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"Até que a Vida nos Separe" chega à Netflix com uma história que "podia acontecer a qualquer um de nós"

Foto: Direitos Reservados / Divulgação (RTP)

Já chegou à Netflix a série Até que a Vida nos Separe, produção que conta a história dos Paixão, uma família real e muito parecida com as famílias que todos nós conhecemos, mas que está, acima de tudo “muito unida na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a vida os una ou os separe”. Este é o mote da nova aposta do serviço de streaming, que está agora disponível para todo o mundo, depois de em 2021 ter sido exibido pela RTP. Da autoria de João Tordo, Tiago R. Santos e Hugo Gonçalves, a série conta com realização de Manuel Pureza. O Fantastic falou com o realizador e os argumentistas desta produção que conta com “histórias originais e contemporâneas”.

A série marca o regresso às séries da equipa responsável pelo argumento de País Irmão, emitida pela RTP1. Um trabalho conjunto que, para Hugo Gonçalves “é como estar em família”, uma vez que os três autores se conhecem há 20 anos e já eram amigos antes de ser guionistas. Para Tiago R. Santos, João e Hugo “não são apenas colegas de trabalho”, mas sim amigos de vida. “Quando terminámos o País Irmão, não existiam dúvidas que queríamos continuar a desenvolver e a escrever séries juntos. Foi o João Tordo que primeiro pensou na figura de um fotógrafo de casamentos frustrado. Percebemos de imediato que a premissa tinha imenso potencial para falarmos de relações e de amor, algo que nos interessava - como interessará a todo o ser humano que respira e sangra e sente desejo”, explica-nos Tiago.

Para Hugo Gonçalves, “o conflito da felicidade dos noivos, em cada festa de casamento, em oposição à vida amorosa fracassada do tal fotógrafo” pareceu de imediato uma boa ideia. Mas se aparentemente a ideia parece simples, Tiago R. Santos acredita que “são poucas as vezes em que o termo é tratado de forma intelectual e emocionalmente honesta”, algo que procuraram fazer em Até que a Vida nos Separe. “Talvez tenha sido até das primeiras coisas que encontrámos: o tom, aquele híbrido entre comédia e drama e até algum realismo mágico - isso e a ideia de tornar a história não sobre um indivíduo mas sobre uma família onde cabem três gerações, para percebermos melhor as ligeiras (ou menos ligeiras) mutações que o conceito de relação sofreu com o passar dos anos”, explica-nos o argumentista.

Foto: Direitos Reservados / Divulgação (RTP)

A série que “não tem vilões e onde todos dão o seu melhor”

“No que toca ao amor, muitas vezes somos todos aquele chavão gigantesco ‘tu és o teu pior inimigo’. Por isso, o vilão, se o houvesse, são as nossas ideias feitas e os nossos desenganos quanto ao que é o amor romântico - tão fértil em fantasias, gestos grandiosos, deceções autoimpostas, entre outros”, relata-nos, ainda, Hugo Gonçalves. “O amor romântico é dado a imensas fantasias e loucuras e ficções, nós não esquecemos isso, mas mesmo nas peripécias mais imprevisíveis da série, e há várias, amarrámos as personagens à realidade. Nada é caricatural. Podia acontecer a qualquer um de nós”, acrescenta.

Para Até que a vida nos Separe, a série que "não tem vilões e onde todos dão o seu melhor", os três autores acabaram por adotar um método de trabalho semelhante àquele que usaram em País Irmão, num processo de escrita partilhada, mas onde os momentos de criação a sós foram também fundamentais. “O nosso processo foi: reunir, discutir personagens e situações, fazer uma estrutura não muito rígida de cada episódio e depois cada um ir para casa escrever o seu. Reunimos de novo, discutimos de novo, fazemos alterações e repetimos o ciclo até estarmos convencidos que o que está no papel é o melhor que conseguimos fazer”, conta-nos Tiago.

Com mais de duas dezenas de projetos enquanto argumentista, quer em cinema como em televisão, Tiago R. Santos acredita que, em Até que a Vida nos Separe, vamos encontrar uma história onde “tudo é novo” e diferente daquilo que estamos habituados a ver. “O universo é novo e as personagens são novas e as situações também. Nunca antes tinha escrito sobre a Vanessa e o Daniel ou o Marco e a Rita ou a Luísa ou o Tigre da Raia”, começa por explicar.

Ainda assim, o autor consegue encontrar algumas pontes entre este e outros projetos nos quais trabalhou anteriormente. “O meu trabalho na série terá talvez alguns pontos de contacto, em particular na escrita dos diálogos, com Revolta, a longa que realizei, mas por outro lado está muito distante do mundo de Nunca Nada Aconteceu, o filme de Gonçalo Galvão Teles em que trabalhei. Sempre achei que é esse um dos desafios mais interessante para um argumentista: a capacidade de olhar de forma diferente para o mundo”, explica ainda.

“É fascinante pensar nisto: se eu, o Hugo e o João começássemos a escrever a série amanhã, o resultado seria por certo diferente deste que agora apresentamos quando a criámos no ano passado”, acredita Tiago R. Santos. O autor destaca ainda o “trabalho de uma vasta equipa que se juntou num momento singular da existência humana” para conseguir chegar ao resultado final de Até que a Vida Nos Separe. “Encontrámos no Manuel Pureza e na Coyote Vadio um entusiasmo e um amor ao universo e às personagens que criámos que nos garantiu que os nossos argumentos estavam nas melhores mãos - mas foi, como quase sempre é, um longo trabalho de discussão e criação e reconstrução. É sempre”, admite.


Foto: Direitos Reservados / Divulgação (RTP) 

“Queríamos que o espectador fosse mais um elemento da família”

Manuel Pureza, realizador da série, conta-nos que Até que a Vida nos Separe traz-nos algumas novidades a nível visual, que têm como principal objetivo aproximar o telespectador da história. “Eu e o Vasco Viana (diretor de fotografia) falámos de várias séries que gostávamos de ver como referência para esta e assentámos regras para que a linguagem fosse de uma câmara participativa, no meio das personagens, com respiração, que pouco ou nada recorresse a facilitismos visuais que fossem menos exigentes”, adianta ainda Manuel Pureza.

O realizador de Até que a Vida nos Separe diz que mantiveram a mesma linha visual em toda a série, “a da câmara à mão, próxima das personagens para que o espectador fosse mais um elemento da família” e não apenas um elemento externo. “Nunca em altura alguma retirámos à câmara o seu poder narrador, ou seja, nunca fizemos o típico plano geral seguido de campo/contra-campo em grande plano de quem fala, para ser mais rápido. Esse tipo de câmara acaba por se limitar a registar apenas. A nossa câmara quis contar, quis mostrar, quis narrar o que se passava em cena, muitas vezes tomando partidos, muitas vezes julgando”, adianta.

“Integradas neste diálogo do lado visual da série, estiveram a Mia Lourenço do guarda roupa e a Margarida Simões da decoração: a regra aqui foi aproximar os decores e o guarda roupa do lado mais quotidiano e normal possível. Qualquer espectador português consegue ver quem é figurante e quem é ator num plano, certo? Era isso que queríamos evitar: aqui toda a gente é real!”, explica ainda Manuel Pureza.

Para além de realizar, Manuel Pureza foi ainda produtor deste projeto, juntamente com Andreia Esteves. Filmada em plena pandemia, a série tornou-se ainda mais desafiante e especial, uma vez que “nenhuma estrutura, pequena ou grande, está preparada para lidar com uma situação como esta”, acredita Pureza.

“A verdade é que cumprimos escrupulosamente todos os pressupostos de segurança, sobretudo de forma a assegurar o máximo conforto à equipa e atores. Quando pensamos em conforto numa rodagem é poderes sentir-te seguro enquanto trabalhas e descansas”, defende. “Quando gritei o último ‘corta’ confesso que tive uma descarga emocional enorme: ninguém tinha ficado doente e tínhamos cumprido tudo no tempo estipulado e ainda por cima tinha ficado com a sensação com que estou agora: melhor era impossível”, diz-nos ainda Manuel Pureza.

“Algumas equipas portuguesas são a prova de que o ser humano se adapta a tudo. felizmente, essas equipas são algumas daquelas com quem tenho trabalhado e isso faz imensa diferença. Um cuidadoso planeamento e uma produção imaculada dirigida pela Andreia Esteves e chefiada pela Marta Araújo e sua equipa, são o que qualquer produtor quer ter, passo a publicidade e o elogio, claro”, explica-nos ainda o realizador. Também Tiago R. Santos acredita que, “com os baixos orçamentos que temos, trabalhar em cinema e audiovisual em Portugal é como correr a maratona a sprintar” e, por isso, “chegar vivo ao final é já por si uma proeza”. 

Foto: Direitos Reservados / Divulgação (RTP) 

Uma série que é transversal à televisão e aos meios digitais

Exibida originalmente na RTP1 em 2021, e depois de ter ficado disponível durante todo o ano na RTP Play, a série chegou agora à Netflix a nível mundial, tendo sido desde o início uma aposta pensada para ser transversal entre a televisão e os meios digitais, como o streaming. Uma medida que Hugo Gonçalves acredita fazer sentido, até porque “cada vez o público tem mais opções” disponíveis à distância de um clique.

“Na sala de uma família, possivelmente pai, mãe, filhos - cada um estará a olhar para um ecrã diferente. Mas uma coisa é certa, as pessoas adoram ver ficção na sua própria língua. Veja-se o que acontece em Espanha ou França, tanto na TV como no cinema”, diz-nos Hugo a título de exemplo. O autor acredita que, em Portugal, “levamos um atraso por causa da hegemonia das novelas”, mas “quanto mais séries fizermos”, mais depressa chegamos a “um nível de qualidade que atraia o espectador nacional”, um caminho que, para Hugo, “está a ser feito quase em exclusividade pela RTP”.

Também Tiago R. Santos acredita que “os hábitos de consumo estão a mudar, em particular junto das novas gerações”, uma vez que “o streaming entrou em força e o binge-watching tornou-se prática comum, ficando por vezes até a sensação de que há quase uma corrida para ver quem é que consegue acabar primeiro de ver a série. Ainda assim, a exibição tradicional desta série em televisão, com o lançamento de um episódio por semana na RTP1, em 2021, agradou ao autor. “Como há uma elipse entre cada um, acho que essa pausa faz sentido narrativamente, e remete-me para os tempos do Sete Palmos de Terra- uma série que foi para nós uma referência para este projeto - quando aguardava ansiosamente pelo dia em que voltaria a ter os Fisher em casa”, revela-nos. “Mas também gosto da ideia de a nossa série ter distribuição internacional”, explica ainda.

Manuel Pureza, realizador do projeto, acredita que “a aposta em criar produtos ‘internacionalizáveis’ é clara”, tanto na RTP como noutras estações, admitindo que esta série “não foge a essa ambição, antes pelo contrário”. Do ponto de vista técnico, apesar da “discrepância de orçamentos entre o produto nacional e a produção internacional, o know-how e a capacidade técnica são muito elevados em Portugal”, acredita. “É portanto um problema de escala o que nos afasta da concorrência, mas acima disso acho que é um preconceito do público em relação ao que é feito cá e das televisões em relação ao público”, explica ainda Manuel Pureza.

“Os serões portugueses são em parte dedicados à novela, mas se pensarmos bem, dos 11 milhões de pessoas que compõem o nosso país em termos populacionais, são 2 milhões que vêem novela, os outros 9 milhões vêem outras coisas ou, pura e simplesmente, não vêem televisão”, defende o realizador. “Por isso, nesse sentido, é claro que nos interessa que a série seja vista pelo máximo número de pessoas e, se tivermos de andar atrás delas, teremos de seguir os hábitos destes públicos que, entenda-se de uma vez, passam cada vez menos por estar em frente à TV como a temos conhecido até aqui”, conclui o responsável.

Até que a vida nos Separe já pode ser vista na íntegra na Netflix. A série junta nos principais papéis Rita Loureiro, Dinarte Branco, Henriqueta Maya, José Peixoto, Madalena Almeida e Diogo Martins. Do elenco fazem ainda parte nomes como de Albano Jerónimo, Teresa Tavares, João Pedro Jesus, Isabela Valadeiro, Catarina Gouveia, João Vicente, Tomás Alves e André Gago, entre outros.