tivéssemos feito não iríamos sentir diferença nenhuma porque na conclusão eles estão exatamente no mesmo ponto em que ficaram no final da temporada anterior. 


Mudando de personagem, temos Javi, que demorou para se impor entre os núcleos centrais nesta segunda temporada e que nos apresentou um twist abrupto que parece definir um complexo estranho no personagem, como se ele sentisse sempre uma atração pela maior vítima no meio dos dramas. 


Depois do drama com Sofia, avança para Natália de um momento para outro e quase que parece passar uma borracha por tudo aquilo que lhe aconteceu antes, quando isso faz zero sentido na conceção da personagem. Até podem dar a justificação de que ele tentou seguir em frente perante a rejeição de Sofia mas não é isso que o final da temporada entrega, logo foi algo um pouco forçado para quem assiste, apesar de que no resumo das contas até serviu para acrescentar um problema polémico e interessante ao rumo da história, e que ao contrario do que acontece com Pablo nos dá real vontade de acompanhar cada detalhe. Ponto positivo para a criatividade neste ponto.


Mas não é apenas neste ponto que Control Z merece um aplauso pela forma original com que desvia a história de um rumo mais básico. Depois do mistério da temporada anterior ter sido exímio, a façanha repete-se aqui e numa lógica muito mais densa, que torna tudo muito mais frenético. Primeiro porque nos faz questionar uma e outra vez a nossa atenção, com detalhes que deixam pistas interessantes e que reforçam o enredo e o elevam muito mais quando comparado com outras séries juvenis que tentam entrar por este caminho, como Outer Banks por exemplo. 


A narrativa agarra em algo que já nos foi apresentado anteriormente, os desenhos de Luís, e parte da mente psicótica dele para fazer um retrato sobre o bullying e sobre o quão traumático isso é para cada jovem. Sim, estamos a assistir a jovens com atitudes extremistas e fora do comum, felizmente, mas também estamos a trabalhar com um alerta constante para criar uma real consciência do quão dramático é fazermos certos comentários, termos certas atitudes, e até onde isso poderá levar no futuro. 


É um alerta extremista, mas é, também, um alerta necessário e suficientemente impactante para despertar a curiosidade num enredo que não se fica simplesmente por um culpado, que não relativiza nenhuma atitude e que acima de tudo, traz uma abordagem realista a vários tipos de bullying. Não nos ficamos pela abordagem leve de que bater no outro é mau, ficamos com a exposição de todos ali disponível para que possam ser criticados, apresentado as fragilidades de cada um. No fundo, o grande toque de criatividade de Control Z é trazer uma história sobre uma escola de meninos ricos, tal como tantas outras, mas despindo-os da sua altivez, fazendo-os descer do salto para entenderem que são tão pobres de espírito. 



É esta a mensagem que nos prende e também a chave que torna Raul num personagem polémico mas defensável, numa construção do suposto vilão que é muito mais rica que muitos filmes ou séries com maior budget e destaque. 


Com tudo o que fez, Raul continua a conseguir segurar a nossa empatia e ainda nos faz questionar até que ponto o que ele fez está errado. Todos o culpam, mas será que ele está assim tão errado em fazer o que fez? Será que foi por culpa dele e de Gerry que Luís morreu? Ou será que foi pela falta de humildade em saberem aceitar que todos têm falhas e coisas pelas quais poderiam ser vitimas de bullying


O assassinato social é o pior, e a série trabalha isso muito bem, numa análise expressiva da forma como a sociedade se comporta que é pouco expectável em tramas que tendencialmente são mais assistidas pelos adolescentes. A anarquia instalou-se nesta temporada, mas se há uma coisa que podemos concluir é que aqueles alunos pouco ou nada retiraram do que aconteceu no ano anterior. 


O plano de Raul falhou, e não pela morte de Luís, mas sim por ele ter morrido em vão. À parte disso, a dupla composta por Yankees Stevan e Patrício Gallardo rouba os holofotes quase sempre. Têm em mãos os dois personagens com maior margem de progressão, à semelhança de Macarena Garcia Romero e a sua Natália, e não os deixam cair. 


A empatia que já sentíamos com Gerry antes só cresceu e fez-nos sofrer com a morte iminente por acharmos por breves momentos que ele nunca teria oportunidade de ser realmente feliz, de se descobrir, de se conhecer. Palmas, ainda, para os diálogos do personagem na cena em que conhece Pipe que carregam uma genuinidade sobre o preconceito que é pouco habitual em muitas das tramas que abordam a homossexualidade e o processo de autoconhecimento de um jovem. Estavam no ponto e deixaram o ator brilhar mais uma vez.


Com uma versão mais negra de Gossip GirlControl Z entrega tudo o que esperávamos numa segunda temporada que corrige alguns dos erros da anterior e que abre um número infinito de possibilidades para um terceiro ano sem se perder e sem deixar de ter diálogos credíveis e maduros dentro de uma história teenager


Temos um pouco de tudo o que se passa na cabeça de adolescente, numa versão quase distópica do que acontece no mundo real caso não existissem regras. Até onde chegaria o bullying numa sociedade em que reinasse o poder do dinheiro? 


Claro que há ainda espaço para discutirmos a privacidade e os limites da exposição a que Raul os trouxe, mas apesar disso nenhum deles fez uma autoanálise para entender onde errou. E quem o fez acabou por ter uma atitude ainda mais drástica e pior ainda que a de Raul. A vingança de Alex, apesar de justificada, foi vazia, porque não a fazia chegar a lado nenhum. Foi um descartar de responsabilidade culpando todos os outros, mas nenhum deles lhe deu crédito, porque estavam demasiado ocupados em resolver os seus próprios esqueletos. 


Talvez os eventos da terceira temporada tragam a devida redenção, numa proposta que se aproxima muito do plot twist da terceira temporada de Élite. Certo é que com a série espanhola funcionou, por isso aqui não há margem de erro, é esperar para ver. 


Uma última adenda para elogiar os cenários executados de forma excelente, assim como toda a imagem e fotografia cuidada da série que deixam inveja a muitas outras produções com maiores orçamentos. A atmosfera mais pesada casa de forma perfeita com a temática da série e ajuda-nos a envolver com as personagens e os seus dramas numa maratona facílima de fazer. Rezemos para uma renovação rápida porque há muito terreno para ser ainda melhor.