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COMING UP | O Clube II


A temporada muda mas a ação em O Clube continua com a mesma força que confirma que estamos perante um “bombom” da ficção nacional. Depois de uma primeira leva de episódios que ultrapassou as já muito boas expectativas iniciais, a sequência chega com maior densidade e um maior espaço de abertura pra os núcleos continuando a construir-se na mesma linha americana que trouxe até nós os grandes sucessos da Netflix. Porque sim, este é o tipo de enredo que encaixaria não perfeição no catálogo da gigante do streaming pela forma similar e altamente apelativa como a trama se vai apresentando. Neste primeiro episódio da segunda season, desprendemo-nos do erotismo para provar que O Clube é muito mais do que um drama sensual. Com um enorme rol de elogios que têm de ser feitos, os dois maiores destaques vão para o elenco, claro, e para a coerência. Desde o que ficou disponível o primeiríssimo episódio da série que a tendência de crescimento da narrativa se mantém, num trabalho audaz de se superar ainda mais nos ganchos finais. Com os núcleos já instituídos, a questão que se levanta é: Como será distribuído o espaço de ecrã? É que esta é uma daquelas histórias em que não há personagens dispensáveis. Fica connosco nesta viagem de regresso ao Clube e entende o porquê desta produção ter de entrar para a tua lista de série imediatamente! Prometemos contar-te todos os pontos fortes da estreia e teorizar sobre o futuro nesta nova edição do Coming Up.

A passagem de testemunho da narração de Viana para Vera não é meramente uma elaboração técnica para demarcar a nova fase da história, é sim uma prova de que está será uma temporada muito mais reativa em que o ataque vai deixar de pender apenas para um dos lados da trama. No jogo de probabilidades, a mudança de voz, poderá apontar para uma nova reviravolta em que os elementos que constroem o Clube deixem de ser apenas instrumentos de um grupo de crime organizado mas que, também eles, possam em breve ripostar. De notar que durante o primeiro episódio ao pousarmos em cada um dos arcos, todos os protagonistas estão frágeis, o que poderá levar a que se pratiquem atos irrefletidos. No fundo as consequências das mortes da temporada de estreia podem trazer consequências maiores que o luto e a longo prazo dar lugar à sede de vingança. Por mais que tudo isto seja apenas uma previsão, temos vários elementos que nos indicam que este será o caminho. A chegada de Andreia poderá muito bem funcionar como um acelerador para que tudo aconteça, mas não é o único ponto. A própria dor e sentimento de culpa que Michelle carrega juntamente com a revolta com a sua própria situação soa a outro gatilho forte, assim como a inesperada quezília entre Maria e Viana que nos próximos episódios, muito provavelmente, terá um aumento de proporção.



E já que a citamos, Michelle tem-se tornado ao longo da série numa personagem surpreendente, mas não acreditamos que ainda tenha chegado ao seu auge. Quando nos é introduzida a personagem, Michelle é a mulher poderosa que não tem vergonha do que faz e que encara o trabalho verdadeiramente como um negócio como outro qualquer. O arco que a acompanhou na season anterior destacou-se precisamente pela forma como a afetou e continua a afetar. Na verdade, mesmo que o nome não seja o mais correto, a segunda temporada promete atravessar a jornada de “redenção” da protagonista, que teve um evolução brutal nos capítulos finais e que aterra agora na sequência com uma proposta totalmente diferente daquela que imaginámos à primeira vista para Michelle. Mas por mais que o texto sustente a densidade e que traga à tona questões tão marcantes, há um grande mérito que tem de ser dado a Luana Piovani, que já tinha conquistado antes, mas que à medida que o seu envolvimento com a personagem cresce parece moldar-lhe a personalidade de um forma tão vincada que a torna presença obrigatória em cena. A ela coube-lhe a responsabilidade de algumas das cenas mais eróticas da história, mas para quem tem dúvidas que o trabalho da atriz vai muito além de representar uma mulher bonita e sensual, a cena no funeral de Irina deita tudo por terra. Aliás, numa contracena perfeita com Vera Kolodzig, que desde o primeiro minuto da trama nos entrega um dos melhores desafios da sua carreira, e na simplicidade das cenas partilhadas com Pedro Saavedra que só reforçam as emoções da personagens e nos aproximam ainda da densidade da personagem que ganhou, aos olhos do público uma nova camada a partir do momento em que encaixou como par romântico do ator.


O grande acerto deste episódio é a forma como sem perder o foco ou o ritmo, conseguimos ter as doses necessárias de cada núcleo ao ponto de satisfazer todas as nossas curiosidades e deixar aquele gosto em querermos mais. José Raposo e o seu Viana continuam a ser timoneiros do lado mais denso, e se já tínhamos rasgados elogios a fazer ao ator aquando da estreia da primeira temporada, só neste primeiro episódio já podemos antever que o personagem é muito mais versátil do que aparenta. O registo de Viana muda um pouco, sem perder realmente a sua palavra de ordem, a lealdade. A amizade que une Viana e Vasco é algo que passa para além dos interesse do porteiro. Sempre assim foi, mas neste primeiro capitulo, Viana desprende-se do papel de conselheiro para vestir o papel de dono, com o espectador a saber balizar melhor do que as próprias personagens, que este “novo” Viana é o homem que vive atualmente para manter o respeito e a confiança que o antigo patrão lhe deixou. É bom ver como sem serem precisos diálogos explicativos, a série se vai encadeando e dando ao público o entendimento exato de cada atitude mais brusca. Mesmo quando rejeita o pedido de Maria, conseguimos entender os dois lados da questão sem fazer do personagem vilão. Pelo contrário foi um truque de mestre para manter a humanidade e o carácter do personagem, não cedendo a caminhos mais óbvios e tão usuais em séries do género, em que os objetivos das personagens flutuam pelo lado bom ou mau ao sabor da vontade dos autores. 



Ainda no elenco, há mais dois destaques que têm de ser dados. Tiago Felizardo é uma agradável surpresa no enredo. Apesar do seu Bernardo ter pano para mangas ainda e não termos visto um terço do seu caminho de agora em diante, é digno de mérito e volta a provar o quão importante é descentralizar os papéis que são sempre entregues ao mesmo tipo de atores. A química que construiu com Filipa Areosa na primeira temporada leva-nos a seguir cada detalhe do estado emocional do personagem, mesmo que o argumento nos faça entender que Bernardo é o tipo de pessoal em que a razão prevalece sempre em detrimento das emoções. A proximidade com Viana dá-lhe alguns momentos muito bons em cena, numa generosidade mútua de José Raposo e Tiago Felizardo, na construção de uma ligação fraterna e afetiva feita sem o habitual esforço para forçar palavras de maior carinho ou gestos que tornem tudo muito mais irrealista. Não, aqui sente-se aquela atmosfera de uma ligação muito próxima, quase como de um pai e um filho que tenham crescido sem trocarem palavras bonitas, mas onde o amor existe. É mais um dos grandes acertos no processo de humanização de personagens, e que mais uma vez apresenta uma construção que raramente vemos, tão despreocupada por cá, ou pelo menos desta forma. Lembra muito a essência da relação entre Afonso Pimentel e João Lagarto no clássico Adeus Pai.


Filipa Areosa tem na sua Jéssica aquele pode muito bem tornar-se num dos grandes papéis da sua carreira. O potencial de crescimento da personagem é um dos maiores da trama de O Clube, e depois de uma temporada inteira vivida sobre a influencia do desaparecimento da irmã, tem agora espaço para desbravar caminho naquele que será provavelmente um dos arcos com maior carga dramática da série. Filipa Areosa abraçou a ingenuidade necessária para credibilidade a sua Jéssica, mesmo dentro do núcleo em que estava inserida na primeira temporada, sempre foi aquela que estava menos preparada para o turbilhão de coisas que acontecem no Clube, de resto é a única personagem que não cede a tentações, o que torna ainda mais interessante o caminho dado à personagem. Neste novo episódio, vale destacar a forma como texto e a atriz deram a volta à questão e apresentaram a personagem muito mais reativa ao que estava a acontecer ao invés de vestir o habitual papel de vítima. No fundo e agarrando neste exemplo, O Clube é um jogo de wild cards, que nos deixa aquela draga viciante do inesperado, e em que as atitudes tomadas pelos personagens tomam o caminho inverso ao que achamos que será o seu futuro. Da primeira temporada, Jéssica talvez tenha sido a personagem mais regular e é pelo twist que entrega agora que ganha um lugar maior no holofote da ação.


Pontos negativos? Tal como na primeira temporada, há apenas um detalhe a apontar, apesar de desta vez não ser o mesmo. Parece ter existido algum contratempo na gravação de cenas com Tiago Felizardo, o que resultou em conversas de plano contra plano com Vera e Silva, que saltaram fora do restante contexto da realização de O Clube. Contudo, este é apenas um pequeno apontamento, que em nada prejudica a experiência. Numa série onde as interpretações são monstruosas, no melhor sentido da palavra, é bom ver como há espaço para que cada talento tenha o seu momento de explosão no ecrã e como se torna difícil para quem vê se desligar de algum arco. É precisamente pela riqueza de cada núcleo que se sabemos que mais cedo ou mais tarde alguma das ramificações vai ter de ceder, porque em quarenta minutos de episódio não há como encaixar todo o background. É um desafio megalómano, que esperemos que continue a conquistar as nossas expectativas, até porque podemos dizer sem qualquer preocupação que O Clube já nos provou que sabe como unir e separar os personagens para que o ritmo da narrativa flua ao melhor dos ritmos. Sucesso confirmado na primeira temporada, a segunda season arrancou imponente e dá-nos a garantia suficiente para afirmarmos que esta é uma série que faz sucesso cá, da mesma forma como faria furor em qualquer outra parte do mundo. Esperemos que o reconhecimento chegue para garantir novas temporadas, porque o universo tem pano para mangas e esta é uma daquelas histórias que consegue viver bem ao desgaste de múltiplas sequências. Temos encontro marcado na próxima sexta-feira! 


FOTOS: NashDoesWork / Divulgação SIC / Santa Rita Filmes