Fantastic Entrevista - Duarte Gomes
Foi o protagonista da famosa série infantil As Pistas da Blue, da RTP, pouco tempo depois de concluir o Curso Profissional de Artes e Espetáculos do Chapitô. Em 2007, Duarte Gomes integrou o elenco da série juvenil Morangos com Açúcar (TVI), seguindo-se outros projetos como Destino Imortal, O Bairro, O Beijo do Escorpião (TVI), Sim,Chef! (RTP) ou Vidas Opostas (SIC). Atualmente, podemos vê-lo na telenovela Bem me Quer, da TVI, onde dá vida a Nuno. O Fantastic esteve à conversa com o ator para conhecer melhor o seu percurso profissional.
Realizaste o Curso Profissional de Artes e Espetáculos do Chapitô, bem como vários workshops em teatro, interpretação pela televisão e até dança contemporânea. Que importância achas que a formação tem no teu trabalho? Pretendes continuar a apostar na formação?
A formação permite-nos ter mais ferramentas para enfrentar os vários desafios que vamos encontrar em futuros projetos e personagens. Permite-nos abrir os horizontes. Mas na verdade, não há uma fórmula certa para nos tornarmos atores. Há vários profissionais na área sem qualquer tipo de formação académica que são incríveis. No entanto, tendo em conta a minha experiência pessoal, eu aconselharia qualquer pessoa com ambições em seguir esta área a pesquisar os vários cursos profissionais ou de ensino superior que existem. Não só pelo que já disse anteriormente, mas também porque a entrada no mercado de trabalho acaba por se tornar mais acessível. Esta é uma profissão que nos obriga a uma contínua aprendizagem, a um contínuo “reciclar”. Não existe um limite para a aprendizagem, por isso acredito que irei continuar a apostar na formação.
Começaste o teu percurso em formatos infantis como Pistas da Blue, ZigZag e Ilha das Cores. Como foi para ti trabalhar para um público formado essencialmente por crianças?
As crianças são o público mais sincero de todos: quando gostam, gostam, quando não gostam, não gostam. Por isso posso dizer que a margem de erro é pouca (risos). Na realidade, apesar destas séries serem para um público jovem eu não tinha contacto direto com ele, mas quando mais tarde recebi o feedback através dos pais fiquei muito feliz por saber que o meu trabalho estava a ser útil para a base de aprendizagem. Eu adorei a experiência.
Em 2007, as portas do pequeno ecrã abriram-se novamente para ti e integraste a série juvenil Morangos com Açúcar no papel de Tomás Monteiro. Como encaraste na altura esta oportunidade de fazer parte de uma série que era vista como uma escola de atores? Olhando para trás, de que forma este projeto te influenciou enquanto ator?
Foi uma grande oportunidade! Quando recebi o convite para os Morangos com Açúcar estava a fazer teatro e a série infantil A Ilha das Cores da RTP. Nesse momento era importante para mim que o público me visse noutros registos e a oportunidade chegou no momento certo. Eu sou da “team” que adorou fazer "Morangos" e que respeita o projeto, porque não era só uma série juvenil que abordava os problemas daquela geração, era também, como dizes, uma escola e uma rampa para outros voos. Aliás, basta olhar para o mercado televisivo atual onde quase todos os profissionais integraram esse projeto. Tenho muita pena que tenha terminado.
A partir daí, seguiram-se inúmeros projetos em televisão, não só em formatos de telenovela, como Flor do Mar, Santa Bárbara e Vidas Opostas, mas também em séries como “Sim, Chef!” onde foste protagonista. Quais foram as principais diferenças que encontraste entre o formato de telenovela e o de série?
A diferença principal é o tempo. O tempo permite-nos ter mais cuidados, sermos mais minuciosos, fazer tudo com mais calma, e não é só para a equipa de realização, mas também para os atores, técnicos, produção, etc. Tudo o que é feito com mais tempo tem inevitavelmente mais qualidade.
Em 2017, na telenovela da TVI Beijo do Escorpião, a tua personagem Miguel que era, inicialmente, homofóbico, acabou por se envolver com um homem. Achas que a forma como se abordou este núcleo na história foi importante? Sentiste o impacto que esta personagem teve junto do público?
É um tema muito importante, ainda hoje existe algum preconceito e por isso deve ser falado e retratado também em ficção. Eu recebi e, na verdade, ainda recebo feedbacks incríveis de pessoas que me dizem que passaram por situações idênticas e que se identificaram com aquele personagem. Isso para mim foi muito gratificante. Acho que toda a equipa de escrita do “Beijo do Escorpião” está de parabéns pelo trabalho que fez, e ainda mais na altura por ter sido, salvo erro, a segunda vez que se retratava uma relação homossexual em ficção em Portugal.
Consideras que a ficção pode funcionar como um fator educativo para a mudança de mentalidades?
Sem dúvida nenhuma. Não só a ficção como a arte nas suas mais diferentes formas.
Neste momento, integras a telenovela da TVI Bem Me Quer enquanto Nuno. Que semelhanças encontras entre ti e a tua personagem? Como descreverias o ambiente de gravações da novela?
Não encontro nenhuma semelhança (risos), e tem sido muito engraçado por isso mesmo. Empresto “apenas” a voz e o corpo a esta personagem. Tem sido um bom desafio. Apesar da pandemia que vivemos, isso não afetou na totalidade a nossa forma de trabalhar, as histórias vivem de emoções, de abraços, de discussões, de contacto e toda a equipa tem se esforçado ao máximo, respeitando todas as normas de segurança, para contar aquela história sem perder toda essa magia independente da pandemia em que vivemos. Distrair o público é o nosso objetivo.
Um dos grandes desafios deste projeto foi o facto de iniciarem gravações com todas as medidas de segurança devido à COVID-19. Como foi trabalhar desta forma inédita?
Como em tudo na vida, o ser humano adapta-se. As normas de segurança e os testes semanais tornaram-se parte do nosso dia a dia e até à imunidade não há outra solução. Mas sendo sincero, no final do dia o mais importante é estarmos a trabalhar e com saúde.
No teatro, colaboraste como intérprete com os encenadores António Pires, Manoel de Oliveira e André Murraças, em projetos como Antígona de Sófocles, Mário ou Eu Próprio o Outro ou, mais recentemente, Império. Além disso, em 2004, foste encenador da peça “Cá te Esperamos”. Que importância tem o teatro no teu percurso? Preferes assumir o papel de ator ou de encenador?
Tenho me afastado das “tábuas”, como se diz no nosso universo, e confesso que tenho algumas saudades. A minha base é o teatro e o teatro terá sempre um lugar especial no meu coração. Quando aos 14 anos quis ser ator dizia sempre à minha mãe que queria “ser ator de cinema”, mas o teatro acabou por ocupar um lugar muito especial e tem uma importância gigante no meu percurso porque foi lá que comecei. Neste momento não penso encenar, mas daqui a alguns anos pode ser que isso mude. Gostava de viver essa experiência.
No grande ecrã, contas também com vários projetos, desde a curta-metragem Nas Tuas Palavras às longas-metragens Offline, Bairro e Vermelho Monet. Que diferenças existem entre gravar para cinema e para televisão? Em termos de construção de personagem, há algo que mude?
A diferença está também no tempo para fazer as coisas. Mas aqui acrescenta-se também a densidade das cenas e das personagens em cada cena, porque um filme tem em média duas horas e toda a história tem que ser contada nesse tempo, ao contrário das telenovelas e de algumas séries que são produtos de longa duração. Mas no fim o objetivo é o mesmo: contar bem uma história.
O filme Vermelho Monet conta com cenas em Lisboa, Paris e Londres, sendo falado em Português do Brasil, Portugal e Angola, além de conter cenas em inglês e francês. A história intimista e pessoal possui influência na paixão do diretor pela arte da pintura. Como encaraste este desafio?
Foi uma grande experiência e oxalá venham mais desafios destes. É sempre bom trabalhar com pessoas diferentes, com universos diferentes. Estou desejoso e muito curioso que o filme saia. Este filme é, sem dúvida, um filho para o Halder Gomes, o realizador.
Em 2017 foste distinguido com o prémio de Melhor Ator pelos Troféus de Televisão TV7 Dias pela tua prestação na série Massa Fresca. Como encaraste este projeto que foi, de certa forma, o regresso aos formatos infantojuvenis? De que forma esta distinção influencia o teu trabalho de ator?
Em televisão é um daqueles projetos que sempre irei recordar com carinho. Foi um projeto que me trouxe muita coisa, que me desafiou em vários sentidos. Se tivesse um memorial de personagens que fiz (risos) o “Tí Chico” teria o seu lugar especial. Um prémio tem sempre o valor que lhe quisermos dar, mas é inegável que é sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido, faz-nos querer fazer mais e melhor.
Quais são as tuas maiores aspirações nacionais e internacionais?
Estou a dar os meus primeiros passos em direção ao mercado internacional. Poder fazer projetos em Portugal e fora é o meu maior objetivo.
Se te voltássemos a entrevistar daqui a 10 anos, o que gostarias de estar a fazer nessa altura?
O meu 10° projeto internacional. Significaria que nessa altura já teria feito mais 9° do que hoje. (Risos)
Fantastic Entrevista - Duarte Gomes
Por Joana Sousa
maio de 2021
Fotos: Direitos Reservados
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