Entrevista DOP - Khan El Khalili
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1. Como surgiu a ideia de abrir um bar árabe no Porto?
Desconstruindo e voltando no tempo, o projecto inicial não era abrir um bar árabe, mas sim um espaço onde pudesse representar um pouco do Egipto, mais focado em loja de artigos de decoração, roupa e utilidades. Quando era mais nova trabalhei num shopping na Natura, a loja do “urso” e a experiência em trabalhar neste tipo de loja fez com que tivesse vontade de abrir o meu próprio espaço também com artigos variados. Mas eu sabia que colocando em prática e para construir uma marca, naquela altura poderia levar anos! Analisando o tipo de negócio seria muito mais rentável criar um espaço onde pudesse trazer um pouco da cultura egípcia, mas mais direcionado para o lazer, lazer este que por acaso também é cultural no Egipto. A localização foi meramente por estudar o número de habitantes e por ser mais central. A nossa ideia inicial era abrir vários espaços por Portugal fora, então fazia sentido o Porto ser o primeiro espaço.
2. Porquê a escolha do nome ‘Khan El Khalili’ para o bar?
Khan el Khalili é o nome do grande mercado do Cairo, um dos maiores mercados do mundo árabe. Na altura achamos que era um bom nome e que fazia sentido trazer a energia daquele mercado para o Porto e assumir o poder que tem este nome. Sabíamos que não ia ser fácil as pessoas decorarem o nome mas também sabíamos que valia a pena pela diferença dos habituais nomes associados a este tipo de espaços. O nosso objetivo sempre foi ser diferente e fazer a diferença.
3. Podes falar-nos um pouco do conceito do vosso espaço e quais os factores de diferenciação que apresenta face aos demais espaços árabes na vossa zona?
O nosso espaço pretende ser um local que permita “viajar” com o máximo de conforto. Parte do conceito e da nossa diferenciação passa por ser um local que é ideal a todas as idades, onde os filhos trazem os pais e até os avós e isso deve-se um pouco ao conforto aliado ao requinte da decoração e à variedade de produtos. O nosso menu é muito completo, facilmente conseguimos abranger todos os desejos de quem nos visita desde os mais pequenos aos mais graúdos. Também primamos por um atendimento personalizado que sempre foi uma imagem de marca da casa, mas mais do que uma imagem de marca é toda uma questão cultural. Os egípcios têm a arte de bem receber tão apurada ou mais que os portugueses por isso tentamos ser fiéis a esta mistura cultural que se vive no Khan el Khalili.
4. Quais são as bebidas e pratos que o Khan el Khalili oferece na sua carta?
Aqui tínhamos “pano para mangas”! Temos variadíssimas opções, e ao longo dos tempos vamos mudando a alterando conforme o mundo à nossa volta vai evoluindo! De base mantemos sempre os chás, típicos e do mundo e os petiscos árabes e os cocktails. Depois temos desde chocolates quentes, sumos naturais e smoothies saudáveis, as bebidas normais que servem em qualquer bar, os vinhos e sangrias, as saladas, as sandes em pão pita, os doces típicos e os bolos caseiros, enfim café, e refiro o café porque nos perguntam muitas vezes “tem café?” - é muito engraçado. Mas o que importa referir é que adoramos inovar e vamos adaptando o menu aos tempos em que vivemos, por exemplo agora temos um menu de opções vegan e saudáveis.
5. Que tipo de produtos utilizam na confecção dos vossos pratos?
Os produtos são facilmente encontrados cá em Portugal. A culinária árabe teve uma evolução enorme nos últimos anos a nível mundial, o que fez com que começassem a surgir algumas marcas cá em Portugal que não existiam quando abri! Mas numa fase inicial para fazer alguns temperos específicos tinha que ir buscar a receita da mistura das especiarias, o que fez com que aprofundasse os meus conhecimentos e apurasse o meu paladar para este tipo de culinária. Por exemplo, hoje em dia eu compro zaatar, que é uma especiaria árabe, mas inicialmente e quando não encontrava à venda tive que saber como se fazia zaatar e fazermos nós a mistura. Em suma, os nossos pratos são os mais fiéis possíveis ao que poderia comer num país do médio oriente. Claro que tem sempre um toque próprio mas isso é inevitável até na culinária portuguesa.
Alguns dos pratos que fazem parte da carta do bar Khan el Khalili |
6. Se tivessem de escolher uma bebida e um prato que vos definisse, quais escolheriam?
Esta pergunta é um pouco ingrata, primeiro porque temos vários pratos e bebidas que nos poderiam definir… mas cingindo a um exemplo, para alguém que nos visita a primeira vez e quer provar as especialidades da casa, pode pedir o nosso menu de degustação que traz um pouco de todos os nossos petiscos e para acompanhar a nossa sangria Khalili Mística, de espumante com vodka preta. E para quem não bebe álcool o chá Karkadeh com menta que é típico egípcio.
7. Como surgiu a ideia de trazer bailarinas de Dança Oriental para o espaço?
Não foi uma ideia, é cultural. Quando visitei o Egipto assisti a um espectáculo de Dança Oriental e a Tanoura e quando idealizei este projeto o objetivo era trazer um pouco do que eu vivi quando visitei o Egipto. Por isso, a Dança Oriental sempre fez parte do “pacote” da experiência que eu queria que as pessoas vivessem, bem como a Tanoura que eu sabia que era mais difícil encontrar aqui, mas felizmente logo no primeiro ano conheci o Emad Selim e no segundo ano já ele estava a dançar no palco do Khalili.
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8. O vosso espaço tem um pequeno palco onde as bailarinas costumam dançar - algo que não é comum em bares árabes em Portugal. Qual a origem desta ideia?
A ideia inicial sempre foi divulgar a cultura egípcia. Antes de estar focada neste projeto era frequentadora de bares árabes da minha zona e adorava os espectáculos de dança porque fazia com que eu recordasse a minha viagem ao Egipto e nunca conseguia ver bem porque a bailarina dançava em espaços limitados por entre as mesas. Então eu sentia um misto de frustração porque ela não tinha liberdade de fazer os movimentos e desilusão por saber que poderia ter sido melhor! No Khan el Khalili procuro colocar-me no lugar de espectador e foi com esse propósito que tinha obrigatoriamente que ter um lugar em que quem a bailarina tivesse liberdade de mostrar esta arte. Claro que vão entre as mesas mas não é limitativo! E também acho fundamental quando se faz alguma coisa, fazer bem, e não é possível dançar bem se tivermos com receio de tocar num cliente ou se tiverem limitados a 1 metro de espaço.
9. Como são seleccionadas as bailarinas para dançar no Khan El Khalili?
Ao longo do tempo fomos mudando os critérios de seleção. Em 2009 quando abrimos não havia tantas bailarinas como há hoje em Portugal e a divulgação ainda estava muito no início, então na altura trabalhávamos com o que havia! Ao longo dos anos fomos sendo um pouco mais rigorosos, também os clientes assim o exigiam. Começámos a criar um público fiel à dança que mesmo não percebendo técnica conseguiam distinguir facilmente quem estava há pouco tempo na Dança Oriental ou quem tinha mais experiência e tudo isto fez com que nós elevássemos os padrões de exigência e tivéssemos ao longo do tempo um pouco mais de cuidado na seleção de bailarinas.
Na imagem: Catarina Mavilde, Leila Malak, Marta Henriques, Munira Azarake, Joana Coelho, Hérika Vieira & Gabh Diniz |
10. Existe ou já existiu algum tipo de preconceito para com a Dança Oriental pela parte de alguns clientes que vão ao Khan el Khalilli?
Nunca senti por parte dos nossos clientes algum tipo de preconceito até porque isso só existe se dermos azo a que isso aconteça e nós desde que abrimos sempre definimos muito bem a importância da Dança Oriental na cultura egípcia e na cultura da casa. Por estas razões a dança sempre foi muito apreciada no Khan el Khalili e as bailarinas respeitadas como boas profissionais que são.
11. Confessaste num directo com a bailarina Munira Azarake no vosso Instagram, que ao longo destes anos já tiveste várias situações caricatas com clientes relacionadas com as actuações de Dança Oriental no espaço. Podes partilhar uma dessas histórias connosco?
As situações caricatas tem mais a ver com os bastidores do que propriamente envolvendo clientes em si. Claro que ao longo dos anos contamos com alguns figurantes, como por exemplo, sem querer a bailarina dar com o véu das asas de Isis numa cabeça de shisha que estava um pouco mais saída para o palco e deitar tudo ao chão. E com isto vamos aprendendo, por isso cada vez que alguém dança vou pelas mesas mais próximas alertar que vai começar o espectáculo e que pedia para durante aquele tempo ajeitarem-se um pouquinho só para não acontecer nenhum incidente. De um modo geral, já quase não preciso dizer isto porque ao ligar as luzes do palco para a bailarina dançar os próprios clientes já se posicionam em modo “alerta” para poderem assistir. Posso é dizer aqui que temos clientes surpreendentes, clientes em que a bailarina chama para dançar e eles brilham por conta própria demonstrando o espírito tão característico da casa!
12. Ao longo deste 12 anos, sentem evolução na forma como o público percepciona a Dança Oriental?
Obviamente que sim, ao longo destes 12 anos a evolução da Dança Oriental em Portugal levou um boom com a expansão para ginásios, estúdios de dança e por consequência deixou de ser uma dança “tabu” para muita gente e passou a ser considerada mais “normal”. Esta normalização também nos trouxe a nós mais apreciadores, abriu portas para que a dança oriental fosse considerada uma arte e por isso acho fundamental a união de todos os profissionais envolvidos porque o crescimento de um é o crescimento de todos. Eu quero sempre que as minhas bailarinas sejam reconhecidas e tenham sucesso! O sucesso delas é o meu sucesso e vice-versa! Quem pensa que sozinho consegue reconhecimento e sucesso acaba por ficar limitado a um grupo muito pequeno de “conhecidos” e acaba ao longo dos anos por cair em esquecimento. Já o velho provérbio diz “a união faz a força” e sempre foi isso que defendi com as bailarinas com quem trabalho. Por isso dou graças a que se tiver que juntar 10 ou 12 bailarinas no meu espaço para um aniversário como já aconteceu, elas vem de bom grado e dançam todas juntas, mostrando um espírito de equipa fantástico.
13. Tendo em conta a tua opinião enquanto contratante e as várias bailarinas e bailarinos que já passaram pelo Khan El Khalili ao longo de 12 anos, qual a tua visão sobre a evolução do nível da Dança Oriental tanto no Norte como a nível nacional?
A evolução tem sido fantástica, há 12 anos não se falava tanto em festivais de dança oriental como agora! Os recursos de aprendizagem eram limitados e havia muita confusão na informação que era passada, mesmo na aprendizagem. Hoje em dia temos profissionais formadas que procuram sempre estar atualizadas e fazer formações constantes. Temos profissionais que arrecadaram vários prémios no estrangeiro e trouxeram para a dança oriental portuguesa um mérito próprio e um orgulho na evolução. E penso que o objectivo é esse, continuo a repetir, a evolução e o prémio de uma é o prémio de todos. Traz notoriedade para Portugal e por consequência visão.
14. Podes nomear uma actuação de Dança Oriental/Fusão que te marcou (no teu espaço ou não)? Quais as razões que te levaram a sugerir esta performance?
Não posso falar especificamente de uma actuação! Passo a explicar, a cada bailarina eu atribuo uma performance que gosto mais, por exemplo adoro a Munira Azarake com as asas e velas, a Catarina Nivalova com romântica, a Diana Costa com derbake, a Joana Coelho com folclore, a Catarina Mavilde com clássica, a Sara Salazar com fusão, a Leila Malak com velas, etc etc. São apenas alguns exemplos, obviamente. Cada bailarina “marca” à sua maneira, seria injusto estar a especificar e às vezes depende do publico envolvente. Há noites que o público faz toda a diferença e aplaude no meio da música e grita “bravo!” e quando isso acontece sou invadida por uma sensação de felicidade. É gratificante ver que as pessoas estão a gostar.
15. Tendo em conta a pandemia COVID-19, que medidas estão a tomar para reabrir o espaço assim que seja possível?
Todas as medidas necessárias para garantir a segurança de todos. O número de lugares foi reduzido, o espaço entre as mesas aumentado e quando há espectáculo cumpre-se igualmente as regras de distanciamento e sempre que isso não é possível a bailarina usa máscara. No primeiro confinamento aproveitamos para “refrescar a casa” e fazer algumas obras; neste segundo estamos a aproveitar para remodelar a esplanada. A verdade é que se isto não tivesse acontecido provavelmente não teríamos feito estas melhorias mas neste momento só queremos poder trabalhar pois a situação arrasta-se há algum tempo e até podemos ter bases sólidas, mas abanadas assim constantemente podem quebrar. Estamos a segurar essas bases com todas as forças que temos, resta ter fé que logo logo consigamos todos celebrar a vitória do esforço que estamos a fazer.
16. Caso uma bailarina pretenda actuar no espaço, como poderá contactar-vos para apresentar a sua candidatura?
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