Fantastic Entrevista – Lucas Dutra: "Ser ator é das profissões mais enriquecedoras a nível pessoal e cultural"
Começaste cedo o teu percurso na representação. De que forma encaras este início?
Eu comecei por fazer publicidade em televisão aos 6 anos. Eu e a minha irmã (a também atriz Laura Dutra) gostávamos muito de todo este processo das filmagens. Um amigo do meu pai que é realizador de publicidades estava sempre a precisar de miúdos para fazer figuração, e como os meus pais queriam ter mais tempo para eles, deixavam-nos com esse amigo e nós ficávamos lá o dia todo a gravar. Ou seja, digamos que tanto eu como a minha irmã crescemos neste meio da televisão, então desde muito cedo que foi uma coisa muito divertida para mim.
E
como surgiu a representação como algo mais sério na tua vida? Quando é que sentiste que era esse o
teu caminho?
Mais tarde, através do teatro.
Comecei a perceber que isto não era só uma diversão e, conforme os anos foram
passando e eu comecei a fazer cada vez mais trabalhos, com maior destaque e com
um nível de acting maior, comecei a sentir este lado que me desafiava e que me
cativava muito na representação. Foi muito interessante todo este processo, passar
da publicidade para a minha primeira novela, aos 13 anos, Os Nossos Dias, na
RTP1. Foi mesmo para começar assim à grande e que me apanhou muito de surpresa,
porque era um miúdo, não tinha formação, mas foi uma experiência muito positiva. Depois
de fazer a novela fiz a peça de teatro Oliver Twist, com a minha agência da
altura, a True Sparkle, e no teatro descobri todo um mundo de liberdade de
criação de personagens que na televisão não existe tanto.
Apostaste
desde cedo na tua formação enquanto ator, tendo feito vários cursos e workshops
não só a nível nacional, mas também internacional. Sentes que é importante ires
acompanhando o que se vai fazendo lá fora?
Em relação à formação, acabam
sempre por ser decisões e escolhas. Quando acabei o 9º ano, em vez de ir para
uma escola de representação, decidi ir para uma escola de cinema porque, em
todas as experiências que eu tinha tido em televisão até então, as pessoas
diziam que ser ator era entrar num meio muito complicado. Por isso decidi precaver-me
e pensei em cinema, que também tem um bocado a ver com a representação e decidi
experimentar. Acho que descobri lá que o cinema e a realização, que começaram
por ser um plano B, acabaram por se tornar um plano A1, porque gosto muito da
parte de realização. A partir daí decidi sempre acompanhar o meu percurso académico
e os meus trabalhos como ator com muitas formações e muitos cursos, em Portugal
e lá fora, que me pudessem dar as ferramentas que eu iria necessitar.
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Achas que essas ferramentas
são essenciais?
Sim, são necessárias. E além disso, é importante que exista um espaço para errar, e não é propriamente a fazer uma novela, com milhões de pessoas a ver, que temos essa oportunidade. É na formação, onde há um espaço de confiança e o erro é aceite, é natural. Não quero dizer que não se pode errar em televisão. Claro que sim, mas já está a haver um trabalho, já é uma coisa que vai para o ar, e se ficar mal feito é o nosso trabalho que fica em causa. Por outro lado, se tivermos formação e não trabalharmos, não somos totalmente atores. É quase como um médico: um médico pode estudar a vida toda, mas se ele nunca operar um paciente, será que podemos dizer que ele é medico? Mesmo tendo o doutoramento?
Desde
o teu início no pequeno ecrã, em 2013, tens feito já vários projetos distintos
em diferentes canais. Como é para ti o processo de construção de uma
personagem?
Ao trabalhar em novela, o
processo de criação de personagem é sempre um bocadinho ingrato e difícil,
porque estamos a falar de pouco tempo, poucos ensaios, um guião que ainda não
está totalmente escrito. Por isso, tenho vindo a perceber que ao trabalhar como
ator em novela, a personagem nunca fica totalmente criada. O Vítor Hugo, um diretor
de atores com quem eu gosto muito de trabalhar, diz que nas primeiras semanas é
quando nasce o bebé, que ainda está a chorar, está sujo, acabou de nascer, não
está habituado à luz. Conforme vamos gravando, vamos dar banho ao bebé, vamos limpá-lo,
vamos começar a perceber quem é que somos, e só assim podemos verdadeiramente
criá-lo. Em teatro e em cinema não me posso pronunciar porque sinto que não
tenho ainda o trabalho suficiente nessas áreas para poder tirar uma conclusão,
mas em novela sinto que é muito isso, é muito à descoberta e dá muito medo uma
pessoa estar a começar um trabalho e pensar “eu não sei bem quem é o João Maria”.
É um desafio muito grande.
Tens
mais dificuldade em criar a personagem ou a despedires-te dela?
O deixar uma personagem não é
propriamente deixá-la... é não deixar que ela influencie as próximas. Isso sim,
é difícil. É difícil ter um registo completamente diferente. E quanto mais
tempo temos de preparação, mais a personagem consegue despir-se de todos os outros
projetos. Quando são coisas muito coladas e quando são personagens que podem
ter muitas parecenças com o ator, aí sim, é um processo complicado e que vai
sendo feito aos poucos.
O
que nos pode contar sobre a tua participação na novela “Bem Me Quer”? Como
descreverias o ambiente de gravações da novela?
O ambiente é muito bom porque não somos muitos atores, que é uma coisa que não acontece normalmente. Criou-se ali uma família, porque toda a gente se conhece, estamos todos na mesma sala, temos tempo para conversar, para conviver ou para falar sobre a novela. E atenção, um bom ambiente não é criado só pelos atores, porque a equipa técnica também é muito importante neste processo e a de “Bem Me Quer” é muito bem-disposta. Tem sido mesmo um projeto muito especial e eu sinto que não é só para mim, tem sido para muita gente.
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Um dos grandes desafios desta novela foi o facto de iniciarem gravações com todas as medidas de segurança devido à COVID-19. Como foi trabalhar desta forma inédita?
É realmente uma experiência
totalmente diferente. Tem todos os aspetos negativos e tem alguns positivos,
nem que seja pelo facto de nos desafiarmos novamente e de reformatarmos a nossa
maneira de trabalhar e tentarmos moldar-nos a uma realidade diferente. Uma
realidade em que fazemos ensaios de máscara, em que não vemos a expressão do
ator e não sentimos o peso que a contracena nos está a dar. Por isso digamos
que é curioso. Não estou a dizer que é bom, claro que prefiro mil vezes ter o à
vontade de poder beijar, abraçar, ter uma contracena, poder gritar na cara de
um ator e ele gritar-me na cara sem estarmos com estes medos. Então habituar-me
a esta realidade não foi fácil.
Trabalhar como ator, hoje em
dia, é uma profissão de risco e acho que poucas pessoas achariam isto. É perigoso tendo em conta a pandemia, mas tem havido um controlo muito grande por
parte da Plural e da TVI de higienização, de fazermos testes semanalmente e,
quando temos cenas de beijos ou de maior proximidade, fazemos teste antes mesmo
de gravar essas cenas, porque o contágio pode ser maior. Ou seja, estamos a ter
todos os cuidados possíveis tendo em conta a atual conjuntura.
É uma experiência que, se
calhar, daqui a uns anos, vamos poder olhar para trás e rir ou relembrar como
uma espécie de histórias para contar aos netos e a outros atores. Mas, por enquanto, tem sido um
assunto que estamos a levar muito a sério, ainda não é uma piada, ainda não é
uma boa recordação. Por enquanto é uma realidade muito presente na nossa cabeça
diariamente.
Como encaras o facto de, sendo tu um jovem ator, contracenares com nomes conceituados da ficção como São José Correia, Pêpê Rapazote e Cucha Carvalheiro?
É realmente um privilégio, não só pelo facto de poder estar com estas pessoas, mas principalmente pela aprendizagem, que é o que me deixa mais feliz. Perceber como é que eles dissecam uma cena, como fazem a leitura do texto, as nuances e dinâmicas que têm... Não é só vê-los trabalhar, mas é também trabalhar com eles e deixar que eles nos embebedem com este saber e com esta experiência. É muito gratificante sentir que estou a aprender ao contracenar com alguém. E o mais engraçado é que há esta abertura. Eles podiam ser pessoas muito autocentradas ou não ter a abertura para partilhar o conhecimento da forma como partilham, mas não, não têm problemas em falar, em aconselhar, e estando a contracenar connosco acabam por nos ajudar a fazer.
Além de telenovelas, fizeste também algumas séries na RTP1. Quais foram as principais diferenças que encontraste entre o formato de telenovela e o de série?
Eu ainda não posso falar muito
sobre a questão das séries porque só fiz mesmo uma como elenco fixo, para a
RTP, mas acho que consigo já daqui tirar muito sumo. Trabalhar em novela é um
formato com um ritmo muito elevado e as coisas têm que ser feitas de uma forma
rápida, é preciso acertar à primeira. A São diz-me sempre que um verdadeiro
ator nunca vai achar o trabalho incrível, vai ficar sempre descontente, e que é
este descontentamento que nos move. E eu sinto isso, são raras as vezes em que
eu saio de uma cena e penso que não podia ter feito melhor. E a diferença é que
nas séries existe um tempo que as novelas não se podem dar ao luxo de ter, e a verdade
é que ter tempo permite-nos trabalhar um bocadinho mais nos ensaios, explorar e
ter conversas mais profundas com o autor ou até mesmo com o realizador sobre a
personagem ou a cena. Na novela é preciso dar tiros mais certeiros, porque é
preciso gravar quase um episódio por dia e gravar as cenas todas, não se pode adiar.
Ou seja, são duas coisas completamente diferentes e são sempre desafios.
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A minha geração e a geração
mais nova estão muito mais viradas para plataformas internacionais, como o YouTube
ou até a nível de conteúdo de ficção, como é o caso da Netflix ou a HBO. Sinto
que a aposta que está a ser feita nas novelas é tentarem encurtá-las, ou seja, novelas
que tinham 300 ou mais episódios e várias temporadas estão a ser encurtadas
porque começa-se a perceber que a camada
mais jovem não consegue aguentar e não se consegue esticar esse conteúdo tanto
quanto se queria, e então o espectador começa a perder o interesse. Além disso,
sinto que as novelas estão a trazer mais malta jovem que conseguem atrair uma
geração mais jovem, por serem conhecidos nas redes sociais, como a Angie Costa
ou a Margarida Corceiro.
E isso é uma estratégia que as
pessoas podem criticar e dizer que elas não têm formação ou dizer que elas são
modelos e não atrizes, mas há que perceber que isto não é justo também para com
elas. Ou seja, elas não têm culpa de ter uma proposta de algo que querem fazer.
E quem é que, no lugar delas, iria recusar só por não ter tido seis anos de
formação? É preciso termos um bocadinho de calma em relação a isso, em vez de
atacar de imediato. Por isso, eu sinto que a estratégia que Portugal e a ficção
portuguesa estão a fazer é ir buscar esta malta nova. Sinto que pode ser mudado
para um formato ainda mais curto, ainda mais de série, porque isso acaba por
funcionar sempre bem para os dois lados. Mas isto é um processo de adaptação, é uma coisa que aos poucos vai sendo mudada.
Participaste também na dobragem da série “Star Wars, Galaxy Of Adventures”. De que forma encaraste esta oportunidade?
Trabalhar com voz é uma das
coisas que eu descobri por acaso e que me dá um gozo enorme, porque deixamos de
trabalhar com imagem e com o corpo e passamos a ficar apenas com uma voz. A
nossa voz é a única referência que fica de nós e isso é um desafio muito grande,
o de conseguir dar toda uma emoção a uma personagem só com a voz. É preciso
formação para tal e felizmente tive muitos bons professores. Sem a formação a
nível de voz e de dobragens provavelmente não teria esta oportunidade de fazer “Star
Wars, Galaxy Of Adventures”. Mas é muito giro, porque desprende-nos um pouco desta
questão da imagem. Nós trabalhamos com o corpo, e acho que um bom dobrador tem
que trabalhar com o corpo, porque através dele nós mostrámos a nossa emoção, a
nossa raiva, a nossa tristeza … Eu acho que as dobragens acabam por se colar um
bocadinho mais ao teatro, pela liberdade que temos para fazer coisas mais fora
da caixa.
Ainda não tivemos oportunidade de ter ver no Cinema. É uma vertente da representação que gostarias de experimentar?
Não ter feito ainda Cinema é uma das minhas grandes tristezas. Fico muito feliz e grato de ter as oportunidades que tenho tido, mas sinto pena de ainda não ter feito um filme. Porque há esta questão de termos de tempo para fazer as coisas, que dá um gozo gigante porque posso refletir sobre a minha personagem, descobrir o caminho dela, propor coisas diferentes. Se tudo correr bem, e eu continuo a trabalhar muito e a investir muito na minha carreira, mais cedo ou mais tarde possa então fazer a minha estreia no Cinema. Vamos aguardar para ver, mas acredito mesmo que sim, e estou mesmo a trabalhar para isso.
Alguma vez pensaste explorar outra área do
teu interesse em paralelo com a tua carreira na área da representação?
Tendo eu começado em Cinema na parte de trás das câmaras, realização, edição e câmara, posso dizer que este é o outro lado da moeda que me faz muito feliz. A verdade é que eu não consigo imaginar ser só ator sem realizar. Eu acho que aquilo que me fará feliz no futuro será eu conseguir ser um ator reconhecido por um bom trabalho mas também ser um realizador conhecido por bons filmes. Gosto muito de pegar em coisas que foram escritas, pegar em palavras, e pintar imagens, como se pintasse um quadro. E além disso, tem o outro lado que acaba por se assemelhar muito à representação, que é o facto de trabalhar com atores. Não há nada melhor que realizar para poder dar continuação a esta área, poder falar com atores, conseguir perceber como é que eles vão fazer a cena, como é que é a abordagem deles. Eu acho que são áreas que se complementam muito bem e me têm vindo a ajudar imenso, tanto a trabalhar como ator, como a trabalhar como realizador.
De que forma é que achas que o facto de seres ator pode ser uma mais valia para o teu trabalho enquanto realizador?
Sendo realizador, o meu lado de ator ajuda-me imenso na questão de dirigir os outros atores, de fazer uma leitura sobre uma cena e perceber como é que esta personagem se está a sentir, e conseguir comunicar mesmo diretamente. Uma coisa que me dá pena nas novelas aqui em Portugal é a parte de realização não fazer a direção de atores. Ou seja, é muito bom termos outros atores a fazerem direção e é incrível termos esse acompanhamento de alguém que é super experiente, como o João Pedreiro, a Lucinda ou a Carla Chambel. Mas de certa forma gostava que fosse uma comunicação direta do realizador, que acontece com alguns, mas nem todos têm este lado da representação tão presente, e esta facilidade de falar com os atores. Daí necessitarem deste apoio tão fundamental que é a direção de atores. E eu, trabalhando como realizador, quero ser a ponte direta e quero falar diretamente com o meu elenco.
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Como avalias a tua evolução enquanto ator desde a participação na tua primeira novela até agora?
É engraçado porque, sempre que vejo trabalhos meus antigos, só me apetece meter a cabeça num buraco. É sempre muito difícil gostarmos daquilo que fazemos porque nós, acima de todas as outras pessoas, sabemos que não somos nós. Sendo visto por outros, talvez seja mais credível, mas nós acabamos por ser os nossos maiores críticos e, vendo trabalhos que fiz, fico a pensar como é que me chamaram para aquele trabalho, como é que eu dou erros tão básicos a nível de atitude, de emoções, de comportamentos, de linguagem corporal.
Em algumas cenas, consigo ver uma pequena expressão ou uma pequena fala que funciona e é credível, mas em grande maioria não gosto. E muito sinceramente espero continuar a não gostar porque, como a São diz, é isso que nos dá motivação para continuar a apostar em formação e continuar a trabalhar e continuar a fazer sempre o nosso melhor. Ainda assim, ultimamente já consigo olhar e sentir que já consigo fazer uma leitura de uma cena de uma determinada forma, e já não tenho tanto medo de arriscar.
De que forma as experiências que viveste na tua carreira de ator te têm ajudado a crescer a nível pessoal?
Sinto que ser ator é uma das profissões mais enriquecedoras a nível pessoal e cultural. Uma das personagens que eu fiz na TVI, em “Prisioneira”, foi o Sahid, que era muçulmano, e eu sou ateu, não tenho qualquer religião, mas sempre tive uma curiosidade muito grande com a fé. Quando estudei História da Arte, estudei toda a doutrina cristã e dos protestantes, mas tinha pouco conhecimento da religião muçulmana. Para trabalhar esta personagem tive de fazer uma pesquisa aprofundada sobre o que é a religião muçulmana, em que consiste, e isto levou-me a perder muitos preconceitos que as pessoas vão desenvolvendo principalmente associados a esta questão do jihadismo.
Fiquei a perceber que o verdadeiro sentido da palavra é a luta interior, é uma guerra em defesa do Islão no sentido de uma luta pessoal. E tive um professor muito bom, que me ajudou a perceber como falar muçulmano e como não faltar ao respeito, porque trabalhar como ator poder ser perigoso nesse sentido. Se eu fizer uma coisa a meio gás e que não está totalmente correta, eu posso ofender muitas pessoas. Se eu fizer um papel de cigano onde a cultura não esteja bem expressa, eu posso ofender. É muito importante tentarmos ter o máximo de exatidão e fazer uma pesquisa realmente aprofundada sobre os assuntos, para não cairmos no erro da caricatura, porque isso pode ser potencialmente perigoso e ofensivo. No caso desta personagem, eu fui realmente a uma Mesquita. Não me foi pedido, e essas coisas não são pedidas pela produção, acaba por partir de nós. E eu sentia que não podia fazer um personagem muçulmano sem antes ver o que é e como é uma oração na mesquita, falar com crentes, perceber o que é o Islão. Por isso é que eu adoro trabalhar como ator, porque acabo por fazer aquilo que eu nunca sonhei fazer.
Quais são as tuas maiores aspirações num futuro próximo, a nível profissional?
Eu tenho trabalhado muito para
poder continuar trabalhar em Portugal, mas também para ir lá para fora. Trabalhar
a língua inglesa, aproveitar as oportunidades que surgem para fazer castings e
self tapes noutras línguas. Por exemplo, o espanhol não é a minha língua, não
sei falar espanhol fluentemente, mas se tiver de fazer uma self tape em
espanhol vou pesquisar, vou treinar e esforçar-me ao máximo para conseguir
abrir esses horizontes. Mas eu tenho trabalhado muito poder continuar aqui,
porque gosto muito de trabalhar em Portugal, gosto dos atores que nós temos,
mas creio que, se continuar a trabalhar como tenho trabalhado, vou conseguir ter
uma oportunidade lá fora. Posso dizer que sou uma pessoa muito ambiciosa e esta
ambição acaba por me mover. Vejo exemplos de pessoas que conseguiram chegar ao
patamar que toda a gente diz que é um sonho: trabalhar na Netflix, trabalhar em
Hollywood, trabalhar com atores vencedores de Óscar, atores incríveis... Por
isso, resta-me tornar isso em objetivos e, eventualmente, numa realidade.
Se
te voltássemos a entrevistar daqui a 10 anos, o que gostarias de estar a fazer
nessa altura?
Daqui a 10 anos, gostaria de
estar a trabalhar como ator ou realizador lá fora. A realizar filmes, a trabalhar
em projetos incríveis. Daqui a 10 anos, eu quero ter a oportunidade e a
felicidade de dizer que pessoas pelo mundo inteiro me reconhecem pelo meu bom
trabalho, tanto como ator como realizador. Isso era o que eu gostaria de vos
dizer daqui a 10 anos, que todo este trabalho compensou. Espero daqui a 10 anos
falar convosco e poder dizer que consegui chegar lá fora e que estou a
conseguir vingar no mercado internacional e continuar a vingar no mercado
português O que me dá realmente medo é alcançar
tudo e depois sentir que não tenho mais nada para alcançar ou então até mesmo
cair nesta ilusão de que já chega, que o que eu alcancei está ótimo e que não
preciso de evoluir mai. É um medo que eu tento sempre combater, e é uma coisa
que fica sempre presente na minha cabeça. Um dia, o Ruy de Carvalho disse-me
isto: “Nunca penses que és o melhor, mesmo que um dia venhas a ser”. E eu levo
isto comigo como uma forma de encarar o trabalho e a vida. Sou uma pessoa muito
pragmática, mas em relação a isso tento sempre manter os pés bem assentes na
terra, porque só assim é que se consegue correr. Uma pessoa não consegue fazer uma
maratona se estiver no espaço a voar e estiver na lua, por isso eu sinto que é
importante tentar manter a cabeça no sítio certo, mas continuar de certa forma
sempre com esta ambição de querer chegar mais longe.
Fantastic Entrevista - Lucas Dutra
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