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Fantastic Entrevista - Pedro Hossi: "Não me considero diferente do comum dos mortais"

Foto: Andy Dyo
 
Estreou-se em televisão em 2014, na novela angolana "Jikulumessu", exibida em Portugal pela RTP1. No seu regresso a Portugal, começou por integrar "Coração D'Ouro", da SIC, seguindo-se outros projetos também na TVI, como é o caso de "Quer o Destino". O teatro e o cinema fazem também parte do percurso de Pedro Hossi, o nosso convidado nesta edição do Fantastic Entrevista. Uma conversa onde ficaremos a conhecer melhor o percurso do intérprete.

Conhecemos o Pedro enquanto profissional mas, para começar esta entrevista, gostaríamos de saber como se define enquanto pessoa. Quem é o Pedro, que sonhos tem e o que gosta de fazer?
Antes de mais gostaria de vos dar os parabéns pelo trabalho que têm vindo a desenvolver com o vosso site. Não me considero diferente do comum dos mortais, tento ser hoje um pouco melhor do que fui ontem, consciente de que tudo tem o seu tempo e de que quase tudo leva tempo. Tenho muitos sonhos por concretizar, mas neste momento contentava-me com o abraço dos meus amigos. Esta pandemia veio relativizar tudo. Afinal se calhar não precisamos de muito para sermos felizes. Mas precisamos dos afetos.

O seu primeiro projeto em televisão foi a novela"Jikulumessu". Parte da equipa técnica era portuguesa, como é o caso dos realizadores Francisco Antunez, Sérgio Graciano, Manuel Pureza e Hugo Xavier. Como foi começar o seu percurso em televisão numa produção como esta?
A verdade é que na altura estava a viver em Los Angeles e estava a precisar de uma mudança. Ter aceite este projecto acabou por mudar um pouco o rumo da minha vida. Em relação aos tempos passados em Angola a gravar, guardo-os com muito carinho. Fiz uma série de amigos que ainda hoje o são, mas acima de tudo voltei-me a apaixonar pela representação.

A telenovela gerou polémica devido a uma cena em que Carlos,a personagem que interpretava, beijava uma outra personagem do mesmo sexo. Como foi lidar com essa situação? Acha que foi possível gerar debate na sociedade angolana devido ao assunto?
Certamente não estava à espera da repercussão que esse beijo veio causar, na altura pareceu-me tudo um pouco exagerado, a novela foi temporariamente retirada do ar e sucederam-se os textos nas redes sociais e os artigos de opinião, mas não sei se houve alguma mudança profunda na forma como a sociedade Angolana olha para a questão da homossexualidade.

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Em Portugal, começa por integrar “Coração D’Ouro”, na SIC. Quais foram as principais diferenças que encontrou entre gravar em Angola e Portugal?
Do ponto de vista técnico senti poucas diferenças, a temática da novela essa sim era diferente. O “Coração D’Ouro” marcou um período bonito da minha vida, foi o regressar a Lisboa depois de muitos anos ausente.

Na TVI, fez parte de “Ouro Verde”, que venceu um Emmy Internacional em 2015. “Jikulumessu” já havia sido nomeada para o mesmo prémio em 2015, acabando ambas por ser exibidas internacionalmente. Quão importante é este reconhecimento para toda a equipa?
O reconhecimento é sempre bom! Estas nomeações, os prémios, vêm acima de tudo atestar que não existe falta de talento, e que muitas vezes com muito pouco fazem-se autênticos milagres.

Mais recentemente, participou em “Quer o Destino”, que teve um percurso ascendente nas audiências, sendo muito acarinhada pelo público. Este foi também um projeto especial para o elenco, percebendo- se o bom ambiente que viveram nas gravações. O que é que retira de melhor, a nível pessoal, desta produção?
Acho que todos os envolvidos perceberam cedo que este era um projecto especial. Eu, apesar de ter entrado já com as gravações a decorrerem pude atestar isso mesmo, que se tratava de um projecto muito muito especial. Sou grato à Helena Amaral por ter pensado em mim para dar vida ao Inspetor Machado.

Um dos grandes desafios deste projeto foi o facto de interromperem as gravações e retomarem com todas as medidas de segurança devido à COVID-19. Como foi construir a sua personagem e trabalhar desta forma inédita?
Quando retomamos as gravações foram implementadas uma série de medidas de segurança que foram levadas à risca. É estranho entrar num plateau e ver toda uma equipa com máscaras, mas acho que percebemos rapidamente que este é um novo mundo e cabe-nos a nós adaptarmo-nos a esta nova realidade.

Recentemente estreou na RTP1, "Até Que A Vida Nos Separe". Como foi integrar este projeto? Existem grandes diferenças entre trabalhar numa série, comparado com o trabalho feito numa telenovela?
O ritmo de gravações de uma novela chega a ser alucinante consoante a incidência de um personagem. O ritmo da série é diferente, o cuidado que se tem com os pormenores é maior. Não estou de todo a desvalorizar o trabalho desenvolvido nas novelas. Este “ Até que a vida nos separe” foi um projecto muito feliz! O meu papel é pequeno mas foi ótimo trabalhar com a Madalena Almeida que é um talento tremendo! Foi igualmente bom reencontrar alguns amigos, como o Diogo Martins e o Dinarte Branco.

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Considera que o formato de curta duração, como as séries, minisséries e telefilmes, estão a ganhar força em Portugal, não só na televisão, como no streaming? Porquê?
Este fenómeno talvez esteja a acontecer porque nós colectivamente sofremos cada vez mais de défice de atenção, portanto acho inteligente apostar-se em conteúdos mais curtos e de maior qualidade. O formato longo, seja de séries ou novelas, tem na minha opinião os dias contados.

Depois de se estrear no cinema em Portugal com"Grande Kilapy", em 2018 integrou o elenco do filme “Linhas de Sangue”. Este projeto ambicioso do Sérgio Graciano e do Manuel Pureza tinha uma linguagem bastante disruptiva. Como foi dar vida a este seu Melchior?
O“Grande Kilapy”, realizado por Zézé Gamboa, teve a sua estreia mundial no festival de cinema de Toronto. Seguiu-se o filme “Linhas de sangue”, um projecto desenvolvido por duas pessoas de quem gosto muito e de quem sou fã confesso. Lembro-me que na altura estava a fazer uma novela, portanto foram semanas muito intensas de trabalho mas vividas com muito boa disposição.
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No ano passado abraçou uma nova produção cinematográfica, mas desta vez para a Netflix, na longa-metragem “Sérgio”. Como se constrói um personagem que é baseado numa figura real e com um peso importante na história mundial, como é o caso do General Xanana Gusmão?
Bom, antes de mais tinha como base o documentário feito sobre a vida do Sérgio Vieira de Mello, onde o Xanana Gusmão é figura central. Tentei perceber o contexto político do primeiro encontro entre estes dois homens. Pesquisei sobre a vida do Xanana claro, mas dei espaço para que o trabalho feito com o realizador e com a caracterização se manifestasse. Foi um orgulho fazer parte deste projecto e contracenar com o Wagner Moura que é um dos meus Actores de eleição.

Sente que há um peso maior em fazer parte de um projeto que será visto por duzentos milhões de pessoas?
Entendo a pergunta mas não creio que na altura isso me tenha passado pela cabeça.

Tanto a Netflix quanto a HBO têm projetos a acontecer no nosso país. Em que medida estes novos meios vêm favorecer as carreiras dos atores?
Havendo mais projectos há mais trabalho, isso é pura matemática. Mas este novo mundo digital tem outra particularidade que é a globalização. O que é ótimo para todos nós! De repente tudo é possível, o nosso trabalho passa a estar exposto para uma plateia muito mais ampla.

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Quais é que são as suas maiores influências, quer a nível pessoal, como profissional?
Sinto-me influenciado por um coletivo de Actores, Realizadores e Argumentistas. São muitos para enumerar alguns. Pessoalmente, devo muito à minha família, que tem sido uma estrela guia nesta viagem que é a vida.

Se tivéssemos a oportunidade de voltar a falar daqui a 10 anos, o que gostaria de estar a fazer nesse momento?
A vida ensinou-me a ter cuidado com estes exercícios que envolvem futurologia. Hoje em dia já não peço muito, peço saúde para mim e para os meus, de resto, é um dia de cada vez, um passo seguido de outro, é assim que se faz o caminho.

 Fotos: Elite Lisbon / Netflix (Direitos Reservados)

Fantastic Entrevista - Pedro Hossi

Por José Miguel Costa
março de 2021