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Fantastic Entrevista - Inês Monteiro

Foto: Direitos Reservados

Inês Monteiro começou o seu percurso no mundo da representação quando, em 2018, integrou o elenco da novela da SIC Vidas Opostas como Joana Vidal. Para isso, deixou para trás o curso de Arquitetura e a família, natural do Norte do país. Mais tarde, fez também parte do projeto do mesmo canal Golpe de Sorte, enquanto Cíntia Novais. O Fantastic esteve à conversa com a atriz para saber mais acerca deste seu início e das suas perspetivas de futuro. 

És natural do Porto, mas mudaste-te para Lisboa para estudar representação. Sentiste que o facto de seres natural do norte do país te iria dificultar o processo de conquistar oportunidades no mundo da representação?

Senti que a minha oportunidade não estaria no Norte, mas na verdade, nunca me passou pela cabeça que o facto de ser do Norte poderia de alguma maneira dificultar o meu objetivo. Sempre fui muito otimista, mas com os pés bem assentes na terra. Assim que tomei a decisão de me mudar para Lisboa, sabia que só dependia de mim alcançar o que queria.

Antes de estudar Representação, estavas a tirar uma licenciatura em Arquitetura. Quando e como é que soubeste que querias ser atriz? Que paralelismo fazes entre as duas áreas?

Eu estava agenciada desde os meus 15/16 anos e de vez em quando vinha a Lisboa fazer castings, de publicidade principalmente. No verão da passagem do primeiro para o segundo ano de Arquitetura fiz um casting de representação, no qual não fiquei, mas despertou em mim um bichinho que eu nem sabia que existia. Toda a preparação para o casting e o próprio casting despertaram o gosto que tenho pela representação. Então durante todo o segundo ano de Arquitetura estive a pensar se realmente faria sentido ou não. Fez sentido. E trago muito de arquitetura para representação, sem dúvida, a maneira como temos de pegar no que nos é dado e transformá-lo com a nossa criatividade, por exemplo.

Após o Curso de Representação para Televisão e Cinema, fizeste também um Curso Profissional de Atores e um Workshop Interpretação para Cinema. Que importância achas que a formação tem no teu trabalho? Pretendes continuar a apostar na formação?

A formação é muito importante, porque para além de aprendermos técnicas que, pelo menos eu, não fazia ideia que existiam, a formação em representação leva-nos para o um sítio de auto-conhecimento essencial para sermos capazes de interpretar uma personagem. Acho que se não nos conhecermos bem a nós próprios, dificilmente vamos conhecer uma personagem que acaba sempre por ter muito de nós. Por isso sim, pretendo continuar a apostar na formação, é um trabalho de crescimento pessoal muito rico.

De que forma recebeste a notícia de que farias a tua estreia no mundo da representação na novela da SIC “Vidas Opostas”?

A minha agente ligou-me com “boas notícias” e ao mesmo tempo que senti uma felicidade gigante, senti que merecia a oportunidade. Senti que foi um grande “sim” da vida ter arriscado vir para Lisboa, uma vez que estava a começar o curso de representação e tinha-me mudado, nem há 2 meses.

Foto: Direitos Reservados
Após essa oportunidade, integraste a série “Golpe de Sorte” também na SIC. Como têm sido estes primeiros passos no pequeno ecrã?

Pequenos passos que me estão a fazer perceber que realmente tomei a decisão certa e apesar de continuar a ser tudo muito novo, sinto que estou mais integrada no meio, apesar de ainda haver muito trabalho a fazer.

“Golpe de Sorte” foi um projeto muito acarinhado pelo público e foi também um projeto especial para o elenco, percebendo-se o bom ambiente que viveram nas gravações. O que é que retiras de melhor, a nível pessoal, de "Golpe de Sorte"?

Foi um projeto maravilhoso! Além de ter uma personagem que exigiu uma grande preparação, conheci pessoas incríveis. O ambiente no estúdio era familiar, muitos atores extraordinários que já estão no meio há anos e não me trataram como uma novata, não senti nunca que estava mal colocada. Aconselhavam-me de maneira a melhorar o meu trabalho e estavam mesmo dispostos a ajudar.

Como descreves o teu processo de criação de uma personagem? Tens mais dificuldade em criá-la ou a despedires-te dela?

O processo de criação é sempre mais gratificante do que o desprender da personagem. Sempre tive apoio na construção, desde a Luísa Cruz ao Sérgio Penna, com os quais foi um privilégio trabalhar. Parte do processo passava por dar um passado às personagens, dar-lhes uma história de vida. Isto faz com que a personagem tenha mais facilmente memórias e pensamentos que não sejam meus. A despedida da Joana Vidal, que foi a primeira personagem de “Vidas Opostas” foi um bocadinho difícil. Lembro-me que no fim do projeto, estava a fazer a mala para ir passar uns dias ao norte e não sabia bem o que pôr porque já não tinha a certeza de como gostava de me vestir. Mas facilmente desconstruí esta despedida e talvez até tenha sido um impulso mesmo para mudar a minha forma de vestir.

As séries e o streaming são duas das grandes apostas a nível mundial, que Portugal tem vindo a acompanhar. Como vês esta evolução na forma de fazer e de ver ficção? Gostarias de integrar um projeto de streaming?

Gostava claro, estamos constantemente a evoluir e temos de estar dispostos a acompanhar. A nossa geração já não é tanto de ficar no sofá à espera de determinado programa, os nossos hábitos de consumo estão cada vez mais ligados ao nosso dia a dia, aos nossos horários, estilos de vida e os conteúdos audiovisuais não são exceção.

Foto: Direitos Reservados

Ainda não tivemos oportunidade de ter ver no Cinema e no Teatro. São vertentes da representação que gostarias de experimentar? Porquê?

Sim, claro! Gosto de todas as vertentes da representação e cada uma difere muito da outra por isso são experiências pelas quais quero muito passar. A adrenalina de estar em palco e a profundidade até onde nos leva o cinema deixam-me muito curiosa.

De que forma as experiências que viveste na tua carreira de atriz te têm ajudado a crescer a nível pessoal?

Não só os trabalhos que fiz, mas também as formações fizeram-me crescer imenso a nível pessoal. Acho que me fizeram ser mais observadora e essencialmente ouvir mais e melhor. Não estou tão preocupada em responder, que infelizmente é um dos grandes problemas da comunicação. Se estivermos realmente a ouvir o que nos está a ser dito, às vezes nem é necessária uma resposta. Também o facto de ter sido exposta a situações novas para mim, fizeram com que conhecesse características que não sabia que tinha.

Numa altura em que a Cultura voltou a parar, devido a um segundo confinamento, como olhas para a situação da mesma em Portugal? Achas que há muito a mudar nesta área?

Sim, há muito a mudar nesta área a começar pelos apoios aos artistas. O facto de a Cultura ter sido um dos sectores mais afetados desde o primeiro confinamento, que foi, é só um reflexo do que já se passava antes da pandemia. Este vírus veio, no fundo, acentuar a carência de apoio à Cultura.

O que nos podes contar sobre projetos futuros?

Não posso contar muito para já, só para estarem atentos que vou continuar por aí!

Quais são as tuas maiores inspirações nacionais e internacionais?

Entrar no meio fez com que conhecesse pessoas incríveis, que me ajudaram muito e se tornaram numa verdadeira inspiração, são elas a Sofia Sá da Bandeira, o Rui Luís Brás e a Rosa do Canto. A nível internacional os cineastas Christopher Nolan e Woody Allen são grandes inspirações e também a atriz Marion Cotillard.

Se te voltássemos a entrevistar daqui a 10 anos, o que gostarias de estar a fazer nessa altura?

Bem, nessa altura gostaria de ter alguns conteúdos escritos por mim a circular pelo cinema e plataformas de streaming. Percebi durante o primeiro confinamento que gosto de escrever, por isso seria uma coisa que gostaria de estar a fazer daqui a 10 anos e de continuar a representar, claro.

     Fantastic Entrevista - Inês Monteiro

Por Joana Sousa

março de 2021